O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta
NITCH
Acordei com uma terrível dor de cabeça.
Ergui o corpo, piscando de forma agoniada. As luzes ao redor pareciam atingir minha visão com a ardência e ferocidade de facas incandescentes.
— Ah… você acordou.
Reconhecia aquela voz retumbante e baixa.
— A-Aayrine?
Finalmente a focalizei, sentada diante de mim, ao lado do sofá no qual me encontrava recostado. Foi quando percebi que não havia voltado ao castelo na noite anterior.
E notei que só haveria uma razão para aquilo.
— Você… me encontrou….? - guinchei, corando.
Aayrine tomou sua mão na minha, num gesto surpreendentemente gentil.
— Sim… trouxe você para casa – sacudiu a cabeça – embriagado… - sua voz baixou até se tornar um sussurro – você realmente conseguiu me assustar, Buster. Teria batido em você - acrescentou - se não estivesse parecendo um filhotinho indefeso que mal conseguia ficar em pé.
Ela estava estranhamente insegura, falando calmamente, como se conversasse com um animal arredio, que iria atacá-la à qualquer momento.
— Percebi – choraminguei, massageando a testa – droga… eu não quis… beber tanto.
Vi-a piscar, fitando-me sem expressão.
— Não culpo você… afinal… asas coisas andaram bem complicadas pata a gente, não é? - suspirou, hesitante - você estava… bem fora de si ontem.
Um medo assustador me corroeu.
— Fiz alguma besteira?
Observei Aayrine enrijecer, saltando o olhar quase que imperceptivelmente. A pelagem ao redor de suas bochechas se eriçou, sem dúvida devido à uma irrigação anormal de sangue sobre sua pele.
Estava corando.
— Não – respondeu, após alguns segundos.
Não havia um pingo de convicção em seu tom.
— Rine…
— Não fez nada, Nitch – cortou-me; aparentava um bizarro desespero – apenas… teve um pesadelo… e desidratou horrores, se me permite acrescentar.
— Ah.. - ainda não estava convencido, mas sabiamente decidi não insistir – e Asgore…?
Ela ergue a sobrancelha.
— O rei? Não sabe de nada. Eu disse à ele que você pernoitou na hospedaria da Rabby, após escoltar um amigo até aqui.
— Nossa… obrigado – agradeci, aliviado – você salvou minha vida, Nacabi.
A carneira abriu um sorriso de lado, humorada.
— Não fique tão animado – a diversão desapareceu de seu olhar de repente - ainda vou cobrar este favor em algum momento.
Ergui-me, começando a recolocar lentamente as peças de minha armadura, que ainda estavam sobre a mesinha de centro da sala.
— Não seja por isso, Nacabi – brinquei, tendo uma ideia repentina e genial – vamos dar uma volta em Waterfall hoje à noite… tem algo lá que eu queria te mostrar…
— Parece um encontro.
Quase enfiei a viseira do elmo nos olhos com o sobressalto.
— Ah… um encontro entre amigos… claro – assenti, ainda tenso – o que me diz? Topa?
Eu tinha a impressão que Aayrine se corroía para não rir.
— Por que não? - deu de ombros – claro… estou de folga esta noite. Aonde vai ser?
— Conhece o caminho para a Vila Temmie?
— Claro… vai ser ali? - indagou.
Neguei com a cabeça, sorrindo de maneira misteriosa.
— Ah… é uma surpresa… - ajeitei-me – nos encontramos de frente para os túneis, antes de entrar n vilarejo…. está bem?
— Excelente… - seu focinho se retraiu – precisamos mesmo conversar.
Naturalmente, bastou para que eu deixasse o local com toda a perplexidade do mundo,
E agora, mais do que ansiando pelo encontro que havia inventado de marcar.
O tempo havia esfriado consideravelmente em Waterfall, desde a última vez em que havia botado meus pés naquele lugar.
Havia me agasalhado com um suéter arroxeado, tentando ao máximo me sentir à vontade, por finalmente estar de volta ao meu antigo lar.
A roupa – presente que havia recebido das Temmies em meu último aniversário – tinha cheiro de Temmie Flakes e sereno. Aquele aroma trazia tantas lembranças….
Ergui a cabeça, ouvindo passos se aproximarem.
Das sombras, reconheci a silhueta de Aayrine surgir, olhando embasbacada ao seu redor. Era visível que nunca havia se aventurado por aquele lado dos túneis.
Também vestia um suéter rosado, e vestia luvas de couro carmim sobre as patas. Embora, à primeira vista, o conjunto causasse estranheza, era um estilo que caia muito bem nela.
— Você está bonita – comentei sem pensar.
Houve um momento de silêncio constrangido entre nós dois.
— Ahm… você também – Aayrine coçou a nuca, sem graça.
Ainda mais aturdido, meneei a cabeça.
— Certo… podermos ir agora? - sugeri – ah, espera um pouco…
Ela deu um guincho engraçado de surpresa, assim que tapei seus olhos com uma venda. Sacudiu os cabelos, risonha, tentando se desvencilhar.
— Nitch!
— Ei – censurei-a, igualmente humorado – eu disse que era uma surpresa, lembra?
— Ah – fingiu desapontamento, fazendo uma voz infantil – você é um cabrito malvado…
— Sou mesmo – concordei, achando graça, terminando de amarrar o tecido atrás de sua cabeça – agora se comporte… - tomei sua mão na minha - … e me siga, madame…
Guiei-a pelo antigo caminho que levava à bifurcação - em qual uma de suas cavernas levava até a Vila Temmie.
No entanto, tomamos o outro túnel, caminhando através de uma extensa galeria de cristais fluorescentes.
— Estamos chegando? - perguntou ela, ofegando baixo. Parecia estar se divertindo com a cegueira momentânea, esbarrando de maneira proposital e brincalhona sobre mim.
— Quase lá – respondi, também me entretendo admiravelmente com aquele joguinho.
Ela estava saltitante, alegre feito uma garotinha. Não esperava vê-la daquela forma – ainda mais depois de nossa recente briga no castelo.
— Acho que precisava disso – comentou, quando estávamos quase nos aproximando do local – sair um pouco. E relaxar…
— É, Rine. Eu também – assenti comigo mesmo, ainda a puxando, e evitando pensar no que havia acontecido alguns dias atrás – eu também.
Depois de mais alguns minutos esgueirando-nos pelo trajeto do túnel, enfim deixamos a caverna, entrando no lugar secreto que eu tanto queri lhe mostrar.
— Ótimo… - ri, desamarrando sua venda – já chegamos, Rine… pode olhar.
Ela obedeceu, reabrindo os olhos outra vez.
Vi suas pupilas rubras dilatarem de admiração, e um arquejo alto escapar de seu focinho entreaberto.
E, pelas suas palavras seguintes, só pude deduzir que estava absolutamente maravilhada, no final das contas.
— Pelo…. sangue…. dos Dreemurr…
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