Toujours Pur escrita por Pandizzy


Capítulo 12
Capítulo Onze - Pequeno Vestido Preto


Notas iniciais do capítulo

NOSSA! Coloquei meu sangue e suor nesse capítulo, serião!
Um obrigada especial à Lady Herondale que me motivou a continuar esse daqui, BEIJÃO LALA.
Aviso: Esse capítulo contém cenas de violência, violência à mulher e menções de misoginia. Se você não gosta disso, recomendo cautela.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732990/chapter/12

— Não lute. Sua mãe nunca lutou.

Lily acordou tremendo, ofegante e coberta por uma camada grudenta de suor. Fios e mechas de seu cabelo se desprenderam do rabo de cavalo que havia feito antes de dormir e agora estavam grudados às suas bochechas e ao seu pescoço. Seu coração parecia estar prestes a pular de seu peito e cair em suas palmas abertas, pulsando e jorrando sangue e a matando no processo. Suas pernas estavam paralisadas e os músculos tensos com a memória de uma mão fria agarrando seu tornozelo para tentar forçar a abertura de seus membros.

Ainda conseguia vê-lo, a imagem estava queimada no fundo de sua mente junto à inúmeras outras provenientes de outros pesadelos. Era algo recorrente desde que tinha doze anos, quando seu avô morreu e se lembrou da briga que seus pais tiveram duas semanas depois de seu décimo aniversário.

Aposto que pensou na nossa menina, considerando o jeito que você olha pra ela.

Ele estava em cima de Lily, prendendo seu corpo com seu peso e tentando ter seu jeito com ela. Orion Black tinha olhos completamente negros em seus sonhos e sua respiração era quente. Ele costumava sussurrar em seu ouvido, tentando falar coisas que achava que a deixariam pronta para a situação, mas que apenas a assustavam ainda mais.

Havia um motivo para ela trancar a porta de seu quarto toda vez que dorme na casa do Largo Grimmauld. Havia um motivo para tio Alphard e tia Lucretia nunca a deixarem sozinha com ele. Não importava quantas vezes sua mãe fechava seus olhos para sua realidade, ela ainda assombrava a casa, se arrastando sob os tapetes e se escondendo nas sombras.

Seu pai era um homem terrivelmente doente.

A verdade a atingiu depois do funeral de seu avô. Era um dia frio, chuvoso e pessoas que o conheciam diriam que o próprio universo estava de luto pela morte de um grande homem, mas Lily não o conhecia. Seu pai nunca havia lhe dado a chance depois de ter usurpado a posição, fortuna e respeito de Arcturus Black, deixando-o para apodrecer em uma das residências mais simples do Black.

Ele morreu em seu sono, cercado por ninguém e sem nenhum coro de soluços o embalando até a morte. A coruja carregando a notícia foi negligenciada por horas enquanto seu pai organizava os convites para um jantar com colegas e sua mãe brigava com Sirius sobre seu novo corte de cabelo. Quando anoiteceu, Monstro finalmente se cansou dos piados insistentes da ave e carregou sua carta até sua senhora. O enterro foi no dia seguinte.

Lily havia seguido a procissão em silêncio, ao lado de Sirius e usando um pequeno vestido preto com um laço cinza prendendo seu cabelo. Ele estava usando um terno trouxa modificado e suas mãos estavam enfiadas em seu bolso. Ela havia pensado em pegar a mão de seu irmão naquele dia, segurar seus dedos como fazia quando era criança e precisava de conforto, mas a ideia deixou sua mente tão rápido quanto chegou.

O corpo foi enterrado na cripta da família sem pompa. A única que chorava era Lucretia, escondida embaixo do braço de Alphard e seus soluços estavam abafados. Orion era um dos avelim também, mas ele não parecia triste, apenas irritado por estar ali.

Ele não rezou, não chorou e suas mãos não se sujaram de terra como as de Lily.

Lucretia parou de chorar apenas quando voltaram para casa. Suas bochechas ainda estavam vermelhas e seu rímel estava borrado, mas ela parecia mais calma e recomposta enquanto analisava as bonecas de sua sobrinha entre seus dedos.

Elas estavam discutindo alguma coisa sobre o brinquedo quando Walburga retornou à sala, apertando seus dedos e mantendo sua postura perfeitamente ereta.

— Está na hora de dormir, meninos — ela havia dito, olhando para Regulus, Sirius e Lily espalhados ao redor da sala de descanso. — Hoje foi um dia extremamente cansativo.

Lily se lembrava de ter escorregado para fora do sofá e andando os primeiros passos do caminho que a levaria até a escada, seus sapatos estalando contra o chão de madeira. Seu pai estava sentado em sua poltrona, fumando um charuto e bebendo uísque quando ela passou ao seu lado e ele agarrou seu pulso, seus longos dedos pálidos se fechando ao redor de seu braço.

— Por que você não fica mais um pouco? — ele perguntou, inclinando a cabeça para o lado. — Console o seu pai.

Ela havia ficado parada por alguns segundos, sem saber o que fazer. Lily olhou para seus tios e viu choque cobrindo seus traços. Estava prestes a dar de ombros e ficar quando a mão de sua mãe tocou em seu ombro e a voz dela ecoou pela sala:

— Ela precisa dormir, Orion — disse, uma careta de ciúmes misturada com raiva estampada em seu rosto. — Está tarde.

A expressão de Orion vacilou por alguns segundos. Ele não estava acostumado a ser contrariado, era um homem de poder tanto no trabalho quanto em casa. Seus olhos queimaram de raiva enquanto ele soltava o braço de Lily, no entanto ele pegou suas bochechas vermelhas entre suas mãos e plantou um beijo em sua testa.

— Boa noite, querida.

Naquela noite, sem saber exatamente o porquê, Lily trancou a porta de seu quarto e colocou uma cadeira apoiada na maçaneta para garantir que ninguém poderia entrar ali.

Voltando ao presente, ela olhou ao redor, quase esperando estar presa em mais um pesadelo dentro daquele quarto no Largo Grimmauld, e sentiu o alívio preencher seus pulmões quando seus olhos viram as cortinas verde-esmeralda que a cercavam e ela foi capaz de ouvir as respirações e os roncos de suas colegas de quarto adormecidas. Conseguia sentir seu coração desacelerando e seu corpo relaxando enquanto o sonho esvaia de sua mente de maneira lenta.

Ela estava bem. Ela estava segura.

Quando sua respiração se estabilizou e ela parou de tremer violentamente, Lily soltou seu cabelo para poder prendê-lo novamente e sentiu o ar frio sempre presente nas masmorras da Sonserina correr por sua pele, a esfriando e secando o suor que a cobria. Esfregou seus olhos com insistência e bocejou. Havia se forçado a acordar quando o pesadelo se tornou demais para sua mente e seu corpo inteiro doía como se tivesse atravessado uma janela de vidro, deixando inúmeros cortes por toda a sua extensão.

Schuller, talvez percebendo que havia algo de errado com sua companheira, saiu de seu lugar nos pés dela e andou por suas pernas até chegar em suas coxas. Ele se ajeitou ali em poucos segundos, piscando os olhos amarelos com preguiça e bocejando para mostrar suas presas afiadas.

Lily o pegou por baixo de suas patas dianteiras e o puxou para o seu peito, encostando sua cabeça em seu ombro e acariciando seu queixo. O gato ronronou baixo e miou em um tom simplório, ainda dolorido da poção que o professor Kettleburn havia lhe dado. Ela tomou conforto em tê-lo em seus braços. Schuller deveria ser o único naquela escola inteira que a amava sem restrições, mesmo que ele fingisse o contrário.

Era tarde demais para ela voltar a dormir, o medo de que seu pesadelo retornaria assim que caísse no sono agia como cafeína em suas veias e a mantinha acordada.

Ela olhou para o relógio de pulso que costumava pertencer à sua avó em seu bolso e percebeu que eram poucos minutos depois da meia-noite e que os monitores ainda deveriam estar rondando os corredores para garantir que nenhum aluno estivesse fora da cama. James Potter e Alice Fawcett haviam sido os designados para aquela noite. James Potter.

Lily gostava de James Potter, ele era gentil mesmo que ela não merecesse ao vigiá-lo em prol do lorde das trevas – apesar de ele não saber disso – e ele era o melhor amigo de Sirius, poderia ajudá-la em tentar reconquistar o amor de seu irmão.

Ela pensou no pomo de ouro que ele havia desenhado em sua mão, do arranhar da pena contra sua pele e alguma coisa dentro de seu peito se acendeu. Ele havia sido tão bom após seu encontro com o bicho-papão, tão compreensível.

Lily puxou sua bolsa para cima de seu colo, manuseando Schuller em seus braços e puxou o velho pedaço de pergaminho de Sirius junto de sua varinha. Não iria doer descobrir mais um pouco sobre esse objeto.

Seu gato pulou para fora de seus braços e deitou em cima de suas coxas. Ela apoiou o pergaminho em seu dorso peludo e sussurrou um feitiço iluminador.

— Malfeito Feito — repetiu aquelas palavras que Avery havia lhe dito e mordeu o lábio, esperando que as escritas aparecessem no papel. Não importava quantas vezes ela repetisse aquela senha, os quatros marotos sempre diziam coisas diferentes.

 

Sr. Moony cumprimenta a Srta. Black e a lembra de que essa frase não é a correta.
Sr. Wormtail concorda com Sr. Moony e diz à Srta. Black de que ela já deveria saber muito bem de que está errada.
Sr. Padfoot comenta que esperava mais da Srta. Black.
Sr. Prongs ignora o Sr. Padfoot e pergunta o porquê de a Srta. Black estar acordada tão tarde.

 

Lily torceu seus lábios. Já fazia dias que ela tentava descobrir a primeira senha do pergaminho e fazia dias que ela só fracassava e fracassava. Era frustrante, especialmente considerando que ela não estava acostumada com fracasso.

Seu diário estava aberto em suas pernas e inúmeras tentativas de senhas estavam escritas nas páginas sem linha, cada uma mais ridícula que a outra. Depois de esforços fracassados, ela havia decidido tentar qualquer coisa que viesse em sua cabeça, não importando  o quão bobo soava. Estava ficando desesperada e patética.

— Qual é a maldita senha? — perguntou para si mesma, tapeando o pergaminho em vários pontos com sua varinha. As palavras em tinta escuta desapareceram apenas pra dar lugar a novas. Qualquer feitiço colocado naquele pedaço de papel deveria ter pensado que as palavras foram dirigidas aos seus senhores.

 

Sr. Moony diz à Srta. Black que ela só terá a senha quando jurar solenemente.
Sr. Wormtail parabeniza a Srta. Black por sua bravura e insistência.
Sr. Padfoot comenta que a Srta. Black não deve fazer nada de bom.
Sr. Prongs pede que a Srta. Black guarde os segredos dele e de seus companheiros.

Lily sentiu uma vontade intensa de revirar os olhos. Estava cansada demais para aquilo, não conseguia pensar direito para decifrar o que eles estavam falando e estava irritadiça com esse feitiço horrível.

— Jurar solenemente — suspirou.

Quantas tentativas ela deveria ter feito? Cem? Duzentas? Trezentas? Tinha certeza que já teria perdido a sanidade se tivesse uma mente mais frágil.

— Jurar... — repetiu, fazendo uma careta. — Juro solenemente guardar seus segredos?

 

Sr. Moony pede que a Srta. Black tente mais uma vez.

Sr. Wormtail lembra a Srta. Black das últimas palavras do Sr. Padfoot.

Sr. Padfoot está irritado com Sr. Prongs por ter confundido a Srta. Black.

Sr. Prongs pede desculpas à Srta. Black por tê-la confundido.

 

Lily franziu o cenho. Últimas palavras do Sr. Padfoot? Qual haviam sido as últimas palavras do Sr. Padfoot? Ela coçou sua testa, tentando se lembrar e bocejou. Estava cansada, mas sua atenção havia sido atraída para aquele pergaminho desconhecido. Ela sentia que estava muito perto de descobrir a verdade, imaginava que se estendesse a mão poderia agarrar os segredos desses senhores.

Quando ela se lembrou, no entanto, sentiu irritada consigo mesma por não ter descoberto antes. Parecia tão fácil agora que havia conseguido, tão óbvio e diante de seus olhos que nem parecia mais um desafio, parecia que esses senhores realmente queriam que alguém os descobrisse.

— Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom — disse, mordendo seu lábio em antecipação.

O que aconteceu a seguir foi tão surpreendente que Lily não poderia ter se preparado de qualquer maneira, não importava o que ou quanto tentasse.

Linhas de tinta muita finas começaram a se espalhar pelo pergaminho, começando no mesmo ponto em que sua varinha o tocara. Elas mancharam o papel em um padrão conhecido apenas a elas, virando, trocando, convergindo. No alto, palavras grandes e verdes aflorearam:

 

Os Srs. Moony, Wormtail, Padfoot e Prongs,
fornecedores de recursos para feiticeiros malfeitores, têm a honra de apresentar:
O MAPA DO MAROTO

 

Era um mapa. Um mapa de Hogwarts. Lily conseguia reconhecer as curvas dos corredores, as dobras repentinas da sala de poções e a grandeza do Salão Principal. Sua atenção foi chamada, no entanto, para pequenos pontos de tinta que se mexiam pelo mapa seguidos por pequenas palavras. Demorou alguns segundos para ela perceber que eram nomes e que aqueles pontos indicavam as pessoas em todo o castelo.

Cygnus Black III estava parado em sua sala, Pirraça, o poltergeist, deveria estar aprontando no terceiro andar e… um grupo de alunos do sétimo ano estava aglomerado na sala de reuniões da monitoria.

Lily se sentou melhor na cama e leu aqueles nomes com mais atenção. Tinha quase certeza de que sua mente cansada estava lhe pregando peças, mas foi apenas quando releu quatro vezes que percebeu a veracidade no que estava vendo.

Alice Fawcett. James Potter. Marlene McKinnon. Peter Pettigrew. Dorcas Meadowes. Mary Macdonald. Sirius Black.

Ela prendeu a respiração ao ver o nome de seu irmão ali. Sabia que poderia haver a grande possibilidade de ele só estar se divertindo com seus amigos, talvez bebendo e agindo como um adolescente, porém havia uma sensação na parte central e mais sensível de sua nuca de que algo de errado estava acontecendo.

Quando eram crianças, Lily sempre conseguia sentir quando Sirius estava em perigo. Sua tia dizia que era uma ligação secreta que os dois tinham, como uma linha invisível e extremamente forte que os unia naquele mundo. Eles dividiram um útero durante nove longos meses, isso juntaria até as mais fortes das almas. Ao crescerem e se afastarem, foi como se a linha tivesse se afinado e ficado mais fraca. A ligação que eles tinham quase foi cortada ou era o que ela pensava até aquele momento.

Lily só percebeu que iria sair do quarto quando jogou seu roupão de algodão por cima da camisola que usava e calçou suas pantufas. Ela estava segurando o mapa com uma mão e apertando sua varinha com a outra.

A lareira ainda estava acesa quando ela entrou na Sala Comunal. As masmorras eram frias e o Grande Lago gelava as paredes de pedra ainda mais, os forçando a manter o fogo queimando por horas para conseguir esquentar o lugar. Em muitas noites de inverno, cobertores extras eram colocados na cama pelos elfos.

Ela saiu das masmorras em silêncio e se dirigiu ao segundo andar. Não tinha certeza sobre o que faria quando chegasse na sala de monitoria, nem sabia se iria falar alguma coisa ou interrompê-los. O Lorde das Trevas havia lhe pedido para observar e reportar tudo o que James Potter fazia de suspeito, mas ela não queria que ele ou Sirius fossem punidos por qualquer motivo.

Os corredores estavam vazios e quietos. Os quadros estavam dormindo e os fantasmas deveriam estar tendo algum problema fantasmagórico para resolver. Lily foi capaz de andar por Hogwarts rapidamente, usando o mapa para se guiar pelos corredores.

A porta da sala estava entreaberta e um pequeno filete de luz escapava da abertura. O coração de Lily acelerou dentro de seu peito e ela teve dificuldades para respirar. Não sabia o que iria encontrar quando se aproximasse, não sabia o que poderia ver.

Ela engoliu em seco e se aproximou, apertando o mapa e sua varinha contra seu peito. As sombras conseguiam esconder o seu corpo com facilidade ela encostou parte do seu rosto na porta para tentar ouvir o que eles estavam dizendo ao mesmo tempo em que poderia ver o que acontecia pela fresta.

As sete cadeiras estavam postas em um círculo, como alguém faria se estivesse no meio de uma reunião. O coração de Lily pulou quando ela viu seu irmão, jogado na cadeira sem preocupação e brincando com uma caixinha de metal entre seus dedos. De vez em quando, a caixinha em sua mão iniciava uma pequena chama que era logo apagada.

— Petunia Dursley está morta. Ela não aguentou a tortura dos dementadores em Askaban — disse Sirius, olhando para seus companheiros com uma expressão mórbida. — Kingsley levou o marido e o filho dela para a América do Sul.

James fechou os seus olhos e Alice levou sua mão aos seus lábios. O queixo de Lily caiu. Ela se lembrava daquele nome, era a sangue-ruim cumo julgamento ela atendeu com seu irmão. Sua bochecha queimou quando se lembrou do tapa que havia levado após seu pai descobrir que ela estava questionando sua sentença.

Agora ela estava morta. O pensamento lançou uma sensação de terror para o estômago dela. Sabia que os céus iriam puni-la por isso e uma parte de si até achava que merecia.

— Ela não era uma pessoa agradável, — comentou James. — Mas ela ainda era uma pessoa. Sua morte é uma perda terrível.

— Pobre menininho — murmurou Alice, seus olhos se enchendo de lágrimas. — Ele vai crescer sem mãe. Ninguém merece isso. — os olhos dela se viraram discretamente para James, mas ele estava quieto, encarando um ponto vazio no chão. Ele a havia ouvido, sem dúvida, mas sua reação estava muito bem escondida.

Lily sempre havia pensando que Alice era uma garota muito bonita. Seu cabelo longo e loiro estava sempre brilhando e suas íris cinzentas deixavam seus olhos parecidos com o céu nublado. Ela possuía um rosto gorducho, como se nunca tivesse perdido a gordura da infância e sempre usava alguma coisa amarela para significar sua posição na casa da Lufa-Lufa.

No ano anterior, praticamente todas as meninas de Hogwarts eram apaixonadas por Frank Longbottom. Alguma coisa sobre seu cabelo castanho, sua inteligência e educação excelentes e sua posição como futuro membro do time Puddlemere United atraíam os indivíduos do sexo oposto. Lily se lembrava das lágrimas do último dia de aula quando a realização de que ele iria se formar e não voltaria mais desceu nas alunas.

Frank, infelizmente, só tinha olhos para a sua melhor amiga Alice, mesmo se ela não soubesse disso.

— Marlene, — disse James, colocando suas mãos em seus joelhos. — alguma atualização no espião?

— Eu não tive progressos — murmurou Marlene, seu rosto ficando extremamente vermelho de vergonha. Sua cicatriz, no entanto, continuou branca. — Peter está me ajudando e por isso eu sou grata.

Peter pegou a mão dela e sorriu de um jeito que apenas um homem apaixonado poderia. Sirius revirou os olhos e fingiu vomitar.

James ignorou seu melhor amigo.

— Dorcas, — ele chamou. — alguma novidade?

Dorcas se debulhou em lágrimas quando ouviu seu nome. Ela estava soluçando, escondendo seus olhos com suas mãos enquanto seus ombros tremiam. Alice estava acariciando seu braço, sussurrando e perguntando o que havia acontecido.

— O que você viu? — perguntou Sirius. Lily conseguiu ouvir o nervosismo em sua voz.

— A reunião — respondeu Dorcas. — Aquela que Fawkes mencionou para nós.

Fawkes? Lily ajeitou seu corpo e tentou encostar seu ouvido melhor na porta. A madeira rangeu levemente com seu peso e Mary Macdonald virou seu rosto em sua direção por alguns segundos antes de voltar sua atenção para Dorcas.

— Foi tão horrível — soluçou a garota. — Tão horrível… tanta dor!

— Mostre para nós — disse James, entrelaçando seus dedos com os da adolescente chorando. Ela soluçou e assentiu levemente, fungando no ar pesado da sala.

Lily se moveu em seu lugar, desconfortável dentro de sua própria pele.

— Tomem cuidado — avisou ela. — A primeira vez é sempre a mais difícil.

As coisas aconteceram antes que ela percebesse. Dorcas fechou suas pálpebras e parecia se concentrar, sussurrando algo que não dava para entender. Os olhos de Lily se reviraram para o fundo de sua cabeça e ela caiu em um poço escuro e sem fundo.

 

O lugar estava abafado, úmido e o cheiro de mofo a fazia engasgar. Lily torceu o seu nariz e olhou em seu entorno, absorvendo sua atmosfera com cuidado. As paredes ao seu redor estavam infiltradas e pingavam inúmeras gotas de água do teto, atingindo o chão e seus ombros. As poucas luzes presentes vinham das varinhas dos guardas ingleses de prontidão ao longo do corredor, encarando o espaço em sua frente com um olhar vazio.

Interessante, ela pensou enquanto andava até seu destino, seus sapatos extremamente caros se molhando nas inúmeras poças de água espalhadas pelo chão. Seus dois homens atrás de si estavam em silêncio, mantendo seus rostos sérios e Lily se perguntou o que eles pensavam de tudo aquilo, de como os ingleses exigiram que ela viesse com apenas dois seguranças, mas dezenas de seus guardas se acumulavam no ponto de encontro.

Ela olhou para baixo por um segundo com o intuito de examinar o estado de suas botas e seu rosto refletiu na água ao seu redor. A mulher que a encarou de volta era linda, com um nariz fino e comprido, olhos castanhos e lábios delicados cobertos por uma camada de batom vermelho. Seu cabelo curto e castanho estava preso. Parecia uma líder.

Ela continuou andando até chegar em uma porta comprida e de metal, seu corpo parando quase que automaticamente com essa visão. Ela respirou fundo e estalou seus dedos.

— Que horas são? — perguntou e a voz que saiu de seus lábios era mais aguda do que Lily esperava. Ela estava falando francês e seu sotaque era do norte do país, perto de Calais.

— 20:30, madame — respondeu um dos aurores atrás de si.

— Então, estamos atrasados — concluiu. — Ótimo. — um sorriso leve se abriu em seus lábios. — Sabem como os ingleses são ansiosos com a pontualidade.

A porta parecia estalar ao ser aberta por um sussurro de seus guardas, rangendo e se arrastando pelo chão de pedra. A luz da sala invadiu o corredor, machucando os olhos de Lily por alguns segundos, mas ela não os daria o prazer de vê-la vacilar.

Havia dois homens na sala. Um alto e esguio, com cabelo longo e negro preso em um rabo de cavalo e vestes verdes escuras; e um baixo e rechonchudo, uma careca se formando entre os fios prateados de seu cabelo. O Embaixador Inglês e o Ministro da Magia, ela supôs.

Lily reconheceu seu tio Alphard quase que imediatamente, exceto que ele não estava sorrindo calorosamente como sempre. Seu rosto estava sério, rígido e ele parecia estar irritado sem motivo. Era esse o homem que havia ganhado o medo de inúmeras pessoas pela Europa, esse era o general de Lorde Voldemort.

— Está atrasada, chanceler — disse o segundo dos homens, Harold Minchum, enquanto ela se sentava.

— Mesmo? — perguntou, se fazendo de sonsa. — O trânsito estava terrível no caminho para cá.

— Teria sido mais fácil se você tivesse aparatado, madame — comentou Alphard. — Sua presença aqui em Londres poderia ter sido descoberta.

— Eu sei — disse. — Mas eu gosto tanto de dirigir. Me lembra de verões na França com meu pai. Ele era afetuoso demais com seus carros.

Essa sua admissão não passa despercebida por seus companheiros. Os ombros de Harold se enrijeceram e Alphard estreitou seus olhos. Eles pareciam querer dizer alguma coisa, mas ela não era como os outros de seu tipo, um país inteiro iria se revoltar se um fio de cabelo seu fosse machucado. Aos seus olhos, ela era uma sangue-ruim, alguém não merecedor de magia ou de uma posição de poder, porém machucá-la significava machucar a França.

— Temos certeza de que seu pai foi… — Harold olhou para seu companheiro, não parecia saber o que fazer ou o que dizer diante daquela situação. Alphard deu de ombros. — Um homem honrado.

— Não estamos aqui para falar do meu pai, ministro — disse Lily, cruzando suas mãos sobre suas coxas grossas. — Estamos aqui para negociar a paz entre nossas duas grandes nações.

— Exato — concordou Alphard. — Temos muito o que discutir.

Lily olhou para ele com atenção e um pensamento estranho invadiu sua mente. Ela se perguntou como estava a prima dele, aquela que os rumores diziam que ele amava secretamente. Lucretia era mais velha que ele, mas o amor não conhecia idade e não seria a primeira vez que dois membros da família Black desejassem ficar juntos e também não seria a última.

— Três semanas atrás, você expulsou todos os bruxos britânicos dos territórios sob o domínio francês — murmurou Harold, abrindo um arquivo em sua frente. — Dez mil ingleses, escoceses e galeses retornaram ao Reino Unido desde então e esperamos mais vinte até o fim do ano.

Lily piscou seus olhos, confusa.

— E então? — ela perguntou.

— Bom, você não pode esperar que nós recebamos todas essas pessoas — disse o ministro, embasbacado. — Nossa ilha é pequena.

Todos os outros territórios da Commonwealth haviam declarado sua independência total após a mudança de poder e morte da rainha na Inglaterra. Eles estavam sozinhos no mundo.

— Ministro, — começou Lily. — eu fiz o melhor para o seu povo. A anglofobia corre forte no sangue dos franceses. Seria melhor se eles voltassem para casa.

— A casa dele é pequena demais — retrucou Alphard. — Por isso, eles se mudaram para a França.

— Não se preocupe, embaixador — disse ela, virando seu rosto. — Tenho certeza de que o número de trouxas e nascidos-trouxas exterminados na Grã-Bretanha são mais do que suficientes para garantir uma ótima vida para todos os recém-chegados.

O rosto de Alphard permaneceu impassível, mas as bochechas de Minchum atingiram um tom rúgido e ele arregalou seus olhos. Lily sorriu, sabendo muito bem de que havia tocado em um ponto dolorido.

— Madame, as mortes dos trouxas e sangue-ruins foram acidentes infortúnios…

— Foi isso mesmo que ele lhe contou? — interrompeu ela, curiosa.

— Quem? — perguntou Harold.

— Seu senhor — respondeu Lily. — Aquele que está sussurrando em seu ouvido.

Segundos se passaram e os companheiros de Lily não fizeram nada. Eles piscaram e abriram a boca, como se quisessem falar algo apesar de não ter certeza de o quê.

— Por favor — ela murmurou. — Não se faça de sonso. Não é um segredo que o verdadeiro líder da Inglaterra é Lorde Voldemort.

— Acredito que você está enganada, madame — disse Harold. — O que você diz é improvável. Eu sou o verdadeiro líder da Grã-Bretanha assim como você é a líder da França. Seu ego está lhe pregando peças.

— Meu ego está bem, muito obrigada, mas eu estou dizendo a verdade — continuou. — Todos na Europa Continental sabem.

— A Europa Continental está enganada, então!

— Por que você está insistindo na mentira? — perguntou Lily. — Eu imagino que você gostaria de ser um fantoche, apenas recebendo o salário de sua posição sem ter que fazer nenhum trabalho real.

Uma risada fria e calculista soou atrás dela. Um calafrio arrepiante passou pelo corpo de Lily e ela estremeceu, temerosa demais para virar seu rosto e ver quem estava lhe olhando. Ela sentiu o calor de um feitiço perto de suas costas e viu a explosão verde que iluminou a sala. Seus dois guardas caíram no chão com um baque surdo.

— Você é bem esperta, Chanceler Delacroix — disse uma voz reptiliana. Lily tentou não demonstrar o choque que correu por sua pele. — Quase esperta demais para seu próprio bem.

— O que o meu próprio bem tem a ver com minha inteligência?

— Acredito que você sabe, madame — murmurou Lorde Voldemort. — Acredito que você sabe o que vai lhe acontecer desde o momento que chegou em Londres.

— O que você está prestes a fazer significará guerra, milorde — disse Lily, olhando diretamente para os olhos de Alphard. Ela o conhecia e costumava gostar dele, o via como um aliado de certa maneira. Queria ter certeza de que ele pudesse ver a vida deixando seus olhos quando ela morresse. — Mas você está certo. Eu realmente sabia o que iria acontecer comigo quando você me mandou aquela carta, pedindo uma negociação de paz. Foi por isso que eu esperei um mês para responder, tempo suficiente para meu Mestre de Poções produzir uma poção polissuco e eu poder mandar minha leal assistente em meu lugar.

O rosto de Alphard se contorceu em choque.

— Lucille? — ele balbuciou.

Ela deu um sorriso tímido e tudo acabou em uma luz verde.

 

Lily foi puxada de volta para a realidade com um susto. Ela estava ofegante e tonta em seus próprios pés, olhando ao redor como se quisesse se certificar que ainda estava em Hogwarts. Em um momento de desespero, ela tocou em seu peito, tentando sentir o batimento de seu coração. Segundos se passaram antes que ela se lembrasse do porquê de estar ali e encostou sua cabeça novamente na porta.

Todos estavam em algum estado de falta de fôlego, mas a pobre Mary Macdonald estava curvada em cima de um balde conjurado, vomitando tudo o que tinha em seu estômago enquanto Alice Fawcett acariciava suas costas.

— Por que o seu tio estava lá? — perguntou James, olhando para Sirius. Seu cabelo preto e arrepiado estava coberto de suor.

— Ele era o embaixador inglês na França — disse o irmão de Lily. — Talvez eles pensassem que com a presença dele ali, ela não iria descobrir a verdade… eu não tinha ideia de que ele era apaixonado pela tia Lucretia.

— Isso não importa agora — murmurou Mary, levantando seu rosto. Seu rosto possuía um tom esverdeado. — Está tarde. Precisamos voltar para a cama e nos esquecer do que vimos.

— Eu concordo — disse Peter. — Dorcas pode voltar para Londres na próxima viagem para a Hogsmeade e contar ao Dumbledore.

O choque e a surpresa que atingiram Lily quase a derrubaram no chão. Ela cobriu sua boca com a mão e arregalou seus olhos, sentindo seu coração bater mais rápido dentro de seu peito. Seus olhos se voltaram para seu irmão, sentado em sua cadeira sem maiores preocupações, e ela estava prestes a se debulhar em lágrimas.

Oh, Sirius, por quê?

Ela não poderia mais ficar aqui. Percebia isso agora. Não poderia mais se esconder nas sombras, ouvir conversas e anotar segredos, não quando o futuro inteiro de seu irmão estava em jogo. Não quando James poderia morrer a morte de um traidor se ela contasse o que sabia.

Antes que eles pudessem se levantar de seus lugares, Lily se afastou da porta e voltou para as masmorras, deixando as lágrimas caírem pelo seu rosto no caminho.

Não conseguia deixar de se amaldiçoar por não ter percebido isso antes. Seu irmão, que havia chorado com a sentença de Petunia Dursley, que sempre pregava a igualdade entre bruxos e que não era mais o herdeiro perfeito. Ela pensava que se voltassem a ser como eram antes, poderia mudar a personalidade de Sirius, poderia transformá-lo em um Sonserina purista e no filho que seus pais teriam orgulho de ter. Estúpida, estúpida, estúpida.

Quando chegou na Sala Comunal, suas lágrimas já haviam secado e ela já sabia o que deveria saber. Seus olhos se viraram para as chamas altas da lareira e ela empunhou sua varinha.

Accio diário — disse, levantando sua mão para pegar o objeto.

Ela não sentiu nada quando jogou o caderno no fogo. Estava estranhamente vazia, desligada de suas emoções. Mais coisas haviam acontecido na última hora do que no dia inteiro e ela estava exausta, queria nada mais do que acabar com isso e poder voltar para a cama.

Lily viu seu diário queimar em silêncio, sentada em uma poltrona e abraçando seus joelhos. Ali estavam todas as suas anotações sobre James, todas as suas suspeitas sobre Sirius e, logo, mais ninguém iria poder ler aquelas palavras. O crepitar da lareira era o único som presente na Sala.

As coisas que ela fazia por amor.

***

Assim que acordou, Lily correu para o corujal e usou Penélope para mandar uma carta para seu tio, desesperada demais para ser discreta em sua tarefa. A coruja cinza estava feliz em ter uma tarefa e piou afetuosamente enquanto abria suas asas e tomava o céu, voando para a residência londrina de Alphard Black. Com esperança, a mensagem iria chegar nele antes do café da manhã.

Você está apaixonado pela Lucretia? Me diga a verdade.

— Lily

***

Marlene McKinnon a encontrou no meio do corredor.

A aluno do sétimo ano parecia mais confortável do que na noite anterior, as mãos enfiadas em suas vestes e suas botas de cano curto eram maltrapilhas em seus pés. Ela estava usando um rabo de cavalo alto e seu rosto belo estava limpo de maquiagem.

Lily estava sozinha. Possuía um período livre naquele momento e estava pensando em ir ao campo de quadribol para ver o treino de Marcus quando foi encurralada pela outra garota. Imaginou que ela estava esperando por aquele momento, uma hora em que nenhum outro aluno da Sonserina estaria ali para intimidá-la e ela estivesse livre para dizer o que pensava.

A ruiva pensou que iria ouvir xingamentos, palavras de ódio e qualquer coisa do tipo. Marlene, no entanto, apenas sorriu.

— Oi, Lily — disse. — Posso falar com você?

— Você já está falando — respondeu, abraçando seus livros ainda mais apertado.

O sorriso de Marlene vacilou.

— Eu sei, mas… — ela fez uma pausa, como se estivesse decidindo se realmente valeria continuar naquela conversa ou se seria muito mais fácil desistir de tudo e voltar para a Sala Comunal da Grifinória. — De qualquer jeito, nós precisamos conversar.

Lily ajeitou sua saia e empurrou uma mecha de cabelo para trás de sua orelha.

— Sobre o quê?

— Bom, — começou Marlene. — o Sirius nos contou que vocês estão se entendendo e eu pensei, não sozinha, tive a ajuda da Dorcas e do Peter, mas eu pensei que seria interessante se você fosse na festa de aniversário surpresa que estamos planejando para ele. Eu posso te mandar todos os detalhes por um aviãozinho amanhã, a maioria deles foi mandada na semana passada.

O aniversário dos gêmeos seria em três semanas. Era um evento que Lily estava se preparando pelos últimos dois meses. Seu aniversário sempre havia sido um dia de divertimento e felicidade, o único momento no ano em que seus pais eram capazes de colocar suas diferenças de lado e comemorar o nascimento dos seus primogênitos.

— Então, você está basicamente me dizendo de que nem estava planejando me convidar para a festa de aniversário do meu irmão — concluiu Lily. — Meu irmão gêmeo, por sinal. Brilhante.

Se o sorriso de Marlene havia vacilado anteriormente, agora ele estava completamente desaparecido. Ela arregalou os olhos, talvez percebendo o que havia dito e gaguejou.

— Quando você coloca desse jeito…

— Não há outro jeito para colocar, Marlene — interrompeu e logo deu de ombros. — Eu entendo. Você não gosta de mim, mas está tentando me estender a mão pelo bem do Sirius e, por isso, eu não vou te julgar ou ficar chateada. — Lily respirou fundo. — Posso, ao menos, trazer o Avery?

— Mas é claro — disse Marlene, rápido demais para tentar agir como se não estivesse tentando se desculpar por sua gafe anterior. — Traga quem você quiser.

Lily se impediu de revirar os olhos. Ela lambeu seus lábios e olhou ao redor, se perguntando quando aquela conversa desconfortável iria acabar. Tinha certeza de que Marlene estava pensando o mesmo. Nenhuma delas queria realmente estar ali, estavam fazendo aquilo apenas para o benefício de Sirius.

— Estamos te avisando tão cedo porque a festa é a fantasia então você tem tempo de escolher alguma coisa mais elaborada para vestir — continuou a loira. — Pense bastante. Estou bem ansiosa para ver qual será a sua roupa.

Marlene continuou seu caminho quando terminou de falar, sem se importar em se despedir ou qualquer coisa do tipo. Lily permaneceu parada em seu lugar. Ela queria chorar, gritar, fazer qualquer coisa que pudesse aliviar a tensão dentro de seu peito.

Ela respirou fundo e apertou seus pulsos, tentando se acalmar. Não havia planejado coisas incríveis para seu aniversário, apenas um almoço especial com Avery e depois abrir os presentes de sua família na Sala Comunal, e estava até feliz de que alguém tivesse planejado uma festa surpresa para Sirius, mas esse era o problema. Era apenas para Sirius. Eles não a haviam incluído. Só a estavam convidando para a festa porque ela e seu irmão estavam finalmente se entendendo e deixando as diferenças de lado. Ela se perguntou quantas festas similares havia perdido nos últimos sete anos, quantas vezes havia sido excluída em seu próprio aniversário.

Estava tão absorta em seus próprios pensamentos que não percebeu a aproximação de James Potter até que ele estivesse ao seu lado, tocando em seu ombro e chamando seu nome.

— Desculpe — pediu, piscando seus olhos várias vezes. — O que disse?

— Perguntei se você estava bem — murmurou James, retirando sua mão. Lily quase soltou um muxoxo, ela queria sentir por mais alguns minutos o toque morno dele em sua pele.

— Estou sim — ela disse, forçando um sorriso. — Por que não estaria?

— Você está parada no meio do corredor, olhando para o nada — explicou ele. — Eu disse oi várias vezes, mas você não me respondeu.

— Ah, me desculpe. Eu estava distraída.

— Imaginei.

James sorriu e Lily foi incapaz de não sorrir de volta. Havia algo na aura do garoto que contaminava todos ao seu redor. Ele era contagiante de um jeito bom que fazia os interiores de Lily se esquentarem toda vez que ele estava por perto.

Dois anos antes, ela nem teria olhado duas vezes para ele, mesmo considerando o fato de ele ser o melhor amigo de Sirius. James não era tipicamente bonito, apesar de andar pelos corredores como se fosse, mas de um jeitinho mais esquisito. Suas mãos eram grandes em comparação com o resto de seu corpo – boas para um artilheiro – e seu sorriso largo tomava grande parte do lado inferior do seu rosto.

— Eu estava te procurando — disse James, tombando a cabeça como um filhote confuso.

— Mesmo? — Lily foi incapaz de manter a surpresa fora de sua voz.

— Mesmo — repetiu ele. — Quero falar com você.

Lily franziu o seu cenho, confusa com suas palavras.

— Sobre o quê?

— Bom, eu acho que precisamos conversar sobre o Ariel Mulciber — murmurou James. — Ele é um monitor, mas não vai para as reuniões ou faz a monitoria. Conversamos com ele sobre isso ou com o seu tio.

Lily soltou um grunhido interno. Ela sabia que esse assunto iria surgir em algum momento e sabia que precisavam resolver os problemas de Ariel, mas ela estava enrolando para resolver isso havia semanas. Queria deixar Mulciber para trás e ele não permitia.

— Eu sei — disse, suspirando. Ela colocou sua mão em sua testa. — Vamos para alguma sala para conseguirmos conversar sem que ninguém nos atrapalhe.

James assentiu e olhou ao redor, procurando uma sala que não estivesse em uso naquele momento. Lily fez o mesmo e seus olhos encontraram os de Amelia Bones, parada do outro lado do corredor, sua boca formando um O rosa. Ela parecia surpresa em ver a ruiva ali, com James Potter.

— Vamos para aquela? — disse James, apontando para uma porta. — Tenho quase certeza de que está vazia agora.

— Vamos — respondeu Lily, o seguindo para a sala. Antes de entrarem, ela teve certeza de virar o seu rosto e encarar Amelia em seus olhos frios e traidores.

James se sentou na mesa do professor, ignorando a cadeira deliberadamente. Lily preferiu se manter em pé, achava que aquele assunto seria melhor tratado com uma postura ereta. Ele abriu a boca para começar a falar, mas ela o impediu:

— Eu sei que você está hesitando em falar com o diretor porque acha que como ele é o meu ex-namorado, eu ainda estou apaixonada por Ariel e não quer me chatear — começou dizendo, incapaz de olhar nos olhos castanhos de Potter. — Apesar de apreciar sua preocupação, eu devo dizer que minha paixão por ele acabou no minuto em que Avery me contou sobre seu caso com Amelia Bones. — James não falou nada, preferiu brincar com seus dedos e respirar fundo. — Eu posso falar com o meu tio para garantir que sua posição como monitor será retirada — terminou.

Ele continuou quieto, sua expressão indecifrável. Lily franziu o seu cenho.

— O que foi?

— Eu tinha um discurso preparado para te convencer — explicou, desanimado. — Pratiquei na frente do espelho e tudo.

Ela não conseguiu impedir o sorriso que crescia em seu rosto. A resposta de James havia sido tão repentina, tão inesperada que havia quebrado toda a sua expectativa. Era algo tão típico dele, falar algo assim com uma expressão mórbida como aquela.

— Me desculpe — disse ela. — Você ainda pode me dizer o discurso se quiser ou se isso te fizer se sentir melhor.

Ele balançou sua cabeça, fazendo um bico com seus lábios. Lily deu um passo para a frente, se aproximando mais de James e tombou sua cabeça para tentar ver seus olhos.

— Ah, não fique assim — disse, seu tom de voz gentil e suave. — Onde está aquele sorriso arrogante característico de James Potter?

James levantou o rosto e fez uma careta ao invés de lhe dar um sorriso, esbugalhando seus olhos e mostrando sua língua. Lily soltou uma risadinha, cobrindo sua boca com seus dedos e sentindo seus ombros tremerem. Ela respirou fundo, se sentindo mais relaxada e calma do que havia em muitas semanas. Talvez fosse o efeito dele nela ou talvez a falta de uma missão para a causa a fizesse mais feliz.

— Você quer ir comigo? — perguntou ela e o rosto de James tomou uma expressão confusa. — Quando eu for conversar com meu tio sobre Ariel?

— Não tenho certeza — disse James. — Sua família me assusta.

Lily deu um sorriso triste e segurou seus livros com mais força. Não conseguia se sentir decepcionada com as palavras dele, estava pensando de que talvez, como ele era o melhor amigo de Sirius, James acabaria gostando de sua família e faria as coisas mais fáceis entre um possível futuro, mas nem mesmo os Black gostavam de si mesmos.

— Não posso dizer que você é o primeiro a se sentir assim — disse, o gosto amargo em sua boca se iniciando por conta de suas palavras.

Isso atraiu a atenção de James. Ele ajeitou sua postura e saiu da mesa, elevando todo o seu corpo em sua altura natural. Eram momentos assim que Lily, já mais alta que a maioria das garotas de seu ano, percebia realmente sua diferença com os homens. Eles eram mais altos e mais fortes fisicamente, portanto muitas pessoas, trouxas e bruxas, achavam que isso significava sua superioridade em relação às mulheres. Sua tia Lucretia, no entanto, havia garantido que ela não pensasse daquele jeito.

O rosto de James estava sério e gélido. Lily estremeceu com a força de seu olhar.

— Está falando assim por experiência própria? — perguntou, sua voz grossa e firme. — Baseada nos últimos dezoito anos, vivendo naquela casa com seu pai?

— Eu não sei do que você está falando. — ela desviou sua visão, virando seu corpo e encarando a parede na parte de trás da sala. Era feita de pedra e havia desenhos antigos e essenciais para a aula que deveria ser ensinada ali.

— Estou me referindo ao seu bicho-papão — disse atrás dela. — Eu vi a verdade, vi o rosto dele estampado naquela criatura e a expressão de puro pavor que você tinha.

— Você está enganado — Lily murmurou. — Ele é um bom pai e ele me ama.

— É isso que ele te mandou dizer? — perguntou, enojado. — Caso, alguém fique desconfiado e te faça perguntas?

— Para! Para! Para! — pediu, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas e seu peito se apertar dentro de um punho forte e sufocante. Havia um nó em sua garganta, impedindo as palavras de saírem e o ar de entrar. — Você não entende, James. Não entende o que é ser parte da minha família.

— Então me ajude. Me ajude a te entender, me ajude a te ajudar. — ela conseguia ouvir o desespero enrustido em sua voz, enrolado em suas palavras e a realização do que estava acontecendo ao seu redor a atingiu como um tapa.

Ele se preocupava com ela. James se preocupava com ela. Ele se importava com seu bem estar, com sua facilidade e com sua saúde. Não era algo que ele estava fazendo por respeito ao Sirius ou por achar que fosse a coisa certa, ele estava fazendo aquilo, lhe perguntando coisas porque ele queria.

Lily se virou, erguendo seu rosto para conseguir se focar na gola de sua blusa. Ela estava torta e os dedos da ruiva se coçaram para arrumá-la, colocar no lugar onde pertencia, mas ela suprimiu essa necessidade tão rápido quanto apareceu.

— Meu pai nunca quis filhos — disse, abaixando sua voz em uma oitava. — Ele estava feliz sendo um solteiro, andando por Londres atrás de qualquer rabo de saia que ousasse olhar em sua direção. Como o herdeiro da nossa Casa, isso era inaceitável. Ele precisava se casar com uma mulher puro-sangue de uma família de reputação impecável e ter filhos, no mínimo dois.

James respirou fundo, arqueando suas sobrancelhas e cruzando seus braços. A luz do meio da tarde estava fazendo uma sombra no lado direito de seu rosto e Lily se lembrou quase que instantaneamente de Hades, vestido de preto como James naquele momento, que havia sequestrado Perséfone e a levado para o Submundo onde ele a fez sua rainha. Por um segundo, ela desejou que o mesmo acontecesse com ela, o mínimo para escapar daquela situação em que estava vivendo.

— Eu não entendo o que isso tem a ver com…

— Não — interrompeu Lily.  — Você precisa saber de tudo para conseguir entender.

— Tudo bem — ele suspirou. — Me conte tudo, então.

A facilidade que ela havia encontrado para encontrar tudo não era algo com que Lily estivesse acostumada. Sua vida era baseada em contar mentiras brancas para todos, escondendo a verdade daqueles que poderiam ajudá-la. Ela não conseguia entender como James a influenciava a se expor, talvez fosse sua aura ou o seu carisma, a mesma coisa que havia usado com Sirius quando o recrutou para o seu grupo de amigos.

— Meu avô, querendo que ele se ajeitasse, o forçou a se casar com a minha mãe e isso o deixou irritado, amargurado e escureceu ainda mais o coração dele. Minha mãe era jovem naquela, romântica e sonhadora. Ela pensava que um bebê iria resolver todos os problemas deles, por isso ela usou poções e engravidou de mim e do Sirius. — Lily olhou para a palma de suas mãos, vendo as linhas correrem por sua pele avermelhada e macia depois de anos de produtos hidratantes. — Eu não preciso te dizer que a nossa vinda ao mundo só piorou as coisas. Ele já tinha tido filhos bastardos antes, crianças que minha mãe havia tomado o cuidado de silenciar, mas conosco era diferente. Sirius era a prova de que ele nunca iria ter a liberdade desejada e eu era a constante lembrança de seu dever. — ela mordeu o lábio, tão forte que o gosto de sangue encheu sua boca enquanto a ferida ardia. — Por grande parte da minha infância, ele não estava presente e, quando se importava o suficiente para aparecer, Orion ou estava bêbado ou furioso com algo que havíamos feito. Minha mãe tentava acalmá-lo nesses momentos, mas nunca funcionava.

James cruzou seus braços e se encostou na mesa, uma expressão sombria estampada em seu rosto. Lily o viu apertar seu pulso, como se a raiva estivesse tomando o controle de seus membros, e ela desviou o olhar, se focando em uma janela. Havia um corvo ali, bicando o vidro e piando em indignação.

— Sirius sempre levava as piores surras. Ele ainda tem algumas cicatrizes nas costas. — James assentiu, afirmando que já havia as visto. Lily não poderia dizer que estava surpresa. — Mamãe protegia Regulus de qualquer fúria que meu pai poderia ter direcionada ao seus filhos homens e Sirius era o que sobrava. Eu perdi a conta de quantas vezes meu irmão quebrou o braço antes do nosso décimo aniversário. — ela suspirou. — Comigo, era diferente. Acho que por eu ser menina ou por qualquer motivo que a mente doente dele havia arranjado. Ele me ignorava completamente, fingia que eu não estava ali e que a minha existência era falsa. — Lily se lembrou das inúmeras vezes em que estava desenhando, deitada no chão do escritório de seu pai e ele saía sem reconhecer sua presença, muitas vezes até mesmo esbarrando em seu corpo pequeno. — Uma noite, depois do meu aniversário de nove anos, eu estava na cozinha pegando um copo de leite quando ele chegou em casa, bêbado como sempre. Meu pai falou comigo naquela noite, ele tocou no meu cabelo e me disse que eu era muita bonita…

James a interrompeu:

— Lily, se ele te tocou de alguma maneira, — a voz dele estava tensa, como se não estivesse acreditando no que estava ouvindo. — você precisa denunciá-lo.

— Orion nunca me fez nada — murmurou, se lembrando de como, naquela mesma noite que contava para James, Sirius entrou na cozinha, procurando Lily e impedindo os planos de seu pai. — Sirius o impedia toda vez que ele ousava tentar. Meu irmão é o meu protetor, meu guardião.

— Sirius te ama — disse James. — É por isso que, não importa quantas vezes eu tente convencê-lo, ele nunca vai sair daquela casa porque ele não iria te deixar para trás.

Lily sorriu, incapaz de se impedir de fazê-lo. Ela sabia que Sirius ainda não havia fugido por sua conta, mas ouvir isso de James, seu melhor amigo e aquele que ele confiava com seus segredos, era vastamente diferente do que simplesmente saber.

— Mas, de qualquer jeito, meu pai é um homem doente — ela continuou, mexendo em suas mãos e brincando com seus dedos. — De alguma forma, em sua mente psicótica e deturpada, ele me vê como uma espécie de conquista final. Ele já é casado com uma prima, o que o impede de ter sua própria filha?

O rosto de James estava raivoso, seus pulsos cerrados e todas as suas veias aparecendo embaixo de sua pele. Lily estremeceu com essa visão, ela nunca o tinha visto dessa maneira com tanta indignação que nem conseguia esconder os sinais em seu corpo.

— Eu nunca o provoquei — prometeu, mordendo o interior de sua bochecha para não chorar. — Eu juro. Nunca fiz nada que o deixasse assim.

As feições de James se suavizaram, relaxando e dando lugar para uma expressão de choque com suas palavras. Ele respirou fundo antes de dar um passo para frente e engolfá-la em seus braços, encostando a cabeça dela em seus ombros.

Demorou um pouco antes que Lily percebesse que ele estava a abraçando.

— Merlin, Lily, — ele disse, sua boca prensada contra o cabelo dela. — Não se culpe. Ele é um homem doente. Não importa o que você faça, ele sempre vai encontrar uma maneira de alimentar suas próprias fantasias. — James afastou seu rosto e a olhou nos olhos. Verde encontrou castanho e ela sentiu como se estivesse observando dentro da alma dele, vendo as chamas que traziam calor ao seu corpo. A mão dele era áspera e repleta de calos enquanto acariciava a bochecha dele, mas Lily se encontrou se inclinando em seu toque mesmo assim. — Foda-se ele. Foda-se. Você precisa sair daquela casa. Você e o Sirius.

— Para onde eu posso ir? — ela murmurou, o tom triste envolvendo a sua voz. — Eu não tenho mais ninguém. Minha família inteira são os Black.

E eu não sou corajosa como você e o Sirius.

— Não fale assim — pediu James. — Você tem a mim.

O choque de suas palavras foi o suficiente para Lily dar um passo para trás e seu queixo cair. Era difícil processar o que ele havia acabado de dizer, o zumbido tomando os seus ouvidos e sua mente trabalhando tão rápido que ela não conseguia. James não pareceu afetado por isso, no entanto, e simplesmente continuou falando:

— Você acha mesmo que eu te deixaria na rua?

Quando ele parou de falar, Lily não conseguiu se segurar. Ela fechou o espaço entre eles e beijou sua bochecha, abraçando seu pescoço e relaxando em seus braços.

— Obrigada, James.

***

A Sala Comunal estava cheia, os alunos do primeiro ano finalmente perdendo sua timidez e procurando Lily quando tinham alguma dúvida sobre a escola, as aulas ou alguma matéria mais difícil. Ela estava feliz em ajudar, era um de seus deveres como monitora-chefe, e sempre tentava tratá-los com o mesmo respeito que usava com os alunos mais velhos.

Hestia, uma miúda menina com cabelos negros brilhantes e olhos grandes e redondos, estava vermelha de vergonha com sua dificuldade em feitiços. Estava claro que ela havia precisado de muita força e corajosa para vir falar com Lily enquanto a mais velha abria os livros do primeiro ano e revia a matéria antes de ajudá-la.

— Minha família inteira é boa em feitiços — admitiu, incapaz de olhar nos olhos de Lily. — Meu pai é o chefe do Departamento de Feitiços e Encantamentos no Ministério. Ele está desapontado, mas minha mãe e irmãs acham que eu posso melhorar.

— Claro que pode — assegurou Lily, tocando no ombro dela. — Você só precisa de um pouco de ajuda.

Hestia sorriu, o espaço entre seus dentes da frente evidente com a abertura de seus lábios. Lily pegou sua varinha e a colocou sobre a mesa, na frente dos olhos arregalados de Hestia

— Tente levitá-la — disse, colocando seus cotovelos em cima da madeira.

— Eu não consigo — murmurou a garota, seus lábios avermelhados formando um bico.

— Como você sabe se nunca tentou? — perguntou Lily, arqueando uma sobrancelha. As orelhas morenas de Hestia atingiram um tom vermelho. — Vamos. Tente.

Hestia pegou sua própria varinha e respirou fundo, arrumando a coragem dentro de si. O coração de Lily se acelerou em antecipação e, no mesmo segundo que a boca da mais nova se abriu para proferir o encantamento, a porta da Sala Comunal se abriu com força e Ariel Mulciber entrou, fumegando de raiva. Atrás dele, Amelia Bones se encolhia trêmula em sua sombra.

Todos congelaram. A fama de Mulciber de violento era extremamente conhecida e muitos tomavam cuidado para não irritá-lo. Ele olhou ao redor, seus olhos azuis faiscando com a irritação quando pararam em Lily.

Ele andou em silêncio, seus pés fortes fazendo o chão tremer, em sua direção. Lily engoliu em seco e permaneceu sentada, fazia meses desde a última vez que ele havia metido o medo em seu corpo.

Seus dedos longos e grossos se fecharam no antebraço dela e Ariel a puxou para cima violentamente, chacoalhando-a em sua frente. Uma vasta quantidade de mechas ruivas se desprenderam de sua trança e caíram na frente de seu rosto, cobrindo sua visão com uma cortina vermelha escura.

— Como ousa? — ele perguntou, seu rosto tomando um tom de vermelho.

— Como ouso? — ela repetiu. — Como ousa você? Me solta!

— Está andando com o Potter, é? — vociferou Ariel. — Conversando com ele, abraçando-o, beijando-o?

— Quem disse isso? — perguntou Lily, tentando se soltar, mas seu aperto era forte demais em seu braço. — Sua amante, é?

— Não a meta nisso, puta — cuspiu Mulciber, usando a palavra como um veneno em sua boca. — Você sabe muito bem o que fez.

Lily balançou seu rosto, jogando as mechas para fora da sua linha de visão e viu o rosto de seu ex-namorado, claro como o dia. Ela se perguntou como um dia poderia ter sido atraída por esse rosto, essa personalidade tão tóxica.

— O que foi que eu fiz? — perguntou, se fazendo de sonsa. — Será que, aos seus olhos, eu fui audaciosa o suficiente para pensar em seguir em frente? Me afastar de suas garras sujas?

— Cale a boca — ele exigiu. — Você é a suja da história. Se esconde com Potter em salas, fazendo Deus sabe o quê.

— Pelo menos, eu não estou fodendo um dos melhores amigos do meu namorado — retorquiu ela, tão raivosa quanto ele.

— Não está? — ele tombou sua cabeça, fazendo uma expressão de escárnio. — Pobre Avery, então.

As pessoas ao seu redor estavam em silêncio, sem saber o que fazer. Hestia estava com uma expressão de desespero, lágrimas descendo por seu rosto. Lily viu, com o canto de seu olho, Marcus Avery descer do seu dormitório, provavelmente ouvindo toda a comoção.

Avery correu até eles. Ele era mais magro e mais baixo que Ariel, mas parecia determinado. Mulciber se virou para o garoto que um dia foi o seu melhor amigo e estreitou seus olhos.

— Solta ela, Mulciber — disse, levantando suas mãos. — Você não quer fazer isso.

— Não quero? — repetiu o garoto. — Por que você não se senta e aproveita o show, hein? Como sempre fez.

Lily arregalou seus olhos e virou seu rosto para Avery, não acreditando no que havia escutado.

Mulciber se virou para ela e apertou ainda mais seus dedos, cortando o fluxo de sangue até a mão dela. Com um sorriso sádico, ele virou seu pulso subitamente e o crack que percorreu a Sala Comunal do osso de Lily se quebrando foi o suficiente para parar todos os corações presentes. A dor que se espalhou pelo braço dela foi indescritível, sentia como se a sua conexão com aquele membro havia sido cortada, quebrada. Lágrimas desceram por seu rosto e ela tentou se soltar, mas cada movimento iniciava uma nova onda de dor em seu corpo. O rosto dela se encheu de suor e ela respirou fundo, tentando diminuir a dor.

— Solta ela! — disse uma voz fina e Lily levantou sua cabeça, vendo Hestia saindo de sua cadeira e erguendo seu queixo em desafio. — Solta ela, seu monstro!

— Olha, Lily, — murmurou Ariel. — Você tem uma fã. Eu me pergunto o que ela vai achar de você quando for velha o suficiente para perceber que você está fodendo um homem que não poderá se tornar seu marido.

— Está enganado. Eu posso me casar com James Potter — retrucou ela, não querendo que ele a visse vacilando. — O sangue dele é puro.

— Ele não é judeu — disse Mulciber. — Não como você. Não como eu.

— Isso não importa — disse Lily, erguendo suas sobrancelhas e dando um sorriso. — Nossos filhos ainda nascerão de um útero hebraico e você sabe o que isso significa.

Ariel franziu o seu cenho e fechou sua cara, percebendo a veracidade em suas palavras. Ele não tinha como responder, havia perdido, encurralado em uma armadilha que ele mesmo havia montado.

— Não se preocupe com as crianças, querido — murmurou Lily, querendo enfiar seus dedos em mais uma de suas feridas de orgulho. — Elas virão em bom tempo. Você sabe o que os rumores dizem: James Potter fode muito bem.

Isso, no entanto, foi o suficiente para Ariel perder o que restava da sua paciência. Ele soltou o braço de Lily, permitindo que o sangue fluísse e suas células tentassem consertar o estrago em seu osso, mas tudo isso durou apenas um segundo antes que ele levantasse sua palma e a atingisse na bochecha.

O gosto de sangue invadiu sua boca, ela havia acidentalmente mordido sua bochecha, e sua visão ficou preta por alguns segundos. Ela ouviu a prendida de ar coletiva dos presentes e alguns de seus colegas se levantaram, ganhando a coragem que precisavam para enfrentar Ariel ou ir chamar Slughorn em seu escritório.

Lily virou seu rosto, vendo vermelho apesar de não ter nenhuma mecha em sua frente e pulou em seu ex-namorado. A adrenalina estava correndo em suas veias enquanto agia, impedindo que seu braço quebrasse doesse. Ela enfiou suas unhas na pele macia de seu ex e arranhou tudo o que conseguia encontrar em seu estado raivoso.

Ela sentiu braços fortes e musculosos fechando ao redor de sua cintura, puxando-a para longe dele. Lily tentou lutar contra quem quer que a estava segurando, mas seu coração desacelerou e a dor em seu corpo voltou, a fazendo relaxar e se sentir como uma boneca de pano. Ela virou o seu rosto levemente e viu a expressão séria de Marcus Ibrahim Avery sobre o seu ombro. Ele a encarava de maneira assustada.

— Senhorita Black! — gritou uma voz extremamente familiar. Quando Lily a reconheceu, ela sentiu uma vontade intensa de começar a falar. — O que está havendo?

Slughorn estava parado no meio da sala, seu rosto cheio de fúria e desgosto. Lily nunca o tinha visto assim, ele normalmente era tão calmo e alegre que parecia quase um outro homem neste momento.

— Em nome de Merlin, o que está acontecendo aqui? — vociferou, olhando para todos os membros da Sonserina em choque. — Expliquem-se!

O silêncio que se instalou foi ensurdecedor. Lily respirou fundo, tentando se recompor e esperou que alguém falasse algo. O medo de ser acusada por seus colegas enquanto eles defendiam Ariel preencheu seu corpo. Não seria a primeira vez, ela imaginava, que isso aconteceria. Pessoas aterrorizadas costumavam fazer de tudo para não se tornarem o novo alvo de uma criatura perigosa como Mulciber.

A quietude, no entanto, foi quebrada por uma voz fina e extremamente familiar:

— Eu vi tudo — murmurou Hestia. — Ele a atacou primeiro. Lily é inocente, foi tudo em auto-defesa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sempre imaginei os Black como judeus, sempre foi um headcanon pessoal meu e demorou bastante tempo para eu tomar coragem e adicionar esse fato nessa fanfic. Espero que gostem e, se não gostarem, paciência.

O Ariel recebeu seu nome de um colega de escola meu e esse colega, apesar de inofensivo, é basicamente o meu dreamcast para ele então quando eu, recentemente, descobri que ele era judeu, eu sabia que precisava fazer o meu Ariel judeu também.

Perdão por essa provocação jily!!!!! Não me matem!