Eles por ela e ela por gatos escrita por Airi


Capítulo 15
A cumplice do prisioneiro.


Notas iniciais do capítulo

Bom, sem muito o que escrever, apenas que gostaria da opinião de vocês para o Sebastian, o personagem novo, bom... ele terá uma grande patricipação na historia e vi que quase ninguém comentou sobre ele, fiquei preocupada :X
Apenas isso !
De resto, boa leitura pessoal!
Beijinhos!



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- A Senhorita está muito estranha. O que houve?

 Escutei Espirro me chamar e me virei, o olhando com cara de paisagem.

- Como?

- Está me escutando Senhorita Amélia? – ele perguntou preocupado, se aproximando de mim e pondo a mão em minha testa – Está doente? Oh meu deus, tenho que avisar ao meu Mestre e...

- Não é nada disso! – Missy berrou atrás dele, lhe dando um tapa na cabeça – Espirro, a Amelinha só está pensativa, não tá vendo não?

- Pe-pe-pensativa? – ele perguntou confuso, voltando a me olhar.

- Sei lá, estou pensando em umas coisas aqui. – respondi normalmente.

 Apenas acordei de meus pensamentos quando ouvi um berro e virei meu rosto, acompanhando Espirro correr até a porta do refeitório.

- Com o que ele se assustou desta vez? – perguntei sem muito animo, com o rosto apoiado me uma das mãos.

- O horário, ele estava tão preocupado com você que esqueceu que marcou de encontrar o Serafim – Missy comentou brincalhona ocupado o lugar de Espirro – Me diga querida, tem algo lhe perturbando?

- Hm, não. – respondi ainda avoada – Estou pensando aqui em algumas coisas. Passei três dias inteiros observando vocês, toda essa arrumação. Achei engraçado – voltando um pouco mais ao normal, falei de forma meiga – É como uma grande família, e agora entendo porque todos se preocupam uns com os outros.

- Estamos em pequena quantidade neste casarão. Mas fazemos o possível para sobreviver. Um dia ainda queremos achar os outros, que estão além daqui, no domínio dela.

 A amargura na voz de Missy me deixou preocupada e resolvi mudar de assunto.

- Serafim sumiu. Por onde ele anda? – perguntei entediada, fazendo bico.

- Ele está resolvendo uns assuntos que nem eu sei, sabe. – Missy comentou frustrada, olhando ao redor – Ele e Espirro tem estado muito ocupados.

- Todos vocês. – retruquei irritada – E eu não estou fazendo nada, não dá pra entender o porque estou aqui, quando poderia estar em casa.

 Missy riu brevemente e passou a mão em minha cabeça, se levantando.

- Não minha querida amiga, você não pode voltar enquanto sua missão não estiver cumprida e isso nem foi determinado por nós, sabe disso.

 Bufei e ela saiu. Sem nada para fazer fiquei durante mais um tempo por lá, olhando pela janela alta do refeitório, a grama verdade do pátio e os ladrilhos mal colocados. Uma vista bela, como sempre pensei desde que vi, mas mesmo tendo muitas coisas para pensar eu não tinha mesmo o que fazer a não ser ficar andando por ali, de um lado para o outro do casarão.

 “Porque não visita-lo?”, pensei, abrindo um enorme sorriso. Agora que ninguém estava de olho em mim, acho que finalmente podia voltar para aquele local. Olhei para os lados vendo que não havia mais nenhuma alma viva no local e corri até a sala principal, esperando alguns felinos que passavam por ali saírem e corri para o corredor da ala Oeste, torcendo para que ninguém me visse.

 Passei rapidamente pelo caminho e finalmente cheguei ao esconderijo do famoso Sebastian, o traidor. Novamente aquele sentimento angustiante voltou a tomar conta de mim, era como se o lugar fosse familiar e eu me sentia um pouco triste por ver o local tão abandonado.

 Meus olhos passaram a encarar a casa antiga e acabada que ele vivia, enquanto sentia o vento trazer até mim aquele cheiro de folhas e agua, que sempre senti antes de chover. Meus cabelos castanhos se bagunçaram em meu rosto e me atrapalhei um pouco, tropeçando em algo e indo direto ao chão, mas antes de atingi-lo, alguém me segurou e me puxou para frente.

Quando vi, estava apoiada sobre a perna dobrada de Sebastian, que me olhava surpreso.

- Ora, ora. E não é que ela veio mesmo me visitar de novo?

 O tom irônico me irritou, mas ele não parecia estar fazendo de proposito e sim apenas tentando expressar em palavras sua curiosidade com a minha visita. Um pouco constrangida me afastei e levantei sozinha. Sebastian fez o mesmo, me acompanhando um pouco de longe, vendo que sua presença próxima a minha não seria nada bom.

- Vim. Estou sem nada para fazer – respondi ríspida – Algum problema com isso?

- Garota, eles não mandaram você ficar longe daqui? – ele perguntou confuso.

- Mandaram. – dei de ombros.

- Não sabe seguir regras? Esta fazendo o que aqui?

- Pensei que estaria precisando de um pouco de companhia. – comentei um pouco tímida, olhando as flores – E me chame de Amélia, este é o meu nome, não garota.

 Ele ficou quieto e assustada me virei, mas a cena que vi fora...encantadora, eu diria. Os olhos de Sebastian estavam arregalados e seu corpo alto e grande estava estático, próximo a mim, com os cabelos negros compridos balançando com o pouco vento, assim como os meus faziam às vezes. Eu mal tinha o que fazer e ele parecia mesmo precisar de companhia, então, porque não quebrar um pouco as regras e ir visita-lo? A versão da historia segundo ele eu ainda não sabia, e mais pra frente pretendo perguntar.

- Humanos como você – ele finalmente falou, se afastando e indo até uma cadeira – são realmente interessantes Amélia.

 A forma como ele disse meu nome me constrangeu novamente, mas tentei deixar o sentimento de lado, enquanto me aproximava, sentando-me duas cadeiras depois dele, numa distancia confortável.

- Você não pode ir além daquele portão? – perguntei como uma criança, apontando.

- Porque quer saber?

- Sou apenas uma humana curiosa, isso deveria bastar como explicação para vocês felinos. – comentei irônica – Já que foi você mesmo quem me falou que humanos são assim, todos curiosos.

 As orelhas grandes e felpudas dele se mexerem rapidamente, de forma fofa e ele passou a rir novamente, encostando as costas largas na cadeira e olhando para o céu azul. Sebastian parecia radiante com a minha presença, o que me deixou extremamente pensativa, me fazendo lembrar das palavras de Espirro sobre a pena do felino negro. Sozinho durante todo este tempo, sendo rejeitado por sua espécie depois de perder seu amor, e sendo classificado como traidor.

- Não – ele respondeu calmo, fechando os olhos – Eu não posso sair além daquele portão, estou lacrado aqui até o dia em que morrer.

- Porque?

- Não pergunte o que já sabe mocinha – ele comentou brincalhão, passando a me olhar – Sei que já sabe de toda a historia, e sei apenas pelo seu olhar de pena sobre mim.

- Ahn? Eu não...

 Senti certo constrangimento pelo que havia feito. Ninguém quer que os outros olhem com pena para o que lhes acontece, sei disso por experiência própria, mas não consegui evitar, fiquei imaginando a dor que ele deve ter sentido, as perdas, a tortura psicológica que ele passa todo dia aqui, sozinho.

- Não precisa se desculpar – ele me alertou, como se realmente não se preocupasse – Mas se veio aqui apenas para saber das coisas perdeu seu tempo, não vou lhe contar nada.

 Sebastian se levantou e abriu a porta enferrujada a sua frente, me encarando friamente, com um ar serio em seu rosto, todo imponente, as orelhas imóveis e o rabo parado atrás de si, que mal dava para ver.

- Eu não estou aqui por isso – o adverti, me levantando – Eu na verdade...não sei porque estou aqui.

- Sabe sim – ele tornou a dizer, serio – Você veio aqui com um proposito, Amélia, e este proposito é perigoso, o contato comigo pode lhe trazer riscos.

- O que? Não precisa se preocupar comigo – respondi baixo, me abraçando, sentindo o vento gelado.

- Não estou preocupado com você – ele continuou serio – Estou preocupado em aumentarem a minha pena. Por favor – ele disse um pouco irônico – Não é como se eu fosse me preocupar com os humanos. Eles são o motivo da minha desgraça.

 Senti certa raiva vibrar em meu peito e me aproximei dele na mesma hora, passando pelo portão marchando rapidamente e me virei apenas quando estava, novamente, a certa distancia dele.

- Eu sei muito bem o que faço – falei nervosa – Não precisa me ofender, eu não fiz nada contra você.

- Ainda não – ele respondeu rapidamente – Não sei o que pode acontecer se você passar a me visitar. Seu proposito aqui é outro.

- E se eu estiver curiosa para saber o porque me sinto tão estranha perto de você? – falei alto, me aproximando novamente dele, o encarando – Eu não posso?

 Senti as gotas de agua caírem sobre mim pouco a pouco, ficando cada vez mais forte, enquanto eu continuava a encara-lo. O sorriso sádico e irônico voltou ao rosto de Sebastian, assim como seu irmão fazia muitas vezes comigo. A mão do felino chegou a se levantar e parou no perímetro limite, sem encostar em mim e ele logo recuou.

- Poder, você pode. Mas o que isso trará é um mistério Amélia. Não mexa com aquilo que pode se arrepender depois. – ele disse de forma sombria, analisando meu rosto pálido – Já parou para pensar que...podemos ter nos conhecido antes?

 A expressão assustadora ia aumentando no rosto de Sebastian e ele parecia animado com isso, com as força dos ventos ali, a chuva caindo freneticamente e minha presença. O que ele queria dizer com isso?

- Os humanos não tem o conhecimento da grandeza do Destino, aqueles que acreditam pensam saber tudo sobre o assunto, mas ele se mantem desconhecido, com informações que poderiam deixar qualquer um louco. Tem mesmo certeza disso? Porque... eu sei porque você fora a escolhida, e não foi apenas por sua curiosidade de pegar a rosa, tinha que ser você. Seu Destino está aqui, nesta dimensão, a resposta para a sua existência Amélia, vem daqui. Aquilo que você tanto procura, a razão da sua personalidade.

- Sebastian, brincar com uma coisa dessas não é nada bom, sabia disso! – rosnei irritada, me afastando alguns passos.

 Ele riu alto. Colocando uma das mãos no rosto, me encarando sombriamente.

- Você pode chegar a nunca descobrir a verdade, mas Amélia, me conhecer foi o pior erro da sua misera vida. Eu sei a resposta de tudo, sei que o motivo de você estar aqui é maior do que a profecia, mas eles não sabem disso, apenas eu sei. Portanto – ele abaixou o tom de voz, olhando para baixo, onde o cabelo molhado cobria os olhos – Não se aproxime nunca mais daqui. Juntos, somos um erro da natureza. Você seria minha cumplice.

 O vi entrar de volta na casa e me afastei, tentando tirar os pensamentos intimidadores que ele havia posto em mim. Tudo aquilo deveria ser mentira, deixar ele sozinho por muito tempo deve ter o deixado louco, não é possível. Ele nem sabia o meu nome e do nada começa a dizer aquelas coisas? Até o meu desejo mais oculto ele sabe. Como isso?

 Derrotada pela minha estupida ideia, voltei debaixo de chuva para o salão principal, mas me desloquei novamente para uma das outras alas, que nem vi qual era e fui para o pátio, sentando em um banco de mármore e fiquei encarando o chão. Conhecer...será que eu conheço o Sebastian? Ou ele estava me falando aquelas coisas para me intimidar. Não é possível, mas isso explicaria a minha curiosa reação a aquele lugar e a ele.

 Não, eu me lembraria disso. Juntos somos...

 Senti a chuva parar em cima de mim, mas quando olhei para frente vi que era Serafim na minha frente, com um guarda chuva em cima dele e um em cima de mim.

- Essas invenções humanas são boas às vezes – ele comentou irritado, olhando para o lado – Venha, assim você vai ficar doente.

 Sorri e me levantei, pegando o guarda chuva e o seguindo até lá dentro, onde ele me entregou uma toalha e pegou uma para ele.

- Porque estava embaixo da chuva? – ele perguntou curioso – Estávamos te procurando.

- Ah, eu só tava pensando, não enche – respondi birrenta – E vocês estão todos sempre ocupados, resolvi andar por ai.

- Mas você não... – Serafim começou irritado.

- Não! – o cortei na mesma hora – Apenas estava andando, só isso. Não me confunda com uma idiota que fica se metendo em perigo por nada.

 Que é exatamente o que sou, além de tudo, mentirosa.

O clima não estava parecendo tão tenso como estava nos dias anteriores com Serafim, ele estava um pouco mais meigo e preocupado comigo. Talvez porque eu estava consideração as palavras de Missy agora, e realmente me sentia mais protegida perto dele. Nos sentamos na cama, com as toalhas em volta do pescoço sem falar nada por um tempo.

- Está com algum problema? – ele resolveu quebrar o gelo.

- Não – respondi calma – Eu só não queria estragar este momento falando besteiras. Sabe como é né, a gente sempre acaba se estranhando.

- É verdade. – ele concordou, rindo baixinho – Mas não é típico seu querer se dar bem comigo.

- Vai ver é porque eu cansei de brigar, só isso. – dei de ombros. – Não posso?

- Não – ele disse rapidamente, se afastando, fazendo drama para brincar comigo – Você fica estranha assim, pare agora!

- O que? – respondi indignada, rindo alto e pegando o travesseiro perto de mim, jogando em cima dele – Cala a boca!

 Nós dois começamos a rir e a tacar travesseiros um no outro, como dois velhos amigos. Nunca pensei que poderia me sentir assim perto dele, calma, protegida e até motivada. Depois de esclarecer todo o assunto das mentiras eu finalmente estava me dando bem com Serafim, ou pelo menos parecia. Por hora, acho que prefiro esquecer o que Sebastian falou, mas ainda irei voltar lá, não senti que as coisas foram corretamente ditas e no fim, se eu realmente tiver algo a ver com eles, eu preciso saber. A verdade é sempre importante.

 Quando a guerra de travesseiros acabou, estávamos os dois deitados, um ao lado do outro, esparramados na cama, tentando recuperar o folego e rindo ao mesmo tempo.

- Você perdeu! – berrei animada.

- Como é que é? – ele falou logo em seguida, convencido – Eu claramente mantive vantagem sobre você à luta inteira!

- Serafim, seja cavalheiro! – berrei de volta, ainda rindo, me debruçando sobre a cama.

- Se você admitir que perdeu – ele insistiu.

Nos olhamos e sorrimos um para o outro, encerrando o assunto.

 Serafim ficou deitado, olhando para o teto e sem vergonha nenhuma me aproximei dele, deitando em seu peito, me aconchegando próxima a ele. O felino branco não reclamou ou se afastou, ele apenas passou o braço pelos meus ombros me apertando contra ele.

- Eu sinto muito – ele comentou baixo, beijando minha cabeça.

- Não precisa, está tudo bem agora – respondi calma – Apenas não me deixei desamparada novamente, dependo de você aqui Serafim.

- Pode deixar. Eu vou lhe proteger.

 Após a pequena conversa adormeci nos braços de Serafim, sorrindo de forma boba. É, até que eu acho que quando ele age de forma mais coerente e adulta, eu posso gostar dele.


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