Meu amado é um lobisomem escrita por Lailla


Capítulo 17
Capítulo 17: Verão - Despertar da paixão - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Yukata:
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Todos nós terminamos os exercícios de verão na metade das férias. Quando não tínhamos mais desculpas para nos encontrarmos, começamos a sair juntos.

Hayato queria convidar Mai para ir conosco, então Hanabi e eu o ajudávamos com isso. Mai sempre se arrumava, mesmo quando íamos apenas para uma lanchonete comer. Ela prendia os cabelos pela metade ou em um rabo de cavalo, e vestia normalmente um short jeans ou uma saia jeans. Nós notávamos como Hayato corava quando a via chegando. Com certeza em sua mente de garoto passavam diversas coisas sórdidas sobre Mai-chan. E quando ele deixava escapar isso pela sua expressão, Hanabi e eu o beliscávamos para se controlar.

Kirishima-kun parecia mais feliz, e eu fiquei mais feliz também. Ele sempre sorria em nossa companhia e sempre dizia que gostou do dia que passou com a gente quando me levava para casa. Eu cortei seu cabelo quando percebi que estava ficando grande. Mamãe me ensinou a cortar o cabelo do meu pai e de Shouya. Normalmente era ela quem cortava, porém ensinou para Haru e eu. Ofereci cortar o cabelo de Kirishima-kun, que aceitou. Porém suas bochechas sempre ficavam vermelhas quando eu verificava se os cabelos nos lados de sua cabeça estavam alinhados. Kirishima-kun dizia que era o calor. Eu não entendia já que o ar-condicionado de seu quarto estava ligado naquela hora.

Nós cinco fomos ao cinema, à lanchonete, ao parque comer kakigori, ao shopping da nossa cidade e da cidade vizinha. E agora estava marcado de todos nós irmos ao festival de verão que aconteceria em alguns dias.

Shouya e eu fomos ao apartamento de Haru, não nos reuníamos desde meu aniversário. Ao chegarmos, ela cozinhava o jantar e como Shouya era um comilão, decidiu sozinho que ficássemos para o jantar. Ele usava uma calça e uma camisa branca como sempre. Eu usava shorts e uma camisa de mangas curtas. E Haru uma saia comprida até os joelhos e uma blusa de alças. Estávamos sentados em volta de sua mesa, jantando.

— Onee-chan, depois você pode dar uma olhada nos meus exercícios? – perguntei, pegando a comida com os hashis.

— Claro. Já terminou todos?

— Sim.

— Isso é ótimo. – ela sorriu.

— É sim. Nos reunimos na casa de Kirishima-kun e fizemos tudo em alguns dias.

— Kirishima?

— O garoto que ela gosta. – disse Shouya, comendo.

— Eu não gosto dele! – exclamei, corando – Bem, eu gosto. Mas não dessa forma.

Shouya sorriu enquanto comia.

— Ele também é meu aluno, eu sei quem é. Mas se reuniram na casa dele? Isso é muito bom. São amigos?

— Espero que sim. – sorri, contente – Hanabi, Hayato, Mai, Kirishima-kun e eu estamos nos encontrando bastante. Agora marcamos de ir ao festival de verão.

Haru sorriu.

— E você?

— Haru provavelmente vai com o cara alto. – disse Shouya.

— Eh? Que cara alto? – perguntei.

Haru corou.

— É Satoru-san.

— Satoru-sensei?! – exclamei, surpresa.

— Ora, não reaja assim. Ele é educado, bonito, trabalhos juntos e saímos apenas uma vez. E eu não gostei muito.

— Por quê?

— Porque ele a levou até a trilha para andarem. – Shouya riu – Por isso que eu sei. Ela estava arrumada e andava pela trilha de saltos.

— Tínhamos ido a um restaurante. – disse Haru – Eu não gostei de ir à floresta, mas se ele me chamasse para o festival, eu iria.

— Duas meninas apaixonadas. – zombou Shouya.

Franzimos as sobrancelhas em sua direção.

— Está falando demais. – falei.

Ele sorriu, comendo.

Depois do jantar, Shouya foi para casa, na floresta, e eu fui até o mercado à pedido de mamãe. Peguei arroz, laranjas e leite, pondo tudo dentro da cesta. Parei ao ver a prateleira de doces e queria comprar um Pocky de morango, mas só tinha dinheiro para o que já estava dentro da cesta de plástico. Quando me virei para ir em direção ao caixa, dei de cara com Kirishima-kun, que segurava uma cesta cheia de frutas com uma mão e um papel na outra mão.

— Kirishima-kun?

— Ame. – sorriu ele – Fazendo compras?

— Hum. – assenti – Minha mãe pediu algumas coisas quando saí de casa. Fui visitar minha irmã. Você também?

— É. Meu padrasto mandou comprar o que está na lista.

— Mandou? – perguntei, preocupada.

— Não se preocupe. – disse ele, sorrindo mais uma vez.

Sorri, desviando o olhar e corando. Fomos juntos até o caixa e Hanabi nos atendeu.

— Boa noite. – disse ela, seriamente – Como vão vocês?

— Hanabi. – ri – Pegou o turno da noite?

— Sim. Daqui a pouco estou indo. Vocês vieram juntos? – ela deu um meio sorriso.

— N-Não. – gaguejei – Nos encontramos sem querer.

Olhei para trás e vi Kirishima-kun andando em minha direção. Pensei que ele estava logo atrás de mim, mas acho que me enganei.

— Oh, estão comprando muitas coisas juntos. – disse Hanabi, intencionada.

Franzi a testa, olhando-a sem jeito e um pouco irritada. O que ela pretendia com isso? Hanabi ajudou a colocar tudo na sacola de papel e eu avisei à Kirishima-kun que estaria do lado de fora, corando em seguida por Hanabi ter sorrido maldosamente para mim. Do lado de fora, me sentei no banco em frente do mercado e minutos depois Kirishima-kun saiu do mercado, despedindo-se de Hanabi.

Ele se sentou ao meu lado, pondo sua sacola de papel na ponta do banco e tirando uma coisa de dentro. Olhei-o e ele me ofereceu uma caixa de Pocky de morango. Arregalei os olhos, corando e o olhei.

— Como...?

— Eu vi você olhando pra caixa. – ele sorriu sem jeito, pondo a mão na nuca – Achei que queria.

— H-Hum... – peguei o pacote, olhando-o como se fosse a coisa mais preciosa que já ganhara – Obrigada. – sorri.

Ele sorriu, contente. Abri o pacote e ofereci à Kirishima-kun, que pegou dois.

— Vai para casa? – perguntou.

— Sim.

— Posso... Acompanhar você?

— H-Hum. – assenti, corando enquanto comia o palitinho de morango.

— Né, Ame.

— Eh? – olhei-o.

— Por que fica me chamando de “Kirishima-kun”? Por que não me chama de “Ichiro”? – perguntou ele com o olhar baixo – Você gritou meu nome naquele dia na ponte.

Engoli em seco, sorrindo envergonhada.

— Ah... – ri forçadamente – Naquela hora fiquei nervosa.

— Só me chama pelo nome quando está nervosa?

Desviei o olhar, essa frase pareceu ter duplo sentido, o que me deixou com vergonha.

— Não... Quer que o chame pelo nome?

— Hum. – ele assentiu – Só se você quiser.

— Tudo bem.

Kirishima-kun encostou as costas no encosto do banco, relaxando as pernas e pondo a mão sobre o banco. Sua mão tocou levemente a minha, que também estava sobre o banco. Corei mais, me perguntando se foi sem querer e eu deveria afastar minha mão.

— I-Ichiro-kun...

— “I-Ichiro-kun”? – ele sorriu, brincando.

— H-Hum. – assenti – Você não está mais pensando em fazer aquilo. Né?

Ele pensou por um momento, olhando para frente.

— Não.

Kirishima-kun deixou um sorriso escapar e me perguntei a razão.

— Ichiro-kun.

— Hum?

— Você... Nos considera seus amigos?

— Hum... – ele pensou e sorriu para mim de repente – Claro que sim.

Sorri, contente.

— Ame... – disse ele.

O olhei, esperando. Kirishima-kun me olhava, parecendo querer dizer algo. Vi suas bochechas corarem e ele abaixar o olhar, como se desistisse de dizer o que pretendia.

— Eh... – sorriu sem jeito – Você vai usar Yukata no festival?

— Não sei. Você vai?

— Não sei. Mas queria ver você de Yukata. Com certeza vai ficar linda. – ele corou ao dizer.

— H-Hum... – desviei o olhar, minhas bochechas avermelharam mais – Acho que as meninas vão usar, então... Acho que vou.

— Que bom. – ele abaixou o olhar, sorrindo sem jeito.

Pus o punho sobre a boca, pensando. Kirishima-kun estava dizendo muitas coisas estranhas que me faziam sentir vergonha. Tive receio de que ele queria ser mais que apenas um amigo. Mas depois de todos nós começarmos a sair, consegui conhecê-lo melhor. Kirishima-kun era inteligente, gentil, alegre no fim das contas e bonito.

Comecei a pensar nisso e a corar. E se ele pedisse pra sair comigo? O que eu deveria dizer? Como deveria responder? E se o magoasse de novo? Mas não havia motivos para magoá-lo, acho que aceitaria sair com ele. Gostar de Kirishima-kun desse jeito não parecia ser ruim. Ele era uma ótima pessoa.

Kirishima-kun me levou até em casa e depois foi embora. Fiquei pensando no que aconteceu, nossa conversa e no que estava sentindo depois disso. Concluí meus pensamentos e sentimentos e corei extremamente antes de dormir.

No dia seguinte, na folga de Hanabi, fui até sua casa, entrando com a permissão de sua mãe. Corri até seu quarto e o invadi, vendo-a dormindo debaixo de uma coberta. Me aproximei e comecei a balançar seu colchão, chamando-a.

— Hanabi! Hanabi! Hanabi!

— Hum... Hum! – ela acordou, me vendo e sentando em sua casa com os cabelos bagunçados – O que houve? É minha folga!

— Preciso te contar uma coisa!

— Não dá pra ser depois?

Fechei os olhos, apertando-os, e contei de uma vez:

— Acho que gosto de Kirishima-kun!

Ela me olhou com as sobrancelhas franzidas, sem nenhuma surpresa. Abri meus olhos, olhando-a sem entender.

— Ah, jura?

— O que?

— Até Mai sabe que você gosta dele.

— Como ela sabe se eu descobri ontem?

— Hum... – ela resmungou, deitando e se cobrindo.

Tirei a coberta de cima dela, que me olhou irritada e sentou de novo.

— Ame, você sempre sorri quando está com ele e ele o mesmo. Vocês ficam quase o tempo todo juntos quando saímos e ontem eu vi vocês dois conversando no banco em frente do mercado. – disse ela sem ânimo – Pensávamos até que já estivessem juntos e esperando o tempo passar pra nos contar.

— Vocês falaram de nós?! – exclamei, indignada.

— Foi o único assunto que Hayato pensou pra conversar com Mai. E depois ele me contou. Ela também achava isso.

De fato eu sorrio muito com Kirishima-kun, porém para fazê-lo ficar confortável, à vontade. E eu fico bastante com ele para dar atenção a ele, mas em relação a tudo que aconteceu e ao que ele me contou. Mas Hanabi e Hayato não sabiam sobre o que aconteceu na ponte, então claro que pensariam nisso. Mas agora, eu gostava mesmo de Kirishima-kun.

— Antes eu gostava dele apenas como amigo. – deixei claro – Mas agora eu acho que gosto mesmo dele. O que eu faço?

— Conte à ele. – disse ela – Posso voltar a dormir?

— Ainda não. – falei, sentando ao seu lado.

Hanabi franziu a testa diante do meu desespero.

— Kirishima-kun me pediu para chamá-lo pelo nome e me perguntou se eu iria de Yukata, pois ele queria me ver de Yukata porque eu ficaria linda de Yukata.

— Você está falando muito “Yukata”. – disse Hanabi – Mas você sempre vai assim.

— Estava pensando se faria diferente esse ano. Mas e agora? Eu vou ou não? E se eu for? Será que ele vai achar que fui de Yukata por causa dele?

— Não sou ele, Ame. Por que apenas não pergunta se ele gosta de você?

— Não! – corei – E se ele não gostar e eu fizer papel de boba?

— Você já está fazendo. – Hanabi deitou – Se acalma, conversa com sua mãe, ela sempre sabe das coisas, e espere pelo festival. É apenas em alguns dias.

— Hum. – assenti, nervosa – Quer ver um filme hoje?

— Estava planejando dormir o dia todo.

— Ah... – achei graça – Então tá. Até mais.

A vi acenando enquanto estava deitada e fui embora. Pensei em contar para mamãe o que estava acontecendo, mas fiquei com vergonha demais. Meus pais provavelmente já achavam que eu gostava dele, então não aguentaria ver suas caras quando contasse que realmente gostava dele. Decidi deixar meus sentimentos para mim e desviei do caminho um pouco, indo para a floresta. Fiquei sentada em uma pedra, próxima do rio. Antigamente eu costumava nadar com Shouya, sentia falta de entrar no rio.

Levantei e tirei minha roupa, ficando nua e entrando no rio. Não passava ninguém por ali, estava um pouco longe da trilha e era raro pessoas passarem por aquela parte da trilha que ia em direção ao rio. Sentia a água na minha pele, aproveitando-a e mergulhando. Quando emergi, era um lobo de pelos castanhos. Tinha o corpo de uma garota, porém minha pelagem encobria meu corpo. Meu rosto era o rosto de um lobo e minhas grandes orelhas apareciam, misturando a pelagem com meu cabelo comprido.

Mergulhei várias vezes, boiando de vez em quando e olhando para o céu. Ficar na floresta, sentindo o ar puro e o verde das árvores me acalmava. Parecia ser outro mundo, um mundo sem problema algum. Às vezes pensava se era por isso que Shouya decidiu viver como lobo. Era ótimo, uma vida na floresta.

Minhas orelhas capitaram um som vindo dos arbustos. Mergulhei, nervosa. Quando emergi, voltei a ser completamente uma garota, indo até a margem para esconder meu corpo nu. Esperei, escondida, e temi que alguém tivesse me visto. Porém um pequeno esquilo saiu de trás de um arbusto e subiu na árvore. Suspirei, aliviada e saí do rio, me vestindo. Achei melhor ir para casa.

Alguns dias depois, pensando o tempo todo no que deveria fazer, decidi ir de Yukata para o festival. Não imagino o que faria quando encontrasse o pessoal, e principalmente Kirishima-kun. Queria apenas ficar bonita, colocando na minha cabeça que não era para ele.

Hanabi e eu iríamos juntos para a cidade. Ela chegou enquanto minha mãe terminava de me ajudar com a Yukata. Hanabi estava com a metade dos cabelos presos e usava uma flor onde o prendia. Sua Yukata era azul com detalhes rosa e desenhos floridos. Ela estava linda e carregava uma pequena bolsa.

— Ame. – sorriu ela – Está bonita.

— Você também.

Minha Yukata era lilás, a barra dela e das mangas eram em um tom de roxo e tinha lírios vermelhos assim como a Obi, a faixa vermelha de minha Yukata que rodeava minha cintura. Meu cabelo estava preso em um coque baixo com algumas mechas soltas e enroladas. Minha mãe prendera no coque um lírio branco artificial. Minha franja estava penteada para o lado direito e calcei os Zori, minhas sandálias de madeira.

Sorri com as mãos para frente e agradeci à minha mãe por ela ter me arrumado.

— Otousan e você não vão mesmo? – perguntei.

— Não. Ele vai me levar na floresta para vermos os vagalumes. – ela sorriu.

— Hum. – sorri – Vamos, Hanabi.

— Até mais, Yoshiro-san.

— Até mais. Bom festival. – disse mamãe.

Hanabi e eu saímos, pretendíamos ir de ônibus para a cidade. Quando saímos do meu quintal em direção à rua de terra, vimos Shouya vindo em nossa direção. Hanabi desviou o olhar por um momento e tirou um pequeno livro de dentro de sua pequena bolsa. A olhei sem compreender.

— Shouya. – cumprimentei-o – O que faz aqui?

— Vou dormir em casa hoje. Okaasan pediu.

— Ah, sim. Eles vão dormir na floresta hoje. – sorri sem jeito – Que bom. Vamos, Hanabi?

Ao me virar, ela ficou parada, olhando meu irmão. Shouya ficou olhando-a, esperando ela falar algo, pois abriu levemente a boca e suas bochechas coraram.

— Sho-chan...

— “Sho-chan”? – ele riu – Parece uma menina de novo. Me lembro de quando você tinha oito anos.

— H-Hum. – ela assentiu, oferecendo o livro – Eu estava indo até a floresta para procurá-lo. Queria dar isso à você.

— Ah... Obrigada. Mas...?

— Só queria te dar um presente. – Hanabi sorriu.

Vi meu irmão corar por um momento. O que estava acontecendo entre eles? Hanabi curvou-se para ele e veio em minha direção em seguida. Fomos para o ponto de ônibus e esperamos um pouco. Quando subimos no ônibus e nos sentamos, quis saber o que estava acontecendo entre meu irmão e minha amiga, mas Hanabi não disse nada. E eu apenas tive coragem de perguntar quando descemos do ônibus, na cidade.

— Hanabi, está acontecendo algo entre Shouya e você? – perguntei enquanto andávamos.

— Não. Por quê?

— Você deu um presente pra ele.

Ela sorriu, pondo a mão sobre a boca para eu não ver. Algo raro. Significava que ela estava com vergonha.

— Ame. – cantarolou – Decidi fazer algo diferente.

— Dar presentes à ele?

— Algo assim. – ela pensou – Ainda estou planejando? E você?

— Eu?

— O que vai fazer em relação à Kirishima-kun?

— Eh... Não sei. Não imagino nem se vou conseguir olhá-lo hoje.

— Entendo. Bem... Vai ter que imaginar agora. Olha ele lá.

Corei naquele momento, vendo Kirishima-kun próximo à uma barraca. Ele conversava com Hayato e Mai, que o acompanhavam. Além de estarem com Seiko da outra turma – a menina que já sabia que Kirishima-kun iria se transferir – e Nana, sua amiga. Elas sorriam e Kirishima-kun oferecia à elas um doce que acabara de comprar.

Me aproximei sem jeito com Hanabi e cumprimentei à todos. Seiko e Nana disseram que eu estava linda, assim como Mai. Elogiaram Hanabi também e começamos a aproveitar o festival. Porém algo estava me incomodando. Kirishima-kun não olhou para mim nenhuma vez.

Quando nos aproximamos e todos nos cumprimentaram, ele apenas ficou comendo o que havia comprado. Enquanto o pessoal nos elogiava, ele ficava observando as outras pessoas e as barracas. E Kirishima-kun estava vestido com roupas normais, assim como Hayato, que nunca se arrumou demais para um festival. Porém Kirishima-kun havia me dito que não sabia se usaria uma Yukata. Acho que ele escolheu não usar. Fiquei um pouco triste com isso.

Mai usava uma Yukata preta com detalhes roxos e Hayato conversava com ela, fazendo-a rir. Seiko usava uma Yukata alaranjada e Nana uma amarela, como seu cabelo loiro. Kirishima-kun dava atenção à elas todo o tempo, o que me incomodou um pouco.

Comprei um sorvete e me sentei em um banco, observando a decoração da praça enquanto comia. Tudo estava bonito e vi de longe minha irmã com Satoru-sensei. Pelo visto Satoru-sensei a chamara para ir ao festival com ele. Haru sorria e ambos conversavam enquanto comiam um salgado comprado em uma das barracas. Sua Yukata era linda e seu cabelo estava preso sobre seu ombro. Satoru-sensei também usava uma e os dois pareciam estar se divertindo. Todos pareciam estar se divertindo, na verdade. Então por que eu me sentia triste?

Abaixei o olhar por um momento e notei alguém se sentando ao meu lado.

— Hayato. – o olhei, surpresa.

— Oi.

— Pensei que estava com Mai.

— Quis fazer um pouco de companhia à você. Está sozinha desde que chegou.

Sorri, um pouco entristecida.

— Hum.

— Mai viu Satoru-sensei e parou de me ouvir naquela hora mesmo. Ela ficou triste e vi seus olhos cheios de lágrimas por ele estar com Yoshiro-sensei.

— Minha irmã e ele estão saindo.

— Eu sabia disso. Pensei que ela entenderia que nunca iria ficar com ele. Mas ela ficou triste, e acho até que foi para casa. No fundo eu não queria que ela visse os dois, mas eles passaram por nós do nada.

— Ela os veria algum dia. Sinto muito.

— Também sinto. Por você também.

— Como assim?

— Por causa de Ichiro.

— Você o chama pelo nome agora? – sorri – Que progresso.

— É. – ele achou graça – Você gosta dele, não é?

Abaixei o olhar e assenti.

— Eu também não entendo o que houve. – disse ele – Ichiro mostrava de todas as formas que gostava de você. Mas hoje... Sei lá.

— Ele... Gosta de mim? – corei.

— Parecia. – Hayato sorriu levemente.

Abaixei a cabeça. Ficamos sentados por um tempo e Hanabi se juntou a nós momentos depois. Nós três ficamos juntos, sentados no banco. Três amigos, e três pessoas cujos sentimentos não são correspondidos – se bem que Hayato e eu não nos declaramos. Pensei que o festival seria ótimo, mas quando os fogos de artifício alcançaram o céu e seu colorido deixou o escuro brilhante, me senti infeliz.

Hayato foi para casa, assim como Hanabi, que fora de ônibus. Eu decidi ir para casa pela trilha, porém ao chegar na ponte, parei em frente de onde Kirishima-kun pulara. Pus a mão sobre o parapeito, tocando-o e sentindo a madeira. Passamos a metade do verão juntos, pensei que éramos amigos. Por que então ele nem ao menos falou comigo?

Abaixei a cabeça e tirei o lírio artificial do cabelo, observando-o.

— Ame.

Olhei para o lado, surpresa. Kirishima-kun estava em pé na entrada da ponte. Ele se aproximou, sem expressão.

— Ichiro-kun?

Abaixei minha cabeça, meus olhos marejaram.

— Eu fiz algo? – perguntei, minha voz estava embargada.

— Não.

— Então por que não falou comigo hoje? Pensei que éramos amigos.

— Me desculpe.

O olhei, chorando, e vi seu olhar perdido em minha direção, como se tentasse concluir algo.

— Ichiro-kun...

— Você tem segredos... Ame?

— O que...? Como assim?

— Apenas me diga. Por favor.

— Eu... – gaguejei, porém confessei – Sim.

“Ichiro... Eu gosto de você.”, pensei. Por que não tinha coragem de dizer isso à ele? Por quê?

— Por que está me perguntando is...?

Kirishima-kun me envolveu com seus braços repentinamente. Arregalei os olhos, seu abraço parecia se tornar mais forte a cada momento, como se ele não quisesse me soltar. Ele virou seu rosto para meu cabelo, cheirando-o. Corei, engolindo em seco.

— Ichiro-kun...

— Eu gosto do seu cheiro.

Meu rosto ficou vermelho. Ele cessou o abraço e me olhou.

— Você está linda mesmo. – sorriu ele.

Fiquei olhando-o e decidi tentar contar o que sentia, mesmo com medo em relação ao que ele diria.

— Ichiro-kun, eu...

— Eu sei.

— Eh?

— Que você está feliz que sejamos amigos.

Abaixei o olhar, querendo chorar e assenti, confirmando. Kirishima-kun me levou em casa e nos despedimos. Me decepcionei comigo mesma, deveria ter contado o que sentia mesmo após ele ter dito aquilo. O que aconteceria agora? Eu disse aquilo antes e Hayato me disse que Kirishima-kun parecia gostar de mim. Será que eu mudei isso quando disse naquele dia que estava feliz por sermos amigos? Será que agora ele queria ser apenas meu amigo e nada mais? E eu? Agora eu gostava dele... Como não notei?

Quando entrei, Shouya estava comendo na cozinha. Me sentei ao seu lado, meu olhar estava baixo.

— O que foi? – ele perguntou, comendo – Veio com Hanabi?

— Não. Com Kirishima-kun.

— O garoto que você gosta?

— Sim.

Ele franziu a testa.

— Escutou? Eu disse “o garoto que você gosta”.

Olhei-o.

— Eu gosto dele, Shouya. Só não sabia antes.

Shouya se mostrou surpreso com minha seriedade.

— O que aconteceu?

— Sou uma covarde. – confessei – Não consegui contar à ele e agora acho que ele quer ser apenas meu amigo. E por minha culpa! Disse que estava feliz por sermos amigos. Como não notei tudo isso antes?

— Você é meio lerda.

Franzi as sobrancelhas em sua direção.

— E você?

— O que?

— Por que Hanabi te deu aquele livro?

Ele suspirou e abaixou a cabeça, pondo a mão em sua nuca.

— Não sei, mas... Não fica com raiva de mim.

— O que você fez?

— Ela tem ido para a floresta pela trilha. Às vezes vai para o rio.

— É. A gente a viu naquele dia.

— O que eu não te contei é que eu vou vê-la também... Como lobo.

— O que?! Shouya! – exclamei – E se ela descobrir?!

— Ela não vai. Hana-chan ficou com medo quando me viu pela primeira vez. Foi no começo do verão. Eu não fiz nada e ela se acalmou, dei um de cachorro que queria carinho. – ele riu – Agora quando vou vê-la, fico deitado no chão e ela sentada, fazendo carinho na minha cabeça e conversando comigo sobre as coisas que acontecem no dia dela, no trabalho, em casa e sobre mim também.

Cruzei os braços, zangada.

— Como pôde?

— Eu não sabia que isso ia acontecer! Apenas aconteceu.

— Idiota. Você não disse que não queria se envolver com ninguém?

— Não estou me envolvendo com ela.

— Apenas ela não sabe disso.

— Relaxa. Ela é sua amiga e eu respeito isso.

— Hum. – resmunguei.

— Bem... – ele levantou, pegando seu prato – Boa sorte com seu amigo/paixão platônica.

— Ele não é minha paixão platônica!

— Até você contar a ele, ele é. – Shouya sorriu.

Desviei o olhar, envergonhada.


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