O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta


Capítulo 29
A Gruta das Mil Estrelas




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AAYRINE 

 

 

Assim que abri meus olhos, senti minha mandíbula despencar. 

— Eu sei – ouvi Nitch rir - é incrível. 

Todo o lugar não parecia estranho. Ainda era uma imensa gruta, de domo surpreendentemente alto, com várias pilastras e montes de cristal e obsidiana, cujas formas lembravam a de grandes colinas de minério.

O conjunto inteiro, na teoria, deveria ser o bastante para mergulhar o ambiente na mais intensa escuridão. 

Se todo o local não fosse circulado por uma densa neblina brilhante, de tons azuis e rosados, e seu teto negro gotejado por cintilantes cristais, cujas faíscas relampejavam belamente sobre toda a caverna.

Havia ouvido falar de algo assim na superfície. Um gigantesco teto, de cor azul-escura, salpicado de esferas brancas e luminosas.

— Parece… um céu… - ofeguei, embasbacada.

— Eu sei – ele concordou – eu vinha aqui o tempo inteiro, durante o tempo em que vivi coa s Temmies… sempre foi um lugar… que me trazia paz.

Entendia o que Nitch queria dizer. Aquele ambiente tão sereno e reluzente emanava uma aura fantástica, a despeito das demais localidades pacatas do subterrâneo. Era como um pedacinho secreto de outro mundo dentro do Underground.

— É… lindo.. - pousei a mão sobre o peito, emocionada com a beleza do lugar, sentindo meus olhos ficarem ligeiramente úmidos – nunca vi nada assim… em toda a minha vida.

Recostei-me contra suas costas, olhando para cima, ainda admirando o brilho extraordinário daquela cobertura, incrédula e maravilhada. Surpresa, senti Nitch estremecer de encontro aos meus ombros, como se não esperasse aquele contato repentino.

No entanto, antes que eu pudesse me desculpar, uma de suas mãos ergueu-se para trás, circulando gentilmente a minha, apertando-a de leve contra sua palma.

— Sabia que ia gostar…

Assenti comigo mesma, sentindo um nó crescendo em minha garganta.

Minha mãe teria amado aquilo. Um pedaço da superfície havia estado ao seu alcance todo aquele tempo…

E agora…

Num ímpeto bobo, levantei a pata no alto, fechando os cascos diante dos olhos, como se pudesse apanhar uma daquelas estrelas imaginárias.

Ela despencou logo em seguida, pendendo inerte ao lado de meu corpo.

Meu soluço sufocado não passou despercebido por Nitch. Surpreendida, ergui o olhar quando ele puxou-me pela mão que segurava, voltando a virar-me em sua direção.

— Está tudo bem…?

Balancei a cabeça, apertando os olhos, tentando reprimir as lágrimas que haviam começado a se acumular.

— Sim… só… - minha voz estava embargada – não é nada…

Eu só podia julgar que o efeito do álcool ainda estava alterando a parte Temmie de Nitch, já que só isso poderia justificar o que aconteceu a seguir.

Ele circulou minha cintura, puxando-me sem hesitação contra seu corpo, me engolfando num carinhoso e súbito abraço.

— Nitch…!

— Cala a boca – ele me cortou, resfolegando – apenas… termine de chorar.

— Seu idiota… - funguei, tentando fingir alguma neutralidade – eu não… - recostei a testa sobre seu ombro, perdendo totalmente o controle – quero… chorar…!

E então, após anos de invulnerabilidade, decidi parar de reprimir toda aquela angústia.

Levada pelo aconchego de seus braços, desabei sobre Nitch, me engasgando num pranto sufocado e angustiado, agarrando-me em seu pescoço como uma náufraga sobre o salva-vidas.

De repente, me sentia aliviada por ter alguém com quem contar. Alguém que entendia meu sofrimento, e que havia passado pelas mesmas atribulações que eu. De certa maneira, era como se Nitch tivesse surgido em minha vida justamente para ser meu confidente.

Um porto seguro.

O pensamento fez-me corar em meio às lágrimas.

Recuei a cabeça, lacrimejante, tentando secar o rosto em vão. Inesperadamente, senti que a mão dele deslizava gentilmente sobre meu focinho, acolhendo, sobre seus dedos, as gotinhas que ainda escorriam por minha pelagem.

— D-desculpa… - guinchei – eu não quis…

— Ei – ele tapou minha boca com a outra mão, vincando a testa numa expressão de falsa censura – eu não disse que pofia voltar a falar.

Dei uma risada trêmula e chorosa, olhando para baixo, absolutamente sem graça.

— Deve estar me achando uma patética, não é?

Deixando-me ainda mais conturbada, Nitch afagou levemente meu rosto.

— Qual é, Aayrine… não somos amigos? - deu de ombros – amigos servem para isso. A gente se ajuda nas horas mais difíceis… certo?

Concordei com um aceno leve do focinho.

— É… acho que sim – brinquei.

Seu sorriso desapareceu.

— Sua mãe… não é?

Suspirei.

— É…

— Pois é – Nitch pareceu igualmente contemplativo – acho que elas realmente teriam adorado conhecer esse lugar.

Encarei-o.

— Nitch.. - falei repentinamente – dê uma chance para Karin.

— Nacabi…

— Não – ergui a cabeça – por favor… - pousei a mão em seu ombro – eu sei que é difícil. Mas isso… vai te atormentar o resto da vida. Você precisa se acertar com ela… ou vocês só irão se machucar ainda mais…

Seu focinho se retraiu por um momento.

Porém, alguns segundos depois, relaxou com a mesma rapidez.

— Talvez, Rine…. - virou a cabeça – talvez….

Sorri.

— Não é um “não” - aprovei, humorada – já é alguma coisa.

O rosto dele se contraiu, na tentativa de sufocar o riso.

Pela primeira vez, percebia o como o conjunto incomum de suas quatro orelhas de davam uma aparência meiga e dócil – ao menos, quando não estava em sua personalidade mais bélica. Nem mesmo as íris vinho ou as presas tiravam aqueles traços mais afáveis dele.

Vi que Nitch havia percebido minha silenciosa análise visual.

— O que foi?

— Nada – pigarreei, distraída, olhando uma última vez para o domo brilhante de pedra – eu… acho que já vou indo.

— Tudo bem… - Nitch assentiu; jurava ter percebido um tom decepcionado em sua voz.

Alguma coisa começou a me incomodar. Era como se, de repente, nossa presença mútua tivesse se tornado extremamente embaraçosa.

Estranhamente, não era uma sensação de toda ruim.

— Ok… - soquei seu estômago de leve, fazendo ele se dobrar, arfando de choque e indignação – isso é por ter ficado bêbado, me assustado e me deixado vendada o caminho inteiro até aqui.

— Ahh…. Rine…! - exclamou, num misto de diversão e zanga.

Ainda segurando seu ombro, num impulso repentino, inclinei-me para plantar um beijo em sua bochecha.

Tentei ignorar a visão de seus olhos rubros saltando de surpresa.

— E isso… - virei-me, já deixando a caverna – é por… todo o resto.

Disparei para longe dali, ainda incomumente perturbada, sabendo que havia acabado de deixar para trás um cabrito extremamente confuso.

Á partir daquela noite, eu demoraria um bom tempo para entender aquela confusão também.

Acabou que, no fim de tudo, não havia tido coragem para lhe interrogar sobre tudo que havia acontecido na noite anterior. Decidi que poderíamos ser mais francos – e menos impulsivos - na próxima vez em que nos encontrássemos.

Infelizmente, eu mal sabia que nosso reencontro estaria longe de ser agradável.

Ainda não desconfiávamos, mas a vida de todos os monstros – incluindo a nossa - estava prestes a mudar radicalmente.

E, muito em breve, o subterrâneo jamais voltaria a ser o mesmo.



















 


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