Haru | Primavera

(Março/13 — Junho/21)

Abril chegou, e com ele um novo ar. Todos estavam em clima de recomeço, de celebração à vida e de novos projetos. Mas, talvez, ninguém como Hinata. Ela havia acabado de entrar em seu sexto mês de gravidez e sua barriga estava muito maior do que imaginaria. Por vezes ela se perguntava se havia mesmo apenas um bebê ali. Tsunade, que ao saber fez questão de tratar daquela gravidez, não cansava de confirmar que sim, ela teria apenas um... por enquanto.

Qual foi a sua surpresa em, mês após mês, ver suas amigas também recebendo aquela notícia. Era, como Naruto gostava de dizer, algo que estava tendo na água daquela vila. Shikamaru, que também descobrira que seria pai, afirmava que deveria ser um surto, como acontece com a gripe, ou todas quiseram acompanhar Hinata. Mesmo com tantas brincadeiras que pareciam reclamações, era possível ver os pais tão felizes e sorridentes quanto as mães.

Naruto, que estava tão empolgado que no dia seguinte saíra contando a todos da vila que seria pai, tentava ao máximo não ficar longe em missões muito longas. Ele, porém, nunca recusava nenhuma missão e sempre a fazia da melhor forma. Era conhecido e, por vezes, solicitado em ocasiões especiais. Sempre que estava longe, também, ele enviava mensagens à Hinata, informando o dia que chegaria ou mesmo se iria se atrasar, quando podia.

Enquanto Hinata andava pela rua, algumas pessoas passavam por ela sorrindo, acenando e, por vezes, pedindo para passar a mão em sua barriga já bem aparente. Em seu quarto mês sua barriga já estava bem visível em suas roupas, e agora, no sexto mês, estava tão grande de algumas pessoas pensavam que ela poderia estar de mais tempo do que imaginaria. Mas confiava em Tsunade. Seu filho era grande.

Hinata carregava algumas sacolas de compras. Ainda era manhã e o clima estava agradável, com um vento fresco permitindo que ela usasse vestido sem mangas. O sol já brilhava no céu limpo, sem nuvens. Aquele era um dia especial, pois, junto com seus amigos, ela iria apreciar o Hanami, o florescer das cerejeiras, e também curtir um bom piquenique.

Foi surpreendida por Konohamaru, apressado, lhe pegando as sacolas.

— Não posso deixa-la carregar essas sacolas pesadas, Hinata-sama. Naruto nunca ia me perdoar se eu a visse assim e não a ajudasse — ele explicou assim que a viu abrir a boca para contestar. Logo em seguida, sorriu.

— Não estão pesadas, Konohamaru. Mas se não estiver muito ocupado, agradeço sua ajuda e companhia até minha casa.

Hinata, através de Naruto, havia criado um grande carinho pelo rapaz que a ajudava. Ele estava sempre pronto para ajuda-la e, também, para ganhar reconhecimento. Ele era como Naruto, mas à sua maneira.

— Quantos meses está?

— Ah, acabo se completar seis meses. Em breve terá um bebê para visitar.

— Estou ansioso para saber com quem ele irá se parecer. Ou ela, né? — Apesar da tecnologia que chegava à vila, Hinata escolheu não saber o sexo do bebê até o nascimento. E, mesmo curioso, Naruto concordara.

— Eu também. Na verdade, estou ansiosa para o ver. — Hinata sorriu com carinho. — Quem sabe, futuramente, não acaba sendo o sensei dele? Isso não seria interessante?

— Oh, sim! — Konohamaru sorriu. O mundo seria realmente curioso se ele fosse sensei do filho de Naruto. — E onde está Naruto?

— Voltando de uma missão. A previsão de sua chegada é hoje. Ele pode chegar a qualquer momento.

— Vão ao piquenique? — Hinata apenas acenou confirmando e, em seguida, apontou para as sacolas. Ambos riram. — Os vejo lá então. Precisa de mais alguma coisa?

Eles havia chegado a frente a casa de Hinata. Ela abriu a porta e o rapaz colocou as sacolas sobre a mesa enquanto fazia a pergunta.

— Não. Agradeço muito, Konohamaru. Espero o ver lá também. Naruto também irá gostar.

Eles se despediram rapidamente, com o rapaz acariciando sua barriga da mesma forma e saindo. Uma coisa que Hinata aprendera naqueles meses é que barriga de grávida era propriedade pública. Todos queriam tocar e acariciar. Alguns queriam ficar conversando com o bebê, e, por vezes, a maioria eram as admiradoras de Naruto. Hinata não se incomodava com isso de verdade, exceto quando estava cansada e ansiosa para chegar a sua casa.

Hinata começou a preparar as coisas para o piquenique assim que Konohamaru saiu. Todos levariam alguma coisa, mas ela sabia como Naruto comia, então decidira levar um pouco a mais. Claro que ela não estava muito atrás, especialmente agora. Tinha fome a todo instante, tanto que “beliscara” algumas coisas enquanto preparava.

— Olha quem eu peguei comendo antes da hora! — Naruto, como raramente acontecia, a pegou no flagra. Ela se perguntou se ele fizera de propósito ou se estivera tão distraída que não notara. Ele riu quando ela se virou rapidamente, mostrando-se assustada.

— Você me assustou! — ela disse o óbvio e logo estava rindo com ele. — Não consegui resistir.

— Prometo que não conto pra ninguém... Se você deixar eu provar também!

— Está tentando me chantagear, Naruto?

— Eu? Nunca! Não sou louco. — Ele ergueu as mãos, negando rapidamente com a cabeça e arregalando os olhos. Apesar da expressão assustada, tinha um sorriso nos lábios. — Estou tentando negociar.

— Como se precisasse disso... — ela sussurrou, dando um meio sorriso. Hinata pegou uma colher e passou no doce que tinha feito. Quando ela estendeu, Naruto negou.

— Não. Não assim. — De imediato, Hinata não compreendeu. Naruto ergueu o dedo e indicou a panela. Hinata corou na mesma hora, mas levou o indicador até o doce que tinha na colher. Agora todo o conteúdo estava em seu dedo.

O Uzumaki se aproximou, debruçando-se sobre a bancada para poder alcançar o dedo da esposa. Seus lábios envolveram o dedo estendido, sua língua passou em volta e ele foi retirando os lábios lentamente. Hinata havia olhado para ele o tempo todo, com as bochechas levemente rosadas, porque tinha sentido um frio no estômago.

Naruto sorriu com aquela reação da esposa. Na verdade, imaginou que se fosse o contrário, eles não sairiam de casa naquele dia. Sendo sincero, ele estava mesmo querendo ficar só com ela. Porém, aquela não era uma coisa que diria.

— Vou tomar um banho. — Ele respirou fundo, engolindo a pergunta, se aproximou de Hinata, contornando a bancada que os separava e selou os lábios nos dela. — Não vou demorar.

— Naruto? — ela o chamou assim que ele se afastou. Quando o loiro se virou, ela se aproximou, o abraçando meio de lado por conta da barriga. — Bem-vindo de volta.

— É bom estar com você de novo. — A frase não passou de um sussurro. Com os olhos fechados, Naruto soube que tinha todo o seu mundo em seus braços.

Depois que ele se afastou para tomar seu banho, após lhe dar mais um beijo, Hinata voltou a arrumar as coisas dentro da cesta. Como prometido, o marido não demorou e foi sua vez de ir tomar um banho e se trocar. Mais uma vez Hinata escolhera um vestido sem mangas. Pouco a pouco o tempo ficava quente, especialmente comparado aos dias frios que tinham passado.

— Linda! — Naruto sussurrou assim que a viu. Nem havia percebido que Hinata ouvira, ou mesmo que falava em voz alta.

— Obrigada. — Foi quando a ouviu que ele percebeu e deu um sorriso sem graça, coçando a bochecha.

— É que, nossa... Você está linda demais com esse barrigão. Não que não fosse linda antes, mas... Nossa, eu nunca imaginei que uma grávida pudesse ser tão bonita! — Ao notar o quanto enrolara para falar, Naruto soltou um suspiro.

Hinata se aproximou. Sabia o quanto aquelas palavras eram sinceras, o quanto aquele sentimento era sincero. Ela tinha um sorriso nos lábios, carinhoso como só ela sabia dar. Apoiou as duas mãos no rosto do amado e se esticou. Notando o que ela queria, Naruto se curvou e deixou que os lábios se encostassem.

— Eu agradeço. Agradeço pelo elogio e por ter me dado essa oportunidade também. — Se referia a estar grávida. Ambos queriam aquele bebê e não cansaria de agradecer a Naruto por isso.

— Agradeço por estar me dando, mais uma vez, um novo começo. — Ele segurou as duas mãos de Hinata, beijando uma de cada vez. — Ano passado, nos casávamos nessa mesma época do ano. Eu tive um novo começo ali, ao seu lado. Agora, estamos começando uma nova fase como pais. Tudo graças a você: meu anjo.

Ele a chamava assim nos momentos mais íntimos, mais tranquilos, mais silenciosos. Era a forma que Naruto tinha de expressar o que ela lhe significava. E aquelas palavras a emocionaram. Com um abraço, ele soube que conseguira fazer com que ela entendesse o quanto aquele momento também significava para ele.

— Vamos? — perguntou após instantes. — Não quero perder a oportunidade de ver o Hanami com você mais uma vez.

— Como ano passado. — Ela se lembrava. Eles haviam feito piquenique, como naquele dia.

— Espero conseguir fazer isso com você para sempre. — E mais uma vez ele dizia aquilo sem ao menos notar a profundidade de seu sentimento expresso.

Os dois se apressaram em sair, ao menos o mais rápido que Hinata conseguia. Naruto carregava a cesta e falava sobre coisas engraçadas que haviam acontecido em sua missão, arrancando risadas da esposa. Ele adorava a ver rindo.

Quando chegaram, seus amigos já estavam sentados e comendo. Naruto reclamou daquilo, arrancando revirar de olhos de cada um ali. Com a ajuda dele, Hinata também se sentou. Lá estava, a maior barriga entre as demais. Quando notaram, todos começaram a comentar sobre seus filhos, suas barrigas, datas e como eles seriam juntos. Comeram, riram e fizeram planos juntos.

Em determinado momento, Hinata começara a sentir dores nas costas por não estar encostada. Como que sabendo disso, Naruto se colocou atrás dela, puxando-a para se sentar entre suas pernas e apoiar em seu peito.

Eles trocaram olhares por breves segundos. Os dois sorriam com carinho e um brilho único nos olhos. Se havia uma coisa que, pouco a pouco, todos passaram a notar, é que Naruto e Hinata criaram uma ligação tão forte naquele ano casado, que um breve olhar, um breve movimento era capaz de dizer ao outro o que um dos dois precisava.

Eles estavam aumentando sua família, mas estavam também aumentando seus sentimentos, aumentando sua conexão um com o outro.

Dando as mãos, ainda naquela posição, os dois olharam para a cerejeira à frente. Seu florescimento significava aquele recomeço, aquele início. Mais uma chance de serem felizes... Mais felizes.