When I Dreamed escrita por Shiroyuki


Capítulo 10
Capítulo 10. abstract and reality


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Eu sei que prometi postar o capítulo em dois dias, mas minha internet não colaborou ontem à noite, então, estou vindo só agora .-. foi mal~ mas aqui está o capítulo!!! Espero que gostem!



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O que fazer com o cachorro que você encontrou na rua de uma cidade na qual só ficaria durante um fim de semana? Sim, levar para sua própria casa que ficava a pelo menos 9 horas de distância de carro dali. Óbvio.

Bem, em sua defesa, Yuuri tentou entregar Makkachin no canil da cidade. Quando chegou lá, um funcionário muito mal-humorado, que ficava mascando chiclete enquanto falava de um jeito absurdamente irritante, informou que se o dono do cachorro não aparecesse em um prazo de uma semana, ele acabaria sendo sacrificado. Ele não deixou claro se isso era procedimento padrão ou apenas um truque para assustar as pessoas antes que elas abandonassem os cães ali, mas Yuuri se recusou a deixar Makkachin em um lugar daqueles.

Como os posts de Phichit em inúmeras redes sociais não surtiram qualquer efeito até o momento, e eles não encontraram nenhum sinal do dono de Makkachin procurando por ele, Yuuri não teve outra escolha. Comprou uma caixa de transporte de animais e levou Makkachin consigo de avião de volta para Detroit. Lá, ele decidiria o que fazer e como encontrar o dono do cachorro – disso ele não havia desistido ainda. Makkachin ainda era uma bola de pêlos animada e disposta a qualquer coisa, mas Yuuri notava claramente que durante a noite ele ficava mais triste e desanimado, e ia dormir chorando. Era de partir o coração.

Assim que chegaram novamente na cidade, outro problema ameaçou surgir – o prédio não aceitava animais, e Makkachin era potencialmente maior, mais pesado e mais barulhento que os hamsters de Phichit (que ele havia deixado na casa de uma amiga durante a estadia deles em Nova York, é claro) para passar pela política do edifício.

Na verdade, passar com ele pela recepção sem ser notado era uma tarefa impossível. Por sorte, Phichit tinha um dom. E esse dom consistia basicamente em enrolar as pessoas na base da conversa até convencê-las de algo virando completamente o jogo para que elas pensassem que aquilo que ele queria que acontecesse fosse na verdade, ideia delas. Confuso, mas efetivo 100% do tempo.

Transformando Makkachin no cachorro de um amigo doente que morava sozinho e não podia cuidar dele, eles conseguiram alguns dias com o síndico do prédio, depois de garantir que Makkachin era tranquilo e não ficaria latindo o tempo todo. O cachorro até podia ser agitado, gostava de brincar, mas Yuuri supunha que ele já tinha certa idade e era acostumado a viver em apartamento, pois não estranhou nem um pouco toda a movimentação, enquanto Phichit e ele tentavam arrumar um cantinho na sala para que ele pudesse dormir. Isso também não durou, pois Makkachin tinha certa preferência por dormir em camas, e se pudesse ficar em cima de Yuuri até sufocá-lo, melhor.

Yuuri tirou um dia de folga das aulas por conta própria, tanto para descansar de toda a carga física e emocional que aquela ida à Nova York demandou, quanto para cuidar do caso de Makkachin. Não podia negar que ter a companhia dele ali, deitado nos seus pés sobre o sofá com a cabeça em seu colo enquanto assistia TV era confortável, e ele acabaria se apegando ao cachorro se demorasse tempo demais, (Phichit achava que ele já havia se apegado no primeiro dia) mas ele precisava ser responsável e se esforçar para encontrar a família de Makkachin o quanto antes, para o bem dele.

—  Yuuri! Yuuri, Yuuri, Yuuri, Yuuri, você não vai acreditar no que eu encontrei!!! –o grito começou ao longe, vindo do quarto de Phichit, e foi aumentando gradualmente até chegar na sala. Phichit surgiu correndo, praticamente escorregando nas próprias meias enquanto equilibrava o notebook nas mãos sabe Deus como. Makkachin nem pestanejou com a chegada triunfante do outro morador da casa. Talvez estivesse acostumado com pessoas espalhafatosas na sua própria casa também.

—  Olha Phichit, se for outra daquelas promoções relâmpago, black friday ou sei lá o quê, e você estiver querendo que eu me levante desse sofá para sair de casa enfrentar fila…

— Não, não é nada disso! É sobre Makkachin! – ao ouvir seu nome, o cachorro ergueu levemente a cabeça, as orelhas atentas. Yuuri também direcionou toda sua atenção para Phichit, que se acomodava na poltrona logo ao lado, como sempre. – Você está preparado? – Phichit parecia estar fazendo ar de mistério, muito mais apreensivo do que seria de se esperar. Yuuri quase desejava não ter um colega de quarto tão dramático, se soubesse que Phichit não seria Phichit sem um pouco de exagero e drama.

—  Preparado? É claro que estou, nós já estamos procurando o dono do Makkachin há dois dias, eu estou mais do que preparado. – Yuuri foi logo apressando, desejando mais do que qualquer coisa que Phichit fosse mais objetivo para ele enfim voltar ao seu filme. Sem pensar muito, começou a acariciar atrás da orelha de Makkachin, que apreciou o gesto e voltou a deitar no seu colo confortavelmente.

—  Ok, então, do começo! Porque eu sinto que essa é uma história que precisa ser contada do começo.— Phichit se preparou. Yuuri se acomodou melhor no sofá, virando-se para enxergar o amigo. Aquela parecia ser uma das longas. – Lembra do Seung-gil? O coreano que eu conheci no Central Park no dia em que você achou Makkachin?

—  Claro que lembro Phichit, isso foi dois dias atrás.

— Okay, okay, eu só estava querendo contextualizar. Então, eu e ele temos conversado durante esses dias, e eu contei a ele sobre Makkachin e sobre a história incrível de como nós o recolhemos das ruas e o livramos da morte certa no terrível canil.

—  Não foi bem assim…

— Calma, eu estou chegando lá! Seung-gil ama cachorros, não sei se deu pra perceber pelo instagram dele que é 80% de fotos do cachorro dele e 20% de selfies dele com o cachorro… enfim, ele ama cachorros, e participa de vários grupos de donos de cachorros de Nova York, obviamente. Eu vi aí um nicho, uma oportunidade, pedi para ele me colocar nos maiores, e talvez assim, eu tivesse chance de encontrar o dono do Makkachin mais facilmente, certo?

—  Ok… parece um ótimo plano na verdade… – Yuuri continuava sem entender por que Phichit estava tão afobado com algo tão simples, e que aparentemente estava dando certo.

— Eu ia fazer um post falando que nós o encontramos, mas não foi necessário. O dono do Makkachin já estava lá, em vários dos grupos, e os posts dele estavam bem na minha cara! – Phichit gesticulou para dar ênfase, como Yuuri já sabia que ele fazia quando chegava no clímax de qualquer história que estivesse contando. – Então! Você está mesmo preparado para isso Yuuri? Porque o que eu estou prestes a revelar vai abalar o seu mundo!

Yuuri quis rir, mas a maneira como Phichit estava falando começou a assustá-lo. Será que o dono de Makkachin era alguém que ele conhecia? Alguma pessoa que o detestava, ou alguém que ele acabara rejeitando sem querer por não saber que a pessoa estava afim dele (isso acontecia com mais frequência do que seria de se esperar). Será que era algum professor que ele odiava? Oh, não, se o dono de Makkachin fosse o professor das aulas de administração que Yuuri abandonou naquele semestre, ele não sabia o que iria fazer. Jamais devolveria Makkachin para um homem terrível como aquele!

No desespero criado pelo suspense que Phichit forçou, Yuuri esqueceu completamente do detalhe e que Makkachin era um autêntico nova-iorquino, e neste caso, seria impossível que Yuuri conhecesse pessoalmente o dono dele.

— Mostra logo! – Yuuri quase implorou, sentindo-se mais apreensivo do que deveria. Phichit realmente tinha a capacidade de envolver qualquer um com a sua narrativa. Ele devia usar esse poder para o bem, e não para torturar Yuuri.

Phichit girou o notebook, e Yuuri se deparou com o post de um grupo, e uma foto que ilustrava o mesmo Makkachin que agora estava deitado no seu colo, sem dúvidas, mas sentado em uma cadeira, diante de uma mesa com um bolo em formato de osso, e um chapéu de cone festivo e colorido na cabeça do cachorro, que parecia feliz demais. Havia até mesmo decoração nas paredes, e as palavras “Feliz Aniversário Makkachin” em bandeirinhas coloridas lá atrás. Yuuri sorriu com a foto. Se os donos deste cachorro eram capazes de fazer algo assim para ele, então eram pessoas maravilhosas, e Yuuri tinha que devolvê-lo o quanto antes.

— Você encontrou o dono dele, Phichit! Isso é incrível! Entre em contato logo para nós avisarmos que ele está bem!

— Yuuri! Você é cego? Chega mais perto e olha a foto da pessoa que fez o post. Por favor, olha com cuidado.

Yuuri o fez, inclinando-se mais para frente, apesar do protesto de Makkachin por ter perdido seu colo, e apertou os olhos para enxergar melhor. Havia sim, a foto de alguém no perfil, e quando olhava de perto, Yuuri conseguiu ver claramente dois traços marcantes daquela pessoa, que Yuuri jamais imaginou que veria daquela forma.

Cabelos cinza, quase brancos.

Olhos azuis.

Combinados, em uma só pessoa, e…

— Phichit, aumenta essa foto! – Yuuri praticamente caiu do sofá, enquanto se arrastava para ficar de joelhos, escorado na guarda da poltrona de Phichit, para enxergar melhor a tela do notebook. Phichit fez como ele pediu, mal se aguentando de empolgação.

Aquilo era demais para Yuuri aguentar. Não só a cor do cabelo e dos olhos era exatamente a mesma, mas também o penteado, com uma franja para o lado que dificilmente ficaria bem em qualquer pessoa, a forma de inclinar a cabeça ligeiramente, e o sorriso na foto. Yuuri encarou Phichit em completo e absoluto choque, os olhos arregalados pediam respostas, e estas respostas, Phichit não tinha como oferecer.

Ok.

Certo…

Não.

Yuuri precisava colocar a cabeça do lugar. Aquele homem podia ser ridiculamente parecido com a pessoa presente nos seus sonhos mas isso não significava efetivamente que eles fossem de fato o mesmo. Isso na verdade, soava bem improvável. Yuuri podia ter ido muito mal nas aulas de administração, mas entendia o básico de probabilidade e estatísticas, e todas as chances indicavam que ele estava apenas projetando a imagem do seu devaneio pessoal em um completo desconhecido que nada tinha a ver com isso.

No momento, devolver Makkachin para o seu dono era mais importante, e ele precisava ser racional e controlado sobre isso tudo.

— Vamos… vamos falar com ele. – Yuuri tentou ao máximo parecer inabalado, mas Phichit o conhecia bem demais para cair em qualquer disfarce.

— WOW! Direto ao ataque, gosto assim!

— Não! Não é nada disso! – Yuuri se apressou em explicar – Eu não nego que ele seja… parecido com a pessoa dos sonhos…

— Parecido nada, pelo que você já me descreveu e a forma como reagiu aqui agora, eles são idênticos! Certeza!

— Mas isso não significa nada.

— Significa que eu estava certo, eu sempre estou, e o cara do sonho existe mesmo, 3D, real e pronto pra te conhecer, e você já tem a maneira per-fei-ta de puxar assunto com ele, caramba, você encontrou o cachorro perdido do homem! Você já vai ser um herói na visão dele, não precisa nem fazer esforço pra conquistar. Não vou te deixar desperdiçar essa oportunidade, tá me ouvindo?! Quais as chances de algo assim acontecer?

—  Exatamente. Quais as chances? É por isso que eu sei que não devo pensar demais nisso. – o tom de voz de Yuuri deixava claro que ele havia tomado sua decisão, mas Phichit não iria desistir tão cedo desse assunto, ele sabia. Yuuri voltou a sentar no seu lugar no sofá, e o poodle mais do que prontamente se acomodou de volta no lugar onde estava antes nas suas pernas – O que importa agora é que você encontrou o dono do Makkachin, certo? Qual é o… qual é o nome dele?

Phichit percebeu a nota de interesse escondido no tom de voz controlado de Yuuri, mas resolveu não apontar isso, por enquanto.

— Hm, é Victor. Victor Nikiforov. – Phichit respondeu. Makkachin ergueu as orelhas ao ouvir o nome, e Yuuri sentiu algo não definido fazer sua pele formigar com aquela informação, mas resolveu não deixar que isso o abalasse por completo. – Victor, hm… acho que já esbarrei no Instagram dele… – Phichit puxou o celular do bolso do moletom que usava, pronto para checar naquele instante mesmo.

— Foco, Phichit! – Yuuri chamou, antes que ele pudesse fazer qualquer coisa – Mande uma mensagem para ele dizendo que encontramos o Makkachin, ok? Ele deve estar morrendo de preocupação. – A última frase fez Yuuri visualizar uma imagem desconexa, de um sonho de dois dias atrás, com um homem desolado deitado no sofá de um apartamento solitário. Yuuri se forçou a não pensar mais nisso.

— Ah, verdade… – Phichit pareceu lembrar só agora sobre a missão que eles tinham ali, e começou a clicar em algumas coisas e digitar algo com os dedos trabalhando freneticamente. De repente, parou, e voltou a olhar para Yuuri. – Você não quer… mandar você a mensagem? Estabelecer contato, sabe como é…

—  Não! – Yuuri repetiu, e Phichit apenas voltou a digitar, sem insistir.

— Mas você sabe que vai ter que encontrar ele para devolver o Makkachin de algum jeito, não sabe? Foi você quem encontrou afinal… – Yuuri sabia muito bem que Phichit ia se esforçar para isso acontecer de alguma forma.

E ele estava tentando muito não pensar nisso agora.



.

.

.

 

 

Quando Yuri chegou da escola naquele dia, Victor não estava no sofá onde havia passado os últimos dois dias amuado, resmungando e choramingando a saudade que sentia de Makkachin e a falta de resposta em todos os lugares onde anunciou procurando por ele. Victor não estava em nenhum lugar onde Yuri pudesse ver. Isso ligou um alarme no fundo da sua mente, e ele se preparou possivelmente o pior.

Mas Victor não costumava guardar nada para si, e estaria proclamando qualquer notícia, fosse boa ou ruim, aos quatro ventos. Teria ligado para Yuri na escola mesmo, caso alguma coisa de pior tivesse ocorrido. Pelo menos, era o que ele esperaria que Victor fizesse. Mas seu irmão tinha o irritante costume de ser imprevisível, então, Yuri nunca poderia ter muita certeza.

Depois de todas as piores hipóteses terem passado pela cabeça dele, quando a porta do banheiro se abriu, soltando uma espessa nuvem de vapor no resto da casa, Yuri tomou um susto. Victor saiu de lá, com uma toalha enrolada na cintura e outra na cabeça, e parecia centenas de vezes mais recomposto do que quando Yuri saiu de casa. Até a barba rala que estava começando a crescer e que incomodava Yuri só de olhar havia sido completamente eliminada.

— Yura! – Victor se alegrou ao vê-lo de uma forma quase infantil, esquecendo completamente que estava à caminho do quarto para se vestir (Yuri já desistira de insistir para Victor parar de andar pelado pela casa e se vestir no banheiro à essa altura. O fato dele usar uma toalha na cintura podia ser considerado uma vitória por si só). – Meu Makkachin foi encontrado!

— O que?! Mesmo?! Você devia ter me avisado! Onde ele está?! – Yuri olhou ao redor, esperando que o cachorro surgisse saltitando de algum esconderijo e pulasse nele, como sempre fazia.

—  Em Detroit. – Victor respondeu, como se fosse algo realmente natural.

— Ah!... Espera… o quê?! – Yuri inclinou a cabeça, tentando entender se havia ouvido corretamente – Como ele foi parar lá?!

—  A história é realmente longa… Eu estava-

—  Vá se vestir primeiro!

Victor fez como Yuri gentilmente sugeriu e se vestiu apropriadamente antes de prosseguir. Quando retornou à sala, contou para Yuri sobre como havia recebido uma mensagem mais cedo naquele dia, de um garoto chamado Phichit, falando que seu amigo havia encontrado Makkachin no Central Park, no mesmo dia em que Victor o perdera. Os dois só estavam de passagem pela cidade, e resolveram levar Makkachin consigo depois de perceber que o canil municipal não parecia ser a melhor opção.

Ele até mesmo enviou uma foto de Makkachin, e Victor quase chorou de novo de emoção ao ver seu cachorro saudável e bem, deitado no que parecia ser um sofá, no colo de alguém. Estavam tratando muito bem dele, e o garoto chamado Phichit garantiu que não seria problema continuar cuidando de Makkachin até Victor conseguir buscá-lo.

— Ainda bem que isso se resolveu! Mas como você vai fazer para buscar ele agora? – Yuri não havia decorado bem a geografia dos Estados Unidos ainda, mas se lembrava bem, Detroit e Nova York não eram lugares próximos. Conhecendo Victor, era impressionante que ele já não tivesse pegado o primeiro avião ou até mesmo alugado um carro para ir para lá o mais rápido possível.

— Não havia voos para lá hoje, então eu vou pegar o primeiro que surgir amanhã – ele explicou rapidamente. Além disso, não era como se ele estivesse nadando em dinheiro, mesmo com as ótimas vendas dos livros anteriores, e uma viagem inesperada era algo pesado no seu orçamento atual, mas ele não iria incomodar Yura com esse tipo de problema. Já era o bastante ter que dar o braço a torcer e aceitar voltar a receber algum dinheiro dos seus pais porque Yuri viera morar consigo, ele não precisava lidar com isso agora. – Mas Makkachin está bem, e estão cuidando dele, isso me deixa muito mais tranquilo. – Victor suspirou, enfim aliviado, depois daqueles últimos dias de pura angústia.

Yuri também estava aliviado, embora não demonstrasse claramente, e se ergueu do sofá em direção à cozinha assim que Victor terminou de contar a impressionante saga de Makkachin através do país.

— Ainda bem que tudo acabou bem, então. Eu disse que não era para você se desesperar. – ele foi direto para a cozinha, começando a revirar os armários à procura de algo para comer.

— Você também ficou preocupado, não foi, Yuratchka? Até levou cartazes para pendurar na sua escola e tudo mais…

—  Cala a boca. – ele resmungou, separando algumas coisas da geladeira no balcão central da cozinha.

— Ah, eu lembrei agora! Mila está vindo para cá. – o telefone de Victor vibrou e ele parecia estar respondendo alguém ao mesmo tempo em que continuava a falar. – Ela queria ajudar com o assunto do Makkachin, mas como isso já foi resolvido, ela vai vir só me mostrar alguma coisa para o livro…

— Ou seja, ela vai vir para passar o tempo e comer tudo o que nós temos na geladeira, não é? – Yuri disse, quando era ele próprio que estava com a cabeça dentro do refrigerador procurando por algo para comer alguns segundos antes.

Antes que Victor respondesse, a campainha tocou, e Yuri praguejou baixinho para si mesmo, embora Victor soubesse muito bem que ele gostava da companhia de Mila e nunca admitiria em voz alta. Como anunciado, foi a garota de cabelos vermelhos quem entrou quando Victor abriu a porta. Os dois eram barulhentos demais juntos, e Yuri quase pegou o sanduíche que acabara de fazer para se trancar no quarto e só sair quando ela fosse embora. Quase.

Victor contou de novo toda a história de Makkachin, e Mila reagia dramaticamente à cada nuance exagerado que ele colocava a mais na sua narrativa. Depois disso, os dois foram se empolgando em assuntos cada vez mais aleatórios e distantes, que o adolescente decidiu desistir de vez de tentar acompanhar, até, enfim, voltar ao curso do motivo que trouxe Mila até ali naquela tarde.

— Aqui... eu trouxe algumas coisinhas para você… – Mila revirou sua mochila por alguns segundos, antes de puxar um encadernado com uma quantidade considerável de páginas, e estender para Victor – Como você não conseguiu fazer suas entrevistas no evento de ballet, achei que isso pudesse ajudar…

Victor não perdeu tempo em abrir as páginas. Eram as fotos que Mila havia tirado durante as apresentações. Havia também fotos do banquete final no encerramento, que Victor não pôde presenciar, e de muitos outros aspectos que ele não tinha como ter visto, como os bastidores e a preparação dos bailarinos. Aquilo parecia uma fonte muito rica de inspiração, e Victor não tinha palavras para agradecer.

— Nossa, Mila, muito obrigado! – ele continuou folheando as páginas, entusiasmado. Yuri, curioso, se colocou atrás do sofá para espionar por cima do ombro dele, como quem não queria nada. – Isso com certeza vai ajudar.

— Elas não estão tratadas ainda, eu só separei as que saíram boas para a organização do evento escolher e para te mostrar, por enquanto.

—  Que isso, estão maravilhosas assim já, imagine finalizadas…  – Victor passou mais algumas páginas, prestando atenção sobretudo nas fotos da segunda metade, que seriam aquelas do dia em que ele não estava presente. As apresentações do segundo dia pareciam bem mais interessantes. Subitamente, algo captou sua atenção. Victor precisou parar e voltar uma página, já que estava passando tão rápido por elas que nem percebia.

Quando abriu novamente na foto que vira de relance, Victor sentiu seu coração literalmente parar, antes de voltar a bater tão rápido que ele certamente ficou tonto devido à aceleração tão repentina da frequência cardíaca. Então, enquanto seu cérebro se esforçava para processar a informação que recebia, ele encarou a foto um pouco mais.

Porque aquela pessoa na foto parecia ter sido extraído diretamente da sua mente, e colocada no papel, sem um fio fora do lugar. Estava com os braços posicionados ao redor do corpo quase como se dançasse flamenco, ou alguma outra dança latina semelhante. Vestido inteiramente de preto, com os cabelos curtos penteados para trás. No escuro e com somente a iluminação de palco para iluminar a sua silhueta esbelta e curvilínea, Victor pouco conseguia distinguir das feições diante de si, mas não restavam dúvidas no seu coração.

Aquela pessoa era sua musa de inspiração.

E era real.

— Mila… – Victor soltou o ar, sentindo-se ao mesmo tempo elétrico e extremamente fora de si, e fazendo o possível para não soar tão descontrolado quanto se sentia no momento. Apesar disso, podia sentir suas mãos começarem a tremer levemente. – Q-quem é esse? Digo, você tem como saber de onde são os dançarinos? Eu preciso saber quem é este.

— Como? Ah, bem, eu posso ver com a organização, já que essas fotos vão para divulgação do evento, eles podem me passar a lista de inscritos e eu vejo para você… – ela parecia um tanto surpreendida com o pedido de Victor, e ficou ainda mais quando ele se jogou na sua direção, em um abraço inusitado e emocionado.

— Você vai ser a salvação da minha vida se fizer isso, Mila! Eu não sei nem como te agradecer. Você pode me mandar uma cópia desta aqui? – ele se afastou, voltando a admirar a foto diante de si com um olhar terno e nada característico. Mila fitou Yuri, tentando entender o que havia acabado de acontecer, mas ele apenas fez um gesto amplo com a mão, saindo de perto e resmungando sobre como Makkachin era o único ser racional daquela casa e agora que ele não estava ali, a sanidade de Victor estava se esvaindo mais a cada hora.

Mila falou mais algumas coisas sobre o segundo dia do evento e acrescentou informações que achava que Victor iria querer saber, mas ele mal conseguia assimilar e registrar tudo o que ela dizia. Sem pensamento recaiu unicamente no fato de que havia alguém que se portava exatamente como tudo o que ele imaginava para o personagem que o visitava em seus sonhos, que essa pessoa existia de verdade, e Victor precisava encontrá-la o mais rápido possível, sem que nem ele soubesse exatamente o por quê.


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Notas finais do capítulo

Beeeeem.... então. Eles AINDA não se encontraram pessoalmente. Eu sei. MAS o Yuuri já está ciente da existência de Victor Nikiforov, e agora, é só uma questão de mexer uns pauzinhos - temos Phichit como fiel aliado nessa empreitada! Eu tenho que admitir, era para o encontro deles acontecer nesse capítulo, mas ele acabou ficando exageradamente grande só com essa parte, eu tive que dividir, seria maçante demais ler um capítulo daquele tamanho. Mas JÁ ESTOU TRABALHANDO NISSO TÁ GENTE? Não me odeiem >< me deixou feliz demais, e motivada também, sério mesmo! Muito obrigada, vocês são uns lindos, todos vocês ♥♥♥ Já estou com parte do próximo capítulo escrita, é só questão de finalizar e eu já vou postar! Não sei quantos dias isso vai levar, mas ele vai sair! Fé!

Beijão, adoro vocês o/



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