Caminhava pela rua praticamente saltitante, enquanto conversava com seu novo “amiguinho” que ainda encontrava-se dentro de sua blusa.

- Imagina amiguinho, eu, Ayumi Takaaki, lutando contra Espectros mochii. – Ao terminar essa frase Ayumi para de caminhar, fazendo algumas poses heróicas dignas do Super homem, atraindo assim alguns olhares para si, mas não só pelas poses, mas também por estar com as roupas cobertas de sangue de espectros, que era de uma cor azulada, e ainda não ter percebido isso, ou talvez tenha esquecido desse pequeno detalhe. O Hamster pareceu animado com a idéia, pois subiu até a cabeça da menina, para assim imitar suas poses. Após o final da sessão de poses de super Ayumi ela voltou a caminhar, voltando a se manifestar, mas agora parecendo mais pensativa.

- Nossa...Agora que eu estou parando pra pensar as coisas aconteceram tão rápido. Eu sonhava com ele, ai do nada ele me aparece na rua. Depois eu acabo parando na casa dele, e depois um monstro me ataca, e eu acabo sabendo que ele era um espectro e que eu tenho Energia Espiritual elevada...Ahhh! É muita coisa pra minha cabeça. – Disse, sacudindo a cabeça e provocando quase a queda do pequeno animal que ali estava, que se segurou na cabeça da menina para não despencar no chão.

- Oh, gomen, coisinha kawaii...ah, eu ainda não botei um nome em você né? – Olhava para cima, tentando focalizar o pequeno animal que ali estava, até que este chegou um pouco para frente na cabeça da menina, abaixando o pequeno corpo para assim olha-la de lá. Ela permaneceu observando-o por algum tempo, até reparou que reparou a semelhança do mesmo com um bolinho de arroz, e com isso um grande sorriso surge em seus lábios.

- Nyah, vou te chamar de Onigiri¹. – O pequeno animal pareceu gostar do nome, pois se agitou na cabeça de Ayumi, parecendo animado

- Que bom que você gostou do nome Onigiri. – Levou umas das mãos até a própria cabeça, acariciando o hamster, que recebeu muito bem o carinho.

Quando finalmente pôde avistar sua casa já estava no final da tarde daquele sábado, era uma casa simples, possuía um pequeno jardim na frente e as paredes eram lilás. Abriu o portão com cuidado, adotando o mesmo quando entrou pela porta da sala, estava escura, estranhou, mas continuou andando na ponta dos pés para não atrair a atenção.

- Ay...U....Mi... – Congelou ao ouvir seu nome ser soletrado tão vagarosamente e por aquelas voz tão macabra. Virou lentamente seu rosto para o lado, deparando-se com a figura de seu irmão mais velho parado ao lado das cortinas da sala de braços cruzados, esboçava um sorriso que causaria calafrios em qualquer um que visse.

- ONDE VOCÊ ESTAVA CRIATURA?! Sabe quanto tempo eu te procurei? Liguei pra todos os hospitais da cidade, bombeiros, e até chamei a polícia dizendo que você tinha desaparecido. Quando a Miaka-san ligou dizendo que você tinha feito uma ligação estranha para ela eu quase tive um ataque cardíaco, ainda liguei pro Aysawa-kun e quando ele falou que tinha te dado folga por causa chuva meu desespero só piorou. – E com isso o jovem abriu as cortinas com violência, fazendo a luz do por-do-sol adentrar no recinto. As palavras deixavam os lábios de Naoyuki tão rapidamente e tão alto que a menina mal conseguia entender, um jovem de 25 anos e cabelos loiros bem claros e acinzentados, que na parta de trás eram um pouco mais curtos e arrepiados e na parta da frente uma franja caía-lhe sobre o olho esquerdo, tampando um pouco do mesmo, que era em um tom de verde, um pouco mais claro que o de Ayumi. Sempre fora um irmão superprotetor, mesmo antes de sua mãe morrer, e quando Ayumi era pequena adorava isso, pois sempre que arrumava confusão ele sempre a ajudava, mas depois que crescera isso virara um tormento.

- G-gomen Nao-nii-san... - Disse em tom baixo mas foi interrompida por seu irmão.

- Ayumi o que é isso azul na sua roupa? – E só naquele momento a menina abaixou seus olhos para suas roupas, e assim percebeu que estava cheia de manchas azuladas na roupa e no corpo, que agora já estavam secas, mas não deixava de ter uma aparência nojenta.

- A-ah...E-eu estava...Estava pintando, isso, isso é tinta azul que caiu encima da minha roupa. – Foi a primeira desculpa esfarrapada que aparecera em sua mente, e Naoyuki que não apareceu acreditar muito naquilo apenas cruzou os braços, erguendo uma de suas sobrancelhas.

- Ah é? E onde exatamente você estava pintando? Ou melhor, onde exatamente você passou a noite mocinha? – Ayumi deu um sorriso sem graça com a resposta, tinha que pensar em algo rápido, não podia dizer que dormira na casa de um completo estranho e que ainda por cima no dia seguinte esteve prestes a ser devorada por um Espectro.

- Na casa do Hiro. Eu fui visitar ele porque ele tava doente, ai eu acabei perdendo a noção do tempo e já era muito tarde, ai não dava pra volta mochii.

- E porque você não me ligou para pelo menos me informar sobre isso?

- E-eu esqueci... – Já estava cansada daquelas desculpas, e também de todas aquelas perguntas, não gostava disso, parecia que estava em um interrogatório, aquilo lhe irritava. Naoyuki suspirou, voltando a fitar a irmã em seguida, não era burro, sabia que aquilo era mentira, e depois de mais alguns segundos fitando-a voltou a se manifestar.

- Ayumi...Nós dois sabemos que é mentira, você pode, por favor, me contar a verdade? – Pediu, tentando ser paciente, algo que não era. Ayumi se calou, desviando o olhar, não podia contar a ele, além de lhe dar um baita de um esporro também iria chamá-la de maluca, não era fácil acreditar em monstros como aquele sem ter visto com os próprios olhos.

- Dá pra me dizer logo Ayumi!! – Seu tom de voz aumentou, chegando até mesmo a assustar a menina, que agora tinhas uma expressão diferente no rosto.

- Você não é a minha mãe, eu não preciso te contar nada!! – Explodiu, arrependendo-se no mesmo instante quando viu a expressão de Naoyuiki, que agora estava estático, apenas olhando-a. Não devia ter dito aquilo, sabia que não era verdade, estava sendo completamente egoísta e mal agradecida, seu irmão sempre cuidava dela, sempre a protegia, não tinha o direito de dizer isso a ele, mas ao mesmo tempo a falta de sua mãe ainda pesava bastante.

- Gomen...N-não queria ter dito aquilo...Eu... – Foi interrompida por um abraço, que no mesmo instante foi retribuído por Ayumi. Nao afagava os cabelos ruivos da menina, enquanto dizia em tom baixo.

- Tudo bem, eu sei que não sou sua mãe, mas sou seu irmão, a única coisa que eu quero é o seu bem, porque você é a única coisa que eu tenho...Estava preocupado. – Ele sabia o quando Ayumi sentia falta da mãe, pois ele também sentia. Desde seus 15 anos de idade, quando sua mãe havia morrido, ele dedicou sua vida a cuidar de Ayumi, começou a trabalhar cedo, enquanto também mantinha os estudos e cuidava da menina, que na época tinha apenas 6 anos.

- Desculpe...Por ter preocupado você Nao-nii-san. – Disse, fechando lentamente seus olhos. Não gostava quando cedia a seus impulsos agressivos, porque na verdade não era uma pessoa agressiva. Continuava abraçava ao irmão, enconstando sua testa no peito deste, pois não alcançava seu ombro devido a sua estatura baixa, e foi somente naquela posição que o loiro pôde perceber o pequeno animal peludo que se encontrava na cabeça de Ayumi.

- Tudo bem, só peço que não faça isso de novo e...Onde você arrumou esse bicho heim? – Indagou, se afastando da menina, para assim pode analisar o pequeno animal que movimentava o focinho enquanto também o olhava. Ayumi olhou para cima, dando novamente um sorriso sem graça, levando uma de suas mãos até a nuca, a coçando em um gesto igualmente envergonhado.

- Ah é que eu tava passando na rua ai eu vi essa coisa fofa, então...Não pude resistir e o trouxe pra casa, mochii...Posso ficar com ele? – Perguntou, esperançosa. Naoyuki se aproximou do animal, analisando-o enquanto este se mantinha estático perante a análise, a Ayumi somente o observava esperando pela resposta, até que ele subitamente abre um grande sorriso.

- Claro que pode, mas só porque ele é irresistível. – E após essas palavras acariciou levemente a cabeça de Onigiri, que praticamente sorriu, e Ayumi aproximou-se do irmão animada, depositando um beijo estalado na bochecha deste.

- Nyaah, te amo Nii-san!

- Sei sei...Sua interesseira. – Respondeu em tom de brincadeira, sorrindo, enquanto observava a irmã mostrar-lhe à língua, antes de sair da sala, indo em direção a seu próprio quarto. Mesmo após ela ter saído Nao continuava a sorrir, era tão bom finalmente ver sua irmã animada depois de tantos anos de tristeza que passaram, já haviam se passado 10 anos desde a morte de sua mãe, mas este era o primeiro ano da vida de ambos que estes estavam felizes, finalmente parecia estar se recobrando da perda, mesmo depois de tanto tempo, e isso era tudo que o loiro poderia querer.


¹ Onigiri significa bolinho de arroz em japonês.