Meu amado é um lobisomem escrita por Lailla


Capítulo 23
Capítulo 23: Corações Partidos




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Mai e eu fomos até a casa de Hanabi. Ela faltou os últimos três dias na escola e soubemos que no trabalho também. Pensaríamos que ela estaria doente – algo raro –, porém sabíamos bem o que ela tinha: tristeza.

Hanabi e meu irmão terminaram. Eu não descobri exatamente a razão, minha mãe apenas me contara que ele dissera isso a ela. Sem detalhes, sem por quês. E claro que ela estaria desse jeito. Hanabi gostava dele desde que nos conhecemos, desde que me lembro. Não sabíamos se descobriríamos o motivo, porém queríamos dar apoio.

A neve ainda cobria a paisagem, deixando tudo em tom de branco. Mai e eu nos encontramos em frente de sua casa e passamos pelo portão, tocando a companhia. A mãe de Hanabi nos atendeu, porém mesmo com seu sorriso notamos que ela também estava triste.

— Olá, meninas. Vieram ver Hanabi?

— Sim, Minagashi-san. – falei.

Ela nos permitiu entrar e fomos em direção ao quarto de Hanabi. Minagashi-san parou ao tocar a maçaneta e nos olhou.

— Espero que consigam fazê-la sair de casa. Conversei com ela nos últimos dias, e não consegui. – ela lamentou.

— Vamos tentar.

Minagashi-san abriu a porta e despertou Hanabi, que estava deitada na cama.

— Hanabi. Mai e Ame estão aqui.

Ela não se moveu. Entramos no quarto e sua mãe nos deixou. Nos aproximamos de sua cama, vendo-a acordada e olhando para o nada. Mai e eu nos entreolhamos, o que faríamos?

— Hanabi. – chamei-a, sentando na cama – Trouxemos a matéria da semana pra você.

Ela não disse nada.

— Você precisa ir pra escola. – disse Mai.

— Não entendo... – murmurou Hanabi.

— O que? – perguntei.

Ela se sentou lentamente, não nos olhava.

— Ele acabou tudo do nada. Pensei que estávamos bem.

— Talvez não estivesse pra ele. – disse Mai sem pensar.

Hanabi negou com a cabeça.

— Ele me diria se não estivesse. Eu só não entendo como ele descobriu.

— Descobriu o que? – perguntei.

— Meu plano. Contei apenas pra um amigo e ele não fala. – ela pensava.

— Q-Que amigo?

— Hum. – ela negou mais uma vez – Pensei que iria conseguir.

— Sinto muito. – disse Mai.

O que dizer num momento desses? Eu não pude dizer nada. Ficamos em silêncio por um bom tempo. Hanabi deitou novamente e eu fiquei sentada em sua cama enquanto Mai mexia no celular. Olhei para seu criado-mudo, vendo o copo com os nomes de Shouya e Hanabi escritos no vidro. Será que Hanabi contou ao lobo sobre seu plano? Shouya é tão estúpido! Como pôde?

Fomos para casa sem nenhum progresso. Mai e eu nos despedimos na saída da rua de Hanabi e quando estava perto de casa, vi Shouya na trilha. Ele caminhava em direção à nossa casa. Meu corpo foi tomado pela fúria e me apressei em sua direção.

— Ame. – disse ele, surpreso.

— Você é um estúpido! – exclamei, batendo em seu braço.

— O que eu fiz?

Bufei e peguei em seu casaco, indo com ele para casa. Quando chegamos, minha mãe e meu pai conversavam na cozinha. Entrei com Shouya preso em minha mão e os dois não compreenderam.

— O que está acontecendo? – papai perguntou.

Larguei Shouya na cozinha e cruzei os braços, começando.

— Shouya aparecia para Hanabi como lobo na floresta.

Minha mãe arregalou os olhos.

— Shouya!

— Ela não sabia que era eu. – disse ele sem jeito.

— E ela não ficou com medo? – perguntou papai.

— No começo sim, mas depois ficou tudo bem.

— Ela conversava com ele. – continuei – Hanabi contou algo ao lobo que Shouya não deveria saber. E então ele terminou com ela!

Shouya desviou o olhar, franzindo as sobrancelhas.

— Você não sabe o que era.

— Não era pra você saber! – exclamei – Como pôde fazer isso?

— Você não sabe o que era! – ele exclamou.

Fiquei em silêncio. Eram raras as vezes em que ele se irritava e falava assim. Franzi as sobrancelhas, zangada. Meu pai tomou a palavra então.

— Era algo sério?

— Pra mim é. – disse ele – Ame... Sabe por que ela trabalha tanto?

— Não. Ela trabalha, só isso. Muitas garotas têm trabalhos de meio período.

— Por outros motivos.

— E qual era o motivo dela? – mamãe perguntou.

— Eu.

Franzimos a testa. Foi então que ele explicou toda a história. Hanabi planejava construir uma casa na floresta com a permissão da prefeitura quando terminasse o colégio para ficar com Shouya. Por isso ela trabalhava desde os 14 anos. Fiquei perplexa. Não imaginava que ela faria isso pelo meu irmão apenas para ficar mais perto dele por saber que ele gostava de morar na floresta.

— Terminei porque não quero que ela abra mão de mais nada. – disse ele.

— É escolha dela, Shouya. – falei – Vocês ainda estariam juntos se não tivesse descoberto. E com certeza ela nunca contaria se soubesse que você é o lobo.

— Não posso fazer isso com ela. Eu...

— A ama. – papai completou.

Shouya abaixou a cabeça e levantou de repente, indo embora.

— Shouya! – chamei-o, levantando.

Papai segurou em meu braço.

— Deixe-o ir.

— Mas...

— Não podemos escolher pelos outros, Ame.

Franzi a testa, meus olhos marejaram. Fui para o quarto, indignada. É irritante saber que não dá pra ajudar sua melhor amiga. A única coisa que eu podia fazer era tentar juntar com os outros os cacos que Shouya deixou pra trás.

Alguns dias depois, Hayato e Mai foram à casa de Hanabi para tirá-la de lá. Ela faltara a escola a semana toda, precisávamos fazer algo. Enquanto eles provavelmente a traziam, fui até a casa de Ichiro-kun. Ele a cedeu para ajudarmos Hanabi. Na verdade íamos muito para lá. Hayato e ele jogavam videogame um na casa do outro e ele havia comprado um jogo novo. Então era um bom motivo.

— Não fale nada sobre Shouya, tudo bem? – falei – Nem pergunte se ela está bem quando chegar.

— Tudo bem. – ele achou graça – Mas por que eu falaria justamente do seu irmão pra ela?

— Sei lá. – suspirei, sentando em sua cama.

Ele não compreendeu e sentou ao meu lado.

— Ei... – pôs a mão em meu ombro – Ela vai ficar bem. Não é primeira vez que um namoro termina.

— Pra ela é.

— Você é uma ótima amiga.

O olhei, corando levemente.

— Hanabi tem sorte de ter vocês como amigos.

— A gente. – sorri sem jeito.

Ichiro-kun corou, desviando o olhar.

— Queria perguntar algo...

Ele parou de falar quando ouviu um barulho dentro do quarto. Seu padrasto entrou de repente com Hayato, Mai e Hanabi em seguida.

— Ichiro, seus amigos chegaram. – disse ele – Não façam muito barulho, seu irmão está dormindo.

— Tá bom. – disse Ichiro-kun.

Ele saiu e nos deixou dentro do quarto. Hanabi sentou numa cadeira, suspirando.

— Por que me trouxeram? Eu nem gosto de videogame.

— Todas nós vamos tentar. – disse Mai, sorrindo – Não é, Hayato?

— H-hum, é! – ele corou, sorrindo.

Hayato começou a jogar com Mai, que perdeu algumas vezes até começar a pegar o jeito. Perguntei à Ichiro-kun se seu irmão estava bem. Ele tinha nascido há dois meses e era tão pequeno. Ele disse que era estranho ter um irmão, mas que sua mãe estava feliz.

Hayato acabou perdendo para Mai, que levantou o braço para expressar sua vitória. Ele ficou surpreso, porém ao ver sua expressão feliz, não se importou em dar espaço para Ichiro-kun jogar. Ichiro-kun e Mai jogaram algumas partidas, até que Mai perdeu. Ele pediu desculpas e então foi a vez de Hanabi, que praticamente se arrastou para sentar no chão ao lado dele. Ela perdeu duas vezes, porém rapidamente começou a ganhar. Ela estava em pé de igualdade com Ichiro-kun, que parecia estar jogando pra valer. Até Hayato se surpreendeu.

— Nossa, Hanabi! – exclamou ele – Você não disse que não gostava de videogame?

— Falei que não gostava. E não que não era boa. – disse ela quase apática.

Achei graça e olhei para Mai, que fez um sinal positivo. Ichiro-kun acabou ganhando de Hanabi.

— Ame, quer tentar? – perguntou ele.

— Eh... Talvez depois. – balancei as mãos.

— Então é minha vez! – exclamou Hayato.

O jogo recomeçou e Ichiro-kun venceu a todos, até que Hanabi jogou com ele novamente. Hayato e Mai sorriram um para o outro, ela parecia estar bem. Eu estava sentada na cama, assistindo. Não era nada boa em jogos assim, perderia com certeza. Principalmente por Ichiro-kun ser tão bom.

— Perdi... – Hanabi suspirou – Você é bom mesmo.

— Obrigado. – Ichiro-kun sorriu.

Hayato olhou a hora de repente.

— Preciso ir. Minha mãe pediu pra eu chegar em dez minutos.

— Vou com você. – disse Mai.

— C-Claro.

— Você está bem? – ela achou graça.

 - C-Claro! – ele riu – Até mais Ichiro.

— Tchau.

Hanabi levantou, pegando sua bolsa.

 - Eu vou indo também. Minha mãe quer comprar roupa pra mim. – ela suspirou.

— Até mais.

Todos foram embora, deixando apenas Ichiro-kun e eu no quarto. Balancei os pés levemente, percebendo que estávamos sozinhos e corei quando Ichiro-kun olhou pra mim com aquele sorriso.

— Quer jogar agora? – ele apontou com o dedão a tela na parede.

— Eh... Tudo bem. – levantei.

Me sentei ao lado dele, pegando o controle. O jogo começou e todas as vezes que tentei, perdi horrivelmente. Ichiro-kun ria o tempo todo da expressão que eu fazia. Eu era mesmo péssima.

— Então estava com vergonha. – disse ele.

— É...

Ichiro-kun se aproximou de mim e pôs os braços ao meu redor, me fazendo corar terrivelmente. Ele pôs as mãos sobre as minhas para me ensinar.

— Controla o avatar assim... – ele apertou os botões – Se apertar bola, quadrado e bola, faz ele jogar uma bola de fogo no inimigo.

— H-Hum... – larguei o controle, envergonhada – Você é mesmo bom. – gaguejei.

Ele sorriu, sentando ao meu lado novamente.

— Esse jogo é continuação de um que já joguei. Não mudaram muitas coisas.

— Ah. – disse, surpresa.

— Vamos tentar de novo?

— Claro. – sorri.

Mesmo jogando de novo, Ichiro-kun me venceu todas as vezes. Porém percebi que estava melhor que antes.

— Melhorou. – disse ele.

— Um pouquinho.

Enquanto jogávamos, ele olhava para mim algumas vezes. Eu estava um pouco distraída, mas notava-o me olhar e tentava não corar. Quando fomos para outro nível do jogo, ele disse:

— Vou chamar Nana pra sair.

Arregalei os olhos, me desconcentrando. Meu avatar morreu. Olhei para o controle em minhas mãos.

— Perdi...

— Ame.

— Eh? – o olhei.

— Você ouviu?

— Você... Vai chamar Nana pra sair.

— Era isso que eu ia perguntar mais cedo. – disse ele, abaixando o olhar – Você se... Importa?

O olhei, tentando fazer com que meus olhos não marejassem.

— Eh? – sorri – Por que me importaria? Tudo bem pra mim. – forcei uma risada.

Ele me olhou, surpreso. Quando parei de rir, o olhei.

— Você... Gosta dela?

— Não. Ela é bonita e Seiko disse que ela gosta de mim.

— Hum. Que bom. – falei, levantando.

— Vai embora?

— Lembrei que minha mãe pediu pra chegar esse horário, então...

Ichiro-kun levantou rápido, fechando a porta quando eu a abri. Abaixei o olhar. Ichiro-kun estava atrás de mim, segurando a porta. O que eu faria? Queria ir embora, chorar em casa!

— Ame... Tudo bem se eu sair com Nana?

— Por que está perguntando isso pra mim? – perguntei, minha voz tremia.

— Porque...

Ele hesitou.

— Ame... Somos apenas amigos, né? Né?

Não conseguia falar. Por que ele estava me perguntando essas coisas?

— Ame.

— Preciso ir. – abri a porta e parti, deixando-o para trás.

Saí desolada da casa de Ichiro-kun. Caminhei pela trilha, dando passos lentos. Meus olhos se encheram de lágrimas. Parei, pondo a mão em meu peito. Não era nada em relação ao que Hanabi estava sentindo. Mas era esse o sentimento de ter o coração partido?

Saí da trilha, encostando a testa numa árvore e tampando o rosto com as mãos. Minhas lágrimas desciam lenta e dolorosamente.


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