O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta


Capítulo 27
Embriaguez




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AAYRINE



Enquanto estava de guarda no bosque de Snowdin, ouvi o estranho som de soluços e passos trôpegos nas proximidades.

Conjurei um de meus espadins, virando-me agilmente na direção do barulho, preparada para atacar o que quer que estivesse ameaçando os arredores.

Porém, senti minha arma esmaecer no ar, assim que reconheci a silhueta de armadura que se aproximava.

Meu queixo despencou.

Nitch?

Ele parecia ter vindo diretamente de Hotland. Mas o que diabos estava fazendo ali, àquela hora da noite?

— A-Aayrine…? - vi seu focinho emergir da penumbra, enquanto se acercava em minha direção. Estava andando engraçado, parecendo bizarramente aéreo e confuso.

A tensão que havia restado de nossa conversa anterior ameaçou me dominar novamente. Teria algo á ver com nossa discussão?

— O que faz aqui em Snowdin, Nitch? - ofeguei, intrigada.

Para minha maior perplexidade, ele posicionou-se á uma mínima distância de mim, inclinando o focinho sobre meu ombro.

— Eu… não quero… brigar…

Senti um aroma familiar em seu hálito. Um cheio adocicado, definitivamente inconfundível, após tantas visitas ao Resort MTT.

Starfait.

— Nitch! - ofeguei, incrédula. O que infernos Nitch havia ido fazer no resort de Mettaton? – você andou bebendo?

Nitch contraiu os olhos, fungando baixo e desoladamente, como um menininho perdido e sonolento.

Eu só podia supor que o álcool do Starfait estava tendo um efeito devastador sobre sua parte Temmie, deixando-o totalmente fora de sua personalidade normal.

— Não quis.. fui c-conversar… - soluçou, esfregando um dos olhos, fazendo uma expressão meiga e insegura.

Diabos. O Nitch bêbado era terrivelmente fofo e engraçado. Nem lembrava o cabrito cabeça-dura e furioso do qual havia me despedido no castelo.

— Deus… você precisa se recompor – guinchei, desesperada – vou ligar para o rei…

Ele segurou meu pulso repentinamente. Seus olhos distraídos ficaram arregalados e assustadiços.

— Não… p-por favor… - suplicou, com a voz embargada pela embriaguez – ele vai m-me matar… p-papai não pode saber…

Pobre garoto. A visita de Karin realmente havia virado sua mente de cabeça para baixo.

Eu não podia deixar Nitch naquela situação – e, como ele havia observado, dizer á Asgore sobre aquilo não era uma ideia das melhores. Não ia fazer com que sofresse ainda mais.

Eu tinha que ajudar o meu amigo.

Suspirei, olhando para os lados, tomando sua mão trêmula na minha.

— Olha… você pode pernoitar lá em casa hoje… e amanhã damos um jeito nisso, está bem? - propus, num tom de voz gentil – não se preocupe… - ofereci o braço para que ele se apoiasse – venha… vamos sair daqui….

Languido como um bebê, Nitch reclinou-se sobre minha armadura, soluçando baixinho, e esquadrinhando-me ocasionalmente com o olhar injetado.

A passos lentos, nos retiramos do bosque, e tomamos caminho em direção á minha casa.









— Pronto… - ofeguei – isso deve bastar por hora.

Havia acomodado Nitch no sofá da sala, deixando-o lá por alguns minutos, enquanto retirava minha própria armadura.

Quando voltei, ele ainda encarava o teto do cômodo de forma sonhadora, como se fosse o programa de TV mais interessante do subterrâneo.

— R-Rine…?

— Sim?

— Seu c-cabelo… é tão bonito…

Minhas bochechas coraram.

Ok. Por essa eu não havia esperado.

— Descanse, Nitch – aconselhei-o, ainda sem graça pelo elogio  – amanhã você vai provavelmente estar um caco… então é melhor dormir para repor as energias.

Acomodei uma jarra de água e um copo na mesa de cabeceira. Nitch me observou em silêncio, sem esboçar nenhuma reação.

Seus olhos se fecharam por um momento, e ele se remexeu um pouco, gemendo de maneira incomodada.

— Q-quente… humm… - murmurou, ainda de olhos cerrados, resvalando a mão aflitamente pela armadura que ainda vestia.

Preocupada, tentei ajudá-lo a tirar as ombreiras, imaginando que a quentura e o suor eram efeitos da bebedeira.

Nitch relaxou um pouco, ainda resfolegando, com o cenho franzido de aflição.

Enquanto retirava a parte da frente do peitoral, porém, senti suas pernas se inclinarem repentinamente para trás, e suas costas se arquearem adiante, aproximando-se sem aviso.

Soltei uma mínima exclamação de choque quando - devido ao movimento inesperado - sua boca se ergueu, colando-se momentaneamente na minha.

Antes que meu pulso fechado - e irracional - acertasse seu peito, Nitch voltou a despencar no sofá, completamente inconsciente, soltando um ronco baixo e conturbado.

Balancei a cabeça, atônita, sentindo o rosto esquentar.

Obviamente, sabia que deveria ter sido um acidente, já que ele estava completamente fora de si. Tinha sido só um esbarrão… não era?

Então, por que raios aquilo parecia me incomodar mortalmente?

Constrangida, me levantei do sofá, ainda perturbada pelo que havia acabado de acontecer.







Espera. Repete isso.

— Eu já te falei, Undyne – estreitei o olhar para o telefone – ele está aqui. Encheu a cara com aquela droga de Starfait do Resort MTT.

O grandão vai arrancar a pele dele se descobrir isso – Undyne chiou do outro lado da linha – por segurança… mantenha ele aí até amanhã. Vou ver o que a Guarda de

Snowdin pode fazer para ajudar o garoto. Não vale a pena queimar o filme dele com o rei… sendo que é a primeira vez que algo assim acontece.

— Está bem – concordei – obrigada, Undyne.

Disponha, Rine – despediu-se, desligando.

Por alguma razão, minhas mãos tremiam, enquanto colocava o telefone em seu devido lugar.

Atravessei o corredor, recostando-me na ombreira da porta da sala, olhando na direção do sofá. Nitch ainda estava ferrado no sono, murmurando como uma criança desolada, se debatendo suavemente contra o acolchoado de sua cama provisória.

Em determinado momento, eu ouvi Nitch começar a guinchar. Sua expressão vincou-se de angústia, enquanto suas orelhas caninas se retorciam de aflição.

Estava tendo um pesadelo.

— Não… - ofegou roucamente, contraindo os punhos – Alekey… não… por favor… não vá….

Minhas orelhas se eriçaram.

Aquele nome…

Achei que fosse despertar. Contudo, seu corpo voltou a relaxar, mergulhando novamente no torpor aquietado de outrora.

Foi minha vez de arquejar, franzindo as sobrancelhas de desconfiança.

Alekey…

Definitivamente… não era um nome de monstro.

Enquanto encarava aquele jovem cabrito embebedado, senti algo se apertar dentro de meu peito… mesmo que eu não soubesse exatamente o que.

Pelo visto, Nitch Buster escondia mais segredos do que eu havia suspeitado.

Por hora, eu o deixaria dormir.

Assim que se recuperasse - para seu próprio bem - faria Nitch abrir o jogo... de uma vez por todas.

























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