Passei as mãos pelo vestido tentando desamassá-lo. Olhei para os lados tentando me distrair enquanto esperava meus pais chegarem, dei uma olhada nas prateleiras a minha volta. Estavam tão empoeiradas que parecia não terem sido tocadas há anos. A biblioteca era um lugar estranho de se freqüentar. Não tinha muita claridade por mais que tivesse janelas do teto ao chão, e a pequena mesa de escritório feita de mogno envelhecido parecia insignificante em meio a tantas estantes. Eu estava com o quadril escorado a mesa quando a porta se abriu e eu observei o rei e a rainha se aproximarem.

— Ahn... – eu comecei sem saber direito o que falar – Sobre o baile...

Minha mãe levantou a mão e minha voz foi diminuindo até sumir. Isso não podia ser bom. Quando eu não ganhava nem o direito de poder falar, significava que Cíntia já havia decidido as coisas por mim e não haveria nenhuma discussão.

 Ela, a rainha Cíntia, era a mulher mais inspiradora que você poderia querer conhecer. Ela tinha no rosto aquele sorriso sempre gentil, com olhos azuis e lábios finos rosados. Seu cabelo castanho escuro na altura do ombro, levemente ondulado, a fazia parecer minha irmã mais velha.

Ela não tinha quase nenhuma ruga – por mais que não acreditasse quando dizíamos isso, e era realmente magra, com a cintura do tamanho do meu antebraço. Ela vivia cuidando de mim e meu irmão mais novo, Jonathan, então eu via ela muito mais do que meu pai, Rafael.

O rei da França era igualmente inspirador e imponente. Meu pai é alto, forte, acho que por treinar muita esgrima quando mais novo, e tinha o péssimo hábito de decidir tudo por mim sem ao menos me consultar. Os cabelos castanhos curtos e olhos castanhos claros nos faziam ser bem parecidos um com o outro.

Ele assumiu o trono muito jovem e, por ser homem, só se casou anos após ter se tornado rei. Ele não passou pelo problema que eu agora enfrentava.

— Filha. – minha mãe mandou me aproximar – Sabe que o baile é uma tradição.

— Tradições não podem ser quebradas. – meu pai completou

Suspirei. Eu sabia bem como as coisas iriam acontecer dali pra frente. Eles controlariam ainda mais minha vida, se é que isso é possível.

Eu teria que contornar essa situação. Pensar eu uma fácil saída.

— Concordo, mas com uma condição.

Os dois me olharam e meu pai estreitou os olhos.

— Fale.

— Vocês não podem me apressar.

Eles se olharam em uma conversa silenciosa. Eles faziam muito isso, principalmente quando eu estava por perto.

— Tudo bem. – minha mãe disse sorrindo – prometemos não apressá-la, se prometer tentar. De verdade, Isabella.

Ponderei e achei que a melhor solução seria concordar com aqueles termos.

Ambos se retiravam e meu irmão calmamente se levantou de trás de um sofá próximo a mesa onde eu estava escorada. Onde, é claro, ele estava escondido o tempo todo para ouvir a conversa. Como o bom irmão mais novo enxerido que ele é.

— Você vai nos deixar? – Jonathan perguntou com olhos tristes se aproximando de mim

Suspirei e sorri passando minha mão por seus cabelos castanhos cacheados.

— Claro que não, pestinha. Não vou sair do seu pé tão cedo.

Ele sorriu já sem nenhum resquício de tristeza no rosto e me abraçou.

— Que bom. – ele disse quando se afastou – Vou poder te incomodar por mais tempo, Isa.

Neguei com a cabeça rindo enquanto ele saia saltitando da biblioteca.

Fui até a mesinha onde estavam meus papéis me joguei na cadeira pegando um papel e uma caneta.

Tinha um baile para preparar, e um plano pra fazer.

Afinal, se eu não pudesse dizer não aos candidatos e meu trono, poderia fazer com que eles dissessem não a uma futura rainha insolente.

No final, ninguém vai querer casar comigo. Com ou sem trono.