Espíritos da Floresta escrita por Sophia


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

(MUDEI A CAPA OUTRA VEZ, sim. A indecisão quanto a elas me dilacera por dentro)
Como prometido, voltei rápido com o que realmente será o primeiro capítulo da nossa história. Espero que apreciem.
Boa leitura!



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Centenas de anos atrás, os elfos em unicidade e harmonia. Eramos livres para caminhar pela floresta e até mesmo visitar os pequenos agrupamentos de humanos, desde que não interferíssemos na sociedade deles. Essa paz foi perturbada quando um grande grupo de elfos passou a atacar os vilarejos humanos nos arredores da floresta e matar até mesmo os humanos que não se atreviam a entrar nas nossas terras. Por causa do sangue humano, houve guerra entre as raças e o sangue élfico também manchou a grama. Ninguém estava seguro, pois se esse grupo de elfos lhe julgasse culpado por qualquer que fosse o ato a sentença era a morte certa e dolorosa.

A guerra durou cinco verões e depois disso houve uma grande reunião das duas raças no Riacho de Prata. Lá os culpados tiveram suas cabeças cortadas e seus corpos enterrados. Mas não havia volta para o abismo criado entre nós. Divididos, cada raça partiu para uma extremidade oposta, sendo estabelecido que o oeste pertenceria aos ônix e o leste aos elfos da aurora...

— Kaoru foi o heroi que acabou com a guerra. — Expliquei às crianças que ouviam atentamente a história que eu lhes transmitia. — E para que as raças não guerreassem na floresta, forçou os ônix a viverem com as criaturas que caçam a noite. É por isso que o coração da floresta só é seguro para os elfos da aurora durante o dia. E mesmo assim, vocês jamais devem brincar fora da aldeia sozinhos, pois os ônix tem o espírito de vingança e morte dentro deles.

Quando terminei a história, as crianças me encaravam com expressões boquiabertas e o silêncio era sepulcral. Talvez contar aos pequenos que não possuíam mais que oito anos de vida sobre o passado sangrento dos nossos ancestrais não tivesse sido uma boa ideia, mas diante do desaparecimento das nossas crianças na floresta eu não vi alternativa que não fosse assustá-los um pouco para que evitassem suas travessuras e não saíssem da aldeia.

— Meus pais disseram que não posso mais deixar a cidadela porque os ônix mataram a filha da senhora Anami. — Disse uma menininha, ainda com feições assustadas. A maioria das crianças confirmou ter ouvido o mesmo dos pais sobre a filha de Anami, sobre os gêmeos de Liz ou sobre o filho do senhor Enos. Pelo visto, a ideia de assustar para proteger não tinha sido apenas minha.

— As crianças da aurora são amaldiçoadas, Zora? — Um deles me perguntou, me fazendo sentir um pequeno aperto no peito, contudo, antes que eu pudesse responder, uma voz mais alegre que a minha chamou a atenção dos pequenos.

— Claro que não, crianças! — Disse o elfo que me lançara olhares de repreensão durante toda a minha narração. — Agora, quem quer ir aprender a usar um arco no campo?—  Ele bateu palmas e conseguindo atrair a atenção das crianças para si, ficou de pé, de modo que os pequenos passaram a bater na altura da cintura dele. Jasper se inclinou como quem está prestes a contar um segredo e todos fizeram silêncio. — Nenhum ônix vai chegar perto de vocês se acertarem uma flecha pontuda nas caras de meleca de javali deles!

O comentário conseguiu arrancar risadas dos pequenos, e logo eles estavam gargalhando e saltitando ao redor do elfo, ansiosos para aprender suas primeiras técnicas de caçada.

— Muito bem, quero todos correndo para encontrar minha irmã Kiara no campo ao sul da Árvore. — Ele ordenou. Não pude conter o riso quando todos os pequenos dispararam para fora do jardim. De braços cruzados, Jasper me lançou mais um olhar de repreensão. Ele parecia discordar de todas as minhas recentes atitudes. — Corram, corram! O último a chegar lá será o que vai carregar todos os arcos de volta a sala de armas!

Foi engraçado observá-los correndo desesperadamente. A primavera acabara de se iniciar, a oitava da vida daquelas crianças, e para eles o treinamento começava agora. Aprenderiam sobre a nossa história e a caçar, a lutar, a construir, cozinhar, tecer… Estavam todos ansiosos, como cento e quarenta primaveras atrás eu estivera. Ou talvez até mais, uma vez que entre nós agora havia o sentimento de urgência em ensinar as crianças a se defender.

— Eles são pequenos, Zora. As partes pesadas da história poderiam ter sido omitidas. — Jasper disse se aproximando com o semblante irritado. Neguei com a cabeça. Então, com a sabedoria que alguém que era apenas sete primaveras mais velho que eu não deveria ter, ele completou: — Parece sagaz assustar as crianças para que elas não se tornem vítimas do mal na floresta, mas sabemos que a solução não é essa. Não é a liberdade da vítima que deve ser retirada, e sim a vida do algoz que as persegue.

— Meu pai está enviando vocês à floresta durante a noite há semanas, mas nenhuma criatura foi encontrada e entre os ônix não se achará um que assuma a responsabilidade. Enquanto não descobrimos o que está acontecendo, enquanto não encontrarmos o culpado, eu farei o possível para evitar que mais crianças desapareçam. — Eu repousei minha mão sob seus braços cruzados e com aquele toque pude senti-lo se retesar. — Não gosto do que estou fazendo, Jas, mas não vejo outra solução. 

Sabendo que eu tinha razão, Jasper me encarou entristecido e descruzou os braços para segurar minhas mãos de forma gentil, levando uma delas aos lábios sem desviar seus olhos escuros dos meus. Eu aceitei seu carinho sorrindo e obtive o mesmo em retribuição. O sorriso de Jasper sempre fora fácil e tornava seus olhos pequenos e puxados ainda menores, era adorável, principalmente quando seus curtos cabelos de fogo caiam para frente, projetando uma sombra suave.

— Eu sinto muito por descontar minha frustração em você quando deveria estar me preparando para a caçada, Zora. — Ele suspirou e brincou com uma mecha do meu cabelo claro. — Contudo não é apenas por este motivo que estou aqui. Eu-

Ele foi interrompido pelo som imponente do shofar. Quando ouvimos o instrumento ser tocado pela terceira vez, corremos, alarmados, na direção do portão principal.

— Que não seja outro dos nossos. — Jasper murmurou repetidamente e mais para si.

 

O shofar soava todos os dias. Uma vez quando o céu começava a se tornar laranja e o sol iniciava seu descanso a oeste. Além disso, dois sopros significavam o nascimento de um herdeiro do trono, do qual o som nos autorizava a comemorar a chegada. E três sopros significavam um ataque ou uma situação de perigo, ou o que estava se tornando comum no vilarejo: morte.

Nós chegamos a entrada principal e eu pude ver um grupo cabisbaixo de caçadores entrando e os portões sendo rapidamente fechados atrás deles. De todos os lados, elfos chegavam correndo alarmados pelo som do shofar. Foi então que uma elfa em especial atraiu a atenção dos caçadores enquanto se aproximava com cautela do grupo, mas o olhar dela não era para eles e sim para o pequeno corpo desfalecido que um deles carregava. Quando se aproximou o suficiente ela cobriu a boca com as mãos e eu pude ouvir seu lamento desesperado enquanto ela se ajoelhava no chão. Poucos segundos depois, o companheiro dela se ajoelhava ao lado dela, preocupado. Um olhar entre eles foi necessário para que o macho levantasse e corresse para tomar o pequeno corpo em seus braços. Todos ficamos paralisados com a cena, o macho observou a criança em seus braços por breves instantes e depois a família se abraçou a criança como se ambos acalentassem um bebê.

Logo que me dei conta da fisionomia alva e dos cabelos da cor das penas de um corvo do casal tive a certeza sobre a identidade da criança. Neve, uma elfa delicada que nascera seis verões atrás e era uma de minhas pequenas favoritas. Repousei minhas mãos sob o peito, sentindo o meu coração se apertar de tal forma que me trouxe lágrimas aos olhos e me embaçaram a visão dificultando minha caminhada até a família. As bochechas de Neve que eu sempre vira coradas estavam pálidas, seus lábios antes vermelhos como a maçã estavam arroxeados, mas ela parecia dormir, se não fosse a mancha rubra em seu peito. O casal fez uma leve reverencia ao notar a minha presença e eu estendi a mão para tocar a bochecha da criança.

— Esteja em paz, pequeno floco de Neve, — Murmurei com a voz embargada. — Que o criador do universo esteja com sua alma, eu tenho a certeza de que a eternidade de júbilo a aguarda.

Um a um os elfos foram se aproximando da família e fazendo suas saudações de despedida a pequena Neve e eu não pude mais conter as lágrimas.

 

Eu comecei a ouvir pancadas altas, como se algo de ferro estivesse sendo batido repetidas vezes. E em um piscar de olhos, eu estava no chão de uma cela escura que mais lembrava uma caverna, o som do ferro ficou mais alto, me fazendo sentar com dificuldade para encontrar um ônix batendo o cabo de uma adaga contra as barras da minha cela, seus cabelos cinza-azulados caindo sobre o rosto deixando-me observar a figura semi-escondida na escuridão, os olhos dourados brilhando para mim.

Ao me ver acordada, ele agarrou as barras e projetou a cabeça para dentro, me encarando com algo como pena. Não pude acreditar que eu uma vez considerara criar um laço de amizade com aquele elfo.

— Estava gritando. — Me disse baixinho. — A magia desta prisão faz com que nossos cativos revivam as memórias que trazem dor. Suponho que você tenha muitas, considerando o quanto você tem gritado enquanto dorme.

Não quis deixar transparecer minha perturbação, mas sabia que o elfo, mesmo no escuro, podia enxergar as lágrimas que desciam pela minha bochecha.

— Dolorosas ou não, minhas memórias fazem de mim quem eu sou.

— Embora você deseje esquecer algumas. — Pontuou. — As de quem trouxe você a essa cela, por exemplo?

— Zen… — Murmurei. — Porque você está fazendo isso? Achei que fôssemos mais que as nossas raças.

Ouvi uma gargalhada jocosa vinda da cela ao lado.

— Zen, Zen, você mentiu para mim? — Debochava. Era um leprechaun, e diferente da lenda humana, aquela irritante criatura não trazia sorte, mas confusão.

Zen lançou um olhar mortal a ele e depois a mim.

— O silêncio às vezes é a melhor forma de lidar com uma situação, elfa da aurora. Está em território inimigo, caminhando para sua morte. Se eu estivesse no seu lugar eu tentaria ser mais prudente, a não ser que você queira alcançar o outro mundo mais cedo que o planejado.

E com isso Zen me deu as costas me deixando para lutar contra o meu choro e cansaço e observar a chama da vela consumir a cera.


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Notas finais do capítulo

Então, agora que a história já está explicada e eu já dei um gostinho a vocês vou dizer que já tenho os próximos 4 capítulos prontos.
Por hoje é isso, aguardo comentários, okay? Não sejam leitores fantasmas, deixem suas opiniões seja lá quais forem. Afinal, se eu quisesse apenas a minha opinião sobre a fanfic não postaria no nyah, deixaria salvo e escondido no meu word haha ;)

Até terça!
Beijinhos! ♥



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