When I Dreamed escrita por Shiroyuki


Capítulo 3
Capítulo 3. empty room and full mind




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733165/chapter/3

 

3. empty room and full mind

 

Victor sentia que conhecia aquele lugar, mas não tinha certeza. Estava em um prédio de aparência clássica, como muitos que ele encontrava em São Petersburgo, mas este parecia abandonado há muito tempo. Não estava exatamente sujo - não havia poeira ou qualquer sinal de deterioração, mas aquele vazio completo e o silêncio anormal transmitiam essa sensação. A iluminação era forte, embora não parecesse haver lâmpadas artificiais em qualquer lugar por ali; a luz dava a impressão de vir diretamente do sol, e, mesmo que estivesse em um local fechado, o brilho branco e forte ofuscava sua visão. 

Ele subiu as escadas, porque não havia realmente muito o que esperar. O lugar poderia ter sido requintado e grandioso em outros tempos, mas agora só havia paredes nuas e nada mais ali. Ao colocar os pés no segundo andar, Victor ouviu passos. Passos rápidos, curtos, próximos. Olhou ao redor. Apesar de notar movimentação, não via ninguém. Andou um pouco mais, atento. 

—  Quem está aí? – Ninguém apareceu, mas Victor podia jurar ter ouvido uma risada tímida e abafada em resposta.  – Por favor, apareça... – Ele já não estava mais aguentando ficar sozinho naquele lugar, e quem quer que fosse que estivesse ali com ele, seria uma alternativa muito melhor do que esperar sem ninguém, até descobrir onde estava. 

Continuou andando, seguindo pelo único corredor por onde podia, passando direto pelas portas fechadas dos dois lados. Ali era mais escuro, mas ele ainda conseguia enxergar bem. A porta do final do corredor se abriu sozinha, lentamente, iluminando enfim o lugar onde Victor estava, e ele seguiu naquela direção sem titubear. 

Entrou pela porta, parando apenas ao chegar no centro do cômodo, uma sala de madeira branca com janelas amplas que davam visão para o que parecia ser um bosque ao redor da casa, e nas paredes opostas, espelhos cobriam a extensão do chão ao teto. Os espelhos refletiam a luminosidade que vinha do lado de fora, transformando aquela sala em uma fonte de luz excessiva que deixou Victor tonto por alguns segundos. Ainda assim, ele olhou bem ao redor, tentando lembrar onde já vira uma estrutura parecida, até que a constatação surgiu em sua mente. Um estúdio de dança. A sala onde sua mãe dava aulas de ballet era exatamente assim. 

Sentiu que alguém o chamava. Não ouviu nenhuma voz, mas a sensação era clara demais para ser ignorada. Olhou para trás, sobressaltado, e o viu. Seu coração acelerou, e todas as palavras que poderia dizer fugiram do seu domínio naquele pequeno instante. Era um garoto que estava ali – um jovem, melhor dizendo, não saberia dizer a sua idade. A aparência era jovial, mas havia algo nele, um ar de maturidade talvez, que garantia a Victor de que não se tratava de um adolescente.  

Ele tinha altura e estrutura corporal mediana, e estava vestido inteiramente de preto, uma camiseta de mangas compridas, e uma calça um tanto justa demais nas pernas. Usava sapatilhas, também pretas. Victor havia visto roupas assim o suficiente desde a infância para saber que eram roupas de treino de ballet. Mas nada disso capturou a atenção dele por muito tempo. Havia muito mais para ser visto. 

E a atenção de Victor focou principalmente na expressão do desconhecido. Seus olhos, ligeiramente inclinados, definitivamente asiáticos, cintilavam na sua direção, no tom de castanho mais acolhedor e doce de uma forma que ele jamais havia notado em alguém. Nunca havia visto olhos que brilhassem daquela forma. Um sorriso calmo se instalava em seus lábios, enquanto ele fitava Victor, em um comedido e observador silêncio. Os cabelos, negros e curtos, estavam desarrumados, como se ele tivesse acabado de passar horas naquela sala, dançando, e não tivesse percebido a desordem que se encontrava acima da sua cabeça, apesar de estar cercado por espelhos por todos os lados. 

Victor queria dizer alguma coisa – qualquer coisa – mas sentia como se tivesse engasgado com o ar, e sua voz simplesmente não saía. O jovem dançarino (e Victor já tinha evidências suficientes para pressupor que ele era um dançarino) se moveu. Cada pequeno movimento dele era gracioso e Victor se distraiu, hipnotizado pelos passos do dançarino, até perceber que ele estava dançando para longe. 

Esticando o braço, ele tentou alcançá-lo, mas o dançarino apenas seguiu em direção à porta, sem dar atenção a ele. Victor queria chamá-lo, mas não sabia seu nome. Queria gritar, pedir para que ele ficasse ali mais um pouco. Queria ter ouvido sua voz. Quando tentou se mover para seguí-lo, sentiu algo o segurando no mesmo lugar. Suas pernas não se moviam e ele não sabia como sair dali. Um peso, que o sufocava, e impedia que respirasse.  

 
 
 

Victor abriu os olhos em um rompante. Makkachin estava em cima dele, e lambia seu rosto com afinco, como se essa fosse uma importante tarefa a qual ele realizava primorosamente. Era este o peso que estava sufocando-o. Logo acima do oceano de pêlos que o afundava, Yuri o observava de perto, as sobrancelhas vincadas e uma expressão ilegível. 

— Vai ficar aí até que horas? Parece um velho dormindo pelos cantos desse jeito. – Yuri resmungou, parecendo irritado enquanto se encaminhava para a cozinha, com o que parecia ser uma sacola de restaurante nas mãos. Victor notou que, ainda que se expressasse com animosidade, Yuri já não parecia mais tão agressivo quanto antes. Talvez a caminhada tivesse feito bem a ele, afinal. 

Ele sentou no sofá, ainda meio atordoado, tonto com as imagens desconexas do sonho recente que tentavam fazer sentido em sua mente. Ele nem havia percebido quando exatamente caíra no sono. Mas a sensação transmitida pela pessoa que vira enquanto dormia ainda estava clara, como se ele tivesse acabado de vê-lo realmente diante de si. Seu coração não havia parado de bater rapidamente ainda. 

Quanto tempo havia passado? Já era quase meio-dia! Yuri havia passado tempo demais passeando com Makkachin, considerando que o cachorro parecia exausto também. 

—  Eu… Ahn… – Victor ouviu Yuri pigarrear. De onde estava no sofá e com Makkachin se acomodando para deitar em suas pernas, só precisou olhar para trás e o viu, escorado na bancada central da cozinha, de braços cruzados e com a expressão mais desconfortável que ele lembrava de já ter visto no rosto do adolescente. – Eu não queria, sabe… ter dito tudo aquilo. Pra você. Antes. – Ele fechou ainda mais a cara, as sobrancelhas tão juntas que formavam um vinco em sua testa.  

—  Wow! Meus ouvidos me enganam ou eu estou prestes a ouvir um pedido de desculpas do Sr. Yuri Plisetsky! Isto é um acontecimento histórico, Makkachin, pegue a minha câmera, eu preciso registrar! 

—  Ah, cala a boca, Victor! – Yuri largou os braços, exasperado, e aproximou-se por trás do sofá. Victor sorriu, satisfeito por ter conseguido aliviar o clima tenso do irmão com uma pequena provocação. Isso raramente falhava. – Eu só achei que deveria dizer isso pra você, okay? Que eu não acho que você seja um covarde, não literalmente, e não o tempo todo também, pelo menos. Só… Só achei que, você sentisse falta de, sei lá… Ser conhecido, dar autógrafos, e aquelas outras merdas todas que você fazia quando era famoso, antes. Você nunca me diz nada do que aconteceu quando foi embora! Lilia só diz que eu deveria perguntar para você, e quando eu pergunto ao Yakov ele resmunga e me deixa falando sozinho! Eu sou o único que nunca sabe de nada, detesto isso! Qual foi o motivo que fez você ir embora, de verdade? 

Victor não deixou seu sorriso esmaecer.  

— Os autógrafos e as entrevistas eram até legais, mas nada daquilo me satisfazia de verdade. – Ele respondeu. Não contaria à Yuri a história toda; não pensava que fosse necessário que ele soubesse dos detalhes, tanto sobre a editora quanto sobre os outros motivos que o fizeram tomar a decisão de ir embora do seu país. Porém, Yuri merecia ao menos parte da verdade, depois de se preocupar tanto. Victor sabia que ele podia ser muito perspicaz e observador, e seria uma falha de irmão mais velho se permitisse que o jovem continuasse a se preocupar tanto assim com um assunto que já havia sido resolvido tanto tempo atrás. – E não é como se eu não fosse mais famoso. Meus livros estão vendendo muito bem! Eu só não coloco meu rosto neles mais, apenas. E, quanto aos autógrafos, bem, eu dou um jeito. 

A sobrancelha loira do garoto se ergueu, questionadora. 

— Como? – E Victor sorriu, animado. 

—  Às vezes eu vou até as livrarias, autografo alguns livros escondido e coloco eles bem debaixo da pilha. As pessoas adoram, e sempre postam sobre os livros “premiados” no twitter. É uma ótima estratégia de marketing, aliás. Mantém o mistério vivo. 

— Você sabe que isso é quase vandalismo, não sabe? 

— Da próxima vez eu levo você junto pra ver como é divertido. – Victor relaxou, escorando a cabeça na guarda de trás do sofá, enquanto continuava virado na direção de Yuri. – Mas é verdade. Eu estou bem melhor agora. Tenho mais liberdade para… ser quem eu sou, sabe? – Yuri fez uma careta de desagrado, e Victor sabia que era uma reação direta à qualquer frase clichê ou excessivamente emotiva que ele ousava falar em voz alta. Yuri tinha alergia a conversas sentimentais, aparentemente. – Sem tanta pressão em cima de mim, eu trabalho muito melhor. Além disso, o mercado americano tem muito mais visibilidade, e eu posso escrever o que eu tenho vontade… Mesmo assim, obrigado por se preocupar. – O sorriso de Victor se abriu, e Yuri entregou um glorioso dedo do meio erguido como resposta direta. Como se ele fosse admitir facilmente que estava preocupado, o pequeno orgulhoso. 

— Não venha com essa pra cima de mim, você não anda escrevendo nada, acha que eu não sei? – Yuri deu as costas ao outro, voltando à cozinha e abrindo as sacolas do restaurante sobre a bancada. 

— A inspiração tinha me abandonado, eu andava meio sem rumo. – Victor admitiu, sem muito mais a acrescentar sobre isso. Imagens do sonho recente voltaram a surgir na sua mente. A risada melodiosa, e os olhos calorosos do dançarino. Suspirou. – Acho que isso está para mudar agora. Algo me diz que as ideias estão prestes a voltar…  

E, mesmo quando dizia isso, já sentia as engrenagens do seu cérebro voltando a se movimentar, encaixando pequenos pedaços das imagens soltas que se encontravam em sua mente, e montando algo que poderia, com um pouco mais de esforço e alguma sorte, se tornar o seu próximo livro. 

 
 

 
 

Olhando para seu reflexo, repetido várias vezes nos espelhos que rodeavam a sala de dança, Yuuri suspirou, forçando ainda mais a sua perna para cima, apoiado na barra lateral, segurando o pé acima da cabeça com a outra mão. Estava se alongando mais uma vez, depois da prática. Não enxergava muito bem sem os óculos, já que os tirava para dançar, mas sabia que sua expressão não devia ser das melhores. O rosto estava vermelho pelo esforço, a pele coberta por camadas de suor que ele sentia deslizar pelo seu pescoço, e os cabelos em uma desordem completa e irreparável. 

A prática já havia oficialmente terminado, e muitos dos seus colegas já haviam ido para casa - alguns se reunindo para comer algo juntos antes de ir, mas Yuuri ficou para trás, com a intenção de dançar um pouco mais. Precisava esvaziar um pouco a sua cabeça, e mais prática seria bem vinda. Além disso, ele sentia que deveria se esforçar ainda mais do que já vinha fazendo, depois da decisão que tomou. 

No dia anterior, ele fez como Phichit aconselhou, e cancelou todas as matérias relacionadas à administração nas quais havia se inscrito no início do semestre. A atitude causou alívio inicialmente, por se livrar enfim das aulas intermináveis e monótonas e de  um fardo que não deveria sentir a necessidade de carregar. Porém, agora que pensava ainda mais nisso, a incerteza voltava a bater. 

Cansado da sua cabeça sempre martelando o mesmo assunto sem deixá-lo em paz, havia passado a última noite em claro, lendo o livro novo que comprou outro dia – e que era maravilhoso, diga-se de passagem, mas esse pequeno prazer utilizado para distraí-lo dos seus próprios pensamentos estava cobrando seu preço, e ele estava se sentindo ainda pior por não ter descansado o suficiente para hoje. Sentia-se verdadeiramente um lixo, naquele momento. 

Como faria, se sua carreira como dançarino fosse um fracasso? Ele estava mesmo se esforçando o suficiente para isso? E se ele não fosse bom o suficiente para seguir e não pudesse ganhar dinheiro? Era seu sonho ser um bailarino, e ele já havia enfrentado muita coisa para chegar até ali: a intimidação e as provocações na época da escola, ser o único menino na turma de ballet de uma cidade pequena, ouvir piadas e ser subestimado pelos seus gostos durante toda a infância e adolescência, o esforço para passar na universidade, e ficar longe de casa e da sua família pela primeira vez. 

Mas e se tudo isso fosse em vão, e ele não conseguisse fazer dar certo? 

Yuuri soltou a perna, e seus ombros caíram automaticamente, enquanto ele se apoiava com ambas as mãos na barra, desmoronando por completo a postura perfeita de outrora. Tentou se concentrar mais uma vez, pensar na música que dançaria, e nos movimentos que tinha intenção de fazer, mas seus pensamentos começavam a acelerar, impedindo que ele conseguisse focar no que era importante agora. Fechou os olhos, em uma tentativa inútil de voltar. Sabia muito bem que quando isso começava, ficava mais e mais difícil fazer qualquer coisa.  

— Yuuri, você está bem? 

Minako, uma das regentes do grupo de dança, e professora na Universidade, entrara na sala. Pareceu preocupada ao ver o estado de Yuuri e se apressou na sua direção. Ela era a única ali que Yuuri conhecia há mais tempo, pois era amiga de escola da sua mãe. Quando ele era criança, viu uma apresentação de Ballet na qual ela era a primma ballerina. Esse foi o seu primeiro contato com a dança, e a sua primeira inspiração. Foi assim que ele começou a ter aulas, e Minako foi, informalmente, sua primeira professora. E, embora ela continuasse viajando e não pudesse dar atenção total a ele, sempre que voltava aos Estados Unidos, ensinava algo novo a Yuuri. 

Quando ele teve que decidir para que Universidade iria, não teve dúvidas em escolher a mesma que Minako estudara e, atualmente, dava aulas, mesmo que isso obrigasse-o a ir morar longe do resto da sua família. Como o conhecia desde criança, Minako conhecia também as tendências de Yuuri a se preocupar excessivamente, o que ocasionava eventuais crises, e ela parecia já reconhecer esse padrão. Yuuri sabia que seria difícil disfarçar, com ela prestando tanta atenção, mas não custava tentar. 

—  Estou bem. Um pouco cansado. – Seu olhar vacilava entre as próprias mãos, que não pareciam encontrar lugar para repousar, as sapatilhas puídas nos seus pés, e o espelho atrás da cabeça de Minako. Não podia olhar ela nos olhos agora. – Estava aproveitando para treinar um pouco mais… 

—  Não sei o que você tem na cabeça agora, e por que decidiu ficar até tão tarde, mas não posso deixar você aqui sozinho assim, Yuuri. – Sua voz era firme, mas Yuuri notava o tom quase maternal que ela deixava escapar com sua preocupação. Sentiu-se culpado por deixá-la assim. – Vá para casa e descanse, ok? Preciso de você na sua melhor forma, afinal. 

—  Precisa? – Yuuri ergueu os olhos enfim para encarar a mulher. Ela se tornou incerta sobre prosseguir. 

— Eu estava pensando em falar com você hoje mesmo, sobre isso, mas já não sei se é a melhor hora para isso… 

— Por favor, não me deixe curioso, é pior… – Ele insistiu, e Minako sorriu ao ver a expectativa nos olhos do garoto, fazendo-o parecer exatamente como ele era quando ela o conheceu. Uma criança pequena cheia de entusiasmo e curiosidade, animado com cada coisa nova que Minako tentava ensiná-lo. Ela sorriu com o pensamento, mas imediatamente afastou-o. Ela não era tão velha assim para começar a ficar nostálgica! 

—  Nosso grupo vai participar de um festival de danças em Nova York, em algumas semanas. Vamos apresentar apenas algumas peças que já temos preparadas, e não é um evento grande. Outras companhias participarão também, o evento irá durar dois dias. Eu tive uma ideia, e queria escalar você como um dos bailarinos principais. 

— E-eu? Mas eu não… Não poderia… Eu nunca… – Yuuri se atrapalhou, perdendo-se no raciocínio. Respirou, começando de novo. – Eu não me apresento em público desde o ensino médio! E mesmo assim, eu sempre fui apoio, nunca principal! Ainda mais em… Em um festival, com outros grupos, eu não sei se consigo, Minako-sensei, você deveria escolher outra pessoa, alguém mais capaz… 

— Se eu escolhi você é porque sei que vai conseguir. – Ela colocou as mãos na cintura, ultrajada. – Está duvidando de mim, Yuuri? 

— Não é isso! Eu só… – Yuuri sabia de experiências passadas que discutir com Minako nunca era a melhor alternativa, e, pela expressão que ela trazia no rosto, não havia forma de ela ouvir qualquer argumento que ele se dispusesse a falar, então, desistir antes de começar parecia mais saudável, por hora. – Certo, entendi... Caso eu aceite a sua proposta…  O que iria querer que eu dançasse? – Yuuri na verdade queria perguntar “por que eu?”, mas conhecia Minako o suficiente para saber que ela não aceitaria qualquer argumento de recusa que ele pudesse oferecer. 

Ele perguntou apenas por curiosidade, mas o sorriso que Minako abriu o fez sentir um arrepio agourento na base das costas. Era o mesmo tipo de sorriso exageradamente calmo, que pretendia trazer uma falsa tranquilidade, e que sempre acompanhava algum plano sem sentido de Phichit para entrar em uma festa sem convite, ou quando ele descobria alguma notícia bombástica ou algo comprometedor sobre alguém. Yuuri tinha motivos suficientes para temer aquele sorriso. 

— Eros. – O sorriso perigoso se abriu ainda mais, enquanto Minako observava a face de Yuuri reagindo ao título, que ele conhecia. – E quero que você faça uma performance solo de Eros. Pode ser uma versão reduzida, se preferir, e deixo que você faça as adaptações que quiser. Será esplêndido. Você já conhece, não é? 

— Conheço, mas… Eu não acho que conseguiria… Não é algo com que eu estou acostumado. Não combina muito comigo. Acho que eu não consigo fazer algo tão… intenso. E sozinho, ainda. – Yuuri se encolheu enquanto falava, baixando a cabeça. Minako colocou ambas as mãos nos ombros do garoto, corrigindo sua postura de forma automática. Além do mais, Eros era um pas de deux, quase uma mistura de tango e flamenco com ballet clássico, e transformar isso em uma coreografia solo seria loucura, ainda mais com tanta liberdade como Minako sugeriu. 

—  Yuuri. Eu ouvi rumores envolvendo uma festa de fraternidade, e pole dance. Soa familiar? – Os olhos de Yuuri praticamente saltaram das órbitas, e isso parecia resposta suficiente para ela. – Tive acesso à fotos. E um vídeo. Então, não venha com isso de “não combina comigo”, porque eu não vou cair nessa, ok?  

Novamente estavam usando o incidente daquela famigerada festa contra ele, e Yuuri não tinha como refutar as evidências de uma noite da qual ele nem lembrava.  Droga, será que todo mundo naquele campus conhecia essa história? Havia sido tão memorável assim? 

— … Como assim, um vídeo? – Yuuri indagou, absolutamente chocado, mas sem coragem de elevar a voz, diante da presença intimidadora que a professora impunha, mesmo que ele fosse mais alto e ela tivesse que erguer a cabeça para encará-lo. Essa parte da afirmativa de Minako o preocupava, mas ela não se incomodou em responder. Ele iria interrogar Phichit mais tarde, não podia esquecer disso. 

— Você vai ser a minha personificação de Eros, e eu não aceito qualquer argumento contra isso. Eu sei que você pode fazer isso, porque eu vi o seu potencial. E eu quero que você explore isso que existe dentro de você, ao máximo. – Ela cutucou o peito de Yuuri, com mais força do que seria de esperar. Mesmo que ela fosse mais baixa que Yuuri agora, sua aura ainda tinha o poder de fazê-lo sentir-se instantaneamente o mesmo garotinho inexperiente que usava sapatilhas pela primeira vez. – Você tem essa capacidade, Yuuri. De se destacar, e de brilhar. De fazer história. E eu vou fazer você enxergar isso! 

Yuuri queria agradecer, mas sentiu a sua voz parar na garganta e sabia que, se dissesse qualquer coisa, lágrimas cairiam, e ele não queria fazer uma cena dessas logo agora. Minako pareceu entender seu olhar de gratidão, e não pediu por uma resposta. Apenas ergueu a mão, afagando de leve os cabelos negros e revoltando-os ainda mais. 

— Espero por uma resposta definitiva segunda-feira, e é melhor que ela seja positiva, porque eu não estou te dando alternativas aqui. – Ela ameaçou uma última vez, antes girar em um só pé, graciosamente, e rumar para a porta de saída. – Junte suas coisas e vá para casa! É uma ordem! 

Ainda abalado pela súbita proposta, Yuuri levou algum tempo para fazer como ordenado. Ele estava cercado constantemente por pessoas enérgicas em sua vida, mas parecia que ainda havia um longo tempo até se acostumar com o ritmo deles. Não que ele pudesse reclamar disso.  

Não sabia dizer se seria capaz de ser um Eros convincente para Minako, e se Phichit tinha razão sobre suas habilidades. Ainda estava se sentindo impaciente e perdido. Porém, ao menos agora, ele tinha algo no que direcionar seus pensamentos, e impedir que eles vagassem novamente daquela forma. 

Ele, Yuuri, como Eros. Incorporar o arquétipo de amor romântico, erótico, sensual. Parecia uma piada, muito mal contada.  

Ah. Isso seria um desastre.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olá pessoas o/
Mais um capítulo, dessa vez demorou um pouquinho mais do que eu planejava, já estava com o capítulo pronto mas a minha beta teve um probleminha (um probleminha desgraçado chamado final-de-semestre, que chega pra todos) e não pode betar o capítulo pra mim, então eu resolvi revisar sozinha e postar mesmo assim - então, se houver qualquer errinho que tenha passado, por favor, não hesitem em falar, porque eu sou realmente péssima com esse negócio de revisar >

Nos vemos nos próximos, beijos~ e até lá :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "When I Dreamed" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.