Eu não lembro o exato momento em que havia dormido. Por sobre os papéis em cima da mesa, apoiada com a cabeça em meu próprio braço e completamente torta e desconfortável. Mas certamente o momento em que acordei foi memorável. Assustada, com um baque sonoro ressoando pelo escritório. Em pulo me inclinei para trás e acabei caindo da cadeira em que estava sentada.

Ouvi uma risada e esperei alguns segundos até minha visão deixar de estar embaçada, e que meus olhos pudessem se ajustar a claridade do cômodo. Ainda no chão, arrisquei um olhar para cima e vi Jordan, o amigo mais próximo de meu pai me encarando com a cabeça pendida para o lado em curiosidade.

— Isabelle... – ele começou

— Eu não estava dormido. – falei e minha cabeça doeu – Eu, apenas fechei os olhos por um momento. Estou bem.

Ele me observou e senti-me ridícula por pensar em pedir sua ajuda para me levantar. Com certo nível de dificuldade, me pus em pé e dei leves batidinhas no tecido vestido que usava, o mesmo da noite anterior.

Sentei-me novamente na cadeira de mogno, sentindo uma leve dor em minhas costas por ter dormido em um lugar tão desconfortável, suspirei e olhei para Jordan.

Ele devia estar em seus quarenta e poucos anos. Usava uma calça social preta, uma blusa branca com botões na frente e um sapato preto social que brilhava com o enceramento. Loiro, com o os olhos castanho claros, Jordan estava sempre por perto para manter o rei, meu pai, o mais contente e calmo possível. Ele, de certa forma era bom no seu trabalho. Ele e meu pai haviam lutado lado a lado durante uma guerra, e aquela batalha havia criado um laço forte de confiança entre os dois, que permaneceu ao voltarem para casa e meu pai se tornar rei por direito hereditário. A batalha havia também deixado uma cicatriz física, que Jordan orgulhosamente contava a estória. Uma cicatriz branca que ia da linha da sobrancelha até o início do couro cabeludo.

Ele levantou suas mãos em rendição e saiu dá sala com um pé atrás dou outro, como se fosse perigoso dar as costas na minha presença. Suspirei apoiando minha cabeça não mãos e fechando meus olhos. Eu estava com uma pequena pontada de dor nas costas devido ao modo em que eu tinha dormido. Sem nenhuma compostura.

Falando em compostura, eu já deveria estar atrasada para alguma coisa que minha mãe deveria ter planeado, certamente.

— Isabella?

Pelo visto não morre tão cedo.

— Mamãe? – disse já levantado da cadeira e indo pro meio da sala

— O que você está fazendo aqui nesse horário? Nossos convidados já estão chegando? – ela disse abrindo a porta e ficando frente a mim

— Só estava procurando um livro e... – um segundo – você disse que convidados estão chegando? Mas já não estão todos aqui?

Bêbados desde ontem à tarde, pensei em completar, mas ela já não me parecia de muito bom humor pra uma piada verdadeira.

O pior foi a ver abrindo um sorriso. O sorriso que ela abria quando estava tramando algo.

— Filha, você tem que causar uma boa impressão nessas pessoas. Vá trocar de roupa. Coloque um dos seus lindos vestidos. De preferência o azul, que destaca seu cabelo preto.

Ela me puxou pelo braço para fora do escritório, e eu tive que cravar meus pés ao chão para fazê-la parar.

— Mãe, quem está chegando?

Ela olho ao redor e passou as mãos em meu vestido, desamassando-o. Fazendo tudo menos olhar em meus olhos ao sussurrar:

— Patricia e Jeremy.

Cerrei meu olhos.

— Quem?

— Patricia e Jeremy Bieber.

Inspirei fundo e fiz suas mãos deixarem meu vestido.

— Mãe, tem algum motivo específico para você ter convidado o rei e a rainha do Canadá para o meu baile, que por ventura tem um filho dois anos mais velho que eu e é solteiro, um herdeiro?

— Tem, mon dieu? Não sabia. – ela sussurrou mais baixo ainda

— Jura? A senhora não tinha nenhuma intenção em convidar um filho legítimo pra meu baile 1 anos justo quando eu sou acertada com a notícia de que só posso ter o trono se me casar?

— Fille, o que você de mim pra isso passar pela sua cabeça? – ela perguntou se fazendo de ofendida

— A senhora de inocente não tem nada. – eu disse seguindo pelo corredor a caminho do meu quarto

— Troque de roupa! – a ouvir gritar antes de dobrar no corredor

Duas horas depois eu estava lá, parada, perfeitamente arrumada, parecendo uma Barbie real-size nas escadarias do castelo du'Paris , esperando enquanto Patricia e Jeremy Bieber cumprimentavam meus pais segundos após terem descido da carruagem.

Foi quando o vi.

Ele desceu despreocupadamente, de cabeça baixa como se nada fosse uma novidade. Cabelo castanho levemente arrepiado, a roupa real do Canadá, traje branco com uma pequena listra vermelha em torno do colarinho, sapatos pretos sociais.

Ele levantou a cabeça para cumprimentar meus pais e percebi que havia não Haia desviado o olhar dele. Dei as boas vindas ao rei e a rainha, e quanto fui cumprimentar ele, fiquei embasbacada com os olhos cor de mel que me observavam com diversão.

— Eles vão se dar muito bem – ouvi minha mãe dizer para a rainha enquanto Justin me puxava para um abraço como se me conhecesse a anos

Ele aproximou do meu ouvido e o ouvi dizer com a rouca.

— Não se preocupe princesa, não a mínima intenção de lhe tornar minha rainha.

Ele me soltou rapidamente e voltou para perto de seus pais enquanto tive que forçar um sorriso.

Quem ele pensa que é afinal?

Ele não quer me fazer sua rainha..

Nem quero o fazer meu rei.