She's so mean escrita por Safferena


Capítulo 9
Azul


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Jeongguk

Fui arrancado do sono com tapas frequentes em meu braço. Solto um resmungo irritado e coloco o travesseiro em meu rosto.

— O que foi? — digo bocejando, ainda de olhos fechados.

— O que aconteceu com você? O que aconteceu com a ida rapidinha ao banheiro? — Jin começa a tagarelar, ainda me estapeando.

— Para de me bater!

— Achei que você tivesse sido sequestrado! — prosseguiu Jin. — Achei que você tivesse sido abduzido!

— Eu que fiquei procurando por vocês e não os encontrei em lugar algum.

— Nós também estávamos te procurando, mas depois recebemos uma mensagem sua dizendo que tinha que resolver um assunto.

O encaro confuso.

— Mas eu não mandei mensagem alguma, até porque meu celular estava sem bateria.

— Tem certeza? — Jin fica pensativo. — Então o Taehyung deve ter confundido o número, pois foi para o celular dele que foi a mensagem.

Tentei encontrar o relógio na escuridão – já que o Jin não tinha acendido a luz. Esbarrei em uma foto emoldurada sobre a mesa de cabeceira e todas as outras dela caíram como se fossem peças de dominó. Merda. Os números vermelhos do relógio entraram em foco. Eram duas e pouca da manhã.

 — Mas isso não vem ao caso agora. O que você estava fazendo?

— Tive um imprevisto.

— Imprevisto? Que tipo de desculpa é “imprevisto”?— disse Jin. — Como conseguiu chegar em casa?

Esfreguei o canto dos olhos.

— Yerin.

— Yerin, a vidente?

— Bem, eu não tinha muitas opções, tinha? — disse sucintamente. — Vocês foram embora sem mim.

— Você parece cansado. Cansado de verdade. Não, não é isso. Você parece agitado... Aturdido... Excitado. — Seus olhos se arregalam. — Ela beijou você, não foi?

Nada de resposta.

— Ela beijou! Eu sabia! Eu vi o modo como ela olha para você. Eu sabia que isso ia acontecer. Vi há um quilômetro e meio de distância.

Eu não queria pensar nisso.

— Como é que foi? — Vee pressionou. — Maçã ou salada mista?

— O quê?

— Foi um selinho, bocas se separaram, ou tinha língua? Esquece. Não tem que responder isso. Yerin não é o tipo de garota que lida com preliminares. Tinha língua envolvida. Certeza.

Cobri meu rosto com as minhas mãos, me escondendo atrás delas. Yerin provavelmente achava que eu não tinha autocontrole algum. Eu tinha sucumbido em seus braços. Tinha derretido como manteiga. Logo antes de ter dito a ela que ela deveria ir, eu estava bem certo que tinha feito um som que era uma mistura entre um suspiro de pura felicidade e um gemido de êxtase.

Isso explicaria seu sorriso arrogante.

— Podemos falar sobre isso mais tarde? — perguntei, apertando a ponte do meu nariz.

— De jeito algum.

Eu suspirei.

— Estou morto de cansaço.

— Não acredito que está pensando em manter suspense.

— Estou esperando que você esqueça-se disso.

— Zero de chance.

Tentei visualizar os músculos no meu pescoço relaxando, prevenindo a dor de cabeça que eu sentia se arrastando.

— Ainda vamos ter que sair amanhã de manhã cedo?

— Sim, e sei que você está tentando mudar de assunto. Só vou deixar esse assunto quieto, por enquanto, porque também estou cansado e quero ir logo tomar banho.

— Sai logo daqui e me deixe dormir. — chuto-o para fora da cama e recebo um soco em troca.

— Isso não vai ficar assim. — ele ameaça e sai do quarto, me deixando sozinho com meus pensamentos.

Ainda com um sorriso nos lábios, mergulhei nas profundezas da minha cama. Visualizei o sorriso malcomportado da Yerin e seus reluzentes olhos negros. Após me debater na cama por diversos minutos, eu desisti tentar ficar confortável. A verdade era que, enquanto Yerin estivesse habitando na minha mente, conforto estava fora de questão.

Quando eu era menor, meu irmão mais velho, Junghyun, estilhaçou um vaso de flores. Ele limpou todos os cacos, mas deixou um. Ele me desafiou a lambê-lo. Imaginei que ter uma queda – estava mais para um penhasco – pela Yerin era um pouco como lamber aquele fragmento. Eu sabia que era estúpido. Sabia que iria me cortar. Após todos aqueles anos uma coisa não tinha mudado: eu ainda era atraído pelo perigo.

De repente estiquei um braço pelo lado da cama, apalpei até achar minha calça jeans, e tirei meu celular do bolso.

A bateria mostrou estar totalmente carregada.

Minha espinha formigou ameaçadoramente. Meu celular deveria estar descarregado. Então como o Jin conseguiu me ligar?

(...)

A chuva batia na janela do estúdio, o vento forte lá fora castigava as árvores. Jimin e eu nos acotovelamos enquanto nos ajeitávamos no sofá, esperando nossa vez para fotografar. Felizmente o único compromisso que tínhamos a tarde era a sessão de fotos e depois podíamos aproveitar nosso tempo livre.

Já tínhamos tirado as fotos em grupos, agora só faltava as individuas. Tento prestar atenção em Taehyung, que estava posando para a câmera, mas minha mente divagou-a para a Yerin. Movo meus olhos para outra coisa que pudesse manter minha mente longe dos pensamentos envolvendo Yerin.

Meus olhos param em uma revista de moda que estava em cima de uma cadeira, provavelmente era de algum staff, na capa tinha uma modelo ocidental. Pego a revista e começo a folhear, uma olhada rápida e percebo que falava sobre maquiagem e lingeries. Mesmo assim continuo folheado, ao menos era uma distração.

Eu não deveria estar olhando para lingeries. Elas naturalmente me faziam pensar em coisa sexy. Como beijar. Como a Yerin.

Fechei meus olhos e repeti nossa noite juntos. O toque da mão da Yerin nas minhas costas, seus lábios provando o meu pescoço...

Jimin me pega desprevenido e tira a revista, já esquecida, de minhas mãos.

— Interessado em lingeries, Kookie? — ele me lança um sorriso malicioso e começa a folhear a revista. — Vermelho combina com seu tom de pele.

O que eu estivera pensando? Eu tinha chego pertíssimo de beijar a Yerin. A mesma Yerin que poderia ser uma perseguidora ou maníaca.

Eu ainda tinha o pedaço de papel que a Yerin tinha enfiado dentro do meu bolso, mas de jeito nenhum eu ia a uma festa hoje à noite. Eu secretamente gostava da atração entre nós, mas o mistério e a lugubridade pesavam mais. Eu ia descartar a Yerin do meu sistema e dessa vez eu falava sério. Seria como uma dieta de limpeza. O problema era que, todas as dietas que eu já fizera falharam. Uma vez eu tentara ficar um mês inteiro sem chocolate. Nenhuma mordida. No fim de duas semanas, eu sucumbi e me entupi de mais chocolate do que teria comido em três meses.

Eu só esperava que minha dieta de nada-de-chocolate não fosse uma previsão do que aconteceria se eu evitasse a Yerin.

— Ei, Kookie. — Jimin me cutucou no ombro. — É a sua vez.

Me desperto dos devaneios e levanto do sofá, indo tomar o lugar do Taehyung.

Algumas horas depois e a sessão de fotos finalmente chega ao fim. Meu estômago protesta de fome e sinto uma dor nas costas, devido ás várias poses que tive que fazer. Jin se senta ao meu lado, levanto a mão quando ele estava prestes a falar.

— Eu sei o que você vai dizer. — o interrompo. — Você está com fome. Grande novidade.

— Não era isso que eu ia falar, mas você acertou. Estou com fome.

— O que você ia dizer? — enfio meu celular no bolso do meu moletom.

— Se você gostaria de ir com o Hoseok comprar comida para nós.

— Eu tenho escolha?

— Óbvio que não. — ele sorri docemente para mim.

Levanto-me e me espreguiço, ouço minhas juntas estralarem. Vou até Hoseok que estava rindo de alguma palhaçada que o Tae tinha feito.

— Vamos, hyung? — falo assim que chego ao seu lado.

— Oh, sim. — ele passa um braço por meus ombros e caminhamos para fora da sala.

Eu gostava da presença do Hobi, sua animação contagiava as pessoas. Em qualquer lugar que ele fosse, era sempre a alegria do local. Por trás dos sorrisos dos membros sempre tinha um Hoseok brincalhão. O Hobi era o Happy vírus do BTS. Nós não seriamos os mesmo sem ele.

— Kookie, o que acha de eu fazer clareamento dental? — indagou quando estávamos a menos de um quarteirão da cafeteria. Ele olhou par seu próprio reflexo na vitrine de uma loja de roupas, exibiu um amplo e artificial sorriso e, sem me dar a chance de responder, continuou: — O nosso manager acha desnecessário, mas eu estava lendo em uma revista e...

Enquanto Hobi falava sobre seus planos de estética, algo inusitado começou a acontecer. Todos os sons ao meu redor pareceram explodir em meus ouvidos. Mas logo um silêncio ensurdecedor tomou conta quando eu assistia, com uma crescente onda de horror, um carro se aproximar em alta velocidade até mim.

Hoseok se vira para mim e começa a falar alguma coisa, mas não consigo o ouvir, minha atenção estava no carro que estava cada vez mais perto. De repente Hoseok se vira para o local ao qual eu encarava fixamente sem conseguir reagir.

— Nãããooo.

Horrorizado, Hoseok deu um salto para trás. Seu berro estridente paralisou os olhos e as pernas das pessoas que passavam. Zonzo, ainda tive forças para dar alguns passos cambaleantes, mas não era suficiente. Eu não conseguia fazer com que meu cérebro mandasse comandos para meus membros reagirem. Eu estava petrificado e horrorizado.

Uma vez li em algum lugar que quando a gente está em uma situação de perigo nosso corpo reage de duas formas. Seu instinto de sobrevivência fala mais alto e faz com que seu corpo reaja sem você nem perceber o que esta fazendo ou você fica paralisado, sem reação, sem controle. Descobri que meu corpo não sabe reagir a situações de perigo.

Que sorte a minha.

Sem conseguir me mover, fiquei olhando o que o destino me reservava: um carro em alta velocidade e desenfreado seguia em minha direção. Eu seria esmagado!

Apavorado e com o coração na boca, tentei esboçar algum movimento, mas nada. Nem um músculo se moveu. Tentei novamente. Em vão. Braços e pernas inertes. Todo o meu corpo formigava. Fechei os olhos e cerrei os punhos e, com muita dificuldade, obriguei-me a tragar oxigênio. Bloqueado. A passagem de ar para os meus pulmões estava totalmente vedada. Eu estava me asfixiado. Ar. Eu precisava respirar. Meu Deus! O que está acontecendo comigo? Quase perdendo a consciência, concentrei todas as minhas forças para um último e decisivo impulso. Um, dois, três...

Senti um forte puxão pela cintura, como se eu fosse abruptamente lançado em outra direção. Novamente, foi tudo num piscar de olhos. Quando dei por mim, estava com o corpo todo retorcido a alguma distância das vigas metálicas e dos enormes pedaços de janela espatifados. Miraculosamente, havia saído ileso daquela situação aterradora.

O carro fizera uma curva ao bater ou eu tinha conseguido reunir forças de algum lugar dentro do meu ser?

Meu estado de torpor só conseguiu captar as expressões de pânico e incompreensão das pessoas próximas a mim. Hoseok estava boquiaberto, em estado de choque, atrás de um grupo de pedestres também apavorados. Ainda caído e atordoado, investiguei ao meu redor algo que pudesse me dar alguma explicação. Nada. Nem uma pista.

A despeito do medo que sentia, tentei encontrar o que nem eu sabia. Em um rápido passar de olhos, vasculhei cada canto, cada movimento, cada pessoa, o que já havia ficado muito difícil, pois uma aglomeração de curiosos se formara ao meu redor. Então institivamente voltei meu olhar para os semblantes dos transeuntes. Foi quando me deparei com um par de olhos absurdamente azuis por debaixo de definidas sobrancelhas negras que me fariam perder o chão, se eu já não estivesse deitado nele. Eram de um azul-turquesa vivo incomum, muito brilhante e tão penetrante quanto um tiro de fuzil num coração sem colete á prova de balas. Mas o que mais chamou a atenção não foram somente à cor surpreendente de seus olhos e sim as pupilas. A anatomia das pupilas era estranhamente incomum, fina e vertical, assemelhando-se a uma cobra, lagarto ou de um felino. Seus olhos, no meio de tantos outros, fulguravam nos meus. Sobre tensão e constrangimento, desviei meu olhar com rapidez, e quando resolvi encará-los novamente... Eles já não estavam mais lá.

— Jeongguk! Jeongguk! Você está bem? — descontrolado, Hobi vinha ao meu encontro.

— Sim, estou bem. — respondi levantando-me aos tropeços. — Ainda estou um pouco tonto... — Eu estava era ficando preocupado.

Olho para o carro detonado, ele atravessara a parede da loja, o lugar que eu estivera há poucos segundos antes. O carro estava detonado, cambaleando vou até o lado do motorista, a pessoa devia estar muito machucada ou pior. Quando chego até a janela sinto minha pressão baixar abruptamente e um calafrio paralisante se espalhava pelo meu corpo seguido por uma fraqueza. O ar ao meu redor pareceu congelar, minhas pernas ameaçam falhar. No lugar do motorista não havia ninguém. Nem em qualquer lugar dentro do carro. Nada. Nem vestígios de sangue. Era como se tivesse sido um fantasma que estava dirigindo.

Aos poucos a claridade vai sumindo e todos os sons ao meu redor desapareceram. Perco a consciência antes do meu corpo chegar ao chão.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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