Eles por ela e ela por gatos escrita por Airi


Capítulo 16
Ausência, sonhos e tédio.


Notas iniciais do capítulo

Bom pessoal, para as fãs fervorosas do Espirro, como a Haru-chan, no proximo capitulo ele estará muito presente! E vocês verão o porque, HoHoHo qq
enfim ,só isso para comentar hoje!
Boa leitura,
Airi!



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Acordei pela manhã sozinha na cama, vendo que Serafim não havia nem se preocupado em fechar a porta quando saiu. Suspirei, achando até graça, não tinha mesmo motivo para minha privacidade, não era nem o meu quarto.

 Levantei preguiçosamente da cama, indo até a sacada e vendo que o dia ainda estava se formando, com o sol ainda tímido atrás das colinas. Da onde eu estava podia ver as torres altas da casa de Sebastian, onde ele provavelmente estaria dormindo agora. Ainda me pergunto porque não consigo tirar esses sentimentos de mim quando penso nele. Sinto aquele aperto forte contra o peito, todos misturados.

- Não deveria ficar ai parada. – escutei a voz de Missy atrás de mim – Vai pegar um resfriado.

 Sem entender muito, me virei para encara-la, que por sua vez sorriu de modo amigável para mim e me cobriu com o mesmo cobertor que estava em torno de seu corpo. Só naquele momento, no contraste entre frio e calor, que pude perceber que o frio que havia vindo com a chuva era forte, e minhas roupas eram de verão.

- A onde está com a cabeça hein mocinha? – ela perguntou toda sonolenta, bocejando – Era para você estar dormindo à uma hora desses.

- E você? – perguntei calma, me aconchegando mais para dentro do cobertor – O que está fazendo acordada?

 Não obtive resposta, ela simplesmente deu de ombros e me puxou para dentro, tirando o cobertor de nós duas e fechando a janela da varanda. Como uma mãe toda cuidadosa Missy trouxe uma bandeja com frutas, um suco e pães.

- Não é muito, mas eu que fiz – ela comentou toda orgulhosa – achei que iria gostar de ser acordada com café na cama, mas minha surpresa foi por agua abaixo!

 O tom emotivo na voz de Missy me preocupou, ela não costumava ser toda meiga e fofinha com ninguém, comigo até era, mas não me lembro dela ser cheia de mimos antes, até me deixar sozinha me deixou.

 Preocupada, chamei a atenção da felina.

- Aconteceu algo?

 Vi que Missy estremeceu o corpo com a pergunta. O que me denunciou foram às orelhinhas se mexerem rapidamente e o rabo de petrificado ao lado dela.

- Nada Amelinha, porque está perguntando? – ela tentou desconversar, sem me olhar.

- Missy – a chamei outra vez – Te conheço, o que houve, hein?

 Com a demora da felina a responder, puxei levemente o ombro dela para o lado, e pude ver a expressão de preocupação no rosto levemente corado da morena, que passou a me encarar agora, derrotada por minhas palavras e pronta para confessar seus motivos.

- Fiquei com aquilo, que Espirro falou, na cabeça – me respondeu meio manhosa – E se você estivesse doente? Como amiga e protetora eu também tenho que estar de olho na sua saúde enquanto estiver aqui!

- Está preocupada com a minha saúde? – falei curiosa – Obrigada Missy, mas não precisa se preocupar, estou bem.

- Seus olhos andam meio marejados e você está pálida. – ela advertiu – Pelo menos foi isso o que Espirro me contou e acabei de ver que é verdade. A falha é minha por não ficar de olho em você.

- Está se culpando de novo por uma coisa besta. Vocês tem coisas para fazer, e além do mais posso me cuidar sozinha, olha, você até fez café para mim, Missy – respondi amorosa, pegando um pedaço de pão – Obrigada.

 Não sei muito bem como minhas palavras soaram, mas Missy ficou tão dramática após elas, chorou como um bebe, falando que não merecia tanto amor e carinho de uma humana tão valiosa quanto eu, que ela era um lixo de gato, e essas coisas.

 Ri durante um bom tempo, tentando anima-la, enquanto comia, dizendo que estava tudo bem e que ela não precisava pensar daquele jeito. Acho mesmo besteira, mas Missy é tão sensível quanto eu, é obvio que ela se sentirá mal até me fazer roupinhas de crochê e me por na cama, contando historinhas.

- E então – ela falou entre soluços – Você me perdoa?

- Pelo – antes de completar a frase sorri e baguncei os cabelos dela – Está bem, eu te desculpo. Tá melhor assim?

 Como uma criança quando ganha um brinquedo novo, Missy se levantou, enxugando as lagrimas e pegando a bandeja da cama, já com um sorriso radiante no rosto.

- Assim está bem melhor Amelinha!

 E logo depois ela voltou a ser a Missy convencida e mandona de sempre.

- Nina! – ela berrou para uma das gatas que estavam na porta. – Deixe de ser imprestável e leve essa bandeja até a cozinha. Eu fiz o café da manhã, mas o resto vocês podem cuidar!

- Sim Senhora.

 A gata respondeu submissa, me olhou de canto, e sumiu.

 Senti um leve arrepio com a olhada sutil dela. Ainda tinha muito medo de ser odiada e sabia que essa era uma ideia um tanto quanto apreciada por eles: Odiar humanos.

- Senhorita Amélia! – Espirro berrou, entrando no quarto em prantos – B-b-b-bom dia. – ele gaguejou, se aproximando de mim e logo depois de arregalar os olhos se afastou – O Mestre mandou dizer que teve               que ir resolver uns probleminhas no perímetro e voltará em torno de t-t-três dias.

- Três dias? – Missy se intrometeu, o puxando – O que ele foi fazer nas terras do Willi?

- Willi? – perguntei por cima.

- Bom – ele disse apressado, se voltando para mim – Willi é o dono do outro perímetro aqui ao lado, mas ele não é nenhum bom moço. O Senhor Willi vive num perímetro longe daqui e é o... pai, do Mestre, no qual eles não se dava muito bem já que ele sempre tratara mal a Senhora Phie. Ele... – Espirro começou.

- ...tem um gênio difícil e é completamente rabugento. – Missy completou e continuou – Ele nunca quis ficar aqui conosco depois do que aconteceu. Então sempre vamos para lá para dar suprimentos e ver se está tudo bem. É um pouco longe, ai está o porque da viagem demorar três dias, no mínimo.

- Isso porque o Mestre partiu hoje pela manhã! – ele falou todo feliz, frenético.

- Porque não foi com ele Espirro? – perguntei curiosa.

- Po-porque? – ele respondeu meio tímido, olhando para o outro lado – Ora Senhorita Amélia, meu Mestre sabe se cuidar sozinho e eu estava muito preocupado com a Senhorita, sabe...

- Preocupado comigo? – perguntei em tom doce.

 Me aproximei de Espirro e no mesmo instante, por instinto, o pequeno felino preto se abaixou, tentando se proteger. Mas minhas mãos não estavam ali para feri-lo e sim acaricia-lo. Coloquei delicadamente a mão sobre a cabeça dele, em cima do cabelo espetado e entre as orelhas curtas e fiz um carinho como faço em filhotes de gato, mais de leve.

 O pequenino levantou a cabeça e aos poucos relaxou o corpo, me olhando curioso.

- Obrigada pela preocupação. – disse baixinho, ainda de forma meiga – Assim eu fico mal acostumada gente. – falei por fim, me afastando de Espirro novamente.

- Nosso dever é bem cumprido Amélia. Até porque precisamos lhe manter longe do tédio. – ela comentou aborrecida, olhando para a unha – Com ele vem à maldita curiosidade e as suas façanhas!

- Sou uma menina cheia de vontade, apenas isso – retruquei emburrada – Agora, o que vão fazer?

- Hoje? – Espirro perguntou.

- Queríamos mesmo lhe fazer companhia – Missy começou, puxando o pequenino com ela – Mas temos muito trabalho e pouco tempo até Serafim chegar, por isso, estamos indo já.

- E eu? Não posso ajudar? – perguntei animada, me aproximando deles.

 Mas os passos foram ficando cada vez mais pesados e meu corpo se bateu no chão, fraco.

- Senhorita Amélia!

- Amélia!

 Escutei como plano de fundo, enquanto meus olhos iam se fechando.

 Que sensação era aquela? Meu corpo estava pesado, dolorido e não era nada que eu já tivesse sentido antes.

- Você está bem?

 Escutei novamente ao fundo, a voz de Missy, enquanto me colocavam na cama novamente e um deles, não sabia dizer qual, segurava minha mão que estava caída para fora da cama.

- Eu disse que ela estava doente! – a voz de Espirro soou preocupada, próxima a mim – Senhorita Amélia, descanse.

- Como descanse? – Missy perguntou perplexa – Ela está doente!

- É apenas um resfriado! – Espirro berrou de volta – Ela tomou chuva ontem, segundo o Mestre, foi apenas isso. Um repouso e uma sopa, como os humanos fazem, deve melhorar tudo.

 Foi tudo o que eu escutei antes de apagar completamente.

 Acabei sonhando. Acordei em um jardim todo florido, eram campos e mais campos verdes cobertos por minhas flores favoritas e haviam vários gatinhos brincando, num aglomerado, enquanto outros dois, um preto e um branco, estavam sentados longe, assim como eu, isolados deles.

- Vamos brincar irmão! – o gato branco pediu manhoso, mordendo a mão.

- Não podemos. – o negro comentou severo – Mamãe ficará muito zangada se nos misturarmos com os pobres.

- Mas qual é a diferença? – o branquinho perguntou curioso, olhando o irmão – Não vejo diferença nenhuma, eles são assim ó! – ele apontou para as orelhas – Que nem a gente Sê!

- Serafim.

 Com um belo sorriso meigo, o gato negro passou a mão sobre a cabeça de seu irmão, claramente menor, pensativo, parecendo tentar achar um jeito de explica-lo. Já era para eu ter percebido que eram os dois, afinal, a fisionomia é muito parecida. A diferença está na pureza que essas crianças parecem ter, muito diferente dos irmãos que conheci agora.

- Ele são parecidos conosco, isso é verdade! – ele disse divertido – Mas olhe, eles se vestem diferente de nós e são de uma classe diferente. Quando tinha sua idade também não entendia, porque para uma criança o que importa mesmo é brincar.

 Ele riu da expressão de seu irmãozinho e bagunçou seus cabelos. Serafim, por sua vez, ficou muito irritado, empurrando os braços do irmão de forma desengonçada, como uma criança pequena faria.

- Só porque você tem 13 anos, fica achando que sabe tudo. Você ainda gosta de brincar Sê, sei disso porque você vive pedindo para brincar comigo!

 Emburrado por ter sido contrariado, Serafim cruzou os braços e se virou para o lado oposto do irmão. A expressão de carinho no rosto de Sebastian me surpreendeu, era tão vivo e verdadeiro, aquela era o tipo de cena que mexia muito comigo. Amor familiar. Sei bem como é isso e fico imaginando se tirassem de mim também, afinal, tenho um irmão mais velho e sei que ele pode ser chato às vezes, mas ainda sim, é meu irmão e o amo.

- Meninos! – uma voz feminina chamou de longe.

- Ah! – Serafim ficou todo animado, se levantando da grama – É a mamãe!

 Os dois se levantaram e seguiram a voz, que os chamou novamente. Eles correram até uma figura alta. Uma mulher esbelta, morena, de cabelos cor de caramelo, compridos, com os olhos azuis de Serafim. As orelhas compridas estavam atentas e o rabo comprido pouco balançava embaixo do simples vestido branco que ela usava, mais parecendo uma camisola.

 Enquanto ela abraçava os dois, foi que a ficha caiu: É a mãe deles. A Phie.

 Intrigada, me levantei, me aproximando um pouco mais. Vendo que Phie estava olhando para mim enquanto abraçava seus dois pequenos, apenas me observando.

- É melhor irmos. – ela advertiu calma, desviando sua atenção a eles.

 Sem protestar, os dois meninos seguiram a mãe, que os colocou em sua frente e passou a empurra-los de leve. A felina ainda virou o rosto para me olhar mais uma vez.

- Fique longe... – ela pronunciou seria, vendo que eu estava prestes a segui-los - ...afaste-se dos meus meninos.

Após a fala de Phie abri os olhos, vendo que ainda estava na cama, no quarto de Serafim, onde eles haviam me deixado. Com a vista meio turva, vi que alguém estava ali comigo no quarto, de pé, na frente da cama. A julgar pela figura alta e os cabelos longos, jurava que era Sebastian e me assustei, berrando e caindo da cama.

- Aconteceu algo, Senhorita Amélia?

 A empregada, Nina, falou preocupada, correndo até mim. Ajudando-me a sair do chão.

- Não, apenas me assustei – comentei meio atordoada, sentando na cama – Quem estava aqui?

- Aqui? – ela perguntou confusa – Na ala apenas eu, limpando os quartos ao lado e ao ouvir sua gritaria corri para cá, mas só, o resto está nas linhas de produção nas outras alas Senhorita Amélia. Acho melhor continuar descansando, não parece muito bem.

 Todos ali daquele maldito casarão estavam tentando me convencer que eu não estava boa, e talvez até não estivesse lá em meus dias mais perfeitos de saúde, mas os sintomas apareciam do nada e em qualquer momento, por exemplo, agora eu não estava sentindo nada, mas daqui a pouco eu poderia desmaiar feio.

 Esperei Nina sair e sai do quarto, andando pelos corredores da ala dos dormitórios, vendo que realmente não havia ninguém por ali, estavam todos ocupados trabalhando e fazendo suas coisas, me deixando mais uma vez para trás, onde me senti inutilmente inútil, querendo morrer só de pensar que Serafim e os outros, desde que chegaram aqui passaram mais tempo resolvendo assuntos do que comigo. Sim, é um pensamento egoísta, mas também me faz pensar no que realmente vim fazer aqui.

 Fui até a área de produção, vendo novamente aquele mundaréu de gatos indo de um lado para o outro, trabalhando como loucos com as comidas e concertos de coisas que haviam sido quebradas no casarão. Andando pelos outros corredores, com janelas, vi alguns lá fora, arrumando a paisagem, podando as plantas, colhendo as flores e frutas dos jardins, pintando as paredes e crianças brincando.

 É, todos tinham o que fazer. Até eu tinha o que fazer, mas estava apenas adiando, algo em mim ainda me mandava dar um tempo e apenas pensar no que havia sonhado. Afinal, aquela cena deles dois na infância e a mãe aparecendo...eu estava tão obcecada assim por respostas? Mas o mais curioso fora imaginar a Senhora Phie daquele jeito, eu nem ao menos tinha me pegado pensando ou imaginando como ela seria, mas o inconsciente trabalha sozinho, acontece. Até porque se eu ficar pensando muito nessas coisas irei ficar louca antes mesmo de voltar para casa.

- Senhorita Amélia? – Espirro falou a minha frente – Faz o que nesta ala?

- Ahn? – falei distraída – Que ala que estou? – falei preocupada, olhando para os lados.

 Espirro riu.

- Está na ala dos escritórios, é aqui que eu e Missy trabalhamos junto com o Mestre. – ele explicou empolgado – Parece um pouco melhor, fico feliz por isso.

- Sim, me sinto novinha em folha! – falei em tom animado.

 Mesmo sendo mentira, preferi acreditar que sim, estava bem.

 Acabei acompanhando Espirro até o escritório, onde haviam mais duas felinas que me olharam com os olhos arregalados, prontas para fugir.

- Parecem você quando está afobado! – comentei com Espirro, o empurrando levemente, rindo – Olá! Eu sou a Amélia.

As duas saíram correndo na mesma hora em que me apresentei, jogando os papeis para cima e me deixando com cara de tacho, ao lado de Espirro, que apenas riu, enquanto recolhia os papeis.

- Aquelas duas você conhece. – ele comentou por alto – São a Bonitinha e a Orelhinha.

- O que? – berrei, colocando as mãos na boca – Está brincando né? Aquelas duas que sempre fogem de mim na minha avó?

- São elas mesmo.

 A conversa terminou por ali, já que Espirro terminou de pegar os papeis e os colocou em cima da mesa, começando a ler e a escrever um monte de coisas a mão, com uma pena preta. Fiquei com medo de atrapalha-lo e então escolhi uma das mesas e me sentei, vendo uma foto antiga, jogada pela mesa toda bagunçada.

 Arregalei meus olhos no mesmo instante em que vi quem eram. Uma mulher e duas crianças que eu já tinha uma leve noção de quem seriam.

- E-E-Espirro – comentei assustada, pegando a foto e colocando na frente dele – Quem são?

- São apenas o Senhor Sebastian, este aqui – ele apontou para o gato negro – com 13 anos, o Mestre, este – apontou para o outro pequenino – com 8 anos e a Senhora Phie. Porque o choque?

- Espirro. – falei baixo desta vez, deslizando pela mesa, até cair de joelhos no chão, o olhando ainda bem chocada – Eu acho que precisamos conversar novamente. Tem algo de muito errado e estranho acontecendo por aqui.

 O felino ficou visivelmente assustado, se levantando da mesa, já com as orelhas em pé.

- O-o que houve? – perguntou aflito.

- Depois de desmaiar... – comecei ainda nervosa, mas já bem mais calma - ...eu sonhei com eles, e nessa idade Espirro.

 Os olhos arregalados do pequeno felino, a respiração que se tornou irregular e a movimentação frenética do rabo de Espirro só me diziam uma única coisa. Que por ai não vinham coisas nada boas.


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Notas finais do capítulo

E então? comentem, comentem, comentem Q
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