Eles por ela e ela por gatos escrita por Airi


Capítulo 14
Recuperando a força. Verdade.


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que ia postar rapido, hahahaha, mas to vendo que quase ninguém voltou para ler, T-T
Estou postando basicamente pelas leitoras ainda fervorosas que vivem brigando comigo, como a Haru-chan! hahaha
Obrigada pelo carinho fofa :3
Bejinhos e boa leitura!



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Fiquei durante mais algum tempo lá, pensando na vida e nas palavras de Espirro. O pequenino gato preto havia me esclarecido de muitas duvidas cruéis, mas eu mal podia imaginar que estava metida no meio de uma briga que não era minha e nem sequer dos outros humanos. Eles tem toda a razão de duvidar de nós, afinal os humanos são mesmo criaturas detestáveis quando querem muito algo, principalmente relacionada a poder e essas coisas de controle. Não me surpreende nada Sebastian ter sido traído por esta humana, mas o que mais me choca é que se eles apenas ficarem a barrando ela jamais sairá daqui e pelos meus cálculos é só eles fazerem isso até ela envelhecer bastante e morrer. A ajuda de um humano é requisitada, pelo que entendi, apenas para mata-la, eles estão tão aflitos assim?

 Eu entendo que Serafim queira vingança, mas mentir não vai leva-lo a nada, ele só esta jogando tão sujo quanto aquela velha doida que veio parar aqui. E quem esta pagando o pato sou eu, já que ele está me usando como instrumento de vingança.

 Chega! Irei falar com ele agora mesmo, uma hora as coisas viriam à tona, quem mente sempre deixa uma brecha e aquele gato imbecil deveria saber disso.

 Furiosa, me levantei do pátio e segui para dentro, dando de cara com Missy que veio logo me abraçar.

- Amelinha, minha fofa. A onde estava? – perguntou toda amorosa, me soltando.

- Conversando com Espirro. – respondi calmamente, tentando continuar o caminho.

- Serafim me contou – ela comentou um pouco desapontada.

- Ah, então aquele idiota já foi abrir o bico? – respondi irritada me desviando dela.

 Missy se pôs a minha frente, não me deixando continuar o caminho, forçando-me a olhar para ela.

- É logico que ele ia abrir o bico. Nós dissemos para você não ir lá e o que você faz? Deixa a curiosidade tomar conta de você, de novo, e vai até lá. Falou com o Sebastian sobre o que?

- Não adianta Missy, eu não vou ficar contando nada a ninguém – disse ríspida, passando por ela e abrindo a porta – Eu preciso falar urgentemente com o Serafim, a onde ele está?

- Querida, aconteceu algo? Parece um pouco nervosa. Por favor, não interprete mal a minha bronca, me preocupei com você.

 Missy parecia mesmo bem preocupada, o que me amoleceu muito. Acabei perdendo lentamente a postura de irritada e a puxei comigo pelo corredor, já chegando próximo ao corredor dos quartos, enquanto a felina ia me direcionando até chegarmos a uma porta enorme, que no caso abri com tudo, dando de cara com Serafim, que estava prestes a sair e foi acertado bem no nariz.

- Você está louca, não é possível! – ele berrou irritado, com as mãos no nariz – Amélia tome cuidado! Ou pelo menos me avise que quer me matar!

- E eu quero mesmo matar você, estou quase fazendo isso seu mentiroso idiota! – berrei de volta, o empurrando para dentro do quarto e puxando Missy junto – E você também mocinha, deve me explicar umas coisas.

- Mas o que foi que fiz? – Missy perguntou intrigada, sentando-se na cama – Sou inocente Amelinha.

- Inocente é uma ova! – falei alto, acompanhando Serafim que sentou-se ao lado de Missy – Porque mentiram pra mim?

- De novo essa conversa? – Serafim disse irritado – Eu já disse...

- Porque não me contaram da morte de Phie?

 Fui direto ao ponto, falando o nome da mãe de Serafim. Percebi que o efeito que queria foi o esperado, ele praticamente pulou da cama e se aproximou de mim, irado, forçando Missy a se levantar junto e o segurar.

- O que sabe sobre a minha mãe?

- Porque não me contou sobre ela e sobre as outras coisas? Eu acho que, sinceramente, teria lhe ajudado se você tivesse pedido para mim lhe ajudar com essa vingança que pretende, sei lá, mesmo com medo eu teria sido escolhida não? Se este é o meu dever com vocês, não posso fazer nada a não ser cumpri-lo, mas a mentira foi o pior caminho.

- Amelinha, eu... eu sinto muito minha querida – Missy comentou chateada, soltando Serafim e tentando se aproximar de mim – Ele que guarda o portal, eu teria lhe contado a verdade mas...

- Achamos que seria melhor assim – Serafim complementou a frase dela e apontou para a porta – Missy, preciso falar com ele sozinho, saia.

 A felina não fez objeções, saiu no mesmo instante, me deixando sozinha com o meu maior pesadelo. Tentei continuar firme, para caso ele resolvesse me enrolar, mas Serafim parecia disposto a contar toda a verdade agora.

- Lhe contaram tudo? – ele perguntou mais calmo, me olhando.

- Sim Serafim. Tudo. Mas agora não há como voltar atrás, preciso terminar o que vim fazer aqui para ir embora, só me sinto mal por ter sido enganada. Fiquei tão preocupada com a minha família e com meus amigos que mesmo com medo aceitei na hora.

- Entenda, realmente há riscos para os humanos – ele tentou concertar.

- Mas não o risco que você me falou. – respondi calma.

 Serafim riu e se aproximou de mim, tocando meu rosto. Deixei. Aquele toque não me fazia mal, na verdade eu podia ver o olhar de arrependimento dele naquele momento, mas eu estava chateada com a mentira. Todos trabalhando pelas minhas costas e eu não sabia daquilo.

-Você da mais medo calma do que irritada, sabia? – ele disse docemente, ainda passando a mão em meu rosto. – Só assim para eu entender que você não é nenhuma criança. Tenha cuidado.

- Com quem, você? – respondi irônica, me afastando.

- Também – ele confirmou – Mas com o meu irmão. Eu posso ter mentido sobre muitas coisas para chegar ao meu objetivo, que era te trazer aqui para acabar com aquela maldita mulher, mas o meu irmão é perigoso, a minha preocupação com você chegando perto dele é verdadeira.

- Ele também foi traído Serafim. O seu irmão sofreu tanto quanto você!

- Está defendendo ele porque? Ele é um traidor, fez o que não devia!

- Os seres cometem erros, infelizmente é assim que funciona! Ninguém é perfeito. Dê uma chance a ele de se explicar.

- Isso está fora de cogitação – ele protestou, indo para a janela – por causa do erro estupido dele, minha mãe foi morta.

- O amor nos faz cometer erros estúpidos mesmo – respondi pensativa, do outro lado do quarto – Mas é assim que as coisas acontecem Serafim, não podemos impedir.

 A dor no rosto de Serafim era tamanha que minha raiva cessou. Me senti derrotada pelo passado dos dois. Eles podiam dizer o quanto quisessem que eu não tinha nada a ver com aquilo, mas eu sentia que tinha, algo em mim me dava forças para seguir em frente e descobrir toda a verdade para concertar aquele problema existente entre os dois a tanto tempo.

 Os olhos cintilantes do meu felino branco passaram a me encarar desamparados. Ele havia sido descoberto, sua mascara estava no chão e ele não sabia para onde correr. Naquele momento percebi que ele se encontrava assim que nem eu, sozinho, desamparado.

- Eu te desculpo – falei por alto, me virando de costas para ele, num gesto orgulhoso – Só não minta mais para mim. Estamos combinados?

 Ele não respondeu, mas se não havia retrucado já era um bom sinal. Resolvi sair do quarto e ir para o meu, já deveria estar tarde. Senti certo alivio por saber das coisas e pela minha incrível capacidade de perdoar as pessoas facilmente. Só agora eu também podia me ver como uma pessoa mais madura, que entendia os fatos.

 Sei que não adianta bater o pé, rodar a baiana e berrar com todos, não irá mudar o fato que de mentiram. Mas agir com calma apenas mostra que estou disposta a confiar neles de agora em diante, esperando que eles me contem tudo e não mintam mais para mim. Estou apenas passando a confiança que eu gostaria que eles tivessem tido comigo.

 No dia seguinte Missy veio me acordar e me levou para passear pelo casarão novamente, dizendo que eu poderia ajuda-la com alguns trabalhos, enquanto conversávamos.

- Deu tudo certo com o Serafim ontem? – ela perguntou aflita – Não houve nada serio né?

- Tudo bem Missy – dei de ombros, com um leve sorriso – Eu sei de tudo o que aconteceu e já me situei no “problema”, agora estou mais tranquila.

- Não fizemos isso por mal, sabe... – ela continuou manhosa.

- Eu sei... eu acho. Mas isso não vem ao caso agora, podemos apenas manter assim, vocês me contando as coisas já está de bom tamanho, acredite.

 Respondi com tamanha sinceridade que as caras de choro da minha felina predileta pararam. Não havia como ficar irritada com aquele pedacinho de fofura fazendo carinha de abandonada.

 Ela me levou para colher alguns grãos, me ensinando algumas coisas sobre eles. Nada que eu vá me lembrar muito, mas é sempre bom ouvir as coisas de pessoas tão bem dispostas a compartilhar informações com você.

- E é por isso que...

- Missy – a interrompi – Posso lhe fazer uma pergunta?

- Assim tão de repente? – ela respondeu pouco depois, curiosa – Diga, o que houve.

- Vocês odeiam tanto assim humanos?

- Como? – Missy perguntou e logo depois riu freneticamente – Mas é claro que não! Alguns de nós sim, odeiam, mas os que vivem com os humanos dificilmente odeiam. Assim como eu, que sou muito apegada a você.

- E...

- O Serafim costumava odiar – ela respondeu rapidamente, me cortando – Quando éramos pequenos ele foi para o seu mundo acidentalmente. Caiu no portal em uma brincadeira sem graça que um dos pequenos fez com ele. Após três longos dias ele retornou e completamente traumatizado com os humanos que havia encontrado. Ele nunca tinha visto o mundo de vocês. Quando cresceu a mesma coisa, depois do incidente ele costumava a ficar sozinho por aqui, sem falar com ninguém e ir às vezes para o seu mundo, criando o Serafim que você conhece hoje. Mas eu confesso que...

- Que... ?

- Que depois que ele te conheceu Amélia, o jeito protetor que ele cuida de você, mesmo estando longe...acho que ele não odeia mais os humanos.

- Não generalize, tem gente muito ruim por ai! – respondi brincalhona, rindo.

- Mas você mudou o conceito dele de que todos são iguais. – Missy respondeu convicta – Ele quer lhe proteger, vejo isso nos olhos dele.

 Naquele momento percebi o quanto Missy gostava de Serafim. Aquele sorriso nostálgico e triste me dizia que ela não estava nenhum pouco feliz em ter percebido aquilo, mas que tinha que admitir o que viu.

 Não sabia ao certo o que fazer ou falar, já que meus sentimentos por Serafim ainda são uma incógnita, muito mais puxados para uma raiva do que para uma amizade ou amor. Tivemos mais desavenças do que qualquer outra coisa, mas essas “outras coisas” que tivemos é o que me preocupa.

- Acho que se ninguém me odiar Missy, eu estou feliz – continuei o assunto, mudando o foco rapidamente.

 Grata, Missy concordou.

- Acha que seria capaz de viver assim entre nós?

- Porque está me perguntando isso Missy?

- Não quero lhe assustar, mas talvez demore um pouco até o dia chegar. Há outra coisa que não lhe contamos e que acho que seria interessante você saber, já que não perceberá sozinha.

 A voz tranquila dela não me deixou aflita pela informação que viria. Se fosse algo serio acho que a expressão da felina não estaria tão calma quanto está, mas que eu estou curiosa, eu estou.

 - Mas porque? – perguntei calmamente.

- Fizemos uma certa coisa diferente da profecia e acho que está dando mais certo do que imaginávamos, que foi lhe trazer para cá antes.

- Mas Serafim falou que eu iria vir assim que a rosa se abrisse completamente.

- E isso é mais ou menos verdade. Quando a rosa se abriu completamente o portal estava aberto para que você viesse para cá, mas não era sua obrigação vir imediatamente, Serafim só sumiu porque ele que fez a sua transição.

- Era para eu vir quando então?

- Segundo os escritos era apenas para você vir no dia combinado, lutar contra ela e acabar com o nosso sofrimento de anos, mas pensamos que você vindo para cá, convivendo conosco e entendendo nosso modo de vida e historia, você amadureceria mais e iria se irritar menos quando descobrisse a verdade.

- Ah, isso. Bom Missy, de certo modo deu certo. Digo, fiquei irritada, mas ainda quero ajudar.

 Ri levemente com a minha constatação. Estava me sentindo muito dramática estes dias, antes de vir para cá, e até agora me sinto assim, e mesmo tendo sido enganada ainda vejo que sou a única esperança deles para que este sofrimento acabe bem antes do que o esperado.

 A conversa entre nós parou ali e logo Missy teve que se separar de mim.

- Antes de ir queria só te agradecer – ela falou meiga, segurando minhas mãos com as dela – A sua paciência será muito importante durante estes dias, estamos te escondendo com o que podemos para que aquela megera não saiba que estamos tentando derrota-la. Então por favor, minha querida, seja paciente conosco e com este tempo que está e passará conosco.

 E assim ela foi embora, me deixando sozinha naquele pequeno jardim de sementes colorido. Suspirei com um leve sorriso no rosto, me sentindo boba por finalmente estar gostando daquela atenção toda, me lembrando de quando eu imaginava minha vida em algo magico e misterioso. Não andaria para trás apenas por medo ou ter sido enganada.

 Ali perto havia alguns filhotinhos brincando, eram três: Um branco, um cinza e um preto. Quando me descuidei os pequeninos tinham mudado de forma e agora pareciam apenas crianças na faixa dos 3 anos, correndo de modo desengonçado, tentando pegar umas as outras. Eles também têm sentimentos, também são seres que necessitam uns dos outros e é por isso que me decidi. Mesmo não sendo a minha batalha de sobrevivência, farei de tudo para protegê-los e sair daqui sabendo que todos estão bem e poderão vivem em paz, assim como eu sempre vivi.


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