(POV Alycia)

Ele respirava lentamente. Seus olhos já estavam fechados quando nossa mãe saiu. Ele estava cansado, pálido e eu preocupada. Não preguei os olhos a noite inteira, com medo de algo acontecer. Deixei minha mãe descansar um pouco, ela merecia e precisava.

Eu estava segurando sua pequena mão, com a cabeça deitada em sua cama. Fiquei olhando ele dormir, pensando o quanto eu realmente amava aquela peste. Apesar de sempre me importunar, ele está comigo desde que eu tinha 3 anos. Ele era o meu irmão e eu o amava como tal.

Não sei quanto tempo passou quando eu finalmente peguei no sono. Podiam ter sido horas ou apenas alguns minutos. Não importa, pois as minhas olheiras ainda estavam bem visíveis. Acordei ouvindo minha mãe me chamar. Vi que ela também não havia dormido muito bem. Sua expressão era de cansada. Seus olhos estavam vermelhos inchados. Eu sabia que ela havia chorado, mas aquilo era mais recente, algo estava errado.

Deixamos meu irmão dormindo. Ele não acordaria tão cedo por causa dos remédios. Mama queria conversar comigo, então fomos para uma parte mais afastada do corredor. Mary estava deitada no pequeno sofá perto da porta. Ela fez companhia à minha mãe durante a noite, o que me deixou bem feliz.

Cada palavra de minha mãe era como um soco no estômago. Eu ouvia tudo atentamente, mas sem demonstrar expressão alguma, mesmo sabendo que meus olhos diziam outra coisa. Eu estava em choque, não acreditava no que eu estava ouvindo. Meu irmãozinho, aquele pivete moreno que eu sempre zoava por ser baixinho, mesmo sabendo que ele cresceria e ficar maior do que eu. Aquele monstrinho com quem eu lia quadrinhos dos X-Men e brincava e de super-herói. O menino mais doce e insuportável que já conheci estava morrendo.

Quando minha mãe terminou de falar, eu a abracei o mais forte que pude enquanto ela permitia as lágrimas saírem. Foi aí que percebi que eu não havia chorado em nenhum momento durante a noite, o que não me impediu de enterrar o meu rosto em seu pescoço e chorar silenciosamente.

Quando voltamos ao quarto, Mary já estava acordada. Deixei elas duas conversando no quarto enquanto eu ia pegar café para nós três. Tentei relaxar enquanto andava, mas não conseguia. Minha mente estava a mil, pensando em como tudo aquilo podia acontecer. Ele tinha apenas 7 anos e a melhor chance que tinha era uma cirurgia. Todos nós iriamos fazer testes, se precisa-se a cidade inteira faria. Mas pelo visto a melhor chance dele seria algum parente, como a mãe ou o pai biológico e se não tivesse ninguém na cidade que fosse compatível, eu e mama sabíamos o que significava.

Começamos com o tratamento de Henry dois dias depois. Ele havia recebido a notícia muito bem, bom pelo menos melhor do que o resto da cidade. Ele começou com quimioterapia, Whale disse que no momento era o melhor tratamento pois controlaria ou inibir o crescimento das células doentes. Era tudo bem complicado para todos nós e quando eu o vi recebendo o tratamento, foi quando eu percebi o quanto eu queria que a maldição não existisse mais e pudéssemos usar magia para curá-lo.

(POV Regina)

— Whale, por favor…- Ela fecha o olho e respira fundo. - Apenas me diga o que aconteceu com o meu menino…

— Regina… Não há jeito fácil de se dizer isso… mas não é bom…

— Apenas diga Whale…

— Bom… descobrimos que Henry tem Leucemia Mileoide Aguda ou LMA…-Disse meio hesitante. Eu não conseguia falar e quando ele viu isso, apenas continuou - A leucemia mieloide aguda (LMA) é o segundo tipo de leucemia mais comum em crianças e adolescentes. Ela não é hereditária, mas ainda não se sabe o porquê de seu surgimento. Ela acontece quando os glóbulos brancos que estão se diferenciando dentro da medula óssea sofrem alterações e começam a se multiplicar de maneira desordenada. No caso da LMA o grupo doente é o mieloide, especificamente os granulócitos, glóbulos vermelhos e plaquetas. Por ser uma leucemia aguda, as células doentes são aquelas ainda muito jovens. Na LMA, o crescimento rápido e desordenado dessas células interfere na produção de todas as células sanguíneas. - Eu ouvia tudo atentamente, mas não conseguia demonstrar expressão alguma. O meu pequeno príncipe estava morrendo.

— E qual seria o tratamento doutor? - Perguntei depois de longos segundos em silêncio.

— Bom, o melhor tratamento nesse momento seria a quimioterapia, mas…

— Mas… - O encorajou já perdendo a paciência.

—Esse tratamento pode não dar certo. Então a melhor escolha de tratamento para o seu filho seria um transplante… - Eu ouvia tudo em estado de choque.

O meu mundo tinha desabado. Não sentia mais aquela imensa felicidade que sentia no dia anterior. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O meu bebê não poderia morrer e eu faria de tudo para não deixar que isso acontecesse, sem me importar com as consequências. Conversei mais um pouco com Whale, discutindo sobre como e quando iriamos começar o tratamento de Henry. Sai de sua sala já limpando as lágrimas que teimavam sair. Eu precisava contar tudo isso para Alycia e precisava ser forte por ela.

Quando cheguei no quarto a vi dormindo na mesma posição que havia visto mais cedo. À chamei e deixei Henry dormindo com Mary ao seu lado. Fomos para uma parte menos movimentada do corredor e eu expliquei tudo a ela. Eu não consegui ser forte por muito tempo. As lágrimas teimavam a sair. Minha filha ouvia tudo sem nenhuma expressão no rosto, mas seus olhos denunciavam sua dor. Apesar de ter apenas 10 anos, ela era uma menina superinteligente, então resolvi não esconder nada dela.

No final, quando ela me abraçou me entreguei ao choro, ao mesmo tempo que senti suas lágrimas no meu pescoço. Apesar de tudo que estava acontecendo, não pude deixar de achar aquilo meio engraçado. Ela tinha 10 anos e já estava quase do meu tamanho, mas eu sabia que ela não cresceria muito mais.

Quando voltamos ao quarto um pouco mais calmas, Mary já estava acordada, fazendo carinho na mão de Henry que ainda dormia. Mary… ou Snow, virara minha melhor amiga, o que é bem estranho considerando o fato de que tudo que fiz foi para me vingar dela e agora, não sei o que faria sem ela. Talvez eu descobriria isso assim que a maldição acabasse.

Alycia foi pegar café para nós enquanto eu contava para Mary tudo que havia acontecido. Depois do relato ela me abraçou fortemente, me deixando ainda mais triste por saber que algum dia não teria mais aquela amizade. Eu fiquei pensando se tinha algum jeito de trazer magica para Storybrooke. Pelo menos por um pequeno período de tempo, apenas tempo suficiente para curar meu filho. Mas não, não tinha nada.

Meus filhos tinham curado quase toda a raiva que eu sentia daqueles cidadãos da cidade, mas algo dentro de mim ainda fazia eu ter uma certa antipatia por todos eles. Acho que isso é uma coisa que não tem como mudar.

Contar para Henry sobre tudo foi bem difícil, mas ele aceitou tudo tão bem que fiquei surpresa. Ele até me consolou, falando que tudo ficaria bem. Queria muito saber da onde ele tirou tanto otimismo. Dois dias depois começamos o tratamento e quanto mais os dias passavam, mais pálido, fraco e enjoado ele ficava. Quase toda noite vomitava e tinha tonturas. Era uma verdadeira tortura ver meu filho daquele jeito.

Meses se passaram e o quadro de Henry apenas piorava. O tratamento não estava fazendo efeito e todos os habitantes da cidade já havia feito um teste sanguíneo. Nenhum deles era 100% compatível com Henry, não podíamos fazer a cirurgia. Depois de quase um ano de tratamento, quando Henry realmente piorou, eu e Alycia já sabíamos o que aquilo significava.

Estava na hora de achar a mãe biológica de Henry.