Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 11
Capítulo Dez - Revolta Londrina


Notas iniciais do capítulo

Estou viajando e postando isso no meu celular (por isso, se tiver alguma coisa não formatada por favor me perdoem!!!!) porque eu não tenho paciência pra esperar voltar pra São Paulo!



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Sirius encontrou Lily na biblioteca.

Era quase estranho vê-la ali, o nariz enfiado no livro em sua frente, olheiras embaixo de seus olhos e a varinha na parte de trás de sua cabeça, prendendo as mechas acaju em um coque mal feito, porque eles nunca haviam combinado exatamente de que iriam estudar juntos naquela tarde. Sua irmã simplesmente o havia encontrado depois do café da manhã e seus dedos se fecharam ao redor de seu cotovelo, sendo baixa demais para tocar em seu ombro.

— Vejo você hoje à tarde — ela havia dito, apertando seu braço levemente e depois indo embora. Ele não conseguiu dizer nada por alguns minutos, o pensamento saltitando dentro de sua cabeça, antes de precisar ir para a aula de Aritmancia. James havia lhe perguntado o que ela queria dizer com aquilo, curioso por ter presenciado todo o encontro, mas não era como se Sirius sabia o que responder.

Quando a tarde chegou, ele não tinha certeza de onde ir até vagar para perto da biblioteca e se sentir, de certa maneira, atraído pelo lugar. As portas de madeira se abriram com um simples toque e o cheiro de livros velhos e tinta para penas invadiu suas narinas, preenchendo os vazios de seu ser. Não havia muitos alunos ruivos em Hogwarts – o último Weasley tendo se formado há mais de dez anos – então não havia sido difícil encontrar sua irmã gêmea.

Lily não percebeu sua aproximação, tão concentrada em seus estudos qu estava, até que ele puxou a cadeira ao seu lado e se sentou. Seus olhos verdes, grandes e redondos se ergueram ao vê-lo, um brilho os cobrindo.

— Onde estão suas coisas? — perguntou, empurrando um dos livros abertos para lhe dar espaço na mesa. Sirius percebeu, com o canto do olho, que ela estava estudando História da Magia. — Você não vai revisar a matéria?

— Eu não preciso estudar. — ele tocou em sua têmpora com a ponta dos dedos. — Está tudo aqui.

Lily riu, descrente e voltou seu olhar para o pedaço de pergaminho. Sirius já havia entregado a sua redação sobre a tomada de poder do partido de Lorde Voldemort e havia enrolado tanto em seu pergaminho que nem esperava uma nota muito maior do que a média. Sua irmã, no entanto, parecia estar escrevendo mais do que o necessário.

— Tudo bem, então — disse, molhando a ponta de sua pena na tinta. Sirius notou que havia um pomo de ouro desenhado no canto de sua mão e ele sorriu de lado. Só havia uma pessoa em Hogwarts obcecada o suficiente com Quadribol para desenhar aquilo. — Se você sabe tanto, pode me ajudar nessa redação.

Ele leu algumas palavras sobre o ombro dela, tentando entender sua letra na sombra que sua cabeça fazia.

— Por quê? — questionou. — Você parece estar indo muito bem.

— Sim, mas os professores esperam mais de mim do que de você, Sirius — murmurou de maneira ácida, pressionando a pena no pergaminho para formar um ponto final. — Eu não posso ir bem, eu preciso ir excelente. — dois segundos se passaram antes de ela se virar para ele e suspirar, os fios vermelhos de seu cabelo caindo em seu rosto. Lily parecia exausta e seus ombros estavam tensos. — Me perdoe. Eu não quis dizer isso. Não dormi muito bem essa noite.

— Está tudo bem — disse. — Eu te ajudo. O que você precisa que eu faça?

— Você pode pegar a carta do tio Alphard na minha mala? — pediu. — Ele respondeu algumas das minhas perguntas.

Sirius assentiu e enfiou a mão na mochila de sua irmã, sem olhar exatamente para o que estava fazendo. Ele se arrependeu imensamente, no entanto, quando dentes pequenos e afiados se fecharam em sua mão e seus dedos roçaram em uma camada de pelos macios e densos. Sirius afastou sua mão e olhou melhor para dentro da mochila, vendo dois olhos amarelos e brilhantes o encarando de volta.

— O que ele está fazendo aqui? — sussurrou, ríspido. O rosto de Lily se empalideceu e ela olhou ao redor, temendo que alguém os ouviria. — Animais não são permitidos dentro da biblioteca.

— Ele está doente! — disse sua irmã, acariciando a cabeça de seu gato. Schuller fechou seus olhos em apreço e parecia prestes a ronronar, se não fosse o feitiço de silêncio que Lily certamente havia colocado nele. — Vomitou no dormitório inteiro.

— E você simplesmente achou que a melhor ideia era trazê-lo para cá? — Sirius não conseguiu manter o descaso longe de sua voz.

— Madame Pomfrey não aceitou tratá-lo quando eu o levei na enfermaria, disse que seu treinamento só servia para humanos.

— Por que você não usa seu livro de poções avançadas para criar algo que o cure?

Vergonha brilhou nos olhos verdes de Lily e ela mordeu seu lábio.

— Eu perdi meu livro de poções — admitiu em um fio de voz. — Passei a manhã inteira procurando.

Sirius suspirou e fechou seus olhos, se acalmando instantaneamente. Não era da natureza de Lily perder suas coisas ou sequer admitir que havia algo errado, ele conseguia ver o quanto doía nela dizer aquelas poucas palavras para ele.

— Por que você não comprou um outro? — questionou, se esquecendo completamente do gato. — Tenho certeza que você se lembraria das suas anotações ou poderia fazer novas.

— Mamãe e papai não me dariam o dinheiro para comprar algo fútil como isso — murmurou Lily sem esconder o ressentimento em sua voz. — Na melhor das hipóteses, me deixariam sem o livro como punição para a minha falta de responsabilidade.

Sirius não poderia dizer que aquilo o surpreendia. Soava bastante como algo que Walburga e Orion Black fariam, considerando o fato de que, em muitas ocasiões no passado, eles já o tenham feito. Seus pais gostavam de exibir sua fortuna para os outros, mas eram poupadores compulsórios na vida privada.

— Como você vai conseguir estudar ou ver a aula agora?

Se ele tivesse passado nos N.O.M.s de poção, Sirius teria emprestado seu próprio livro para Lily, talvez para fazer uma cópia ou para usar nesse último ano; Merlin sabia que ele não se importava muito com as aulas, pelo menos não quando uma guerra era travada fora dessas paredes de pedra.

— O James está me emprestando o dele — explicou sua irmã, suas bochechas corando e um pequeno sorriso tomando seus lábios. — Nós sentamos juntos durante a aula.

Sirius ergueu uma sobrancelha. Isso era novidade. Ele nunca havia visto sua irmã dessa maneira, incapaz de esconder suas próprias emoções. Caso tivesse passado mais tempo perto dela nos últimos anos, ele iria ser capaz de entender o que estava passando dentro de sua cabeça

— James, é? — repetiu.

— Sim — disse Lily, sem se afetar pelo tom de sua voz. — Ele não é tão ruim, afinal.

Algo na folha de jornal em sua frente deve ter chamado sua atenção pois ela se curvou, apertando seus olhos e mordendo o interior da bochecha. Suas íris se moveram rapidamente, lendo o que estava no papel com concentração e foco até que seu rosto se afastou e ela torceu seus lábios.

— Isso é verdade? — perguntou, apontando para um parágrafo no Profeta Diário. Sirius torceu seu pescoço, tentando ler melhor.

Representantes bruxos no Gueto de Londres reportaram a morte de quatro aurores após revoltas motivadas pela inanição crescente. O Ministro da Magia declarou que dementadores estão à caminho da parte trouxa da capital inglesa e que os líderes do motim serão julgados por traição e perturbação da paz. O Juiz Orion Black foi escolhido para a tarefa.

— A morte dos aurores? — murmurou Sirius, sabendo muito bem que ela não estava falando de Orion. Ambos haviam recebido uma carta de sua mãe se gabando do novo caso de seu pai. — Acho que sim. Não faz sentido eles mentiram sobre isso.

— Não. — Lily fechou seus olhos, parecia se arrepender de suas próximas palavras. — O motivo da revolta. — ela fez uma pausa. Se era para dramaticidade ou para colocar seus pensamentos em ordem, ele não saberia dizer. — Eles estavam com fome?

— Eu não diria com fome — continuou ele. — Famintos, na verdade.

— Mas eles recebem comida — disse Lily, como se estivesse tentando se convencer disso. — Toda semana.

Sirius percebeu, então, a desolação estampada no rosto de sua irmã. Ele nunca havia visto sua expressão daquele jeito, tão desesperançosa e triste. Era como se seu coração havia se partido sem que ela percebesse.

— Eles recebem nossos restos — murmurou Sirius. — Alimentos estragados. — ele piscou, se perguntando se valia realmente a plena continuar falando. — O Ministério não os considera dignos o suficiente para receberem coisas melhores.

— Por que ninguém nunca nos contou isso?

— É tipo de coisa que as pessoas não comentam — explicou ele. — Coisas que todos sabem.

— Bom, claramente nem todos sabem — retrucou Lily, ácida.

Sirius não se permitiu ficar chateado com suas palavras. Isso era a sua chance, sua chance de mudar os ideais de sua irmã e trazê-la para o seu lado. Ela era poderosa e ele a amava, precisava dela na Ordem.

— Por que você está assim? — perguntou. — Pensei que trouxas fossem criaturas patéticas que merecessem tudo que recebiam.

— Não morrer por inanição — disse. — Ninguém merece morrer de fome.

Ela lambeu seus lábios e respirou fundo. Não estava chorando, Merlin sabia quando havia sido a última vez que Lily chorou, mas não parecia exatamente bem. Seus olhos estavam desfocados e suas mãos tremiam. Sua mente parecia estar longe, pensando em outra coisa fora dessa biblioteca.

— Você está bem? — questionou Sirius.

Isso pareceu quebrar o transe em que ela estava e ela piscou, se virando para ele. Quando cresciam, as pessoas costumavam comentar que ele e Lily eram tão diferentes quanto duas pessoas desconhecidas. O cabelo, os olhos e tantas outras coisas que pareciam defini-los. Mas agora, observando o rosto da Sonserina tão próximo do seu, ele conseguia ver que eles tinham o mesmo nariz, as maçãs do rosto altas iguais e seus olhos tinham o mesmo formato, apesar da cor diferente. Eles eram irmãos, dividiam o mesmo sangue, o mesmo nome.

— Não sei — respondeu Lily.

***

O vento batia no rosto de Sirius enquanto ele balançava suas pernas – sentindo o pânico instintual quando a sola de seu pés não tocava em nada – e seus dedos se fechavam ao redor de seu isqueiro trouxa. A Torre de Astronomia estava quieta, vazia depois do fim das aulas e ele poderia fumar em paz; apenas ele e seus pensamentos.

Ainda sentia o calor da raiva percorrer seu corpo, a memória da briga pulando dentro de sua mente. Talvez fosse por isso que ele havia fugido para cá, para que seu medo de altura fosse superficial o suficiente para que sua culpa não surgisse. Até agora, ele não havia tido sucesso.

— Sabe, — começou uma voz familiar atrás dele. Sirius se virou e viu James andando em sua direção. — você vai ter que pedir desculpas para o Peter eventualmente.

Ele se sentou ao seu lado, cruzando suas pernas. Estava sério enquanto estendia a mão, pedindo silenciosamente pelo isqueiro de Sirius e puxava um de seus cigarros de cravo do bolso de sua camisa. Era assim com eles: fumavam e conversavam, deixando que o estado de euforia filtrasse suas palavras.

Quando não respondeu, James suspirou.

— Eu sempre fico do seu lado e você sabe disso — disse, colocando o cigarro aceso entre os lábios. — Mas Peter está certo dessa vez.

— Isso é uma novidade — murmurou Sirius. — Talvez devêssemos dar uma festa. Eu posso comprar a faixa com os dizeres “Parabéns por estar certo, Wormy”... — ele parou de falar com o olhar frio de seu melhor amigo.

— Peter tem o direito de ficar com raiva — disse, uma névoa sombria tomando o seu rosto. — Mas você não tinha o direito de dizer aquelas coisas para ele. Você perdeu o mapa, Sirius.

— Eu não perdi! — argumentou de maneira infantil.

— Você foi o último a estar com ele.

Sirius sentiu uma vontade intensa de retrucar, de dizer qualquer coisa maldosa direcionada à Peter que viesse em sua mente, mas sabia que não iria adiantar nada. Tudo o que suas palavras fariam seria irritar James e ele nunca se perdoaria se irritasse seu melhor amigo o suficiente para iniciar uma briga. James era o motivo para ele ainda não ter enlouquecido, era ele quem havia visto um menino rejeitado por sua família como alguém merecedor de sua amizade. Algumas vezes, Sirius suspeitava de que nunca seria amigo de Peter ou Remus se James não os tivesse encontrado e os escolhido e sabia que estava certo. Ele devia tudo à James.

Seus ombros caíram e ele suspirou.

— Eu sei — disse em um fio de voz.

— Então, por que você disse aquilo? — perguntou. — Eu passei a última meia hora tentando te entender e não consegui. Não faz sentido tratar um amigo desse jeito.

— Eu-eu não sei — respondeu, gaguejando. — Estou ciente de que isso soa idiota, mas eu realmente não sei. Quando fico com raiva, eu digo as coisas sem pensar. É como se o meu filtro desaparecesse. — ele apagou seu cigarro. Não se sentia mais merecedor. — Não queria dizer aquilo para o Peter. Não de verdade.

James ficou quieto. O gosto de nicotina permaneceu na boca de Sirius e ele não tinha as forças pra continuar falando.

— Você criou um mecanismo de defesa depois de tudo que passou na casa de seus pais e eu entendo isso— disse James. — Mas nós não vamos te machucar, Sirius. Somos seus amigos. — ele fez uma pausa para respirar. — Seus irmãos.

Aquelas palavras o fizeram se sentir mais culpado do que já estava.

— Eu vou pedir desculpas para Peter depois do jantar — murmurou Sirius. — De verdade.

— Ótimo.

Um longo silêncio se instalou, salvo apenas pelo vento batendo em seus ouvidos e os pássaros piando nas árvores mais altas. Sirius mastigou seu lábio inferior e brincou com seus dedos.

— É estranho pensar que a escola está acabando — disse James, quebrando a quietude. — Esse é o nosso último ano aqui em Hogwarts. Nosso último ano antes de realmente nos tornamos adultos. Há essa hora ano que vem, estaremos batalhando aquele-que-não-deve-ser-nomeado.

— É assustador — Sirius comentou. — Claustrofóbico.

— Concordo. — James deu um último trago em seu cigarro e o apagou contra a pedra da Torre. — E se sobrevivermos, isso significa esposa e filhos.

Ele ficou quieto, como se soubesse que seu silêncio iria coagir a resposta de Sirius para fora dele.

— Eu não quero esposa — disse. — Ou filhos.

— Mesmo? — murmurou James, sem realmente aparentar surpresa. — Eu quero. Sete, no mínimo. Para ter um time de quadribol.

— Claro que você quer — riu Sirius. — Imagino que já escolheu seus nomes.

— Mas é claro! Que tipo de pai eu seria se não tivesse? — questionou. — O primeiro menino será Harry e o segundo, Charlus.

— E se você tiver apenas meninas?

— Harriet e Charlotte, ora. — eles riram. Sirius pensava que o tom cômico de James era particularmente engraçado. Quando pararam, no entanto, palavras não ditas pesaram entre eles. — Por que você não quer ter filhos?

— Não tenho certeza — respondeu Sirius e essa era a verdade. — Acho que é porque eu cresci ouvindo histórias de como meu filho homem mais velho se tornaria o novo chefe de nossa família, como eu iria me casar com uma moça respeitável e puro-sangue que meus pais iriam escolher para mim. Acho que não ter filhos seria um grande dedo do meio direcionado aos meus pais. — ele endireitou sua coluna e tentou não pensar em tudo que estava acontecendo ao seu redor. — Deixe que os filhos de Regulus herdam o nome e a fortuna.

Se ele encontrar alguma mulher disposta a se casar com ele.

— Eu não vou fingir entender o que é ser o herdeiro da família Black — disse James. — Eu tive sorte de meu tio não ser o agente leal que todos pensam que ele é. Mas se você não quer ser pai, então tudo bem. — ele pegou outro cigarro e o acendeu. — Remus também não quer ter filhos, por exemplo.

Sirius se sentiu extremamente melhor. A ideia de que ele e Remus compartilhavam algo, um desejo que Dorcas, tão religiosa em sua ideia de que seu Deus queria que ela se casasse e tivesse seus herdeiros, nunca entenderia inflamou seu coração.

— Um casamento seu com qualquer pessoa sem ascendência pura seria considerado inválido — comentou Sirius depois de alguns minutos. — E seus filhos não teriam direito à fortuna Potter.

— Estou ciente. — ele não parecia perceber aonde Sirius estava levando a conversa.

— O governo quer que você se case com uma puro-sangue britânica — disse, prendendo a respiração. — Como a Lily.

James franziu o cenho, sem esperar aquela continuação e se virou para Sirius.

— Como assim? — perguntou, erguendo uma sobrancelha grossa e negra. Seus óculos eram grande demais para seu rosto longo, o fazendo parecer uma coruja quando surpreso.

— Você desenhou na mão dela — murmurou. — E emprestou seu livro de poções. Você nunca empresta nada.

— Foi gentileza — disse James, tentando dar de ombros e parecer que estava relaxado, mas seus dedos estavam tremendo enquanto seguravam o cigarro. — Ela precisa de gentileza.

— Eu também sofri nas mãos de meu pai e não te vejo desenhando na minha pele.

O rosto de James empalideceu.

— Está com ciúmes, então? — brincou ele, dando uma risada nervosa. — Me dá sua mão que eu desenho! Me dá!

— Eu não sou estúpido, Prongs — continuou Sirius. — Você gostava dela no quinto ano.

— Não sei do que você está falando.

— Eu não sou estúpido — repetiu. — e nem cego. Eu via o jeito que você olhava para ela. Não pode mentir para mim.

— Você deve estar enganado.

— Toda vez que ela aparecia, você ficava todo bobo. Bagunçando o cabelo e tentando chamar a atenção dela.

— Suas memórias estão erradas.

— Por que você está insistindo nisso? — perguntou. — Qual o problema em eu estar certo?

— Porque ela é a sua irmã! — argumentou James. Por um momento, Sirius pôde ver o quanto dizer aquilo doía nele, mas o momento passou e James desviou o seu olhar, virando seu rosto para o horizonte. — Não se pode namorar ou gostar da irmã de seu melhor amigo, está bem?

Sirius fez uma careta.

— O que você está dizendo não faz nenhum sentido — disse.

James bufou.

— Claro que faz — respondeu. — Todos sabem que a irmã mais nova de seu melhor amigo deveria ser como uma irmã para você. Alguém para respeitar, para proteger.

— Lily não precisa que ninguém a proteja.

— Você pediu que eu a protegesse, idiota!

— Prongs, — disse Sirius depois de uma pausa. — está fugindo do assunto.

James suspirou e relaxou, curvando suas costas levemente enquanto apagava seu cigarro. Não parecia mais no clima para fumar ou qualquer coisa que pudesse lhe trazer prazer.

— Você entendeu o que eu quis dizer — murmurou. — Por um tempo, eu consegui esquecer o que sentia, porém se tornou impossível no meio do quinto ano. Tentei me convencer de que eu poderia chamar ela para sair, de que você não se importaria ou até mesmo que ficaria feliz porque afinal, de todos os alunos homens de Hogwarts, em quem mais você confiaria para tratar sua irmã bem, tratá-la direito? — ele fez uma pausa, mordendo seu lábio e brincando com seus dedos. — Depois de um tempo, eu percebi o quão idiota eu soava e desisti.

Sirius não esperava essa enchurrada de emoções e não sabia se ficava feliz ou triste com isso.

— A Marlene sabe que você gosta dela? — perguntou, nervoso com o que iria ouvir. Ele gostava de Marlene, a respeitava e a amava de seu próprio jeito.

— Sabe — respondeu James, sem olhar para ele. — Ela prometeu guardar segredo, mas isso foi um dos motivos para nosso término. O maior, eu diria.

— Pensei que fosse porque você não contava nada para ela — sussurrou Sirius.

— Também, apesar de não ser tão importante. — ele deu de ombros. — Quando você me perguntou o porquê, eu entrei em pânico e disse a primeira briga que veio em minha mente. De alguma maneira, convenci Marlene a me ajudar nisso.

— Ela é uma santa.

— Sim. — James sorriu, uma memória antiga passando por trás de seus olhos. — Peter tem sorte de tê-la.

Sirius ficou quieto. Não sabia mais o que dizer ou fazer. Sentia-se imponente nessa situação. Nunca havia imaginado que pudesse estar tendo essa conversa com James, especialmente naquele lugar onde estava para fugir de seus amigos.

Depois de um tempo, o silêncio se tornou ensurdecedor e ele disse:

— Você chamou?

— O quê? — James franziu o cenho.

— Você chamou minha irmã para sair?

— Não — respondeu, melancólico. — Nunca tive a chance.

— Ah, — suspirou Sirius. — Entendo.

— É. Uma trágica história para eu contar para meus filhos quando estiver mais velho.

Uma pausa surgiu entre eles, silenciosa e larga. James brincou com seus dedos, seus ombros caídos e Sirius balançou suas pernas. Sentia como se seus ouvidos estivessem cheios de algodão e de que deveria dizer alguma coisa, apesar de não saber exatamente o quê.

— Se você ainda gosta dela — começou, ignorando a expressão de James que tentava lhe dizer que estava enganado. — e está se segurando por algum senso de honra que lhe diz que eu vou ficar com raiva, saiba que eu não me importo. Tem até a minha bênção, se isso te faz se se sentir melhor, apesar de não fazer diferença nenhuma. — os olhos castanhos de seu melhor amigo se arregalaram atrás das lentes quadradas de seu óculos. — Tinha razão. Ela precisa de gentileza.

Ele esperava que James sorrisse. Ou gritasse. Ou gargalhasse. Ele não esperava que James retirasse seus óculos e os limpasse na barra de sua camisa de pano.

— Você é um idiota, Sirius — disse. — Um idiota completo.

Por fim, ele gargalhou.


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