O amor existe escrita por Amy


Capítulo 3
Pessoa vazia


Notas iniciais do capítulo

o título leva o nome da música postada aqui, cantada por Hugo del Vecchio. o diálogo em itálico é de gossip girl



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Sexta-feira. Meu quarto. Véspera de ano novo. Olhos tão vermelhos que parecia que tinha utilizado alguma droga. Algumas lágrimas ainda insistiam em rolar vagarosamente pelo meu rosto. Coloquei os fones e deixando tocando story of my life no volume máximo, tentando fazer com que a música conseguisse preencher o espaço vazio que havia em mim ou, quem sabe, afastasse os pensamentos sobre o ocorrido do dia anterior. Ainda doía. Meu Deus como aquilo estava me machucando.

Criei coragem e levantei da cama, abri a janela do quarto e fiquei debruçada sobre ela sentindo a leve brisa bater em meu rosto ao mesmo tempo que sentia como se o sol beijasse minha pele. Sem que eu percebesse um pássaro pousou ao meu lado e ficou cantarolando, confesso que dei um sorriso de lado. Encarei o céu claro e disse pra mim mesma que, mesmo que estivesse doendo, eu seguiria em frente, mas eu precisaria de força para isso. Mal eu poderia imaginar que em poucos anos em frente teria a força pra enfrentar tudo o que visse.

Ouvi leves batidas na porta, sai do meu desvaneio e ouvi a voz preocupada do meu pai

— Como você está?

— Tô bem - respondi-lhe com um mero sorriso no rosto - mas a gente precisa mesmo ir pra Cabo Prata?

— Sei que você não gosta da tua tia, mas já havia prometido que iríamos passar o réveillon lá. E tente se animar, terá uma dupla chamada Henrique e Kauan

Dei um meio sorriso e dei de ombros, não tinha muito o que ser feito. Deixa eu contar pra vocês o porquê de não querer ir pra minha tia, juro que não é apenas por questão de afinidade, ela é terrível. Minha tia é bem de vida, tem apenas um filho e é super preconceituosa. Qualquer evento que tiver ela já usa a desculpa pra fazer mil e uma compras como se quisesse esfregar na cara de outros familiares que ela poderia gastar o quanto quisesse. Mas minha raiva não vem disso, apenas. Vou conta uma pequena história.

Um belo dia uma amiga minha postou "eu te amo" no meu facebook, ela viu e sabem no que deu? Correu contar pra minha mãe, fazendo um grande bola de neve. Lembro de ouvir ela dizendo que eu era sapatão, que eu era a vergonha da família. Claro, minha mãe não acreditou, ela sabia que se eu fosse já teria contado à ela, mas desde aquele dia eu não consigo mais suportar a cara dela.

Senti uma mão leve pousando em meu ombro me fazendo voltar ao presente

— Está melhor, filha?

— Estou sim, mãe. Nós só vamos ficar uma noite lá ou voltaremos só domingo?

— Domingo. Agora vá e apronte tuas roupas, iremos logo depois do almoço

Assenti que sim, tentaria encarar minha tia durante dois dias, mas nada como meu pequeno mundinho, chamado youtube, para me fazer ficar tudo bem. Coloquei algumas roupas na mochila e aproveitei o tempo livre pra checar meu facebook enquanto tocava kiss me nos fones de ouvido e eu cantarolava baixinho com meu inglês péssimo.

Achei que meu dia seria de boa, apesar de todos os fatos, grande ilusão. Mal abri o facebook e lá estava Victor Henrondale está em um relacionamento sério com Mariane Raísses. Senti a dor voltar ao meu peito e as lágrimas caíssem feito cachoeira. A cada batida do meu coração era como se ganhasse uma punhalada sem dor. Fechei o facebook e fui me aprontar, em prantos.

 Tomei um banho, coloquei uma bermuda e uma regata. Prendi o cabelo num coque bagunçado, peguei minhas coisas e fomos em direção à Cabo Prata. Uma cidadezinha grande, levava cerca algumas horas de viagem. Chegamos lá já passava das 16h.

Minha tia já começou a agir como sempre, tentando fazer de tudo para que a gente ficasse de boa. Dei apenas um meio sorriso e segui em frente. O resto do dia passou rápido, quando menos percebemos já passava das 22h e iríamos descer pro parque mais no centro onde rolaria o show, que ficava a poucas quadras de onde ela morava.

Chegando lá sentei na pracinha, com os pés naquelas caixas de areia para crianças enquanto ouvia o restante dos meus familiares mais atrás de mim. Senti meu telefone vibrar no bolso da bermuda, peguei-o e lá estava uma mensagem com os dizeres:

"Feliz ano novo, eu sinto muito por tudo. Fique bem"

Como ele ousava me desejar feliz ano novo depois de tudo o que ele tinha feito comigo? Não imaginava que ele teria a coragem de ser tão cara de pau. Ao mesmo tempo que eu sentia raiva dele, de mim mesma, meu coração apertava dentro do peito como se pedisse socorro e, antes que eu pudesse perceber, lágrimas desciam pelo meu rosto. Olhei pro céu escuro à cima de mim, pedindo à um Deus onipresente que fizesse essa dor cessar de uma vez.

Sem que eu menos percebesse ouvi alguém apresentar a tal dupla da noite, tocavam sertanejo universitário. Confesso que os caras eram bons. Tentei, aos poucos, fazer as lágrimas cessarem mas era tão difícil. Foi então que percebi alguém sentar ao meu lado

— Ei, desculpa a intromissão, mas posso me sentar aqui? - perguntou uma voz grossa

— Pode - respondi-lhe ainda admirando o céu estrelado pra ver se havia algo que pudesse parar essas malditas lágrimas, mas nada adiantava

Senti alguém meio que gaguejar ao meu lado, foi então que me lembrei da tal voz pedindo licença. Fitei o cara sentado ao meu lado, tinha mais ou menos a minha idade. Olhos castanhos cheio de ternura e bondade, cabelos castanhos bagunçados, lábios carnudos e um pouco mais alto do que eu. Na verdade qualquer um é maior que eu com meus 1,67 de altura.

— Está tudo bem, moça?

— Está sim, pelo menos ficará alguma hora - respondi com um pequeno sorriso no rosto

— Percebi que você estava chorando. Aliás deixe eu me apresentar, sou Jace Carstairs e você? - disse-me alcançando a mão em minha direção

— Addison Sheperd - respondi apertando sua mão

— Você não mora aqui não é?

— Não, vim apenas pra passar o final de semana na minha tia - balancei a cabeça em direção à eles - Sou de Ribeirão Doce

Ficamos alguns minutos em completo silêncio até que ouço os caras da tal banda pronunciar os segundos finais para a virada do ano. Contei junto, tentando me animar, mas foi tudo em vão. Fixei meus olhos no céu novamente e fiquei vendo os fogos iluminarem a noite, esperando que, com isso, pudessem iluminar a minha vida também. Mas quem eu tô tentando negar? Bastou acabar os fogos que ouço a dupla cantar:

"Sei que eu pareço um tanto bagunçado, me julgou pela capa entendeu errado. Ninguém vê o conteúdo do lado de fora. O que eu tenho por dentro pra você não importa. E o resto dessa história quem vai escrever? Podia ser qual pessoa, mas quero você."

Sem que eu percebesse as lágrimas tomaram conta de mim, mais uma vez. Levei um leve susto ao senti a mão de Jace sobre meu ombro, sussurrando algo que não conseguia filtrar. Quando me acalmei, olhei-o e vi seu rosto com um ar de preocupado, mas nada curioso. Agradeci-o e então ouvi todos me chamarem para irmos embora. Acenei pra ele e fui embora.

Deitei-me na cama e logo peguei no sono. Acordei com o barulho dos pássaros ao redor da casa, dei o meu mais belo sorriso possível. Encontrei todos sentados na varanda tomando um chimarrão, bem típico aqui da região. Passamos o sábado todo em casa, conversando. À noite fomos em mais um show na praça, pensei que encontraria Jace, mas não o vi em momento algum. Senti um leve aperto no peito.

Alguns dias depois

Acordei com minha mãe quase derrubando a porta do meu quarto, gritando que era pra mim levantar que precisava ajuda-la á arrumar as coisas já que o pessoal viria para o meu aniversário. Coloquei o travesseiro sobre meu rosto e me perguntava o que havia feito pra ela me acordar assim. Levantei a todo custo, ouvi o barulho da chuva no telhado e faltou pouco pra eu não me jogar novamente na cama.

Encontrei alguns pacotes de presentes ajeitados num canto da sala de estar, deixei-os lá. Desde a virada do ano não estava tão bem assim; meu coração ainda doía ao lembrar de qualquer coisa referente ao Victor e as lágrimas sempre me faziam companhia a noite.

Ajudei minha mãe a preparar os doces e salgados para à noite. Nunca fui aquela guria que só porque faz 15 anos sai querendo festas enormes e tudo mais, quis apenas algo para os familiares e alguns amigos mais próximos. Aproveitei à tarde para acessar meu facebook já que fazia-se dias que não entrava mais. Mal abri e dei de cara com um convite e inúmeros recados de parabéns na linha do tempo, ignorei-os. Quando acessei o convite lá estava a foto do Jace Carstairs, aceitei-o e o vi me chamar logo em seguida

— Oi moça sumida. Parabéns

— Oi, obrigado

— Como você está, melhorou? - perguntou meio preocupado

— Não muito, a gente vai levando

Ficamos o resto do dia conversando, consegui sorrir um pouco mesmo que fosse meio forçado. Até que me dei por conta que já eram 18h e o pessoal logo chegaria

— Olha, a conversa está boa mas preciso ir, logo chegará o pessoal aqui - argumentei

— Tudo bem Addie, até mais. Aproveite teu dia e sorria muito

Confesso que Jace tinha um jeito que acabava mexendo comigo, me fazendo rir até mesmo quando tudo o que eu queria era deitar na cama e chorar horrores. Ainda doía quando via algo referente à Victor.

Tomei uma ducha, ajeitei as coisas e recebi o pessoal. De alguma maneira aquele dia acabou terminando melhor de quando começou. Não sei se foi o pessoal que me fez esquecer de tudo ou o fato de que Jace me fazia rir tão facilmente. Naquela noite deitei a cabeça no travesseiro com um sorriso no rosto, talvez Deus tenha ouvido o meu pedido naquela virada do ano. Talvez, só talvez, dessa vez seria diferente. Grande engano meu.

1 ano depois

Já havia se passado um ano desde que encontrei pela primeira vez o Jace, naquela cidade, naquele parquinho, sentado ao meu lado, tentando fazer eu entender que tudo ficaria bem. Um ano que vinhamos conversando todos os dias. Eu estava no auge dos meus 16 anos, havia conhecido alguns caras, mas nenhum que havia me chamado tanto a atenção quanto Jace me chamou.

Victor pra mim já era passado, já não doía mais qualquer lembrança que me levasse à ele ou, tão pouco, ver fotos dele com a tal namorada por quem ele havia me magoado a um bom tempo atrás.

Durante esse um ano acabei me apaixonando pelo Jace e ele por mim, por mais incrível que parecesse. Nós éramos totalmente opostos, mas nos dávamos bem de uma maneira que não sei como explicar a ligação que tínhamos. Claro, eu era insegura comigo mesma desde que Victor quebrou meu coração de uma maneira que achei que nunca iria conseguir se recuperar. Bem, não se recuperou totalmente, mas, convenhamos, se recuperou o suficiente para amar novamente. Mas será que esse amor juntamente com essa insegurança faria dar certo com Jace? Eu achava que sim, mas não foi bem assim que tudo acabou.

Alguns dias haviam se passado e, de alguma forma, a insegurança tomava conta de mim completamente. Eu ficava desconfiada de que ele poderia estar com outra, já que não havíamos mais nos visto. Sentia que ele poderia me trocar a qualquer momento, que achasse alguém melhor do que eu e que também morasse mais perto dele.

Minha auto estima estava baixa. Medo. Ciúmes. Insegurança. São os principais critérios para fazer tudo desandar, até mesmo o que esta indo muito bem. Anote isso em sua memória para que ela não lhe atrapalhe nunca.

Até hoje eu não sei explicar o porquê de ter feito o que fiz. Eu juro que não fiz por mal ou, tão pouco, para machuca-lo. Eu ainda era muito imatura, inexperiente no amor e, pra piorar, insegura. Apenas lembro de chegar nele, num dia qualquer e dizer

— Estou com outro

Senti, mesmo na distância, que ele estava com o coração partido. Por que eu disse essas três palavras? Sinceramente, não sei. Talvez tenha sido o medo de ser trocada mais uma vez, a insegurança gritando em meu subconsciente que não daria certo. Talvez, só talvez, eu não conseguisse levar à diante um namoro a distância, não quando o anterior havia feito o que fez.

Eu o magoei e isso me matou ao mesmo tempo. Eu o amava de uma maneira que não existem palavras pra explicar a imensidão. Lembrei de um diálogo que tinha visto por ai:

Blair: Então olhe bem no fundo da sua alma, que sei que tem, e diga se o que sente por mim é verdadeiro. Ou se é um jogo. Se for real, daremos um jeito. Todos nós. Mas se não é. Então, por favor, Chuck, deixe-me ir.
Chuck: É só um jogo. Odeio perder. Está livre para ir.
Serena: Chuck, por que fez isso?
Chuck: Porque a amo. E não posso fazê-la feliz.

E de alguma forma eu sabia. Eu não podia fazê-lo feliz. Não agora, não quando eu ainda sou insegura demais. Sei que o havia machucado demais, sabia disso porque doía mais ainda em mim saber que o havia machucado. Mas, eu não via outra saída. Não conseguia levar a diante por mais que o amasse de todo o meu coração. Mas a gente sabe que, quando amamos mesmo uma pessoa, a gente deixa-a ir embora quando percebe-se que não poderá fazê-lá feliz.

Infelizmente eu fiz isso da pior forma possível, até porque não havia mais ninguém na minha vida. E, mais infelizmente ainda, percebi a grande burrada pouco tempo depois. Se eu tentei reatar? Tentei. Inclusive tentei mais de uma vez, mas o estrago eu já havia feito e o conserto estava difícil de fazer.

O que eu ainda não poderia imaginar é que alguns anos à frente nós nos embarraríamos novamente. Ambos mais maduros e prontos pra fazer dar certo. Mas, bem, essa é outra história. Essa, infelizmente, acaba comigo deitada na cama chorando mais uma vez.


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado, deixem suas opiniões



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