Meu amado é um lobisomem escrita por Lailla


Capítulo 12
Capítulo 12: Caça ao lobo


Notas iniciais do capítulo

Pai pode ser qualquer um desses:
1. otousama お父様
2. tousama 父様
3. otousan お父さん
4. tousan 父さん
5. otouchan お父ちゃん
6. touchan 父ちゃん

E mãe qualquer um desses:
1. okaasama お母様
2. kaasama 母さま
3. okaasan お母さん
4. kaasan 母さん
5. okaachan お母ちゃん
6. kaachan 母ちゃん

Um jeito casual de ser falar "mãe" e "pai" em Japonês seria haha 母 e chichi 父 (se lê titi, e não xixi). Porém, dessas palavras vem hahaue 母上 e chichiue 父上 que são a mesma coisa, embora sejam uma forma que carrega mais respeito e menos casualidade que as anteriores.
O pai e a mãe de alguém também pode ser tousan 父さん e kaasan 母さん em Japonês, e assim como neesan 姉ちゃん e 兄ちゃん nissan, essas palavras podem ser combinadas com os honoríficos san, chan e sama e o prefixo o 御, que significa "honrado", para ter tons diferentes de respeito, formalidade e intimidade.



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Yuzo e eu tínhamos uma vida quase normal.

Haru havia feito seis anos em abril logo ao começar mais um ano letivo e Shouya logo faria oito anos em setembro. As crianças estavam indo bem na escola. Haru tirava notas excelentes, sempre se dedicava aos estudos. E Shouya era muito inteligente, o que o fazia pensar que não precisava estudar. E isso apenas piorou quando ele descobriu que Yuzo largou o colégio aos doze anos.

Shouya achava que poderia ficar como lobo permanentemente e viver na floresta. Se essa fosse sua escolha, aceitaríamos. Porém desejava que ele terminasse seus estudos. Quem sabe um dia ele mudasse de ideia e quisesse uma profissão? Isso era importante.

E naquele almoço estávamos discutindo isso mais uma vez. Eu estava terminando de cozinhar o almoço com a ajuda de Yuzo enquanto as crianças também ajudavam, colocando as tigelas e copos sobre a mesa. O prato do dia era o preferido de Yuzo: Sukiyaki. Isso me fazia reviver várias memórias de quando nos conhecemos.

— Mas Chichiue deixou a escola com doze anos. Daqui a quatro anos então eu também posso largar. – dizia Shouya, pondo a última tigela na mesa e sentando na cadeira.

— Você vai terminar seus estudos, Sho-chan. – cantarolei de costas para ele, não queria discutir.

— Pára de me chamar assim, Okaasan.

Sorri. Haru sentou na cadeira ao terminar de pôr os copos na mesa, olhando para o irmão.

— Eu vou ser médica. Ou professora. – disse ela, sorrindo – Ou os dois! Eu posso ser os dois, não é, Kaachan?

— Pode sim, Haru. – sorri.

Shouya cruzou os braços. Yuzo sorriu e sentou ao seu lado.

— Eu fiz aquilo porque tive medo. – disse ele – Foi uma escolha que me arrependi um pouco, pois fiquei anos sem falar com seu avô.

— Mas você conheceu Okaasan assim.

— Então quer fazer isso para conhecer alguém? – perguntei intencionada, pondo a panela em cima da mesa.

— Não. – ele resmungou, virando a cabeça – Não quero ficar com ninguém.

— Tudo bem. – sorri.

Colocamos a comida nas tigelas e almoçamos. Shouya teve a ideia de virar lobo e comer a comida na tigela como se fosse uma tigela de cachorro. Ele bagunçou tudo e sujou suas roupas. Ele era uma criança difícil às vezes.

As crianças foram brincar do lado de fora depois do almoço enquanto Yuzo e eu lavávamos a louça, guardando-a em seguida. Uma hora depois eu estava cuidando da horta enquanto Yuzo e Shouya brincavam com uma bola e Haru lia um livro, sentada nos degraus da entrada. Desenterrei a base de uma alface da terra e a limpei, pondo-a junto com as outras dentro da cesta ao meu lado.

Avistei ao longe, na estrada, um homem de colete, mochila e um rifle pendurado em seu ombro pela alça. Arregalei os olhos e olhei para Yuzo, que viu o homem caminhando com a arma. Ele deveria ser um pouco mais velho que Yuzo e eu. Levantei, pegando a cesta e fui até Haru, pondo-a ao seu lado.

— Boa tarde. – disse o homem com um sorriso convidativo.

— Boa tarde. – disse Yuzo, desconfiado.

Shouya me olhou e com minha expressão ele entendeu que era para se aproximar da entrada. Ao fazê-lo, me virei para a cesta, ficando de costas para o homem, porém olhando para os dois.

— Haru, Shouya. Vão para o quarto e fiquem lá até falarmos para saírem.

Os dois assentiram e entraram em casa. Me aproximei de Yuzo, ficando ao seu lado.

— Boa tarde. O senhor não é daqui, não? – perguntei.

— Na verdade não. Eu viajo pelo Japão em busca de boas caças. Estou hospedado na cidade há alguns dias e me disseram que a família Yoshiro vende os melhores legumes e verduras.

— Ah, sim. – sorri, porém ainda desconfiada – Vendemos. O que o senhor deseja?

— Alguns tomates, alface, nabos. Por favor.

Assenti e entrei, olhando rapidamente para Yuzo. Enquanto eu estava buscando o que o homem queria, Yuzo averiguara qual era sua intenção em relação à caça.

— O senhor caça que animais? – perguntou.

— Cervos, raposas, até mesmo coelhos. Mas estou à procura de um lobo.

— Um lobo? – disse Yuzo, fingindo surpresa.

— Ouvi dizer na cidade que uma pessoa viu um lobo negro na floresta.

— Jura?

Yuzo engoliu em seco. Ele sempre fora bem cuidadoso, porém um dia um senhor o viu ao longe da trilha. Ele pensara que não, porém agora sabia que ele havia se enganado.

— Eu praticamente vivo na floresta e nunca o vi. Não acha que pode ser um engano?

— Mesmo sendo, vou tentar. Pelo menos acho que vou conseguir alguns animais pequenos.

— Não é permitido caçar nessa floresta. Ela é protegida.

— Ah, eu sei. – sorriu ele – Mas peço então que não conte a ninguém.

— Entendo...

Voltei com as sacolas e entreguei-as ao homem, recebendo o pagamento pedido.

— Obrigado. – disse ele.

— Não aceitamos caçadores aqui. – disse Yuzo com as sobrancelhas franzidas – E as pessoas da cidade também não.

Olhei-o sem entender. De fato as pessoas da cidade não aceitavam caçadores, porém isso não importava para a maioria que caçava mesmo assim. Há anos não víamos um caçador pelas redondezas. O último que soube estar em Okayama fora o homem que atirou uma flecha nas costas de Yuzo. Isso fazia mais de sete anos.

— Então o senhor ainda vai ficar pela cidade? – perguntei.

— Sim. – ele sorriu, desviando o olhar de Yuzo – Espero achar o lobo.

— Lobo? – sorri de forma nervosa – Mas não há lobos aqui. Tivemos um cachorro e ele uivava muito. Nossa antiga vizinha também confundiu uma vez.

— Possivelmente, mas espero então encontrar algumas raposas. Elas valem algo.

— Já disse que não aceitamos caçadores. – Yuzo se irritou – Não respeita a vida dos animais?

Yuzo protegia os animais da floresta e a própria floresta. Se alguém os ameaçasse, ele estaria lá para protegê-los como o faria por nossos filhos.

— O que meu marido quer dizer é que a floresta é importante para a cidade. Pessoas caminham pela trilha e observam a natureza. A própria cidade protege a floresta com a ajuda do governo. Isso é contra lei, senhor.

O homem pareceu ter ficado irritado.

— É assim que eu vivo, Yoshiro-san. Sinceramente, não me importo com o que os habitantes daqui pensam. Obrigada por tudo. Adeus.

Segurei a mão de Yuzo, que parecia querer pular na garganta do homem. O caçador foi em direção a floresta e eu levei Yuzo para dentro. Quando entramos as crianças saíram do quarto.

— Kaachan, o que houve? – perguntou Haru.

— Quem era aquele homem? – perguntou Shouya.

Antes mesmo de respondermos às perguntas, senhor Kenjiro bateu na porta, avisando de sua chegada.

— Boa tarde. – cantarolou.

— Vovô! – Haru correu até ele, que a pegou no colo.

— Olá, lobinhos.

Ele percebeu nossas expressões e o rosto furioso de Yuzo, sentado à mesa.

— O que houve?

Todos nos sentamos à mesa e Yuzo contou o que o homem disse. Seu pai ficou nervoso tanto quantos as crianças.

— Ele está caçando um lobo. – falei – Então até esse homem ir embora, é melhor todos nós pararmos de ir à floresta.

Shouya assentiu.

— Eu vou expulsá-lo. – disse Yuzo.

— O que? – exclamei.

— Eu protejo esse lugar, ele tem que ir embora.

— Não. Você vai ficar em casa. Não pode ir atrás dele! O que vai fazer?

— Assustá-lo.

— Yuzo, não pode fazer isso. – disse seu pai – Pense nas crianças.

Olhei para Shouya e Haru, que pareciam apreensivos.

— Vão para o quarto, queridos. – disse, docemente.

Eles o fizeram mesmo sem querer e continuamos. Yuzo estava disposto a ir atrás daquele homem, porém no final da conversa o convencemos com dificuldade a ficar em casa, pois tínhamos a esperança de que o homem fosse embora em breve ao descobrir que não acharia nenhum lobo.

À noite, conversamos com as crianças para que tivessem mais cuidado e não se transformassem nem dentro de casa. Shouya odiou o fato de que não pudesse mais ir à floresta por tempo indeterminado. Haru ficou com medo pelo fato de que Yuzo dissera que iria proteger a floresta, mas eu a tranquilizei dizendo que tudo ficaria bem.

Me deitei na cama em nosso quarto para dormir, porém olhei para Yuzo, que estava sentado no tatame ao lado da janela olhando para o céu escuro e a lua. Sua expressão mostrava seriedade e raiva. Me sentei e fui até ele, engatinhando e sentando ao seu lado. Beijei seu ombro nu, percorrendo até seu pescoço e chegando a sua bochecha. Yuzo me olhou, desfazendo a rígida expressão e me beijando, passando em seguida para meu pescoço e deitando-me no tatame.

— Prometa pra mim. – pedi.

— O que? – ele parou, olhando-me.

— Por favor, por favor... Não vá atrás dele.

— Vocês já me convenceram.

— E eu sei que não vai aceitar isso. Se ele descobrir que é você, pode fazer algo pior.

— Lembra o que eu disse há sete anos?

Meus olhos se encheram de lágrimas.

— Eu sempre vou voltar pra você, Tsuki.

Abracei-o, chorando. Tive medo. Yuzo me pegou no colo e me levou para a cama, nos cobrindo e voltando a me beijar, levantando lentamente minha blusa e tocando minha pele.

As semanas seguintes me deixaram apreensiva. Tive medo de que Yuzo saísse de casa e fosse para a floresta quando não estivéssemos prestando atenção nele, então seu pai e eu ficávamos sempre ao seu lado. Principalmente o pai de Yuzo, que ia para nossa casa quando eu precisava ir para a cidade. Achávamos que ele não estivesse percebendo nossa intenção, porém eu sabia que estava. Yuzo não era estúpido. Ele gostava de liberdade e era o que estávamos negando a ele.

Não sabia se o caçador se fora de Okayama, mas decidi descobrir quando fui à cidade para vender verduras e os legumes. Quando terminei, fui à casa de Sana. Eu havia levado as crianças, pois Yuzo estava na casa de senhor Kenjiro.

O quarto de Hajime era grande e as crianças brincavam no chão. Haru e Hajime tinham a mesma idade, porém como Shouya não queria brincar, ele ficava olhando a paisagem da cidade pela janela. Sana e eu estávamos sentadas no sofá, conversando sobre o caçador.

— Não sei nada sobre ele. – disse Sana – Pensei que já havia ido embora.

— Ele me assusta. – não menti – Yuzo também não gosta dele.

— Em breve ele vai embora. Alguém vai denunciá-lo. Como a floresta é protegida, apenas as pessoas da cidade podem frequentá-la. Pessoas de fora também, mas quem queira apenas observar a natureza, e não caçar nela. – ela sorriu – Por isso tem a trilha.

— Sim... – pensei – Não confio nele. Pessoas andam pela floresta. E se ele atirar em alguém pensando ser um animal. Ele está atrás de um lobo.

— Lobo? Pensei que fossem boatos.

— E são, mas ele acredita que vai achá-lo. E se não, que vai caçar as raposas.

— Isso é crime, essa floresta é protegida. Vou avisar à Haku para falar com o prefeito. É um absurdo. Temos que impedir esses caçadores. É um desrespeito.

Assenti, aliviada.

Quando as crianças e eu voltamos para casa, estava anoitecendo. Entramos em casa, todas as luzes estava, apagadas. Pensei que Yuzo já estaria em casa, porém não havia ninguém. As crianças bebiam água na cozinha e eu peguei o telefone no canto do cômodo principal, ligando para o pai de Yuzo.

— Senhor Kenjiro? Yuzo está aí?... Não? Mas... Sim, era para ele ter vindo para casa. – pus minha mão na boca – Ele disse que vinha então. Ele deve ter ido para cidade e nos desencontramos. Hum... Obrigada e não preocupe, ele vai logo chegar.

Não quis preocupar senhor Kenjiro. Pus o telefone na base e fui até a cozinha.

— Shouya, venha comigo.

Ele o fez sem entender e fomos para frente de casa.

— O que houve, Okaasan?

— Consegue farejar seu pai?

— Ahm... Okaasan?

— Por favor. – ajoelhei a sua frente, pegando em seus ombros – Faça-o pra mim.

Ele assentiu, hesitante e seu nariz virou um focinho de lobo. Shouya fechou os olhos e respirou o ar profundamente. Caminhou até a estrada de terra e parou em direção à floresta. Quando se voltou para mim seu rosto havia voltado ao normal e Shouya apontou o caminho.

— Ele foi para lá.

Andei até ele e peguei em seus ombros, olhando em seus olhos.

— Vá para dentro e fique dentro de seu quarto com Haru. Se eu não voltar até amanhã de manhã, corram para a casa de seu avô.

Shouya assentiu, nervoso. Ele foi para casa e eu corri em direção à floresta. Quando Shouya entrou correndo e fechando a porta, Haru olhou para ele sem entender.

— Onde está Kaachan? – perguntou.

— Chichiue foi para a floresta.

— Eh? – Haru começou a chorar – Por quê?

— Vá para o quarto, eu já vou.

Ela assentiu com medo e o fez. Shouya pegou o telefone e fez uma ligação.

— Alô? Polícia? Tem um caçador na floresta e minha mãe ainda não voltou. Estou com medo... Hum. Vão logo, por favor.

Eu entrei na floresta desesperada. Yuzo foi atrás do caçador, eu tinha certeza. Corri pela trilha, mas sabia que eles não estariam nela. Então entrei na floresta. Passei por várias árvores sem imaginar sequer onde ele estava. Já havia anoitecido, estava escuro demais. Parei ao lado de uma grande árvore, recuperando o fôlego quando ouvi o som de um tiro.

— Yuzo... - arregalei os olhos, um frio passou pelo meu corpo.

Corri em direção ao barulho do tiro e vi ao longe o caçador, pegando um animal pequeno no chão. Parei, sentindo o alívio preencher meu corpo. Porém olhei para próximo dali e vi Yuzo tirando sua calça, virando um grande lobo negro e se aproximando cautelosamente do caçador.

— Yuzo. – meus olhos se encheram de lágrimas.

Foi rápido. Yuzo se aproximou e rosnou, o que fez o homem se voltar para ele. Pensei que ele iria recuar e correr. Yuzo me contou que todos faziam isso. Mas o caçador apontou o rifle para ele. Yuzo não recuou, na verdade o atacou, mordendo seu rifle.

Corri na direção deles. O homem havia caído com o ataque, mas enquanto tentava se defender e tirar o rifle da boca do lobo, de alguma forma ele atirou em Yuzo. Arregalei os olhos, meu coração congelou. Paralisei, vendo Yuzo deitado na grama, ganindo. Corri em sua direção. O caçador pôs rapidamente mais munição e mirou em direção à Yuzo. Ele não fez nada, apenas olhava para o homem.

No momento em que ele ia atirar, pulei em suas costas, batendo em sua cabeça.

— Deixei-o em paz!

— O que? Me larga! – ele gritou.

Yuzo rosnou em sua direção. O homem me jogou no chão, vendo quem eu era.

— Yoshiro-san? O que...?

— Deixe-o em paz! – gritei, me sentando.

Ele riu sem entender.

— É apenas um lobo!

— Monstro! – gritei.

Enquanto o caçador olhava para mim, Yuzo pulou sobre ele repentinamente, mordendo seu braço, porém sem machucá-lo. O homem gritou e um tiro foi disparado. Ele conseguiu tirar Yuzo de cima dele, vendo-o mais uma vez caído no chão. Ouvi pessoas vindo em nossa direção e lanternas iluminando as árvores ao longe.

O caçador olhou para eles, vendo que era a polícia e abaixou lentamente seu rifle até o chão, na grama. Yuzo voltou a ser homem. Ele me olhou e eu corri para onde o vi tirando suas roupas. Era há apenas dois metros dali. Peguei suas roupas e voltei, ajudando-o a vestir sua calça. Quando o caçador se voltou para nós e viu Yuzo com um tiro no ombro e sangrando, ele arregalou os olhos e recuou.

— O que...?

Ele se desesperou. Fiquei ajoelhada ao lado de Yuzo, tentando conter o sangramento. Três policiais chegaram. Um dele era um antigo colega de escola e falou em seu radio ao lado do pescoço avisando que haviam nos encontrado. Me perguntei de onde vieram.

— Eu não fiz nada! – exclamou o caçador – Atirei num lobo! Não era esse homem!

— Vocês estão bem, Yoshiro-san? – o policial perguntou enquanto outro algemava o homem, dizendo seus direitos.

— Sim. Estávamos caminhando na floresta. De repente Yuzo caiu e eu vi que haviam atirado nele. – menti, porém o choro era real.

Os policiais ajudaram Yuzo e nós saímos da floresta. Enquanto eu ia para o hospital numa ambulância com Yuzo, liguei para senhor Kenjiro e pedi que ele levasse as crianças para o hospital para nos encontrar.

Yuzo levou alguns pontos, o tiro atravessou seu ombro. Não atingiu nenhum órgão vital e o alívio que senti me preencheu completamente. Quando as crianças chegaram com o pai de Yuzo, estávamos no quarto do hospital. Yuzo sorriu ao vê-las e elas correram, subindo na cama e dando um forte abraço nele. Yuzo torceu a expressão ao sentir um pouco de dor, mas acolheu o carinho de ambos. Shouya estava nervoso e Haru chorava.

Eu estava escorada na janela, olhando-os. Senhor Kenjiro o repreendeu por ter mentido para ele, porém Yuzo apenas parecia contente. Quando me olhou, as lágrimas escorriam pelo meu rosto. Eu não estava com ele quando levou os pontos. Os policiais me pediram para dizer o que havia acontecido. Falei apenas que foi um acidente, como havia dito na floresta. Não foi culpa do caçador, ele não sabia que Yuzo era o lobo. Mas ele era culpado de ter ido até a floresta mesmo sabendo que era proibido. Algum tempo depois, soube que ele foi preso por alguns anos por isso. Crime contra a natureza era considerado grave e com o que aconteceu com Yuzo, todos estariam atentos em relação aos caçadores.

— Vocês podem me deixar a sós com sua mãe?

Eles assentiram e saíram do quarto com o avô falando que iria comprar um doce para eles numa das máquinas do corredor. Yuzo me chamou e caminhei até a cama, subindo nela e deitando em seu peito ao passo que toquei a atadura do outro lado, em seu ombro esquerdo.

— Você... É tão idiota. – falei – Podia ter morrido, seu idiota.

— Não morri. – ele tocou gentilmente minhas costas.

— É um mentiroso. Mentiu pro seu pai.

— Hum. – ele confessou – Mas consegui afinal.

— Você não sabia o que ia acontecer! – exclamei, chorando – Você não ia voltar pra mim...

— Mas voltei. – ele pôs a mão em minha cabeça – Amo você, Tsuki. Mas você sabe que eu não posso escolher entre você e a floresta.

— E os seus filhos?

— Eu os amo muito.

— Então pare com isso. Primeiro a flecha e agora um tiro.

Ele sorriu.

— Tudo bem.

— Prometa.

— Eu prometo.

Deitei o rosto em seu peito.

Yuzo nunca mais fez isso novamente. Não por me prometer, eu sei que ele quebraria a promessa, mas pela polícia ter ficado mais atenta quanto a caçadores que entravam na cidade. Mais nenhum caçador visitou a cidade e isso se espalhou, fazendo com que nenhum homem aventureiro tentasse caçar na floresta. E isso finalmente a deixou segura.

Shouya fez oito anos em setembro. Fizemos uma pequena festa em casa com nossa família e amigos. Ele parecia feliz por seu pai estar presente. Vivo e presente, na verdade. As coisas ficaram bagunçadas por causa da escola e os festivais na cidade. Com tudo que aconteceu e o que estava acontecendo, esqueci de me cuidar... E esperava por nosso terceiro filho.


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