Corações Invencíveis escrita por alineesoaares


Capítulo 3
Jogada do Destino


Notas iniciais do capítulo

Olá queridas leitoras!!
Tinha comentado no twitter que demoraria a atualizar, realmente demorei mas não tanto quanto eu imaginava e acreditem, estou feliz por isso!

Espero sinceramente que gostem, desde já meu agradecimento minha amiga/leitora/escritora Tais Oliveira que betou o cap pra mim (e me deu várias ideias para a continuação da história, portanto parte da sofrencia de voces se deverá a ela)

Boa leitura!



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O doce som do piano ecoava pela sala vazia enquanto os dedos de Cora deslizavam pacientes pelas teclas, balançando a cabeça para lá e para cá com a melodia, como se ela fosse uma extensão do piano e suas veias reverberassem o som dentro dela também. 

( Moonlight - Richard Clayderman)


A noite era límpida e lhe remetia uma noite em especial. O céu quase sem estrelas, o vento que vez ou outra fazia sua aparição balançando as folhas das árvores... 
Nenhum dia em sua vida deixaria de pensar nela, não importa o tempo que passasse.
E ao fechar os olhos guiada pelo som que executava sua imagem vinha a mente, e era um momento a deleitar-se pois sua lembrança era tudo o que tinha.  


“Os pequenos bracinhos remexiam e os olhinhos curiosos abriam a caixinha numa esperteza sem igual enquanto Cora assistia sua pequena garotinha com o pacote.
— Gostou meu amor? – questionava ela enquanto Regina seguia entretida com a pulseira em mãos. 
A peça delicada possuía uma corrente banhada a ouro e seu pingente era uma pequena rosa. 
— Esse presente é pelo seu aniversário de um aninho, meu amor. Gostou? – questionava outra vez aconchegando-a em seus braços – Foi seu papai quem me deu... – ela suspirou frustrada – Uma pena ele não te conhecer minha querida. Mas agora ela é sua!
A expressão triste da mãe chamou a atenção da menina que colocou a mãozinha sobre o rosto de Cora. Ainda não falava mas parecia entende-la tão bem.
— Não se preocupe, coração... mamãe está bem. Venha, vou coloca-la no seu pulso – afirmou abrindo a pulseira e colocando-a em seu lugar. Regina ria e virava o cordão em seu braço contente.  
Cora não voltara a retirar a pulseira do braço da menina, apenas o fazia para dar banho voltando a coloca-la. O viu como uma maneira de estar sempre presente na vida da filha através de um objeto que, um dia, havia sido o elo que mantivera Henry presente na sua.”





  As luzes iluminavam seus rostos à medida que se movimentavam e apesar de barulhenta a pista de dança parecia mergulhada no silêncio para os dois, assim que suas mãos se encontraram e a mão esquerda de Robin pousou sobre a cintura de Regina, que consequentemente pôs sua mão em seu ombro. 
Nada foi dito durante um tempo e nenhum dos dois sabia se devia puxar o assunto ou qual era o momento devido para tal. Levado pela emoção da ocasião Robin pigarreou fitando-a nos olhos
— Sabe, acho que devo te agradecer por uma coisa... – ele começou deixando-a confusa – Mas primeiro, me diga seu nome – ele riu fazendo-a sorrir quando ambos perceberam que ainda não haviam se apresentado.
— Regina – ela afirmou – Meu nome é Regina... 
— Meu nome é Robin, e é um prazer conhece-la, senhorita – afirmou brincalhão fazendo-a sorrir outra vez.
— Agora já pode me dizer o por que quer me agradecer – ela continuou quando Robin emudeceu diante de seu sorriso e ele balançou a cabeça lembrando que precisava falar.
— Ah sim, é porque, bem, você esbarrou em mim um dia e acabei descobrindo as inscrições para essa universidade graças a um folheto que você deixou cair – explicou surpreendendo-a. – Obrigada por isso!
— Então foi esse o destino do meu folheto quando deixamos cair? – ela se perguntou e logo após arregalou os olhos – Claro! Desculpe por aquele esbarrão... estávamos atrasadas – confirmou timidamente. – Mas não foi nada esse pequeno favor, não precisa me agradecer – ela sorriu outra vez.
— Não doeu, está tudo bem – ele riu girando-a longe de seu corpo e voltando a aproximá-la de si conforme o ritmo. 
Outra vez se calaram, a música já ia acabar. Robin se praguejou por não saber mais o que dizer. 
Se recordou da pulseira e se perguntou como faria para explicar que, em um só dia, a havia perdido de vista duas vezes.
Ia faze-lo mas preferiu não gastar palavras num momento tão bom e aproveitou os últimos instantes sem fazer menção ao objeto perdido. 



Quando a canção acabou Regina se despediu deixando Robin aturdido no meio do salão.  
Procurou David com o olhar e o viu ocupado demais naquela hora, dançando com uma garota também. 
Foi surpreendido por uma voz animada atrás de si.
— Deu a pulseira pra ela? – questionava Ruby, os olhos grandes cheios de felicidade.
— Você sabia? – ele questionou intrigado.
A morena riu e chegou mais perto
— Ela é minha irmã, Robin.  – ele fez uma careta arrancando gargalhadas de Ruby – Só não te disse nada porque achei que ia ser bom vocês se conhecerem... e pelo jeito como vocês dançaram juntos eu estava mais do que certa! 
O loiro começou a gaguejar em resposta dizendo que não era nada daquilo que ela estava pensando, fato que em nada adiantou visto que, Ruby agora tinha certeza. Algo aconteceria entre eles.



   Zelena se encontrava do outro lado do salão, tomada pela raiva diante da evidência de que até então, Robin, nem sequer a tinha visto. Suas amigas comentavam cochichando sobre o ocorrido no lounge onde toda a turma de Zelena estava, com alguns sofás dispostos e uma mesa redonda no centro, iluminados por um enorme lustre e cortinas que fechavam o local como uma espécie de sala a parte, mas que agora estavam amarradas dando livre acesso a pista de dança.
  Enquanto Robin voltava a se recompor de seu momento finalmente a sós com a garota da pulseira, Regina fazia o mesmo a alguns metros, quando Mary chegou atônita devido ao que também havia acabado de ocorrer com ela. 
— Amiga, você viu isso? – ela questionava Regina que sorriu diante de seu espanto.
— Eu vi! E você, viu? – inquiriu de volta. – Olhe para trás, bem atrás de mim, ele ainda esta ali? – Mary se virou discretamente e percebeu Robin conversar com Ruby.
— Sim, ele está com Ruby agora.... – Mary voltou a falar e Regina se virou intrigada, sem entender por que a irmã estaria conversando com ele.
Mas no momento de se virar de frente para onde queria olhar foi atingida por alguém que esbarrou nela e um liquido ser despejado sobre seu vestido molhando não só a peça, mas a ela também. 
A morena encarou o par de olhos claros que, num tom de voz muito irônico pedia desculpas. 
Mary se apressou em buscar um guardanapo enquanto Zelena seguia perante Regina. 
— Ele é bem bonitinho, não é mesmo? – questionou Zelena atrevida, fazendo menção a Robin com a cabeça – Pois saiba que você pegou o bonde andando, querida. Eu o conheci primeiro. Cuidado onde pisa. – sussurrou indo embora. 
Confusa com o que acabara de ouvir Regina se limpou.
Robin só percebeu a movimentação quando Ruby apressadamente disse que precisava ir e correu ao encontro da irmã.  Ele foi atrás enquanto Regina se queixava, contando do ocorrido aos sussurros. Quando percebeu a presença do garoto corou de vergonha. 


— Quer saber? Eu vou embora! – bradou colocando os guardanapos molhados no lixo – Foi um erro eu vir, sabia que ia dar tudo errado, não sei por quê fui ouvir vocês duas! – ela gritava irritada indo recolher a bolsa. E correu rumando a saída. 
Ruby ia atrás dela, mas Robin pediu licença as duas e saiu atrás de Regina, torcendo para que dessa vez não a perdesse do campo de visão. 




  Regina não queria chorar, mas quando percebeu o rosto vermelho já acomodava as lágrimas que insistiam em brotar. 
— Regina! – o ouviu e levou um susto se virando automaticamente. Estavam na sala de recreação, ela a poucos metros da porta que levava ao prédio das meninas. – Espera! – pediu compadecido.
— O que você quer? Por que não me disse que tinha namorada? – ela questionou incomodada e ele parou indignado
— Mas eu não tenho! Quem foi que te disse isso? – inquiriu perplexo.
— Por que você acha que estou ensopada? A garota ruiva despejou um copo de...  - ela cheirou a si mesmo para comprovar – Suco de uva em cima de mim, porque eu estava dançando com você! 
Robin pôs as mãos na cintura e respirou fundo, erguendo a cabeça e olhando para o teto por alguns instantes.
— Ela não é minha namorada! – afirmou franco e Regina abaixou os olhos – Aliás havia meses que eu não a via... conheço ela mas nunca tivemos nada e...
— Você não tem porquê me dar explicações – Regina o cortou – Eu vou dormir, é o melhor que eu posso fazer – se virou outra vez e Robin quase socou a pequena mesa de centro a sua frente, tamanha a raiva. 
— Não posso deixar sua noite ser estragada por minha culpa! – pediu ele vendo a parar e virar-se outra vez para ele – A festa mal começou, vamos! 
— Nem me conhece, por que está fazendo isso? – questionou triste.
— Porque além de esbarrar em mim, você também deixou cair isso daqui – proferiu remexendo o bolso e tirando a pulseira dele. Os olhos de Regina se iluminaram na mesma hora – Reconhece? – a íris azul de Robin resplandeceu euforia. 
Ela foi até a mão estendida de Robin e tomou a pulseira para si, tentando coloca-la de volta, mas sem sucesso. Robin foi até ela.
— Permita-me... – murmurou sorridente, enquanto ela deixava que seus dedos habilmente fechassem o objeto. 
Não percebera, mas seus corpos estavam a centímetros de distância e seus olhos se encontraram por alguns instantes. 
— Obrigada! – disse ela a meia voz quebrando o silêncio que parecia algo natural para os dois quando se fitavam. – Onde a encontrou? 
— Você deixou cair no pátio, tentei ir atrás de você mas te perdi de vista e... fui impedido por outras coisas... – murmurou sem saber o que dizer. 
— A guardou até agora? – questionou ela encantada.
Ele deu de ombros.
— Sua irmã me disse que não sabia de quem era – eles riram com a constatação. Ruby aprontara para os dois. 
— Não quer voltar para a festa, não é? – ele perguntou e ela negou com a cabeça.  – Bem já que a senhorita não vai até a festa – ele murmurou a puxando pelo pulso e fazendo-a se sentar no sofá, tomando um violão para si enquanto Regina ria e se dava por vencida – A festa vem até a senhorita. 
   A música que se ouvia tocar na festa era All Star de Smash Mouth. Enquanto o som que chegava baixinho começava, Robin dedilhava o violão tocando as mesmas notas e cantando a mesma música, seguindo o cantor original. A voz rouca lembrou a Regina que ela já o havia ouvido antes.



(All Star- Smash Mouth)
Somebody once told me
(Alguém uma vez me disse)
The world is gonna roll me
(Que o mundo vai me enrolar)
I ain't the sharpest tool in the shed
(Eu não sou a ferramenta mais afiada da oficina)
She was looking kind of dumb
(Ela estava parecendo meio idiota)
With her finger and her thumb
(Com o dedo e o polegar)
In the shape of an "L" on her forehead
(Na forma de um “L” em sua testa)
Well, the years start coming
(Bem, os anos começam a chegar)
And they don't stop coming
(E não param de chegar)
Fed to the rules and I hit the ground running
(Cumpri as regras e comecei uma aventura arriscada)
Didn't make sense not to live for fun
(Não fazia sentido não viver pela diversão)
Your brain gets smart
(Seu cérebro fica esperto)
But your head gets dumb
(Mas sua cabeça fica estúpida)




Assim que o refrão veio, Regina acompanhava batendo palmas e cantando junto, no início timidamente e perdendo o medo conforme o tempo passava. 
Nenhum dos dois havia percebido, mas ainda não haviam retirado suas máscaras, e não o fizeram até a musica parar. 
Depois rir muito, pois a canção era mesmo divertida, os dois pararam e se fitaram por um longo instante. 
— Sinto muito, pelo que aconteceu – murmurou Robin num tom de voz ameno, sincero.
— Está tudo bem! – Regina meneou a cabeça – Foi um grande mal entendido... – ela sorriu encarando-o.
— Essa máscara está incomodando! – proferiu Robin levando as mãos a nuca e retirando o objeto de seu rosto lentamente.
  Regina não sabia se estava tão estampado em seu rosto o fascínio ao ver a face dele por completo. Queria se desfazer daquela sensação logo para não parecer uma completa idiota na frente de Robin.
Não funcionou e ele sorriu.
Ela levou as mãos também atrás da nuca, sem dizer nada e retirou sua máscara.
— Já que você está de cara limpa, por que não ficar também, não é mesmo?
Ele apenas assentiu, colocando- se mais perto dela no sofá, encurtando a distância, mas certificando-se a todo momento de que não estava sendo desrespeitoso, coisa que ela notou e mentalmente se sentiu encantada.
— Não vai me contar mais sobre você? – questionou ele apoiando o ombro no encosto do sofá e consequentemente a cabeça em sua mão. 
Regina deu um leve suspiro
— Acho que não tenho muita coisa para contar... além do que você já sabe. – afirmou solene.
— Tipo, seu nome, que você estuda teatro e é dona da pulseira que eu achei no chão? – os dois riram e Regina retificou sua resposta com outra pergunta.
— O que quer saber de mim? – inquiriu encarando os olhos azuis dele que se iluminaram com a brecha que seu questionamento dava.
— Qual seu maior sonho? – ele foi direto, o que pegou Regina desprevenida.
Ela ponderou durante algum tempo fitando as próprias mãos que tinha pousadas uma por sobre a outra em seu colo.
— Encontrar meu lugar no mundo...
A resposta também pegara o loiro completamente de surpresa. Ele abriu a boca para tentar dizer algo, mas nada conseguiu. Estava implorando aos céus que aquela noite não acabasse nunca.
— Nossa! Isso foi... poético. – ele contestou arrancando uma gargalhada singela da morena – De verdade. Mas, posso saber por que? Você acha que não tem um lugar no mundo?
— Eu não sei, só... – ela ponderou antes de responder – Quero me sentir útil, quero me sentir viva. Quero que no final da minha vida, quando eu estiver bem velhinha – ela ria do próprio raciocínio, enquanto Robin tinha sua atenção totalmente voltada para ela – que eu não tenha nada para me arrepender.
Ainda sorrindo, mergulhado nas feições e no encanto que as palavras dela proporcionavam ele se calou. 
— Que foi? – Regina murmurou despertando-o.
— Desculpe – ele se posicionou melhor no sofá. – Eu só... – foi a vez dele suspirar – me identifiquei com esse seu pensamento. – confessou. 
—Você também não tem um lugar no mundo? – ela estreitou os olhos, curiosa.
Ele suspirou profundo antes de continuar. 
— Estou procurando, igualzinho a você – respondeu sorridente 
— Não acho que seja difícil para você conseguir isso... você é talentoso! 
— Meu talento nem sempre foi o suficiente para algumas pessoas – ele devolveu, triste – Bem, pra uma em especial. 
Regina pensou bem em dizer a frase que se seguiu. Teve medo que ele se ofendesse, mas ele parecia solicito o suficiente para entender o que ela queria dizer.
— E por que essa opinião é tão importante pra você? Nem sempre a gente tem que se prender ao que os outros pensam... – ela sussurrou por fim.
— Nem mesmo quando você ama essa pessoa? – ele devolveu, o olhar intenso.
— Ninguém vai acreditar em você antes que você mesmo o faça. 
O silêncio outra vez fez morada. Robin não cansava de se surpreender com os pensamentos daquela garota que parecia conhecer tanto da vida, e parecia conhece-lo tanto também. 
— Parece que temos alguém bastante sábia por aqui, senhores – brincou para descontrair arrancando outra gargalhada de Regina. 
— Estou falando a verdade, Robin! Essas coisas levam tempo, mas você vai ver que é verdade. 
Ele manteve o ar brincalhão, prendendo os lábios numa linha reta, a fitando com sarcasmo.
— Você tem certeza que só tem dezessete anos de idade? – inquiriu recebendo um tapa de leve no ombro. Regina não percebia o quanto se sentia a vontade com ele.
— Certeza absoluta! 
— Obrigado por isso... – ele murmurou encostando sua mão na dela, por um breve instante, uma fração de segundos. Mas bastava para eles.
— Obrigada a você por abrir mão da festa para me fazer companhia... foi muito gentil da sua parte. 
Ele reclinou o corpo, fazendo uma espécie de reverência. 
— Foi uma honra, milady! – disse observando Regina corar imediatamente.


  Robin voltou ao salão para roubar doces e salgados para levá-los até onde os dois ficaram até altas horas da noite. Enquanto o resto se acabava de dançar, abaixo de luzes pirotécnicas, os dois curtiram uma espécie de encontro por acaso. Afinal o acaso já fazia parte daquela história.


Muito mais do que ambos imaginavam.



As quatro da manhã quando Regina já estava muito bem acomodada em sua cama, Ruby surgiu em seu quarto e se aconchegou junto dela, surpreendendo-a. Encostada em seu ombro enquanto a irmã meio dormindo, meio acordada, fazia carinho em seus cabelos ela não aguentou a curiosidade.
— Então Gina, ele beija bem? – Regina arregalou os olhos.
— Nós não nos beijamos, Ruby! – afirmou espantada.
— Como assim não se beijaram? – ela quase gritou enquanto Mary tirava os sapatos rindo a toa.
— Eu nem devia estar falando com você depois do que aprontou Ruby! Fala sério, reclamei sobre a pulseira um dia todo e você me deixa ela com um desconhecido? E se ele vendesse ela? Você é maluca!
— Vendesse? Regina, ele guardou para te devolver, olha bem para cara dele e pras roupas que ele usa e vê se ele precisa vender uma pulseira que achou na rua? Pelo amor de Deus! Não acredito que sou um cupido tão ruim! – exasperou incrédula – Não rolou nada mesmo? – ela queria confirmar.
— Nada! E agora já pro seu quarto! – Regina ria da decepção da irmã.  Ruby recolheu as próprias coisas e fechou a porta em seguida.



Enquanto as amigas conversaram animadamente sobre sua noite, no outro prédio, Robin cantarolava enquanto vestia uma camisa branca pra dormir, e se enrolava em suas cobertas ainda assobiando baixinho. David chegou numa euforia sem igual, mas ainda assim preocupado.
— Encontrou a moça da pulseira? – questionava ele sentando-se numa cadeira. Na cama acima da de Robin, Archie já dormia.
— Não só encontrei, como conversei com ela! – ele sorria – E ela é ainda mais bacana do que eu pensei que pudesse ser...
— Hummm, olha só o garotão apaixonado! – zombava David obtendo como resposta uma almofada na cara – Mas vocês desapareceram da festa! Não me diga que rolou uns beijinhos... – ele não precisou dizer nada, sua insinuação bastava.
— Não! Você ficou maluco? – David brincou suspirando e fingindo alívio – Ficamos ali no hall entre os dois prédios, conversando, cantando... 
David parou do nada, parecia pensativo, o que fez Robin se calar.
— Que foi bobão, ta apaixonado também né? – ele sorria recebendo a almofada que atirara de volta – Me conta, vai.
— Ela é incrível! É o tipo de garota que jamais sonhei conhecer, mas cara... ela é tão complexada, coitada.
— Como assim? – Robin o observava caminhar até sua cama. David sentou-se de modo que pudesse continuar a encarar o amigo.
— Ela acha que estou querendo tirar com a cara dela... quero dizer, ela acha que não sinto nada de verdade! Acha que estou querendo zoar dela porque ela é... – ele não sabia bem como explicar.
— Gordinha? – continuou Robin vendo o amigo assentir – Insiste cara, quem disse que isso te impede? Não vai bancar o idiota e fazer ela achar que tinha razão, insiste nela cara! Diz pra ela que é de verdade!
— Falei! Já falei, mas ela tem medo.... dá para ver nos olhos dela, está com medo de se machucar. – David concluiu ainda pensativo.
— Ora, vejam só! – Robin afinou a voz voltando a brincar – O grandalhão está apaixonado, todo preocupadinho! 
— Cala a boca, Robin! – ele bufou se entregando a risada depois de um tempo.
— Vocês dois, parem de fofocar e me deixem dormir – pode-se ouvir a voz de Archie, sonolento, ele reclamou.
Robin repetiu o gesto que fizera com David lançando uma almofada na cama de cima. 
— E você, ruivinho, não arrumou nenhuma pretendente essa noite?
Archie riu, decepcionado consigo mesmo.
— Acham que as garotas reparam num cara ruivo de óculos? Elas estão mais propensas a caras de olhos azuis e com mais de um e setenta de altura – revelou ainda sonolento, referindo-se a David – Vão dormir, apaguem essa luz! – ordenou rabugento.
Robin e David nada disseram e acataram a ordem em silêncio. 



  A festa em plena quarta feira não havia sido a melhor ideia que Zelena tivera na vida, e os professores concordavam que depois de uma noite tão agitada a solução era dar aulas a tarde. 
Regina dormiu tranquila assim como Robin naquela noite. Mas ao acordarem ambos, sem saber, pensavam um no outro com carinho. Havia sido uma conversa diferente, algo que nenhum dos dois jamais imaginou experimentar. 
Naquele dia haveria a primeira aula integrada entre o curso de musica e o de teatro. Mr. Gold andava animado pelos corredores, e ao chegar a ampla sala que possuía espelhos em toda extensão da parede direita e um pequeno palco ao fundo, percebeu que os alunos apesar de cansados também estavam eufóricos. 



Ao entrar na sala, os olhos de Robin varreram o local na esperança de encontra-la e lá estava ela, a calça jeans clara e a camisa xadrez, os cabelos soltos emoldurando o rosto que conversava e sorria animada com as amigas. 
Não durou muito sua felicidade. Zelena, o fuzilava mais próximo a ele, acompanhada de sua fiel escudeira Belle. Ambos olhos claros pousaram no garoto que bufou e virou a cara. 
— Ok, garotos, sei que a noite de ontem foi animada, mas agora é hora de falar sério! – murmurou Gold em meio a eles. Sentados em círculo puseram atenção em suas palavras – Estou muito feliz de ver vocês todos tão empolgados. Acreditem, rapazes e garotas estar aqui é um privilegio para poucos. Mas vamos parar de baboseira. Começaremos com um alongamento. 


Os garotos se puseram a alongar-se, rindo uns dos outros.

— Alongamento é importante, tanto para voz quanto para atuação... é como se vocês tivessem que conectar todo seu corpo a sua mente. É um aquecimento essencial!  -- Gold parou quando Robin e David começaram a se empurrar, se provocando – Já chega, garotos! – alertou se divertindo com a expressão dos dois que automaticamente pararam. 


Ao longo da aula Gold deu instruções aos garotos sobre expressão corporal. Quando podia, Regina lançava longos olhares para Robin que fazia o mesmo quando percebia que ela estava distraída. 
Quando terminaram, Fiona, uma das professoras e irmã de Gold apareceu para tirar uma foto. O registro seria publicado no jornal, com a notícia de que as aulas haviam começado. 


No outro dia...

Ao chegar em casa depois de um dia cheio no hospital, Robert, o pai de Robin se deparou com um jornal sobre a poltrona. Costumava folhear as páginas quando tinha ânimo e naquela noite não viu a esposa na sala o esperando. Havia dias que não o tratava como antes -, pelo fato do filho ter ido embora sem dar noticias.
Num impulso tomou o jornal nas mãos, sem muita preocupação apenas correndo os olhos por algumas notícias. 
Uma delas chamou atenção do homem que estagnou encarando a imagem estampada com certa comoção, sentimento que não durou muito, e se transformou em raiva. 


Juilliard School Inicia ano letivo com novos jovens talentos


Robert não estava disposto a encarar seu passado. Era verdade, por muito tempo ele evitou. Mas a insistência do filho em se tornar artista era parte daquilo que ele mais temia e tentava evitar. Sentimentos obscuros há muito esquecidos, voltavam a acomete-lo. Por isso quando bateu a porta de Cora, seu coração se lembrou como era passar por nervosismo. Ela o recebeu sem mais delongas. 

Quando o filho tinha quatorze anos, Robert descobrira que frequentava aulas com Cora. Praguejou tanto ao saber disso pois não entendia a razão pela qual, em meio a uma cidade tão grande, o filho fora parar nas mãos daquela que fora seu grande amor do passado.

Ninguém sabia, mas Henry e Robert foram grandes amigos, até a aparição de Cora em suas vidas. A garota era loucamente apaixonada por Henry e Robert nutria o mesmo sentimento por ela. Ao não ser correspondido, ele e Henry brigaram. 

Por isso, ao perceber a inclinação do filho para as artes, se lembrava daqueles tempos e queria a todo custo evitar que o filho se tornasse aquilo que ele passou a abominar quando foi duramente magoado. 

Jogou o jornal na mesa da sala de Cora, tendo o olhar pacifico da mulher como resposta.


— Foi você quem enfiou ele nessa universidade? – questionou entre dentes.
— Não, não fui eu. – ela devolveu ainda calmamente.
— Quem irá pagar a mensalidade então? – ele continuou ainda sério.
Cora tomou o jornal para si, observando o rosto de Robin e logo após atentando-se para a face de Zelena. Suspirou antes de responder.
— Seu garoto é especial... como você foi um dia, Robert – ela proferiu numa nostalgia que ele também sentia – Estou tentando corrigir aquele erro do passado.
— Tarde demais. É tarde demais para qualquer coisa, Cora – ele tomou o jornal de sua mão – Aliás, você não errou, fui eu. Eu que fui um idiota ao achar que você se apaixonaria por mim... E agora meu filho é igualzinho aquele artista... aquele... – ele cerrou os punhos.
— Já chega! – Cora murmurou mais alto do que das outras vezes.
A lenha crepitava na lareira, quebrando o silêncio que insistia em ficar. 
— Não escolhemos por quem vamos nos apaixonar, simplesmente acontece. – Robert bufou colocando as mãos na cintura – Estou fazendo pelo seu garoto o que eu faria por um filho meu... o que estou fazendo pela minha Zelena. 
— Quanto? – sibilou ele, arredio.
— Você irá pagar? 
— Quanto? – ele repetiu, o tom de voz alterado. 
Ao invés de responder, Cora se dirigiu até a porta de casa, abrindo-a.
— O Robert que eu conheci jamais passaria por cima dos sentimentos de alguém por tamanha bobagem. Quando você tiver superado esse passado, volte aqui e eu te direi quanto pago pra que seu filho realize os sonhos dele! Do contrário se tranque no seu mundinho outra vez!  
O homem se dirigiu até ela, o sangue fervendo nas veias. Cora se manteve firme.
— O Robert que você conheceu não é nem a sombra do homem que eu me tornei... enquanto o seu Henry? Ah, pois é, te largou para viver a vidinha confortável dele em Londres enquanto você desperdiçava seu tempo dando amor a alguém que nunca te deu nada em troca! 
Antes que se descontrolasse e desferisse um tapa no homem, pois era essa a vontade que tinha, Cora pediu, quase implorou para que ele fosse embora. 
Quando assim o fez, ela desabou em lágrimas, fechando a porta e pegando o jornal outra vez. Descuidada, acabou manchando o jornal com as gotas salgadas que despejaram por sua face.
A gota caiu precisamente manchando o rosto de uma das garotas da foto, sendo impossível ver suas feições. 


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Notas finais do capítulo

All Star - Smash Mouth https://www.youtube.com/watch?v=L_jWHffIx5E

Moonlight https://www.youtube.com/watch?v=U21Ts_FfRU4



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