When I Dreamed escrita por Shiroyuki


Capítulo 11
Capítulo 11. nice to meet you


Notas iniciais do capítulo

... é como diz aquele ditado




"antes tarde do que nunca".



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Victor ouviu quando a porta abriu com barulho mais violento que o normal, dando a indicação de que só podia ser Yuri chegando em casa. Havia um par de passos a mais junto aos dele, e isso despertou a sua curiosidade. Ele levantou com o tablet que estava usando ainda nas mãos, deixando a cama de onde ele não se preocupou em sair desde que acordara naquele dia, e ignorando completamente o fato de que vestia apenas cuecas boxer e uma camiseta de estampa duvidosa que ganhara de aniversário de Mila em algum ponto, e que agora era reservada para dormir.

—  Ah! Olá! – Victor comprimentou alegremente, ao confirmar que Yuri de fato trazia companhia. O garoto era pouco mais alto do que o seu irmão, na verdade, mas parecia muito mais velho na aparência.

Victor observou por tempo suficiente para guardar aquelas características no seu arquivo mental de aparências-que-dariam-bons-personagens-no-futuro. Ele usava aquele corte de cabelo raspado nas laterais que todos os garotos pareciam estar aderindo ultimamente, e tinha uma expressão estoica e séria. A jaqueta de couro e os coturnos que usava garantiam um ar de rebeldia ao visual por inteiro. E Victor tinha certeza de que ele já fazia a barba, e não era aquela penugem de adolescente que Yuri nem tinha criado ainda. Na verdade, parecia que o garoto devia ter mais barba do que o próprio Victor. Seria mentira se ele dissesse que não se sentiu minimamente intimidado pela figura.

—  Boa tarde, Sr. Plisetsky… – o garoto, apesar do estilo bad boy, parecia educado, e Victor instantaneamente o aprovou, sem pensar muito, abrindo um simpático sorriso enquanto estendia a mão para comprimentá-lo decentemente. Adorava personagens que não eram exatamente aquilo que pareciam à primeira vista, e qualquer suspeita que ele pudesse ter tido durante aqueles poucos segundos evaporou-se como se nunca houvessem existido.

—  Plisetsky não, eu sou Nikiforov. Victor Nikiforov. – ele informou. O garoto tinha um aperto de mão mais firme do que o esperado e Victor teve que mascarar a leve dor que quase transpareceu em seus olhos.

—  Ah, desculpe. Eu sou Otabek Altin, sou amigo do Yuri.

Victor não pode deixar de perceber o leve rubor que subiu na face de Yuri à menção da palavra amigo, mas deixou isso reservado para usar de provocação mais tarde. Victor começou a fazer seu papel como anfitrião, oferecendo qualquer coisa que Otabek pudesse precisar, e garantindo que ele se sentisse à vontade, enquanto pedia desculpas adiantadas por qualquer comportamento tudo que Yuri certamente já deveria ter tido e ainda iria ter no futuro.

Apesar de estar cumprindo muito bem a função de embaraçar o adolescente que trazia um amigo para casa, Victor não podia deixar de se sentir feliz em saber que Yuri estava se adaptando bem à nova vida na América, inclusive, fazendo amizades. Yuri jamais admitiria, mas Victor recentemente descobriu que entre os vários motivos que levaram o garoto a querer vir morar com ele, um deles era por ter se envolvido em uma briga com seus amigos da antiga escola onde estudava em São Petersburgo. E o motivo, Lilia contou enquanto conversava com ele no telefone, outro dia mesmo, era porque alguns dos garotos estavam fazendo piadas e insinuando que Victor havia fugido do país por que na verdade era gay e não queria ser descoberto.

Yuri sempre havia sido uma criança reservada, mas com opiniões eloquentes, e que se limitava há algumas poucas companhias, e ele havia deliberadamente aberto mão desses seus poucos amigos, arriscando ser expulso da escola onde estudava, para defender a honra do seu irmão, que ele não via pessoalmente há mais de dois anos. Mesmo se Victor fosse diferente, ou não fosse exatamente o que ele esperava. Mesmo que ele não soubesse exatamente o que havia acontecido para Victor ir embora.

Victor sorriu, vendo que Yuri ainda retorcia a face desconfortavelmente, na certa sentindo a tortura de embaraço alheio da conversa casual que decorria logo à sua frente. Era um alívio saber que ele estava se adaptando bem, apesar da sua personalidade difícil. Ele sabia o quanto era difícil para Yuri deixar que pessoas entrassem na sua vida, depois do que aconteceu com seu avô. O medo de se apegar a alguém, e depois sofrer quando essa pessoa fosse embora, mesmo que isso fosse completamente irracional. Victor e seus pais haviam sido uma exceção. Otabek parecia muito ser uma também.

— Enfim, de qualquer maneira é um prazer finalmente conhecê-lo, Otabek. Afinal, Yuratchka falou realmente muito sobre você!

Otabek moveu minimamente o canto dos lábios, algo que poderia talvez ser considerado um sorriso, mas Victor foi distraído da sua análise por um grunhido irritado do seu irmão mais novo.

Arghg! Chega disso! – ele elevou a voz, não tanto quanto faria normalmente, parecendo lutar entre a vontade de mandar Victor para o inferno e a óbvia tentativa de não parecer um louco na frente do amigo. – Victor! Faça o favor de não parecer um maldito pervertido e coloque algumas roupas, caralho!— no auge da irritação contida, Yuri mudou para russo sem nem perceber.

— Que rude falar em outra língua na frente da visita, Yura! – Victor resmungou, de uma forma mais infantil do que o necessário apenas para inflamar um pouco mais a ira do garoto. – Vocês precisam de alguma coisa? Eu posso preparar uns lanchinhos…

— Eu preciso que você fique longe! Volte a fazer qualquer merda que você fica fazendo o dia inteiro e nos deixe em paz! – Yuri não hesitou em puxar Otabek pelo pulso e o rebocar na direção do seu quarto. Ele não parecia nem um pouco assustado ou afetado pela personalidade de Yuri, na verdade parecia até acostumado, e por apenas isso Victor já começava a pensar que aquele menino merecia ser canonizado. – Ah! Soube alguma coisa sobre Makka…? – ele parou no meio do caminho, voltando a se virar para encarar Victor e soltando o braço do pobre Otabek, que continuou em silêncio esperando pelo próximo movimento para saber para onde ir. Yuri tentava parecer desinteressado mas Victor sabia muito bem que ele sentia tanta falta do cachorro quanto ele próprio.

—  Ele está sendo muito bem cuidado, eu acabei de conversar com o garoto que o encontrou e arranjei tudo para ir buscá-lo! – Victor anunciou triunfante, mostrando o tablet em sua mão como indicação do que estava fazendo. – Estava agora mesmo comprando a passagem para Detroit!

Yuri franziu os olhos na direção do tablet e levantou uma sobrancelha questionadora.

—  Não parece que você estava fazendo isso…

A página aberta na tela que Victor balançava diante de si trazia imagens de pessoas dançando nas mais diversas poses, com roupas coladas demais e na cor da pele, que vistas de longe pareciam qualquer outra coisa menos a apresentação de dança contemporânea que estava de fato sendo retratada ali. Victor voltou a recolher o aparelho, embora sem um pingo de constrangimento pelo mal entendido.

— Faz parte da minha pesquisa! – ele explicou rapidamente – Mila conseguiu os nomes das companhias de dança que se apresentaram nos eventos, mas parece que aquele bailarino que eu estou procurando não está na lista oficial de apresentações, e eu estou checando cada um dos grupos que estavam lá, atrás dele!

— Você está mesmo insistindo nisso? – Yuri estalou a língua, e virou-se para Otabek, que ainda aguardava pacientemente – Ele teve um sonho e acha que encontrou a pessoa do sonho de verdade. É loucura. – Ele explicou sucintamente para o garoto que deveria estar perdido com aquela rápida mudança de assuntos, o que Victor achou realmente atencioso da sua parte. – Olha Victor, não tem como a pessoa do seu sonho existir na vida real, isso é só a história do seu livro e você está ficando completamente louco! Desiste logo disso e vai escrever o seu livro que você ganha mais!

Victor analisou, de verdade, as palavras de Yuri por alguns segundos, e então sorriu.

—  Eu só vou descobrir se tentar não é mesmo?

Yuri revirou os olhos, arrastando Otabek na direção do seu quarto. Victor era um caso sem solução, e ele já devia saber disso há muito tempo.

.

.

.

Phichit era uma pessoa terrível, o pior amigo que alguém poderia ter em vida, e Yuuri jamais, jamais, o perdoaria.

Enquanto segurava firmemente a coleira nova que comprara naquele dia mesmo para Makkachin, que caminhava obedientemente ao seu lado, ele se acomodou no chão mesmo, embaixo das árvores próximas, e continuou a remoer esses pensamentos, sabendo que não poderia deixar a irritação morrer, ou não conseguiria se vingar apropriadamente daquele tailandês filho da mãe.

Além disso, se deixasse essa raiva recente se esvair, ela daria lugar ao nervosismo, e tudo o que Yuuri definitivamente não precisava era ter uma crise exatamente agora. Então, ele continuaria a alimentar o sentimento de ter sido traído pelo seu melhor amigo, planejando mentalmente o que iria fazer para que ele sofresse nas próximas semanas.

O sol estava forte, mas o clima era agradável. O parque era aberto e fresco, havia algumas pessoas ao redor, jogando bola, estudando ou simplesmente caminhando, e as sombras nas árvores espaçadas no amplo gramado estavam sendo bem aproveitadas. Makkachin parecia extremamente feliz em poder sair para caminhar ao ar livre e ver outras pessoas, e se comportava impecavelmente, acompanhando Yuuri por todo o caminho até o lugar onde ele supostamente havia marcado de se encontrar com o seu ilustre dono. Esse era exatamente o cerne dos problemas de Yuuri.

Phichit havia enfiado na cabeça que Yuuri tinha que se encontrar com aquele homem – Victor, ele lembrava perfeitamente bem, mas só de lembrar do nome associado à imagem que vira na tela do notebook de Phichit (e mais tarde, espiou um pouco do seu celular também, mas disso ninguém precisava saber), ele já sentia arrepios. O nome combinava até demais com a imagem mental de Yuuri.

Não que ele acreditasse em todas as besteiras que Phichit esteve propagando aos quatro ventos desde que eles o encontraram. Coisas sobre destino, milagres e qualquer coisa que Yuuri não deu ouvidos pelo bem da sua própria sanidade. Não podia deixar os espirais de empolgação de Phichit tomarem conta da sua vida. O dono de Makkachin era apenas isso: dono de Makkachin. Ele viria, pegaria seu cachorro de volta, agradeceria e todos voltariam às suas vidas comuns, mundanas e sem nada de extraordinário ou fantástico para contar. Aquele era apenas… hm, Victor. Isso, chamar pelo nome ajudaria a desenvolver uma barreira mundana e eliminar totalmente aquela sensação incômoda que insistia em afligir Yuuri. Victor, dono de Makkachin. Uma pessoa comum, um desconhecido completo, e apenas isso.

Talvez, fosse culpa daquelas fotos, cheias de efeitos, que estavam enganando os sentidos de Yuuri. Ele nem sabia se havia visto corretamente. Mas não havia como alguém ser daquele jeito ao vivo, na vida real. Sem chances. Yuuri riu consigo mesmo, sem muito humor. Phichit havia visto filmes demais, e por isso acreditava em improbabilidades, mas Yuuri não era assim. Nunca havia sido.

Distraído com os próprios pensamentos, enquanto tentava se convencer de que aquele pequeno encontro… ok, encontro não era bem a palavra. Aquela pequena coincidência na sua vida, não tinha absolutamente nada de especial.

E ainda restava encontrar uma forma de punir Phichit por ter marcado para Yuuri devolver Makkachin para o seu dono sem avisar nada à ele antes. Eles já haviam combinado de ir juntos, mas Phichit resolveu tudo com Victor de última hora, deu o endereço dos dois e o contato de Yuuri, dizendo que não iria poder estar presente. Um compromisso extremamente urgente e absolutamente suspeito surgiu, do nada. E Yuuri, como sempre o último a saber, só ficou ciente do problema no qual havia sido metido quando o dono de Makkachin começou a mandar mensagens perguntando onde e quando poderia encontrá-lo, e dizendo que estava comprando passagem para Detroit no dia seguinte.

Aquela era uma pessoa peculiar, ele não poderia negar. Muito animado, e colocava emojis em todas as suas mensagens. Ele parecia amar muito Makkachin também, o que por si só já era um atestado de caráter, na humilde opinião de Yuuri. Mas aquela personalidade inesperada era diferente demais do que Yuuri podia imaginar, e de certa forma, ajudava a afastar a imagem que havia sido construída contra sua vontade através da impressão deixada pelos seus sonhos (que, repetindo, NADA tinham a ver com a presente situação, obviamente).

Yuuri marcou com ele, através de mensagens de texto, lugar e hora. Escolheu o parque próximo à sua universidade, assim, se precisasse de uma rota de fuga, poderia apenas dizer que tinha aulas ou qualquer outro compromisso acadêmico naquela tarde e escapar direto para dentro do prédio, sem necessidade de se explicar mais a fundo.

Olhando de volta no celular, percebeu que já havia passado 15 minutos desde a hora marcada. Mesmo tentando muito não pensar nisso, Yuuri estava começando a ficar nervoso. Ele havia explicado direito onde era o lugar, não é? Havia uma universidade enorme ali do lado, não havia como errar.

— Seu dono não é muito pontual, não é, Makkachin? – ele murmurou, para o cachorro, que mexeu a cabeça para o lado, quase como se estivesse concordando com ele. Yuuri estava cogitando a possibilidade de mandar uma mensagem para perguntar se estava tudo bem, e se não havia acontecido nenhum imprevisto, quando sentiu seu celular vibrando na sua mão.

Seu coração acelerou. Não havia nome no visor, pois Yuuri não salvara o número nos seus contatos, mas a essa altura já estava familiarizado o suficiente para saber de quem se tratava. Dessa vez não era apenas uma mensagem. Sentindo as mãos tremendo sobre a tela, Yuuri debateu internamente os prós e contras de atender a ligação (ele detestava falar ao telefone, mas era o dono de Makkachin ligando, ele ficaria nervoso demais para falar qualquer coisa coerente, mas e se ele estivesse precisando de algo? E se fosse uma emergência? E se ele estivesse ligando para dizer que não poderia ir naquele dia, que Yuuri não precisava mais esperar por ele?). O dilema durou apenas um milésimo de segundos antes que Yuuri deslizasse o dedo pelo sinal verde, e colocasse o telefone próximo ao ouvido.

— Ahn… alô? – Ele odiou a forma como sua voz falhou na primeira tentativa, mas a pessoa do outro lado da linha não pareceu se importar, pois já começou a falar antes mesmo dele terminar.

— Oi? Você é o amigo do Phichit que está com o Makkachin? Ah, ainda bem que você atendeu, eu não estou conseguindo acreditar no que está acontecendo… O taxista disse que eu só precisava ir reto, mas eu estou indo reto e não tem mais para onde ir? Eu realmente não sei como ele pode me dizer que era fácil, porque eu ainda não estou vendo nenhum lugar parecido com o que você me falou...

Yuuri sentiu algo inominável ao ouvir aquela voz, que ainda falava, sem que ele conseguisse distinguir nada. Era como ter um dos seus sonhos trazidos à realidade, ele não tinha como negar isso. O timbre, apesar de mais vívido do que ele esperaria, tinha as mesmas nuances, a mesma forma de enrolar o “r” e de estender as vogais, e Yuuri simplesmente travou, sem saber o que pensar.

Não contaria para Phichit que a voz do dono de Makkachin era igual ao do homem do seu sonho, ou ele jamais o deixaria em paz de novo. Só então ele percebeu que havia silêncio do outro lado da linha, então era hora de dar alguma resposta.

— Desculpe, eu não entendi? Você pode falar mais devagar…

O homem respirou fundo, como um acusado faria ao finalmente se dar por vencido, prestes a anunciar seu crime.

— … Eu me perdi.

Yuuri mordeu o lábio inferior tentando não rir. O homem parecia sinceramente transtornado por causa disso e ele não queria ser rude, rindo na cara dele, mas era inesperado, e possivelmente cativante, aquela diferença tão absurda entre a imagem que Yuuri vira nas fotos da rede social na noite anterior, e as ações que ele demonstrava na realidade.

— O lugar onde marcamos é o parque próximo à Universidade Wayne State, você chegou a falar isso para o taxista? – Yuuri fez o possível para manter-se neutro, mas um sorriso ameaçava escapar do canto do seu lábio enquanto ele se erguia do seu lugar na sombra e começava a caminhar lentamente, com Makkachin no seu encalço e o celular no ouvido.

— Eu falei! Eu mostrei a mensagem que você me mandou e tudo! Mas tinha um engarrafamento no caminho do aeroporto, e eu disse que podia ir a pé, era mais rápido, e ele me explicou como chegar até aí, mas… mas… as ruas são todas tão iguais, e tem muitas praças nessa região, sabia?! Eu segui reto, como ele disse, e ainda assim…

— Bem, acho que… vamos ter que dar um jeito nisso, certo? – Dessa vez foi difícil disfarçar, porque o tom de voz de um homem adulto não deveria soar como uma criança embaraçada e perdida tentando se justificar, e ainda assim, ali estava ele. Yuuri ouviu ele soltar um som que ficava entre a incredulidade e a ofensa.

— Você está rindo de mim? Que cruel, Yuuri! – Ele choramingou. Yuuri instintivamente reagiu, quase derrubando o celular enquanto sentia seu rosto aquecer, e segurava com mais força a guia de Makkachin. Nunca havia ouvido seu nome sendo pronunciado daquela forma, e nem mesmo lembrava de ter chegado ao patamar de tratar aquele desconhecido pelo nome ou ter dado liberdade para que ele fizesse isso, mas aparentemente ele não era alguém que se limitava a seguir protocolos sociais. – Sabe, meu irmão também se chama Yuri, e vocês dois fazem exatamente a mesma coisa comigo quando eu estou com problemas!

— Está bem, desculpe, não foi minha intenção. Eu e Makkachin vamos encontrar você, certo? – Yuuri tinha consciência de que ainda estava sorrindo, entretido com o sofrimento de outra pessoa, mas não conseguia evitar. Aquilo era inesperado, mas surpreendentemente, varreu para longe toda a apreensão anterior de Yuuri como mágica. Como ele poderia ficar nervoso em conhecer um homem que conseguia se perder andando em linha reta? – Onde exatamente você está?

— Se eu soubesse nós não teríamos um problema, não é? – ele soava levemente assustado e Yuuri riu mais uma vez, ainda que contidamente. – Bem, tem estacionamentos dos dois lados da rua, tem vários prédios grandes e um posto de gasolina do outro lado da avenida. Não parece ter nenhuma universidade por aqui. E quando eu perguntei onde ficava esse lugar, uma garota riu da minha cara e continuou caminhando para longe.

— Hm, essa descrição não ajuda muito, sabe? Não tem nenhuma placa por perto? – Yuuri sugeriu, pensando um pouco mais. – Mande uma foto de onde você está, quem sabe…

— Ah! Okay, espera um pouco…

A ligação foi encerrada, e poucos segundos depois, Yuuri recebeu uma foto no aplicativo de mensagem onde mantinha sua conversa com ele nos últimos dias. Yuuri teve que rir, novamente, percebendo que o lugar onde ele estava era na rua paralela ao parque. Eles estavam a pouco mais de duas quadras de distância. Era engraçado pensar que eles estão tão próximos esse tempo todo e ainda não haviam se encontrado.

Yuuri virou-se na direção para onde devia seguir se pretendia resgatar o dono de Makkachin, enquanto digitava rapidamente uma resposta para ele.

“Fique onde está. Estou indo te salvar”.

 

Enquanto atravessava a rua e chegava à outra quadra, Yuuri involuntariamente sentiu o coração martelar agitado no peito, ao distinguir perfeitamente a figura ao longe que, parada na esquina embaixo de algumas árvores, variava entre olhar apreensivamente para o telefone, e girar a cabeça ao redor, procurando por ele.

Ele era alto, e tinha aqueles inconfundíveis cabelos cinza-quase-branco que cintilavam ao sol de uma maneira que não deveria mas parecia já conhecida para Yuuri. Ele usava calças cáqui dobradas na altura dos tornozelos e uma camiseta branca de listras azul marinho, de mangas compridas, simples, um tanto largas no corpo magro. Era quase um modelo de catálogo de verão, com os óculos escuros pendurados na gola da camiseta, a bolsa-mensageiro de couro apoiada em um dos ombros, e aquela pose natural. Nada parecido com qualquer imagem mental que Yuuri poderia ter formado unindo as conversas exageradas dos últimos minutos e as fotos que havia visto anteriormente, e ainda assim, tão familiar que era quase doloroso de ver.

Yuuri diminuiu o ritmo dos seus passos, o nervosismo anterior retornando com força total dessa vez. Se Makkachin não tivesse começado a correr entusiasmado na direção do dono, talvez ele até tivesse parado de caminhar. Seus movimentos se tornaram automáticos, e ele sentiu sua respiração vacilar quando o homem, distraído, finalmente virou para trás, e viu Yuuri e o cachorro vindo na sua direção.

Ele abriu um sorriso do tamanho do mundo, e acenou amplamente com a mesma mão que segurava o celular. Makkachin não parava de correr e Yuuri quase tropeçou, no processo de ser arrastado pelo cão. Quando chegou perto o suficiente, o homem se ajoelhou para receber seu cachorro, que voou na direção dele, e Yuuri soltou a guia para que ele pudesse chegar até lá. Sentia-se inteiramente amortecido, enquanto o emocionante reencontro ocorria exatamente à sua frente, e ele mal conseguia processar o que estava presenciando.

E quando o homem terminou de afagar o cachorro, sem parar de falar o quanto sentira sua falta, e como ele havia se assustado, e que Makkachin não deveria nunca mais fazer isso com ele, tão rápido que era praticamente impossível tentar acompanhar o fluxo de ideias, ele finalmente ergueu os olhos na direção do seu salvador, com o mesmo sorriso quase bobo que havia lançado no primeiro segundo de reconhecimento.

Aqueles olhos eram tão azuis que Yuuri teve dificuldades em assimilar a informação. Piscou uma, duas vezes. A imagem diante de si continuava nítida, real e inacreditável.

Por um breve instante, ele havia tido a sensação de que estava sonhando.




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Notas finais do capítulo

Desculpa a demora, gente .-. Vou tentar parar de prometer coisas que não consigo cumprir depois

Beijos e até ♥



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