O amor existe escrita por Amy


Capítulo 2
All about us




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733052/chapter/2

Acordei com minha mãe gritando comigo de algum cômodo da casa. Sim, nossa casa é típica daquelas de filme de terror. Inúmeros cômodos enormes, várias portas e entradas, os porões gigantescos que serviam para as bagunças do meu pai e, pra ficar mais assustador, o sótão com aquelas janelas redondas que só de olhar da rua já lhe causava inúmeros arrepios.

Olhei janela à fora e havia o pôr-do-sol mais lindo da cidade de Ribeirão Doce. Me espreguicei e caminhei em direção à voz da minha mãe que continuava me chamando loucamente. Enquanto caminhava sentia que ainda me via como uma mera espectadora da minha própria vida. Ainda estava me acostumando a ideia de eu ter voltado no tempo, mas já que isso aconteceu deve ter algum porquê que eu ainda não entendi.

Encontro minha mãe na cozinha, em frente ao fogão. Cantarolava baixinho alguma de nossas músicas preferidas enquanto fazia nossa janta. Fiquei alguns instantes olhando-a. Ela era um pouco mais baixa que eu, tinha a aparência de mais velha graças à tudo pelo que ela passou, tinha os cabelos loiros e os olhos castanhos. Me peguei cantarolando com ela, outra de nossas músicas preferidas Too beautiful.

— Ah, você está ai - diz ela enquanto mexia sem parar uma das panelas no fogão - Preciso que tu vá no mercado pra mim e compre o que está na lista

Assenti com a cabeça, peguei meu fone de ouvido e sai cantarolando pelas ruas em direção ao mercado. O caminho era pra ser normal, como sempre era, mas não naquele dia.

Entrei no mercadinho próximo à minha casa e enquanto esperava ser atendida, sinto alguém esbarrar em mim derrubando minha cesta no chão. E como eu sou muito explosiva já saí xingando.

— Não olha pra onde anda não? - grito olhando em direção à ele enquanto coloco minhas coisas de volta à cesta

— Desculpe-me - ouviu-o dizer com uma voz doce enquanto me olhava 

Encarei-o por alguns instantes. Ele tinha os olhos castanhos escuros, era da minha altura e tinha os cabelos bem preto e curto. Usava aquelas blusas xadrez, carregava um skate numa de suas mãos. Ele era bonito, não poderia negar.

— Não foi nada, mas próxima vez tenha mais cuidado - respondo-lhe

— Me chamo Victor Herondale e você? - perguntou-me enquanto sorria

— Addison Sheperd - respondi encarando aquele sorriso como se fosse a coisa mais bela

— Prazer e desculpe-me novamente - ouviu-o dizer enquanto ia em direção ao caixa

Fiz minhas compras, paguei e enquanto caminhava pra casa me peguei lembrando daquele sorriso. Falei comigo mesmo que isso não era normal, eu não poderia me apaixonar por um simples sorriso. Bom, do jeito que eu sou romântica não duvidaria de mim mesma, mas não seria tão fácil assim. Pelo menos eu achava que não. Continuei meu percurso cantarolando Blame it on rain, até que sinto uma mão pousar em meu ombro. Viro para trás e dou de cara com aquele sorriso, aquele maldito sorriso.

— Vi você passando e não resistir em te acalçar e pedir desculpas mais uma vez

— Não se preocupa, acontece - argumentei tentando voltar à minha música e seguir meu rumo

— Não deixei de perceber a música que cantava, gosta de He is we? - perguntou-me com um olhar de admiração

— Sim, é a minha banda preferida

— É tão difícil achar alguém que também os ouça, ainda mais aonde eu moro

— E onde você mora? - perguntei enquanto eu o encarava

— Moro em Vila Roseiral, interior de São Paulo. Vim passar uns dias na casa dos meus tios, amanhã mesmo já estarei voltando.

— Entendi, mas, me desculpe, preciso voltar pra minha casa - argumentei levantando as sacolas ao campo de sua visão

— Ah, me perdoe por te atrapalhar e me desculpe mais uma vez pelo ocorrido anterior

Apenas dei um sorriso dizendo que estava tudo bem. Voltei a percorrer pelas poucas quadras que ainda me faltavam, mas antes mesmo de voltar à playlist o ouvi gritar do outro lado da rua.

— Foi um prazer te conhecer, Addie

Dei um tchau sem nem sequer olhar pra trás, não queria que ele me visse rindo sozinha. Confesso que ele me chamou a atenção, muito. Senti como se as ruas, iluminadas pelo brilho da lua, haviam ficado mais iluminada ainda. Olhei pro céu escuro, dei um longo sorriso e continuei cantarolando.

Em poucos minutos já estava subindo as escadas que levava à uma das portas de casa e já ouvi minha mãe reclamando que eu estava demorando.

— Cheguei - respondi sem perceber que ainda havia um mero sorriso no rosto

— Até que enfim - ouço minha mãe resmungar enquanto pega as sacolas da minha mão - Essa janta precisa ficar pronta logo. Teu pai deve estar chegando com o chefe dele

Apenas concordei e fui em direção ao quarto. Me joguei na cama, liguei o notebook. Acessei o facebook e havia uma solicitação de amizade e fiquei sem jeito ao ver quem era. Sim, era o desastrado do mercado. Deixei como estava e conectei meu fone para ouvir Pour me out no youtube. É, eu sou muito fã deles, como vocês podem perceber.

Ouço uma batida na porta, vejo meu pai parado me encarando com um sorriso no rosto. Ele adorava me ouvir cantarolando, até mesmo quando eu desafinava ou errava meu inglês, que sempre foi mediano.

— Sua mãe te avisou que teremos visita para a janta?

— Ela comentou sim, pai - respondi com um leve sorriso

— Então trate de colocar uma roupa boa, tu sabe como eles são e ainda irão trazer o sobrinho deles

Assenti que sim enquanto sentia o beijo dele em minha testa. Terminei de ouvir minha música, peguei minhas coisas e fui tomar um banho. Coloquei um vestido florido, uma make leve. Estava ajudando minha mãe a arrumar a mesa quando ouvi vozes vindo da sala de estar. Terminamos e fomos até lá.

Cumprimentei  o chefe do meu pai e sua esposa e, quando percebi, lá estava o desconhecido, não tão desconhecido assim.

— Esse é meu sobrinho, Victor - comentou o Sr. Rodriguez

— Nos esbarramos no mercado - respondi-lhe com um sorriso

Senti quatro pares de olhos nos fitando, confesso que ficou meio constrangedor. Seguimos em direção à sala de jantar e Victor sentou-se ao meu lado e conversamos durante todo o jantar. Dei inúmeras risadas, pensei até comigo mesma que fazia muito tempo que não ria tão fácil assim. Nos despedimos todos e fui pro meu quarto. Acessei o facebook novamente e aceitei o convite dele.

3 meses depois

Havia já se passado três meses desde a primeira vez que vi Victor. Conversávamos todos os dias durante inúmeras horas via webcam, já que ele morava a inúmeros km's de distância. Confesso que durante esses meses cresceu um sentimento por ele. Eu havia me apaixonado e sabia que esse sentimento era recíproco, mas eramos diferentes.

Ele era skatista e eu preferia bicicleta. Ele era realista e eu mais sonhadora. Ele era seguro e eu ciumenta até demais. Únicas coisas realmente em comum que tínhamos era sermos tímidos e sermos mega fã de he is we.

Ouvi minha mãe me chamar, pedindo ajuda para começarmos a arrumar as coisas pra véspera do ano novo que seria no dia seguinte. Ajudei-a enquanto tocava and run na guia do youtube e cantarolávamos juntas.

— Mãe, como sabemos que a outra pessoa realmente gosta da gente? - perguntei repentinamente

— Não sabemos, apenas sentimos, por quê filha?

— Queria ter certeza de que Victor realmente sente algo - argumentei pensativa

Minha mãe apenas esboçou um sorriso, me abraço e eu percebi que realmente eu saberia quando o outro realmente sente algo. Terminei de ajuda-la, tomei uma ducha e fui pro meu quarto. Conectei o MSN e logo a telinha com o nome dele piscou. Dei um sorriso de orelha a orelha enquanto nos fones tocava uma das nossas músicas preferidas, all about us enquanto já ligava a webcam.

Passamos inúmeras horas conversando, rindo e se declarando. Até que em uma certa hora ele coloca pra tocar i wounldn't mind e diz o mais sério possível

— Sei que nós nos conhecemos a poucos meses mas, de alguma forma, eu estou cada vez mais apaixonado por você. Eu quero me casar com você futuramente e te ver entrando com essa música e eu, em pé no altar, irei estar sorrindo ao meio de lágrimas ao te ver entrar linda de vestido branco, me fazendo ser o cara mais sortudo do mundo. Aceita?

Sentia lágrimas rolando pelo meu rosto, de felicidade. Como eu poderia amar alguém tão rapidamente igual eu o amava? Não tinha como descrever aquela sensação, as palavras me faltaram e eu apenas consegui balançar a cabeça dizendo que sim. Passamos o resto da madrugada conversando, sentindo o peito arder de saudade por estar tão distantes um do outro, até que acabei pegando no sono.

Acordei com o barulho de chuva no telhado, esbocei um sorriso e enviei uma mensagem ao Victor, tentando saber se o dia anterior tinha sido realmente acontecido e sorri mais ainda quando percebi que era mesmo. Caminhei até a cozinha cantarolando love life na minha versão mais animada, dei um beijo na minha mãe e peguei uma fruta pra comer.

— Que alegria é essa minha filha? - perguntou-me sorrindo

— Victor, mãe - respondi-lhe

Ela apenas balançou a cabeça rindo e continuamos nossos afazeres domésticos. Sentia que nem mesmo aquele barulho de chuva iria estragar meu dia, me sentia radiante. O que eu não sabia, por ser ainda nova, é que eu era desastrada nesse negócio de amor. Achava que amor é mil e uma maravilhas, que mesmo estando distantes nada nos separaria, mais tarde eu fui perceber o quão errada eu estava.

Eram exatamente 18h quando ouvi meu telefone tocar, sorri ao ver o nome dele na tela.

— Oi amor

— Oi minha pequena, a gente precisa conversar. Sei tudo o que disse essa madrugada e nesses meses que se seguiram, mas eu não estou aguentando mais - falou em tom de desanimação

Senti um aperto no peito, minha voz parecia ter sumido de mim, senti que lágrimas poderiam escorrer pelo meu rosto a qualquer instante. Tentei respirar fundo e falar algo sem que minha voz saísse trêmula

— Não está aguentando o quê?

— Essa distância, ela é insuportável. Não podemos levar isso adiante, só vai nos machucar mais à frente. Você sabe que é difícil um visitar o outro, é melhor assim, antes que alguém se machuque demais. Por favor, tente me entender - disse calmamente como se isso pudesse mudar alguma coisa

— Não tem como entender, ontem mesmo você queria casar comigo e que seria o cara mais sortudo. Onde foi parar esse amor todo? - senti minha voz falhar e gritar ao mesmo tempo

— Simplesmente não dá, adeus pequena. Me desculpe

Senti as lágrimas rolando pelo meu rosto, meu peito doía demais, era como se ele tivesse cravado uma faca dentro do meu peito. Ficava tentando entender como alguém poderia fazer o que ele fez, como poderiam fazer nascer um amor se não tinham a capacidade de cultivar e levar à diante.

Deitei-me na cama, sentindo ainda as lágrimas rolando pelo meu rosto. Acessei o facebook, procurei o nome dele, visualizei cada foto enquanto tocava tell me em algum cômodo da casa. Senti o aperto no peito doer mais ainda quando percebi outra pessoa chamando de amor. Percebi então que eu não era a única, meu mundo desabou naquele momento.

Eu, no meu auge dos 14 anos, sofrendo por um cara por causa de uma mentira que ele me fez acreditar. Me sentia muito idiota, usada e com a auto-estima lá embaixo. Ele ganhou o melhor de mim e o que eu recebi em troca? Um coração partido. O que eu menos sabia, naquele momento, era que esse seria apenas o início da minha vida tragicamente amorosa. Eu ainda iria sofrer mais, chorar muito mais ainda e, o pior, sentir um vazio que nada conseguiria preencher.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, deixem suas opiniões



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O amor existe" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.