When I Dreamed escrita por Shiroyuki


Capítulo 2
Capítulo 2. new name and no fears




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733165/chapter/2

2. new name and no fears

 

 

Victor Nikiforov era escritor, e não apenas qualquer escritor.

Victor Nikiforov era Vincent V. Stammi.

Ele era o prodígio que surgira do nada no mercado americano e já garantira duas obras no topo da lista do New York Times na sua estreia; o misterioso e apaixonante escritor que, apesar do sucesso estrondoso, nunca havia feito uma aparição em público, e não tinha fotos em lugar algum. Ninguém sabia quem ele era, mas seus livros sumiam das prateleiras assim que eram repostos.

Talvez o mistério em torno do autor fosse o combustível para esse interesse, mas Victor se sentia realizado por ter seu trabalho reconhecido. Quando lia as críticas favorecendo seus livros, e via seu pseudônimo no topo da lista de autores mais vendidos, sentia que tudo valia a pena. Pouquíssimas pessoas na editora em que era publicado sabiam a verdade sobre a sua identidade, e ele preferia que se mantesse dessa forma.

Suspirou, enquanto terminava de escrever o e-mail para Christophe Giacometti - seu editor, e que, gradualmente, tornara-se também seu melhor amigo - desculpando-se por não ter nem mesmo uma ideia para apresentar para ele. Era difícil admitir que, depois da popularidade meteórica dos seus primeiros livros, de forma tão explosiva e repentina, a fonte havia secado. Victor já não sabia para onde recorrer.

Havia sido ele que, pouco menos de dois anos atrás, viera para os Estados Unidos com um manuscrito não finalizado, que ele ainda estava traduzindo para inglês, um visto temporário de visita, e sem uma única perspectiva do que fazer quando chegasse ali. Com o dinheiro que havia juntado, conseguiu alugar um quarto, e passou a bater na porta de cada editora existente na cidade de Nova York, usando todos os argumentos imagináveis para convencê-los de que valia a pena publicá-lo.

Ninguém queria dar uma chance para um estrangeiro desconhecido. Nem mesmo aceitavam ler seu original, e os poucos que prometiam entrar em contato mais tarde nunca o faziam de verdade. Uma ou outra empresa parecia ver potencial em Victor. Em sua aparência, sendo mais específico. Nesses casos, ele fazia questão de recusar a proposta, e saía do lugar de cabeça erguida. Este tipo de acordo, ele não aceitaria de forma alguma, não mais.

Foi Chris o único que aceitou ouvi-lo até o final. Ele era editor em uma empresa ainda pequena, com poucos funcionários e um número ainda menor de livros publicados, mas ele tinha como dar uma oportunidade a Victor. E o homem era incrível! Leu seus originais e entendeu sem maiores questionamentos os motivos de Victor não querer revelar sua identidade ao público, e, a partir desta única exigência, criou toda uma campanha de marketing que exaltava não somente as histórias escritas por Victor, da maneira como eram, como também o mistério em torno de um autor incógnito e sem rosto.

E aqui estava ele. Depois de lançar dois livros em pouco mais de um ano, e conseguir resultados dos quais podia verdadeiramente se orgulhar, pagava o investimento de Chris com uma página em branco do Word, com aquele cursorzinho que piscava sem parar e parecia estar desafiando-o, debochado.

Suspirou, esticando os braços com um longo e cansado lamento. Fechou o notebook, e levantou do chão, onde esteve sentado durante aquele tempo, levando consigo a xícara do chá, que não havia sido tocado, mas já estava frio.

Yuri estava sentado preguiçosamente na cadeira de madeira que ficava na bancada do centro da cozinha, comendo o cereal que havia obrigado Victor a comprar para ele, vestindo uma camiseta que era potencialmente grande demais para ele, com a estampa de aparência quase demoníaca de alguma banda de rock que Victor desconhecia. Enquanto comia, lia distraidamente a embalagem do cereal. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo curto e baixo. Então ele ia mesmo deixar crescer.

Victor andou até a pia, deixando a xícara na beirada.

— Você ainda está com aquela besteira de não mostrar o rosto?

Durante o curto período de tempo que Yuri esteve morando com ele, os dois combinaram de conversar estritamente em inglês, mesmo entre eles, para fazer com que Yuri se habituasse ao idioma em um nível mais casual antes que suas aulas tivessem início. O longo vocabulário de gírias e palavrões que Yuri conhecia surpreendiam Victor a cada dia.

Porém, aquela pergunta veio tão subitamente que, por alguns segundos, ele duvidou se havia ouvido mesmo alguma coisa, e levou tempo além do necessário para processar o que havia ouvido. Yuri havia soltado a caixa de cereais e estava o encarando, quase sem piscar, com os impassíveis olhos verdes. Naquele momento, ele parecia quase felino, de verdade.

—  Como assim? - Victor não conseguiu pensar em nada melhor para dizer. Escorou-se despreocupadamente na pia, quando, na verdade, preferia sair dali e evitar o assunto de forma geral. Mas ele conhecia Yuri bem o suficiente para saber que ele não desistia sem uma resposta no mínimo satisfatória.

— Não se faça de bobo, você é péssimo nisso. Estou falando nessa merda toda de pseudônimo e de se esconder. - Ele apontou para o livro que Victor não havia percebido até então, que estava ao seu lado sobre a bancada. Era seu livro, In Regards to Love. Ele conhecia a capa negra fosca, que trazia a silhueta de uma mulher em um vestido vermelho, sendo cortejada por um homem de capa e chapéu, sem precisar ler o título, nem o nome que se destacava em relevo brilhante. Vincent V. Stammi, era o nome impresso ali.

—  Muitos autores usam pseudônimos. Muitos escolhem o anonimato. Não vejo por que isso deveria ser um incômodo para você, Yura…

—  Deve ter muitos autores que não querem aparecer, mesmo. - Yuri concordou, manejando a sua colher no ar, quase acusadoramente. - Mas você não é um deles. Você adorava ter fãs, ser reconhecido, aparecer na TV. Você vivia por isso. As pessoas amavam você! Por que você desistiu disso, abandonou tudo, pra ser um ninguém aqui? Eu não entendo!

— Você não precisa entender, Yura, ainda é muito novo…

— Pro inferno com essa coisa de ser muito novo! Eu não sou criança! - Yuri se ergueu, batendo as mãos na bancada de madeira com força desnecessária, fazendo a sua tigela de cereal estremecer, e derramar leite sobre a superfície. No calor do momento, naturalmente voltou a falar em russo. - A única coisa que eu entendi disso tudo é o quanto você é covarde! Fugiu no primeiro obstáculo e foi embora sem pensar em ninguém! E agora, fica se escondendo atrás de um nome falso! Nem escrever, que é a única coisa que você sabe fazer direito, consegue mais!

Yuri.

O garoto interrompeu seu discurso no mesmo instante, sobressaltado pelo tom de voz utilizado pelo irmão. Victor nunca falava com ele daquele jeito. Ele estava de cabeça baixa, e os cabelos faziam sombra em seu rosto, Yuri não conseguiu ler sua expressão. Naquele momento, o jovem soube que havia ido longe demais nas suas acusações.

—  Leve o Makkachin pra passear no parque que fica perto daqui.— Victor andou até a sala e pegou sua carteira do aparador próximo ao corredor de saída. Tirou algumas notas e voltou para a cozinha, entregando-as na mão de Yuri. - Compre almoço para nós na volta.

Yuri quis argumentar, mas não via mais o que poderia ser dito naquela situação. Estava naquela casa há somente dois dias e já conseguira causar esse nível de conflito. Yuri tinha um dom, e ele se resumia basicamente na capacidade de não medir as palavras e acabar sendo cruel sem necessidade. Pelo menos isso ele podia reconhecer. Sendo assim, apenas aquiesceu e saiu em direção à porta, apanhando a guia de Makkachin no gancho próximo à saída. O cachorro, assim que ouviu o barulho que anunciava um possível passeio, correu como um raio na direção de Yuri, acompanhando-o com um entusiasmo impressionante para sua idade, alheio ao clima pesado que se instalava no apartamento.

E Victor ficou mais uma vez sozinho com seus pensamentos.

Yuri estava certo, em parte. Victor era basicamente um covarde, que não conseguiu enfrentar nenhum dos seus problemas diretamente - apenas tomou o caminho mais fácil e desistiu, fugindo. Havia sido exatamente este um dos motivos pelo qual ele fora embora da Rússia, de fato.

Yakov Feltsman, o pai adotivo de Victor, trabalhava com agenciamento de escritores em uma editora, e foi depois de ser adotado e  ir morar com a família Feltsman que Victor entrou em contato pela primeira vez com o mundo da literatura. Através das páginas das centenas de livros que o rodeavam em sua casa, ele descobriu que era isso o que ele queria fazer na sua vida. Criar histórias que emocionassem e abalassem os sentimentos das pessoas.

Lilia e Yakov o apoiaram, evidentemente, e ele começou a escrever. Entrava em concursos literários e outros eventos, submetendo seus trabalhos que, pouco a pouco, se superavam em qualidade e ganhavam notoriedade, principalmente evidenciando a sua pouca idade, durante toda a adolescência. Logo chamou a atenção de editoras, e, como Victor era orgulhoso e queria demonstrar que era capaz de fazer tudo por si só, não demorou a sair debaixo das asas do seu pai para tentar cuidar sozinho de sua carreira iminente.

Victor nunca admitiu para ninguém, mas tinha uma esperança, muito escondida lá no fundo, de que algum dia poderia conhecer sua família biológia. Victor era um romântico. Ele tinha aquela fantasia de que, se fosse famoso o suficiente, algum parente seu o reconheceria, e viria, emocionado, apresentar-se e pedir desculpas por tudo o que levou Victor a parar naquele orfanato, não importando quais motivos fossem esses. Foi por isso que, quando foi finalmente adotado, Victor pediu aos seus pais para que não mudassem seu sobrenome no registro. Ele os aceitava absoluta e completamente na sua vida, mas queria permanecer com aquele pequeno elo que o ligaria a uma família que ele nunca conheceu, apenas por ser tão otimista.

Ele amava Yakov e Lilia, isso era indiscutível, e era profundamente grato por tudo o que eles já haviam feito por ele e pela família que ele tinha. Não poderia ter sido agraciado com pais melhores, ele sabia disso. Mas havia aquela dúvida insistente, um pedaço de si que parecia vazio e que nunca se preenchia não importava quantas coisas maravilhosas acontecessem na sua vida.

Embarcando de vez naquele sonho que acabara de nascer, ele publicou alguns livros com uma das editoras que ofereceram propostas a ele, e foram grandes sucessos. Victor era reconhecido quando ia para a rua, suas noites de autógrafo ficavam lotadas, com filas que se estendiam para fora das livrarias, e ele tinha uma massa de fãs fiéis e que o amavam. Com apenas 21 anos, ele era reconhecido e amado pela Rússia (ninguém nunca apareceu clamando ser sua família, porém).

Apesar de tudo o que havia dado certo, no entanto, Victor não se sentia realizado. O contrato com a editora o limitava de uma forma extenuante, e controlava cada pequeno aspecto da sua vida. Inclusive, o editor alterava partes dos seus livros, argumentando sobre serem mudanças que os fariam vender ainda mais. Victor estava sempre sendo chamado para programas de televisão e aparições públicas. Autógrafos, eventos, festivais, até mesmo negociações dos direitos das suas histórias para filmes e novelas… Isso nunca tinha fim.

Ele estava começando a ficar exausto, mas… não era esse o seu sonho? Não havia sido para isso que ele se esforçara tanto? Ele podia aguentar mais. Um ou dois anos, desta forma, se passaram. E Victor fez tudo o que havia a seu alcance para ser o autor estimado, adorado, pelas quais as fãs gritavam quando o viam passar. Ele podia ser esse personagem, se treinasse o suficiente para que ninguém percebesse o quanto isso o exauria por dentro.

E então… a gota d’água. Seu editor cobrava mais e mais por livros novos e lançamentos, mas Victor não era uma máquina. Ele não conseguia fazer as coisas desse jeito. Aquelas palavras que escrevia, e que depois eram minuciosamente alteradas e modificadas, nem pareciam mais as histórias que ele concebera. O editor riu, quando ele admitiu sua frustração sobre isso.

“Acha mesmo que aquelas besteiras que você escreve são boas o bastante para fazer tanto sucesso? Não seja tolo, Nikiforov. Seus livros são bons. No máximo medianos. Esquecíveis, temporários. Não pense que sozinho você teria ido longe. Não, não. O seu sucesso, você deve a mim. Eu criei você. O seu rosto, a sua personalidade, o seu carisma. É isso o que faz seus livros venderem. Não se iluda, achando que é um grande escritor. Você é apenas um rosto bonito com algumas histórias clichês e romances baratos que atrai facilmente mulheres iludidas correndo atrás de um sonho fácil. As pessoas querem  essa ilusão, e é isso que eu dou a elas. Nada mais do que isso.”

Foi o suficiente.

Victor rasgou seu contrato, se demitiu, e foi embora da Rússia, sem planos de voltar. Iria recomeçar, com seus próprios méritos, do zero, em outro lugar. Iria provar de uma vez por todas o seu talento e o seu valor. Para aquele editor. Para as fãs que gritavam seu nome, mas sequer o conheciam. Para a família que deveria ser sua, mas não o quis. Para seus pais, que acreditaram nele, mas que, agora, deveriam estar decepcionados. Para o seu irmão mais novo, que, apesar de esconder muito bem sua admiração, enchia a boca para se gabar do seu irmão famoso na escola. Todos eles o reconheceriam, de uma forma ou de outra. No fim, ele iria conseguir vencer.

Como previsto, o famoso e carismático autor russo, ídolo dos romances, o nome que todos reconheciam e clamavam enquanto corriam atrás dele naquela época, foi facilmente esquecido.

Victor não sentia a menor falta dele.

 

.

.

.



—  Como foi a prova, Yuuri?

—  Prefiro não falar sobre esse assunto.

As ruas do centro de Detroit estavam sempre cheias de pessoas, que caminhavam rápido e de cabeça baixa. Yuuri poderia estar em casa agora, depois de mais um dia exaustivo de aula. Tomando um banho, ou de pernas para o ar no sofá. Mas ele era um amigo fiel, então, estava no momento acompanhando Phichit na sua empreitada de comprar ração para os hamsters. Yuuri era seu escudeiro, e impediria que Phichit gastasse mais do que o absolutamente necessário.

Considerando as várias sacolas nas mãos do garoto, que iam desde roupas novas, condicionador de cabelos, uma touca de lã para o próximo inverno, e um sistema complexo de tubos coloridos para interligar as gaiolas dos seus hamsters, ele claramente não obteve sucesso em sua tarefa.

— Você devia desistir de fazer essas matérias de administração, acho que já tá bem óbvio que essa não é a sua vocação. - Phichit opinou, e parecia atento à conversa, mesmo quando toda a sua linguagem corporal demonstrava que ele ainda observava as vitrines das lojas por que passavam com olhos de águia. Yuuri não conseguia acreditar que Phichit ainda tivesse disposição (e dinheiro) para comprar mais, embora, tivesse que admitir, ele tinha uma habilidade para encontrar promoções e descontos que era quase sobrenatural.

—  Eu faço isso porque parece mais seguro. Ter uma alternativa caso não dê certo com a dança. - Yuuri justificou, não tão certo do que dizia. Odiava aquelas aulas, isso não era segredo para ninguém. Passou a olhar para os lados também, observando distraidamente os anúncios, as pessoas, as roupas nos manequins. Não queria ter que encarar Phichit, porque sabia exatamente o que ele falaria a seguir. Eles já haviam tido essa conversa antes, e mais de uma vez, ainda por cima.

— Yuuri, escuta aqui. Você nasceu pra dançar, ok? Eu não estou falando isso só porque eu sou seu amigo não, eu tô falando porque eu vi o potencial que você esconde aí dentro com meus próprios olhos. Naquela festa que nós fomos daquela fraternidade, e você bebeu todas, encontrou aquele poste no jardim, e…

—  Ok, já entendi! - Yuuri interrompeu mais do que depressa. - Você prometeu que não ia nunca mais citar aquela noite! - Ele não lembrava de nada daquela fatídica festa, só sabia o que havia acontecido através da narrativa, por vezes exagerada, de Phichit, e, mesmo com toda a ideia fantasiosa da mente fértil dele influenciando a sua versão, Yuuri podia imaginar por si só o tamanho do estrago. Ainda bem que ele nem imaginava que Phichit ainda tinha as fotos, e um vídeo, muito bem armazenados em seu celular. E na nuvem também, só pra garantir.

—  O que eu quero dizer é que você não devia se preocupar com “e se tudo der errado”. Foca em como fazer isso dar certo. Porque eu sei que você tem essa capacidade, e eu vou ficar repetindo isso até entrar na sua cabeça dura. - Phichit bateu com os nós dos dedos na cabeça de Yuuri, fazendo-o voltar a olhar para si. - Você não se inscreveu na Companhia de Dança da Universidade?

—  Sim… - Yuuri não tentou adivinhar o rumo daquela conversa. Nunca sabia onde os discursos motivacionais de Phichit iriam parar, quando ele os começava.

—  E você passou no teste, mesmo depois de ficar semanas se preocupando, e eles ainda te elogiaram e falaram que precisavam de alguém como você há tempos, não foi?

—  Foi, mas…

— Sem “mas”. Não sou eu, Phichit, seu amigo, falando. São os seus colegas, dançarinos, que entendem do assunto. Você vai dançar lindamente, vai encantar todas as plateias do mundo, vai se formar nessa universidade e sair por aí pra se apresentar, pra dar aulas ou o que você quiser. Eu sei disso, e se você ousar discutir comigo, vai lavar a louça do resto da semana. Não tô brincando.

Yuuri riu, porque não sabia mais o que poderia dizer. Ele não estava exatamente se sentindo mal sobre esse assunto no presente momento, mas era sempre bom ter Phichit para dar uma renovada nas suas convicções.

—  Isso tudo não é um plano complexo e elaborado pra fazer eu desistir das aulas de administração, sair mais cedo da universidade e ter tempo de fazer almoço pra você dois dias na semana, certo? - Arriscou um palpite, ainda sorrindo. Phichit ofegou, colocando a mão no peito dramaticamente.

— Yuuri! Até me ofende você pensar um absurdo desses da minha altruísta e generosa pessoa. Eu estou pensando u-ni-ca-men-te no seu bem, e nada mais! Mas, na quinta-feira, eu vou querer que você faça aquele macarrão-pseudo-yakisoba que só você sabe fazer~ aaah, que saudades de comer aquilo. - Phichit apoiou seu corpo inteiro em Yuuri, passando o braço (que ainda estava carregado de sacolas) pelo ombro do outro, mesmo que ele fosse consideravelmente mais alto, e ambos perdessem o equilíbrio durante o processo. - Falando em comida, não quer parar para comer alguma coisa? - Ele sugeriu, ainda mais animado.

—  Na verdade não, ainda temos aquela pizza que sobrou de ontem, e… depois de tudo o que você gastou hoje, comer fora não parece a melhor ideia. - Yuuri afirmou, ignorando o muxoxo de decepção de Phichit, enquanto olhava ao redor para ver exatamente onde se encontravam. - Mas tem um lugar onde eu quero passar, antes de ir para casa…

—  Ah, beleza! Então vamos.

Phichit não hesitou em seguir Yuuri, que atravessou a rua, um pouco mais decidido do que minutos antes. O lugar em questão era uma livraria, e Yuuri seguiu até uma prateleira específica, observando com cuidado os títulos disponíveis.

Quando encontrou o que procurava, seus olhos brilharam, e ele puxou o livro da prateleira com tanta avidez que alguém que observasse de longe acreditaria que se tratava do último exemplar, mesmo que mais dois exatamente iguais ao primeiro continuassem perfeitamente expostos no mesmo lugar.

 “In Regards to Love”? Não sabia que você era do tipo que lia romances desse estilo, Yuuri… - Um sorriso provocativo se abriu no rosto de Phichit antes mesmo que ele terminasse a sua frase. - Anda carente por causa daqueles sonhos, hm? Enquanto o seu amante imaginário não se torna real, você procura por amor nas páginas desses… - Phichit puxou o livro das mãos de Yuuri para examinar melhor a capa. - Olha, sem ofensas, mas esse livro parece um daqueles pornôs literários baratos… - Ele franziu os olhos. - O que você anda lendo e onde foi parar o meu inocente Yuuri que até outro dia não sabia o que era um ménage?

— Cala a boca, Phichit, não é nada disso! - Yuuri corou até a raiz dos cabelos, empurrando o colega de quarto da maneira mais silenciosa que conseguia, para não atrair tanta atenção para si na calma livraria. Phichit jamais deixaria ele superar qualquer evento constrangedor que ocorresse na sua vida, isso era certo. - Esse livro não é assim. Eu não li ainda, mas não parece… Ah, pára, você só está me zoando! - Yuuri notou o sorriso insistente no rosto do outro, e o empurrou mais uma vez pelo ombro.

—  De qualquer forma, eu nunca tinha visto você lendo esse tipo de livro. Por que, tão de repente? - A provocação de Phichit deu lugar à curiosidade. Yuuri puxou seu livro de volta, e continuou a verificar as estantes ao redor, apenas para confirmar que não havia mais nada ali que despertasse seu interesse.

—  Bem, Yuuko me deu um livro de aniversário, ano passado, e eu só fui ler ele agora… - Yuuri começou a falar, ignorando o “enquanto enrolava para não estudar para aquela prova, eu lembro” comentado discretamente por Phichit. - Era sobre um atleta que perdia sua motivação para competir, e acabava encontrando-a novamente ao treinar um jovem que era seu fã… Enfim, eu gostei muito da história, e da forma com o autor escreveu, da mensagem que passou. Resolvi comprar esse outro livro, que foi o primeiro dele. Só isso. - Ele deu de ombros, despreocupadamente. -  Ah! Se você quiser, posso te emprestar!

Yuuri parecia subitamente empolgado com a perspectiva de ter alguém com quem discutir sobre aquele que provavelmente havia se tornado seu livro favorito naqueles poucos dias, mas Phichit apenas fez uma careta.

— Não sei se é meu tipo de literatura. Gosto de umas coisas mais… rápidas. E dinâmicas. Com ação. E música. - Ambos caminharam lado a lado em direção ao caixa.

—  Você gosta de filmes, ok, entendi. - Yuuri pagou pelo livro, e pegou sua sacola. - Ainda não sei como é possível alguém que quer ser jornalista não gostar de ler.

—  Eu sou partidário da filosofia de que uma imagem vale mais do que mil palavras. E eu escrevo para a internet, ok? As pessoas não leem a notícia toda, só olham a manchete e as imagens. - Phichit admitiu, sem o menor embaraço. Os dois alcançaram de novo a rua, agora com uma sacola a mais. - Se eu tiver boas fotos, tenho o suficiente.

—  E fotos, por acaso, são a sua especialidade.  

—  Exato. Obrigado pela compreensão. - O tailandês piscou um dos olhos, atrevido. - Agora, será que a gente podia ir comer alguma coisa? Eu tô com fome, mas não é fome de pizza requentada.

Yuuri revirou os olhos, com um sorriso contido, e Phichit soube imediatamente que dessa vez havia conseguido o que queria.







Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hello~ it's me~

Espero que tenham gostado do capítulo 'u'

Dessa vez, com um pouco mais da história do Victor (minha beta disse que fui cruel com ele ;-;)... eu amo o Victor, mas não resisto a passados trágicos :3 acaba dando nisso... Ah, um detalhe, acho que ficou bem óbvio mas de qualquer forma, o pseudônimo do Victor é uma referência à "Stammi Vicino", enfim~

Também tivemos Phichit e Yuuri in town porque eu amo a amizade desses dois e vou defendê-la até o fim dos meus dias ♥♥♥

Ook~ não vou me estender muito aqui~ beijos e até a próxima o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "When I Dreamed" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.