Espíritos da Floresta escrita por Sophia


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Não posso me demorar, pois estou em uma (pasmem) lan house tentando postar. Então espero que gostem e boa leitura!



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Quando abri os olhos novamente fui imediatamente atingida pela sensação de ser esmagada por um peso invisível. Não era doloroso, mas sufocante, como afogar-se, mas de forma que nenhum de meus membros me obedecia. Enquanto meus olhos tentavam reconhecer de forma desesperada o ambiente ao meu redor, meu corpo jazia inerte nos braços de alguém. Órion, reconheci, quando meu olhar encontrou a face irritada do elfo voltada para algo a frente.

Pouco a pouco, fui me dando conta dos acontecimentos recentes, o que teve o terrível efeito de me apavorar ainda mais. Estar desarmada por si só já era um incomodo, mas estar indefesa nos braços daquele ser era pior. Eu não sabia o que esperar dele e minha mente fez o trabalho de imaginar todas as cenas mais macabras.

— O efeito da miria logo vai passar. — Disse uma voz não muito feliz. Não pude mover a cabeça para ver a face do dono, mas minha visão me proporcionou o entendimento de que atravessávamos um corredor. Ainda assim, me foquei nas palavras. Miria era uma flor que continha um poderoso veneno, capaz de adormecer os músculos. Usávamos nos salões de cura para não infligir dor aos mais severamente feridos, não obstante, a conclusão de que tinha sido usado em mim, aplacou um pouco o meu desespero. Já tinha usado miria, logo o efeito iria passar. — Ela acordou.

Só então Órion direcionou seus olhos azuis para mim. Eu sustentei o olhar, tentando parecer altiva, até que algo como um sorriso moveu rapidamente os cantos da boca dele e ele lançou um olhar para quem o acompanhava.

— As estrelas estão ao seu lado hoje. Se chegasse aos ouvidos do rei que você quase matou essa elfa da aurora nem mesmo o fato de fazer parte do meu grupo de caça o livraria da ira.

— Estive guardando essa fêmea por bastante tempo como se ela fosse uma criança. É escusável que a insolência dela tenha atingido meu limite. Eu deveria ter feito isso antes.

Órion parou abruptamente.

— Ela não é sua para que possa puni-la. Eu mesmo farei se achar necessário. — Disse com autoridade na voz. — Não cabia a você decidir se a minha serva estava sendo insolente ou não. Preciso recitar as regras, River? Achei que, diferente do seu irmão, você estivesse mostrando um pouco mais de sabedoria.

Houve um instante de silêncio antes que Órion voltasse a caminhar. Dois segundos depois ouvi os passos de River também.

— Os outros líderes querem saber o que pretende fazer com ela, e me refiro a fora de seus aposentos. — Ele voltou a falar. — Não é incomum que faça fêmeas tolas se apaixonarem por você, mas o seu interesse nela é incomum.

— Se olhar bem para ela verá que não há mistério em meu interesse. Qualquer um perderia um ou dois minutos a observando e eu terei horas para fazer isso e mais. — Órion respondeu com um sorriso arrogante. Subitamente, senti um calafrio. — Além disso, a herdeira do trono da aurora será fundamental. E agora que ela me pertence, dois reis estão em minhas mãos.

Não registrei com precisão o resto da conversa. Me sentia enojada, usada e assustada. River apareceu no meu campo de visão, me lançando uma provocação imoral que foi repelida com exaspero por Órion e eu me senti sufocar desesperadamente, imaginando o que viria a seguir.

Se antes a dor em meu coração já tinha sido forte como uma flecha em minha carne, com suas palavras Órion tinha fincado uma adaga no meu peito e nem mesmo todo o meu orgulho foi capaz de encontrar uma forma de lidar com aquilo. Eu segui fazendo a única coisa que meus membros ainda permitiam, evitando os olhos dele e encarando as paredes.

Mesmo depois de todo aquele tempo presa, ainda restava dentro de mim uma pequena esperança de que Órion estivesse apenas escondendo seus verdadeiros sentimentos e por trás de tudo aquilo buscasse uma forma de nos tirar daquele lugar, mas não depois daquelas palavras. Eu estava a minha própria sorte, ou azar, e me foquei em elaborar um rápido plano de fuga para o caso de o efeito da miria milagrosamente passar, mas o plano ficou esquecido quando Órion abriu uma grande porta de madeira na qual fora esculpida a imagem de um lobo e adentrou o local.

Eu fui colocada em uma cama e algo foi arrancado de meu pescoço, me fazendo instantaneamente sentir as dores em meu corpo voltando de forma intensa. Os olhos deve avaliaram o meu corpo como se buscassem algo e mais uma vez me senti enojada quando ele tocou um ponto dolorido na minha testa.

— Que descuidada. — Exclamou, ainda me encarando. Então pareceu notar algo a mais. — Aonde está a capa que lhe dei? — Questionou hesitante. Repetindo a pergunta mais alto quando não respondi.

— Espero que queimando no fogo que um dia a sua alma estará. — Devolvi, resgatando um pouco do meu orgulho pisoteado enquanto me sentava mais para trás, distante dele.

Ele me lançou um olhar confuso e depois encarou o elfo na porta.

— Ela largou na masmorra, senhor. — Disse River do lado de fora.

Órion soltou um suspiro irritado e então me deu as costas, seguindo para fora do quarto e batendo com força a porta.

Enfim pude observar o grande aposento e fui despertada de meu torpor pela luz do sol entrando por uma varanda, como uma vela em meio a infinita escuridão. Imediatamente senti meus olhos marejados e vislumbrei a figura de uma elfa que até então eu não tinha percebido abrindo as muitas cortinas e deixando que a luz iluminasse todo o quarto. O sol tocou a minha pele com ternura, me aquecendo, me fazendo soluçar todas as minhas aflições e todos os meus medos. O calor e a claridade eram muito bem-vindos depois de tanto tempo na escuridão. Eu deixei derramar para fora de mim todos os sentimentos que eu lutara para esconder desde a minha captura.

Sentia que meu coração sangrava e que meus pulmões explodiriam a qualquer instante. Além disso, a angústia estava presa em minha garganta de forma que meu lamurio parecia insuficiente para me expressar e as lágrimas pareciam poucas para tanta tristeza.

Cambaleante pela dor e pelo efeito restante da miria eu caminhei até a varanda. A ideia de me jogar dali me veio a mente como uma alternativa a minha dor e eu me debrucei no parapeito, pronta para saltar. Contudo, estava não muito acima de uma espécie de jardim e até mesmo nas minhas condições pude concluir que naquela altura tudo o que eu conseguiria seria infligir a mim mesma mais feridas. Eu abracei meu corpo, apertando as unhas contra a carne dos meus braços com força, tomada por soluços, até que a elfa veio até mim, transformando minha tristeza em choque ao ver suas feições.

Seu rosto era pálido, mas o que me escandalizou foi o fato de aparentar ter sido queimado com ferro. A cicatriz tomava parte da bochecha esquerda e não era única. Havia outra semelhante na altura do pescoço que estava parcialmente oculta pelas vestes. Imediatamente imaginei que aquilo deveria ter sido a punição que fui ameaçada na masmorra. Talvez o próprio Órion a tivesse punido.

— A ordem é que deve estar pronta antes que meu senhor retorne. — Ela disse, abaixando a cabeça para que seu cabelo negro cobrisse parcialmente o rosto. — Não devo desobedecê-lo.

Eu assenti. Não queria ser punida daquele jeito.

— Venha.

Algumas horas depois, uma elfa da aurora com corte na testa e outro no lábio, frutos da luta com os ônix, me encarava com acinzentados olhos cansados. Em outra situação eu teria apreciado o vestido azulado que me foi dado pela serva de Órion, mas eu preferi escolher o que restara do meu traje de caça: a couraça e as calças. E junto com meus farrapos havia um bracelete prateado que tinha sido um presente e, apesar de tudo o que me aconteceu, não consegui me livrar do objeto na prisão porque ainda me restava esperança.

— Qual é o seu nome? — Me dirigi a elfa que penteava meus cabelos enquanto eu segurava o bracelete com pesar. Cumprindo ordens ou não, ela se mostrara muito habilidosa em me ajudar com meus machucados e gentil ao me trazer a comida que meu estômago vazio não pôde ousar pensar em recusar.

— Serena, senhora.

— Serena… — Murmurei e me virei para segurar as mãos dela. O nome parecia se adequar a ela. — Tem sido a única coisa boa que me aconteceu desde que fui trazida a este castelo. Então peço que aceite isto como um presente.

Ela sorriu ao encarar o objeto que eu colocara em suas mãos magras, mas o sorriso não alcançou seus olhos verdes, apenas deu uma aparência estranha a cicatriz em sua bochecha.

— Não devo aceitá-lo. Algo me diz que é muito valioso a senhora.

Neguei. — Não sou sua senhora. E de que me vale algo que me trará sofrimento todas as vezes que eu encarar?

Ela ficou calada, desenhando as linhas das folhas prateadas que decoravam o bracelete.

— Aceite. — Insisti. — Quero que fique com ele.

— É filha de um rei. — Ela disse. — Sei de seu segredo. Sei também outra coisa que o senhor Órion me disse certa vez, que é bondosa demais para o próprio bem.

Ele tinha me dito algo semelhante uma vez, e que eu sofreria por conta daquilo. Não compreendi, na época, que ele falava de si mesmo e senti meu coração se enfurecer por minha ingenuidade, mas, respirando fundo, contive-me. Lamentos e ódio não me forneceriam solução, mas talvez Serena me fornecesse alguma, uma passagem para fora do meu novo cativeiro. Eu só precisaria ganhar sua confiança e simpatia.

— Eu escolhi acreditar na bondade do coração dos seres ao meu redor, apesar disso ter me trazido muita dor.

— E agora deixou de crer. — Concluiu, voltando a pentear meus cabelos, trançando-os. Seu semblante tornara-se sério de um momento para o outro e seus olhos ainda mais tristes. — Seus sentimentos fazem meu coração doer. Me pergunto como pôde carregar tanta mágoa consigo, minha senhora. Como pôde sua alma chegar a isso?
Deixei de encarar Serena para me perder em pensamentos ao observar o bracelete de volta em minhas mãos. Não me sentia confortável em lembrar daquilo tudo.

— Eu me apaixonei. — respondi simplesmente.

Serena se mostrou horrorizada, seu reflexo no espelho arregalara os olhos e suas mãos vacilaram em minha trança por um instante.

— Um elfo só se apaixona uma vez e o sentimento dura até o fim de sua vida. Contudo… Mesmo não correspondido não há como isso gerar consequências tão ruins em uma alma. A menos… A menos que esteja distante dele. É isso?

— Não. Pelo contrário.

— Eu não entendo. — Me disse com angústia, seu reflexo tinha lágrimas nos olhos verdes. — Lhe contarei sobre a minha cicatriz se me contar a sua história, senhora, mas me recuso a crer no que vejo em sua alma.
Eu ponderei por um instante, mas não me pareceu haver mal algum em relatar para Serena o meu tortuoso caminho até ali, então respirei fundo e decidi contar a ela. Talvez isso a fizesse despertar mais simpatia por mim e com isso ela concordasse em me ajudar a fugir.

— Tudo começou com a chegada do outono
Eu contei sobre as crianças e sobre meu primeiro encontro com Órion no Riacho de Prata, sobre como ele parecia me desafiar a atirar uma flecha contra ele e como eu hesitara diante do olhar que me lançou.

— Naquela noite eu voltei ao Palácio do Amanhecer em segurança, mas confusa.

— E voltou a vê-lo?

— Sim, muitas vezes, Serena. O encontro no Riacho ainda me intrigava. A imagem de Órion parecia estar gravada em minha mente. A reverência ao luar, os olhos azuis que me desafiavam, a forma predatória como ele caminhava… Eu já tinha encontrado elfos de outras tribos, mas nunca um ônix. Meu erro foi me deixar enganar por sua aparência. Ele é um ônix afinal.

— O coração é uma parte de nós que pode ser enganada e corrompida. — Disse, seu tom de voz preocupado e o escurecer repentino de seus olhos me assustaram, assim como as mãos gélidas que tocaram meu pescoço depois de aprontar a trança em meus cabelos. — Deve tomar cuidado com o seu, Zora.


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Notas finais do capítulo

E por hoje é só! Queria dar as boas vindas aos novos leitores e dizer que já amo vocês.
Até o próximo, no qual a história vai ficar mais fácil de compreender.
Comentem, tá?! Preciso de opiniões. Beijão!!!



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