Desabafos de Outra Pessoa escrita por Nobody


Capítulo 2
Um dia Quente




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Gostava que alguém me tivesse entregue um manual de sobrevivência quando vim morar sozinha. Não, eu sabia cozinhar, eu sabia passar a ferro, sim, eu sabia sobreviver sozinha, porém havia algo que não me tinham preparado. Viver com alguém.

O problema não era viver com alguém e sim com ele, James, um rapaz completamente arrogante, porém, o que tinha de arrogância tinha de beleza. Ele não era nenhum Deus Grego, no entanto toda aquela postura de menino rebelde deixava qualquer pessoa a querer mais.

Quem era eu para ser diferente, certo?

Que posso eu fazer se aquela arrogância na voz ou aquela pitada de experiência me deixa a imaginar mais do que devia?

Todas as coincidências que aconteciam deixavam-me a pensar no que poderia acontecer, se eu não tivesse juízo, mas como toda a gente, eu erro, eu também sei pecar e de que maneira.

Estaria a mentir se dissesse que nunca imaginei aquele corpo em contacto com o meu, se dissesse que nunca tinha ficado mais de dois segundo a olhar quando ele passava sem camisa por mim, mas vamos lá a ver, eu sou uma pecadora, por isso sim, eu vou jurar a pés juntos que nunca idealizei mais nada do que uma pequena conversa na minha cabeça.

Aqueles momentos em que, por alguma razão, a cozinha se tornava demasiado pequena para os dois e o seu corpo tocava no meu estava a deixar-me cada vez mais tensa, cada vez estava mais fora de mim.

“Estava a preparar o almoço, chamei o James para me ajudar, seria puré, nada de transcendente mas nunca gostei de ter aquele trabalho todo com as batatas, para que servia um homem em casa, não é?

O dia não estava muito agradável, o calor lá fora deixava qualquer pessoa fora de si. Decidi vestir uns calções e uma camisola de alças larga para passar a tarde em casa, já que não estava nos meus planos sair e morrer de desidratação sob aquele sol de Junho.

O James e eu conversávamos sobre a noite anterior, ele tinha ido sair e estava a contar-me mais uma das suas aventuras magnificas com raparigas, não podia dizer que eram mentira pois eu já presenciei muitas delas.

—Tu devias ter visto, a miúda estava praticamente a saltar para o meu colo! –dizia ele enquanto se ria

—És um exagerado também. –respondi revirando os olhos e mantendo a minha concentração no tacho das batatas à minha frente, a água a borbulhar era bem mais interessante do que o James encostado à mesa da cozinha, só de calças de fato de treino .

—E tu uma ciumenta! Se eu digo que ela estava a saltar para cima de mim é porque estava, qual a necessidade de mentir? –perguntou e eu mantive os meus olhos bem fixos naquela água borbulhante, era um dia demasiado quente para eu olhar para trás.

—Não tenho ciúmes! –respondi e ouvi um riso sarcástico atrás de mim.

Senti-o movimentar-se, mas não me mexi até sentir o seu corpo a centímetros de distância do meu.

—Tens a certeza? –perguntou ao meu ouvido enquanto me empurrava ligeiramente contra a banca.

—Sim. – A minha voz soou fraca, o contrário do que eu queria demonstrar, não, eu não tinha ciúmes, porém não achava piada nenhuma a todas as aventuras dele. –O que estás a fazer? –perguntei quando ele colocou as mãos à minha volta apoiando-se na banca e passou o nariz pelo meu pescoço.

Voltarei a mentir se disser que aquilo não despertou nada dentro de mim, aquela sensação de perigo, de que algo podia acontecer, do seu corpo tão próximo do meu e principalmente a noção de que eu estava presa, os seus braços formavam uma jaula perfeita à minha volta.

—Estou a mostrar-te o quão mentirosa és. -sorriu perto da minha orelha. -Sabes disso não é? – falou novamente no meu ouvido depositando um beijo atrás da minha orelha. Fechei os olhos para manter a calma. Não posso ser julgada, ter alguém que nos atrai tão perto de nós e saber que não devemos fazer nada custa um bocadinho, nada de mais mesmo.

Forcei o seu corpo para trás, o que só fez com que juntasse os nossos corpos, perfeitamente encaixados, o seu peito com as minhas costas, a sua cabeça ligeiramente acima da minha, as suas mãos foram para a minha cintura e eu só conseguia pensar que estava demasiado próxima, as minhas defesas estavam demasiado fracas no momento, eu precisava sair dali!

—Deixa-me mostrar-te que estás enganada. –disse virando-me de frente pra ele e pressionando-me contra a banca novamente. Fechei os olhos quando senti a sua respiração na minha orelha, eu realmente não prestava, estava no meio da cozinha presa contra a banca da cozinha e a única coisa que eu conseguia pensar era na temperatura elevada que estava na divisão e não, não era da rua nem da água a ferver no fogão, era eu! Eu estava quente. Eu tinha que voltar à razão.

—Ja…James – a minha voz falhou quando ele deu uma leve mordida no meu pescoço.

Agora sim, eu estava perdida. Os lábios dele a percorrerem o meu pescoço, a força que ele exercia contra mim, isso era demasiado para eu conseguir raciocinar em condições.

Inclinei-me para trás na tentativa de sair dali. Pelo menos é o que eu dizia, na verdade eu só estava a agir consoante os seus movimentos.

A mão dele entrou dentro da minha blusa e alisou-me as costas, as suas mãos estavam frias por causa da água que antes estava na banca e o contacto com a minha pele quente fez-me arfar ligeiramente, arrancando-lhe um breve sorriso daqueles lábios que gozavam comigo neste momento.

A sua boca percorria caminhos entre o meu pescoço e os meus lábios. Não, nós não nos beijamos, os seus beijos faziam um círculo perfeito nos meus lábios, porém sem nunca os tocar.

—Quando te beijar vai ser porque me pediste, até lá não o vou fazer. Vou querer ouvir essa boquinha linda a pedir para eu a beijar. –disse fazendo os seus lábios roçarem os meus, o seu hálito quente invadiu os meus pensamentos e eu tenho a certeza que naquele momento eu estava perdida.

A outra mão percorreu o meu braço direito desde o pulso até ao ombro fazendo-me arrepiar por onde os seus dedos passavam. A temperatura aumenta com o passar da tarde, certo? Não sou eu.

Os seus dedos infiltraram-se na alça da minha camisola e fizeram um caminho bem torturante até ao meu peito.

Recuso-me a dizer isto em voz alta, mas sim, eu gemi, eu gemi quando ele tocou no meu mamilo enquanto me mordia o pescoço, claramente aquilo ia ficar marca, porém eu não me importava. Neste momento o meu único pensamento era a sensação que aquele toque me estava a proporcionar, o formigueiro que se concentrava em mim estava a deixar-me perdida, não tenho noção de quanto tempo se passou desde que comecei a fazer o almoço, só sei que neste momento, eu tinha perdido a guerra que durava entre nós.

Ele riu contra o meu pescoço quando ouviu o meu gemido e puxou-me mais para si, as suas mãos agarraram a base da minha camisola e puxaram-na para cima…

A camisola ficou parada no meu peito, os seus lábios ficaram a centímetros dos meus, o seu corpo separou-se demasiado rápido e uma sensação de vazio apareceu no meu cérebro. Tudo tinha acabado, não, eu não estava a sonhar, a água tinha vertido para cima do fogão tirando-me do transe em que estava e uma luzinha vermelha acendeu no meu cérebro bem antes de o empurrar.

Desliguei o fogão e sai da cozinha.

—Preciso de sair. –disse-lhe pegando nas chaves de casa, na mala e no telemóvel.

Sai de casa, do prédio e da rua onde morava, caminhei durante meia hora pelas ruas da cidade sem saber para onde estava a ir, cheguei a uma praça e sentei-me num dos bancos.

Puxei as minhas pernas para cima, acendi um cigarro e constatei algo: O dia estava mesmo quente.”


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