Meu amado é um lobisomem escrita por Lailla


Capítulo 16
Capítulo 16: Verão - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Kakigori: raspadinha



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Kirishima-kun pulou da ponte em direção ao rio.

Consegui pegar sua mão ao correr, segurava seu pulso e tentava aguentar seu peso. Meu abdômen estava sendo pressionado contra o parapeito e tentava fazer meus pés continuarem no chão, porém o peso de Kirishima-kun fazia com que eles fossem suspensos cada vez mais. Segurei no parapeito para continuar ali, porém não conseguia segurar Kirishima-kun com apenas uma mão.

Voltei a segurar seu pulso com as duas mãos e tentava sentir o chão com meus pés. Meus cabelos caíram sobre meus ombros. Gemia pelo esforço, tentando dizer à Kirishima-kun para se segurar em algum lugar. Porém ele apenas me olhava com aqueles olhos cor de mel, arregalados em minha direção.

— Por favor... – rangia os dentes – Segure...

Meu corpo foi para frente, escorregando lentamente e me preenchendo de desespero. Caímos no rio.

A correnteza estava forte por causa da chuva do dia anterior. Fomos carregados pelo rio, e tentávamos manter nossas cabeças para fora da água. Vi algumas pedras perto da margem e um galho próximo. Segurei no pulso de Kirishima-kun novamente, ele tossia por ficar encoberto pela água com frequência.

Não tive escolha. Transformei-me em lobo e segurei na pedra com minhas garras, que a arrancharam e se fincaram. Puxei-nos para fora do rio, subindo em cima da pedra e segurando no galho. Ao chegarmos à terra, me ajoelhei com as mãos no chão. Recuperava o fôlego enquanto Kirishima-kun fazia o mesmo, deitado na terra. Estávamos encharcados e um pouco sujos de terra por termos nos arrastado.

Ele me olhou, franzindo a testa. Eu ainda estava coberta por pelos castanhos e meu cabelo cobrira meu rosto de lobo. Ele esfregou os olhos, voltei a ser uma pessoa. Olhei-o e me aproximei. Ele se sentou, confuso. Esperava que pensasse que foi um engano, porém ele não disse nada sobre isso.

— Você está bem? – perguntei.

Ele assentiu.

— Por que você...?

Lhe desferi um tapa no rosto. Kirishima-kun encolheu os ombros, torcendo a expressão. Quando me olhou novamente, viu meus olhos marejados.

— Por que fez isso?! – exclamei, apertando os punhos e batendo-os contra seu peito várias vezes – Idiota! Idiota! Idiota! Por que fez isso?!

Kirishima-kun apenas me olhava com os olhos ligeiramente arregalados. Ele semicerrou os olhos por um momento e segurou gentilmente meus pulsos, me fazendo parar de bater em seu peito. Abaixei a cabeça, chorando, e ele me abraçou.

— Desculpa... – disse ele.

Segurei em sua camisa, apertando-a.

Quando parei de chorar e levantamos, fomos embora. Voltamos até a ponte pela margem do rio e subimos o íngreme gramado. Passamos por ela novamente, lado a lado. Caminhávamos, calados, e ao chegarmos na bifurcação para a casa de Kirishima-kun, ele parou e se voltou para mim. Meu olhar estava baixo e minhas mãos para trás. Meu cabelo pingava e eu o olhava com as roupas e cabelo molhados, além da roupa suja e alguns pedaços de grama que possivelmente também deveriam estar em meu vestido.

— Yoshiro-san...

— Por que fez aquilo? – o olhei – Me diga. Por que tentou fazer uma coisa daquelas?

Ele abaixou o olhar.

— Eu não... Tinha mais por que viver.

— E os seus pais? Não se importa com eles?

— Minha mãe ficaria bem. Meu padrasto cuida bem dela.

— E a escola?

— Não me importo.

— E... Os seus amigos?

— Não tenho.

— Kirishima-kun... – o olhei, surpresa – Me desculpe.

Ele me olhou, surpreso, e viu meus olhos marejados mais uma vez.

— Me desculpe por ter ignorado você... Eu não sabia... O que você estava passando. Eu fui má. Devia ter respondido o bilhete, devia ter falado com você quando me perguntava as coisas... Eu devia...

Limpava com os braços as lágrimas que escorriam. Kirishima-kun se aproximou e me abraçou. Fiquei envergonhada, sendo recebida em seus braços mais uma vez.

— Não foi sua culpa... Ame.

Corei, desviando o olhar e ele cessou o abraço, me olhando.

— Por que quis fazer aquilo?

Ele pensou um pouco.

— Eu tinha onze anos quando meu pai morreu. Foi um acidente de carro. Minha mãe teve depressão e ficou mal por alguns anos. Porém tudo melhorou pra ela quando conheceu meu padrasto. Ela aos poucos voltou à vida normal. Começou a se arrumar mais para sair pra qualquer lugar. Logo depois começou a sair para se encontrar com alguém e em seguida começou a namorar. Ele não gosta muito de mim, sabe. Ele me disse uma vez que eu podia ter ajudado mais minha mãe. Mas acho que ele apenas não gosta de mim.

O olhava.

— Eles se casaram e quando minha mãe descobriu que estava grávida, eles decidiram sozinhos que deveriam se mudar. Não me perguntaram e nem pediram minha opinião. Mas eu não quis incomodar, ela está feliz.

Apertei meu vestido.

— Mas você não está.

Kirishima-kun semicerrou os olhos.

— Não me importo. Ela está feliz.

— Não! – exclamei – Não pode se anular dessa forma! Você também é importante!

Ele me olhou, surpreso. Corei por dizer tantas coisas embaraçosas. Fechei os olhos, apertando-os e exclamei:

— Eu quero ser sua amiga... Quero te ajudar.

— Você parou de falar comigo pelo o que eu disse. Desculpe.

Abri os olhos, porém não o olhei.

— Não foi exatamente por isso. Mas eu sei que não foi por mal. Então... Nós... Hum... Podemos ser amigos?

Kirishima-kun desviou o olhar por um momento, corando e tampando a boca com as costas da mão.

— Sim.

Minhas bochechas avermelharam e me curvei, agradecendo.

— Eu prometo, eu prometo... Vou fazer você se ver importante também. – falei, endireitando-me – Não faça mais aquilo, por favor.

Ele arregalou os olhos.

— Me prometa!

— Hum... Prometo. – disse ele, surpreso.

O reverenciei mais uma vez e corri pelo meu caminho.

Eu não fazia ideia de que tantas coisas passavam pela mente de Kirishima-kun à ponto de ele querer pular da ponte. Em parte foi minha culpa, eu sei disso. Não deveria ter sido má com ele, não deveria tê-lo ignorado da forma como o fiz. Ele estava triste por querer fazer a mãe dele feliz. Mesmo sendo uma atitude boa, ele estava aceitando não ter importância. E isso eu não aceitaria. Todos nós temos importância e agora eu estava determinada a fazer com que ele visse isso.

Quando cheguei em casa, minhas roupas estavam um pouco mais secas, porém não o suficiente para passar despercebido. Meu pai estava sentado ao lado do telefone, lendo um livro. Quando me olhou, arregalou os olhos.

— Ame?!

— Eh... – desviei o olhar.

Ele deixou o livro de lado e veio até mim, vendo meu estado.

— O que aconteceu com você?

— Eu... Caí no rio. – confessei.

— Como assim?

Ouvimos o jipe, mamãe chegara. Meu pai olhou para o lado de fora e depois para mim, dizendo:

— Vá tomar um banho e pôr roupas limpas. Depois conversamos.

Assenti.

Fiquei na banheira por um tempo, pensando dentro da água quente. Minhas costas e cabeça estavam escoradas e minha boca debaixo da água. Olhava para os meus joelhos que estavam do lado de fora da água. Me sentia um pouco envergonhada naquele momento. Kirishima-kun me abraçou tantas vezes. Um abraço forte, acolhedor. E me chamou pelo nome. Apenas meu nome.

Corei na banheira, mergulhando a cabeça dentro da água. Quando saí, vestida em roupas limpas, apenas papai estava em casa. Lavei meu vestido e o pus para secar, sentando à mesa em silêncio. Ele se aproximou e sentou na cadeira à minha frente.

— E Okaasan?

— Foi se encontrar com Haru na cidade.

— Hum.

— Ame.

O olhei, receosa.

— Não se cai simplesmente no rio. Você estava suja de terra e grama. O que aconteceu?

— Eu... – temi.

— Pode me contar. Foi à floresta? Algo aconteceu?

— Algo aconteceu.

— O que? Alguém quis te machucar?

Neguei com a cabeça, meus olhos ficaram marejados.

— Fui ver um filme com Hanabi.

Ele assentiu, já sabendo da minha saída.

— Quando estava voltando, vi Kirishima-kun na ponte.

— Quem é esse?

— Um aluno novo, ele se transferiu recentemente. – disse, pensando com cautela – Eu não estava falando com ele. Ele perguntou se eu tinha cachorro porque meu cabelo tinha cheiro de cachorro.

Ele franziu a testa.

— Hum. Tsuki me falou sobre isso. Ele falou alguma coisa? Fez algo?

— Ele subiu no parapeito... E pulou.

Papai arregalou os olhos, estremecendo.

— O que?

— Eu corri e consegui segurá-lo, mas escorreguei e caímos no rio. Conseguimos sair e quando perguntei na volta por que ele fez aquilo, ele me contou que... – engoli em seco, lembrando – Ele é tão triste, Otousan. Ele quer ver a mãe feliz, mas não se importa com ele mesmo.

Papai semicerrou os olhos, compreendendo.

— Ele não queria ter se mudado, não é?

Neguei com a cabeça, confirmando.

— Prometi que o faria ver que ele era importante também.

— Disse isso à ele? – sorriu meu pai.

Assenti.

— Você é uma boa menina.

— Mas o que eu faço agora? Como eu faço isso? O senhor já perdeu o interesse pela vida? – perguntava, desesperada.

— Já.

Arregalei os olhos.

— Sua avó morreu quando eu era uma criança. Seu avô não fazia ideia que eu era metade lobo. Minha vida foi ruindo aos poucos. Fugi de casa e parei aqui, conhecendo o pai de Tsuki.

Assenti.

— Eu sei dessa história.

— Sim. Mas você não sabe como precisamos ter pessoas que se importem conosco. – disse ele – O pai de Tsuki me ajudou muito, me viu como um filho. E depois veio sua mãe, Tsuki. Ela é minha lua. – sorriu, feliz – Foi tudo graças a ela. Ela me deu uma casa, uma família, uma vida. Então, Ame, dê a esse menino alguém que o faça querer ficar.

— Tá... – pensava – Vai contar para Okaasan?

— Tenho que contar.

Assenti e fui para o quarto.

Alguém que o faça querer ficar? No começo foi difícil de pensar, mas eu já sabia a resposta e já havia dito isso à ele na trilha. Eu me tornaria amiga de Kirishima-kun.

No dia seguinte, tinha planejado os detalhes do meu plano. Durante o verão eu faria companhia à Kirishima-kun, me tornaria sua amiga e o faria ver como ele era importante. Começaria naquele dia indo até a casa dele para fazermos juntos os exercícios do verão. Seria uma ótima forma de passarmos um tempo juntos e eu ajudá-lo a entender as matérias.

Guardei alguns livros e cadernos na minha bolsa depois do café da manhã, indo até a cozinha para me despedir. Meus pais estavam tomando o café da manhã e Shouya acabara de chegar, me dando um susto quando entrei na cozinha pela porta lateral. Ele estava vasculhando a geladeira e exclamou meu nome.

— Aonde vai? Ainda é de manhã. – perguntou.

— Ame vai até a casa de um amigo para ajudá-lo com os exercícios do verão. – sorriu mamãe – Ele é novo no colégio.

— Hum, o garoto transferido? – disse Shouya.

— Como sabe disso? – perguntei.

— Vi um garoto estranho andando pela floresta há um tempo.

Não sei por que, mas parecia que Shouya estava mentindo. Como ele saberia então sobre Kirishima-kun?

— Bem, voltávamos juntos às vezes pela trilha. Talvez ele tenha voltado sozinho e você o viu.

— Talvez.

— Hum.

Estreitei os olhos em sua direção, o que o fez rir.

— Estou indo. – falei, saindo da cozinha.

Ao chegar no quintal, olhei para trás ao perceber alguém correndo. Mamãe se aproximou, recuperando o fôlego rapidamente e sorrindo. Seus cabelos, agora na altura dos ombros, balançaram um pouco assim como sua longa saia, que chegava até seus tornozelos. Ela sorriu, beijando minha testa.

— Boa sorte.

— Eh?

— Yuzo me contou sobre ontem. E vi seu vestido secando.

Desviei o olhar, envergonhada. Mamãe me abraçou, parecia orgulhosa de mim.

— Até mais.

— Hum. – assenti.

Cheguei na casa de Kirishima-kun vinte minutos depois, reparando mais em sua casa. Era de cimento, ao contrário da minha, que era de madeira. Dois andares, cor clara e um muro baixo com portão de grade. Havia um pequeno jardim no canto com belas flores. Passei pelo portão e toquei a companhia ao me aproximar da porta. A mãe de Kirishima-kun me atendeu.

— Kirishi... Minoru-san. – falei, envergonhada – Bom dia.

— Yoshiro-san? – ela sorriu.

— Kirishima-kun está em casa? Pensei que poderíamos fazer os exercícios do verão juntos.

— Sim, está deitado no quarto. Entre.

Minoru-san me direcionou pela casa. O interior era bonito e aconchegante. A mãe de Kirishima-kun falou para mim que a cidade é ótima e que eles forem bem recebidos, dizendo que estava ansiosa pela chegada do bebê, porém que ainda estava com quatro meses apenas e que Kirishima-kun iria ter um novo irmãozinho.

No segundo andar, ela parou em frente à segunda porta à esquerda e a abriu, batendo levemente nela.

— Ichiro. – cantarolou – Yoshiro-san está aqui.

Minoru-san abriu a porta totalmente e eu pude ver Kirishima-kun deitado em sua cama. Ele usava calças de pijama de tom escuro azul e uma camisa cinza. Se sentou e nos olhou na porta de seu quarto. Sua mãe nos deixou e eu entrei.

O quarto de Kirishima-kun era bem arrumado. Havia sua cama, um criado-mudo ao lado, uma escrivaninha na parede lateral, uma mesa baixa e uma televisão na parede com videogame em frente à cama. Olhei-o mais uma vez, envergonhada.

— Bom dia. – falei, quase que inaudível.

— Yoshiro-san? O que está fazendo aqui?

— Eu... – gaguejei – Pensei que poderíamos fazer os exercícios do verão juntos.

Kirishima-kun pôs os pés no chão, ainda me olhando e corou levemente.

— Obrigado.

Sorri levemente, contente.

Nos sentamos à mesa, em sua escrivaninha, e começamos a estudar juntos. Kirishima-kun teve um pouco de dificuldade com as matérias que perdeu na semana que não fora ao colégio, porém consegui ajudar com a maioria. Ficamos lado a lado por horas, fazendo os exercícios e escrevendo. Fiquei um pouco envergonhada e corei algumas vezes por estar próxima de Kirishima-kun. Eu não gostava dele como uma paixão, mas ele era um menino de toda forma e estávamos sozinhos em seu quarto.

Kirishima-kun coçava a cabeça e colocava a mão na nuca com frequência, expressando suas dúvidas e me perguntando como se fazia a questão. Como eu não era muito boa em Matemática e nem em Língua Estrangeira – que no caso era inglês –, não consegui ajudá-lo muito e muito menos ajudar eu mesma.

— Ahm... Hum... How you feeling… about this situation?— li, muito mal – Acho que é “Como você se sente… Sobre essa...”. Hum... Não tenho certeza.

— Eu tenho um dicionário, mas não sou bom de gramática. – disse ele.

— Nem eu. Desculpe. Não pude ajudar nessas.

— Hum. – ele negou com a cabeça – Obrigada.

Sorri, contente, e vi as horas. Já era hora do almoço e eu precisava voltar para casa. Recolhi minhas coisas e as guardei na bolsa, sorrindo novamente e perguntando:

— Podemos tentar fazer as outras amanhã.

— Hum. – ele assentiu, sorrindo – Tudo bem.

Antes de levantarmos, a porta do quarto de Kirishima-kun se abriu e seu padrasto surgiu com a expressão um pouco irritada.

— Ichiro, vá ajudar sua mãe com o almoço. Hum... Você de novo? Yoshiro-san, certo?

— Sim.

— Hum. Ichiro, faça alguma coisa.

Franzi as sobrancelhas, irritada. Quando Kirishima-kun disse que seu padrasto não gostava muito dele, pensei que ele era mal com Kirishima-kun. Mas acho que ele era um mal-educado mesmo.

Kirishima-kun me levou até a porta e vi como ele era mais alto que eu, me fazendo ter que olhar para cima. Ele me levou até o portão, agradecendo mais uma vez.

— Amanhã vou tentar fazer algo diferente. – falei.

— Eh? Como assim?

— Você vai ver. – sorri, levantando a mão em um aceno – Até.

Ele sorriu, fazendo o mesmo.

No dia seguinte, encontrei-me com Hanabi no parque da cidade. Era um grande parque bem no centro da cidade. Todos o usavam como atalho para o outro lado da cidade. Nós duas andávamos, conversando. Era folga de Hanabi no mercado e eu planejava chamá-la para ajudar Kirishima-kun e a mim com matemática. Assim como Hayato, que era bom em inglês.

— Tudo bem, eu vou. Já terminei todos os exercícios, posso levar minhas anotações e explicar à vocês.

— Obrigada. – sorri – Hanabi.

— Hum.

— Shouya me disse que viu você na floresta. – menti, eu estava com ele no dia.

— Eh... – ela corou – Ele me viu?

— Sim. Está indo lá pra vê-lo, não é?

— Sim. – ela desviou o olhar – Às vezes eu levo algo pra comer, mas ele nunca aparece.

— Sinto muito.

— Tudo bem. Eu vou mesmo sabendo que ele pode não aparecer. – disse ela – Mas o que você está planejando para convencer Hayato?

— Não sei.

Sentamos no banco de madeira. Eu tentava pensar numa maneira de convencer Hayato à nos ajudar com os exercícios. Ele ainda estava um pouco enciumado com a chegada de Kirishima-kun e a atenção que ele teve no colégio, principalmente de Ina Mai.

Porém, enquanto pensava e observava a paisagem, olhei para o lado e vi Ina-san há três bancos de distância. Ela usava um short jeans, uma blusa de alças finas e sandálias baixas, e estava comendo um kakigori de morango. O dia realmente estava quente e quis perguntar onde ela havia comprado – provavelmente na esquina –, mas vendo-a tão à disposição de nós, decidi fazer um novo plano.

Levantei e fiz um leve aceno de cabeça para Hanabi, que logo compreendeu ao ver Mai. Fomos até ela, que nos olhou com um leve sorriso.

— Bom dia, Ina-san.

— Oi, Yoshiro-san. Como estão?

— Bem. E você? Está quente hoje.

— Verdade. Eu saí um pouco de casa pra comprar kakigori.

— Hum. – sorri.

Hanabi e eu sentamos com ela, que ficou entre nós sem compreender.

— Né, Ina-san. – cantarolei – Você já terminou os exercícios do verão?

— Eh... Não. Falta o resto de matemática, história e língua estrangeira. Não sou muito boa em inglês.

— Isso é ótimo! – exclamei, alegre.

— Eh? – ela não compreendeu.

— Ame quer dizer que seria ótimo se você fosse conosco para a casa de Kirishima-kun para estudarmos. – explicou Hanabi.

— O aluno novo? Ele é bom nas matérias?

— Na verdade eu estava ajudando Kirishima-kun. – falei – Mas tivemos alguns problemas com matemática e inglês. Hanabi vai nos ajudar com matemática e Hayato com inglês.

— Mas ele... – Hanabi ia dizer.

— Ele vai com certeza. – disse à ela.

— Hayato? Kaya Hayato?

— Sim. Ele é da nossa turma.

— Hum. – Mai assentiu – Tudo bem. Gostaria de entender inglês. – sorriu.

— Isso é ótimo. – sorri.

— Você pode se encontrar com Hayato em frente do mercado? – perguntou Hanabi.

Arregalei os olhos para ela, que sorriu intencionada.

— Posso. – disse Mai – Que horas?

— Duas e meia.

— Tudo bem.

Com Mai aceitando, esperava que Hayato aceitasse de primeira. Porém quando fomos na casa dele depois de nos despedirmos de Mai, Hayato não parecia querer muito. Estávamos em sua sala e ele exclamava, com seu rosto completamente vermelho.

— P-Por que fizeram i-isso?! – Hayato gaguejava – Estão loucas!

— Mai vai estar lá. – sorriu Hanabi, maldosamente – E você vai encontrá-la em frente ao mercado para irem juntos para a casa de Kirishima-kun.

— O que?!

— Ela é um pouco ruim em inglês. E você é bom em inglês. – sorri – Além de nos ajudar, você pode conseguir a atenção dela. E Mai vai ver como você é bom em inglês.

— Eu não vou.

— O que? Mas essa é sua chance de fazê-la esquecer Satoru-sensei.

— Estão loucas... Não, não posso. Não vou.

Levantei com a expressão irritada, o que espantou os dois.

— Você vai, Hayato. Não seja covarde.

Ele franziu a testa e desviou o olhar, envergonhado. Hayato ficou em silêncio por um tempo, refletindo. Por fim, ele nos olhou consecutivamente e assentiu, perguntando:

— Que horas?

— Duas e meia, na frente do mercado.

— Hum... – ele corou mais – Vocês duas...

Sorri, cruzando os braços.

À tarde, Hanabi e eu fomos para a casa de Kirishima-kun. Ele ligou o ar-condicionado de seu quarto e ficamos esperando por Mai e Hayato para começarmos. Tive receio de que Hayato deixara Mai plantada em frente ao mercado. Ele pareceu ter tanto medo de encontrá-la que eu já imaginava encontrando Mai para ela me contar que ele não apareceu e ela foi para casa. Porém quando a companhia tocou, senti um imenso alívio percorrendo meu corpo.

Kirishima-kun atendeu e voltou para o quarto com Hayato e Mai. Nos sentamos em volta da mesa baixa do quarto de Kirishima-kun e Hayato ficou extremamente vermelho quando Mai sentou ao seu lado.

— Você está bem, Kaya-san? – perguntou Mai.

— H-Hum, Ina-san. – disse ele – Só está um pouco quente.

— Se quiser eu posso diminuir mais a temperatura. – disse Kirishima-kun.

— Não precisa. Obrigada.

— Vamos começar então. – sorri ao lado de Kirishima-kun.

Ficamos toda a tarde estudando. Começamos por matemática e Hanabi nos ajudou bastante com suas anotações e explicações. Conseguimos fazer grande parte dos exercícios e ajudamos Mai com história. Hayato nos ajudou com inglês e recebeu bastante atenção de Mai, que tinha muitas dúvidas. E todas foram tiradas com vergonhas, sorrisos sem jeito e bochechas coradas vindos de Hayato.

Na ida para casa, Hayato acompanhou Mai. Hanabi e eu ficamos imaginando se ele teria coragem de conversar com ela, porém Mai começou a conversar sobre a matéria logo após de nos despedirmos.

Kirishima-kun nos acompanhou e após deixarmos Hanabi em casa, ele me acompanhou até a minha. Quando chegamos na entrada do quintal, ele olhou para minha casa com admiração.

— Sua casa é bonita. – disse ele.

— Obrigada. A sua também. – sorri.

Ele sorriu.

— Ame-chan...

“Ame-chan?”, pensei, corando.

— H-Hum. – gaguejei.

— Você quer... Hum...

Kirishima-kun corou e gaguejou bastante, parecendo não mais falar o que pretendia antes.

— Você acha que o pessoal vai querer sair... Comigo durante o verão?

Sorri, ficando feliz.

— Claro que sim! – me aproximei e peguei em sua mão sem perceber – Podemos ir ao parque, ao cinema, ao shopping e também no festival de verão!

Quando terminei de falar, percebi que havia pegado em sua mão e a soltei, corando. Kirishima-kun também estava corado e pôs a mão em sua nuca, desviando o olhar e depois tampando a boca com as costas da mão.

— Vai ser legal. – disse ele, sem jeito.

— Hum. – sorri – Até mais. – me virei, andando para casa.

— Hum.

Parei de repente e me voltei para Kirishima-kun, que começara a andar.

— Kirishima-kun. – chamei-o.

Ele parou e me olhou.

— Né... – corei ao sorrir – Estou feliz que sejamos amigos.

Ele semicerrou os olhos, parecendo surpreso, porém sorriu e disse:

— Obrigado, Ame.

Sorri, pondo uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e corri para dentro de casa. Ao entrar, vi minha mãe cozinhando o jantar e meu pai pondo os pratos na mesa. Ficamos tanto tempo estudando, que perdemos um pouco a hora para voltar.

— Ame. – meu pai sorriu – Como foi?

— Ótimo. Hayato ficou com vergonha de Mai, mas acho que deu certo, porque ela deu bastante atenção à explicação dele e quando foram embora, ela começou a conversa.

— E Kirishima-kun? – perguntou minha mãe.

Sorri.

— Ele estava interessado na matéria e fazia várias perguntas. Ainda não terminamos todos os exercícios, mas vamos nos reunir de novo em dois dias. E Kirishima-kun quer sair conosco durante o verão. Não é ótimo? Está dando certo!

— Isso é mesmo ótimo. – mamãe sorriu, entreolhando papai – Então vocês vão ficar bastante tempo juntos, não é?

Meu pai sorriu para minha mãe novamente, tomando seu lugar em frente ao fogão.

— Sim. Todos nós. – sorri e pensei – Por quê?

— Por nada. Nunca a vimos tão feliz assim por um menino. Principalmente um menino que te fez chorar.

— É... – desviei o olhar – Ele já pediu desculpas por isso. E não é nada demais, Okaasan. Somos amigos.

— Claro.

Mamãe terminou de arrumar a mesa que meu pai estava arrumando antes e eu fui para o quarto me trocar. Não compreendi naquele momento por que meus pais sorriram um para o outro enquanto eu falava de Kirishima-kun para eles. Eu estava feliz por ele estar melhorando, era apenas isso. Certo?

Kirishima-kun era apenas meu amigo, assim como Hayato, Hanabi e Mai eram meus amigos. E com certeza esse verão seria ótimo!


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