Mentes Quebradas escrita por Nando


Capítulo 11
Ana


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta com mais um cap! Agora no papel de Ana, com a sua família a tomar decisões diferentes ela toma a sua. Que consequências terá?



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            Os meus dedos flutuavam nas teclas do piano. Cada tecla produzia um som diferente, quando estes sons se uniam ou se seguiam uns aos outros produziam uma melodia que me libertava dos pensamentos que me pesavam na cabeça. Enquanto os meus dedos dançassem à volta desta melodia, o mundo era um lugar melhor. A minha irmã estava ainda neste mundo, encostada ao pé da porta a sorrir-me em conjunto com o meu irmão. Os meus pais dançavam ao som da minha melodia, trocando risos que se uniam aos sons das teclas, criando a música perfeita… E que maravilhosa era aquela música!

            Mas era então que os meus dedos se desligavam das teclas e a melodia parava. Quando isto acontecia, a minha ilusão desvanecia. Não havia ninguém a dançar, não havia risos nem sorrisos, apenas vazio e silêncio. Um silêncio que me estrangulava com mais força cada segundo que passava junto dele. Era sufocante, não aguentava ficar assim por muito tempo. Olhei para o piano. Se voltasse a tocar, o mundo voltaria a ficar melhor, os risos acabariam com o silêncio e com o vazio. Estendi as mãos para as teclas mas uma dor aguda no meu pulso apareceu para me tentar impedir. Tinha começado a sentir aquela dor há alguns dias. O meu professor tinha dito para não continuar a tocar se ela aparecesse e que talvez fosse melhor diminuir um pouco o horário de treino, embora tivesse melhorado bastante. Mas eu não conseguia fazer isso. Tinha de tocar. Se tocasse, o mundo ficaria melhor. Não havia dor, nem vazio, nem silêncio. Tinha de tocar!

            Voltei a estender a mão e a dor atacou mais violentamente. Porque me estava a impedir?! Comecei a chorar ao mesmo tempo que suplicava para mim mesma, tentando que a dor se fosse embora: Deixa-me me voltar a ver a minha irmã… Deixa-me ouvir os risos… Deixa-me…

            Toquei numa tecla e quase gritei de dor. Tinha de parar. Não podia voltar a tocar. Pelo menos, não hoje… Levantei-me do banco e deitei-me na cama, enfiando a cara na almofada. As lágrimas começaram a sair dos meus olhos a uma velocidade alucinante enquanto pensamentos negros me envolviam. Esses pensamentos começaram a formar imagens distorcidas que começaram a ganhar forma e a serem substituídas por outras. Imagens da minha irmã a sorrir sendo substituídas por imagens do seu corpo imóvel, ou do seu funeral, o dia que tinha ficado para sempre marcado na minha memória. Lembro-me de ter perguntado a mim mesma se aquilo era real ou apenas um enorme pesadelo. Nada parecia real ali. Os choros de diferentes pessoas juntavam-se num coro de lamúrias e tristeza, criando a melodia mais angustiante que alguma vez tinha ouvido. O que era a morte? Perguntava-me eu. O que havia para lá dela? Sempre me tinham falado nela, mas foi ali que eu senti o seu poder. Tive medo. Muito medo. Tinha vivido apenas sete anos, mas naquele momento aprendi mais do que tinha aprendido a minha vida toda, por mais nova que fosse. Em pouco tempo a minha vida tinha dado uma reviravolta que me mudou para sempre…

            O som de algo a partir-se libertou-me destes pensamentos. Limpei as lágrimas e levantei-me da cama. O som parecia ter vindo da cozinha. Fui de mansinho até lá e senti vozes a falarem alto, quase a gritarem uma com a outra. Eram os meus pais. Abri um pouco a porta da cozinha e pude ver o meu pai enervado como nunca o tinha visto antes. Apenas conseguia ver as costas da minha mãe mas reparei que ela estava firme na sua posição. De que estariam a falar?

            -Então tu estás-me a dizer que a minha própria mulher não vai votar em mim?! – A voz do meu pai estava carregada de irritação, dando a impressão de que estava prestes a explodir.

            -Eu não vou votar enquanto não parares a loucura que estás a criar. Não percebes que a tua ideia é demasiado radical?! Tens de acordar! – A voz da minha mãe estava muito mais firme e não deixava transparecer um pingo de irritação ou nervosismo, em comparação com o meu pai.

            -Demasiado radical?! É a única opção para pararmos as loucuras que estão a acontecer ao redor do mundo!

            -Ouve, eu sei que a morte da nossa filha te afetou muito, - Ela salientou a palavra “nossa” - mas tu tens de pensar nas consequências dos teus atos…

            -Não há nada a pensar! A minha decisão está tomada! E as pessoas acreditam que estou certo!

            -O que está em questão aqui não são as pessoas! Não vês que há interesses por de trás disto tudo? Há empresas que se sustentam devido á Internet e também é um meio que certas agências de investigação utilizam para descobrirem suspeitos ou então para espiarem as pessoas. Tu achas que agora chegas lá e eles te deixam fazer como quiseres? Estás muito enganado. É melhor mudares de ideias ou então vais acabar por fazer o papel de mentiroso, como muitos outros políticos antes de ti.

            -Não me interessa os interesses alheios. Eu é que vou ser o presidente! Eu é que sei o que deve ser feito.

            A mãe deu um riso sarcástico:

            -Continua com essa mentalidade e eles vão-te dar duas opções: ou fazes como eles querem ou então…

            Fez um gesto com a mão que eu não consegui entender do lugar onde estava, mas reparei uma certa palidez na cara do meu pai que acabou por se traduzir num certo nervosismo que tentava ser ocultado:

            -Eles que venham! A minha decisão está tomada! Nada do que tu digas me vai fazer mudar de ideias. Aliás, chegar na campanha a esta altura do campeonato e dizer uma coisa totalmente diferente daquilo que tinha prometido inicialmente só me vai fazer passar por vira-casacas, e por um homem de ideais frágeis. Guarda o que te vou dizer na memória: Eu vou acabar com a Internet. De forma lenta, mas lá chegarei.

            Houve um certo silêncio até a minha mãe voltar a falar:

            -Sabes, olho para ti e descubro que tu não és o homem com quem eu casei. Tu não és o homem que eu amei. Diz-me onde está esse homem! Pois ele definitivamente não está a falar comigo.

            Virou-lhe costas e veio na minha direção. Escondi-me rapidamente no quarto mais próximo, que era o do meu irmão, e aguentei a respiração. Senti os passos da minha mãe passarem até ao seu quarto, fechando a porta com força. O meu pai deve ter ficado um pouco na cozinha e depois deve ter saído, pois os passos afastaram-se e senti uma porta ao longe a abrir-se e a fechar-se com um estrondo.

            Respirei novamente enquanto assimilava o que tinha acabado de acontecer. A minha mãe não ia votar pelo meu pai nas eleições! Tinha que admitir que eu própria não gostava das ideias dele, mas para lhe dizer assim na cara?! Não conseguia acreditar!

            A nossa família estava se a quebrar como um espelho, essa era a verdade. Os meus pais discutiam e o meu irmão não parava em casa. Por falar no meu irmão, olhei para o quarto dele. Quem visse o seu estado há algumas semanas atrás e visse agora, nem diria que era o mesmo quarto. Antes estava tudo de “pantanas”, uma autêntica confusão, agora estava organizado e limpo. Tinha começado a ter este hábito há pouco tempo, ao mesmo tempo que começava a sair mais e a dar um “ar de uma pessoa adulta”, pois parecia ter-se tornado mais responsável e o seu rosto começava a deixar para trás as feições de criança, com a barba a começar a crescer e o olhar mais sério. O meu irmão não parecia o mesmo, embora continuasse a mimar-me como sempre…

            Reparei no computador dele e deu-me uma vontade enorme de coscuvilhar nas suas coisas. Liguei-o e o apareceu na tela um espaço para inserir a password, ao que eu respondi imediatamente:

            -StarAna

            Eu tinha a ouvido uma vez quando estava a brincar no quarto dele, ele tinha-me explicado que tinha tido um computador pela altura que eu tinha nascido e tinha decidido utilizar o meu nome na password. Lembro-me de ter ficado lisonjeada e de o ter agarrado carinhosamente. Ele sempre tinha sido bom para mim.

            O computador abriu na tela de início e eu comecei a vasculhar. Passei por pastas desinteressantes até decidir ver o histórico da Internet. Foi aí que eu entendi tudo. No histórico aparecia várias vezes o site dos Unknowns. Então ele era um dos membros…

            Não quis ficar por ali e cliquei no link do site. Apareceu na tela o lugar para por a password, tentei StarAna mas, para minha surpresa, não funcionou. Tentei outra vez e obtive o mesmo resultado. Senti-me um pouco desapontada. O grupo seria tão importante que teria de ter outra password? Tentei por todas as coisas que me lembreis, de que ele gostasse. Nenhuma deu resultado. Quando realizei a sétima tentativa apareceu uma tela afirmando que o computador se iria desligar automaticamente após mais uma tentativa errada. Decidi não arriscar e desliguei o computador eu mesma. Após confirmar que estava desligado, fui para o meu quarto, zangada com o meu irmão. Não estava zangada por ele ser um membro dos Unknowns, conhecendo-o como conhecia até podia ter sido ele a criá-lo, estava zangada porque ele não me tinha dito nada e ainda tinha mudado a password. Todos estavam a esconder coisas de mim, como se fosse apenas uma criança e me estivessem a proteger. Odiava que fizessem isso!

            Abri a porta do meu quarto e atirei-me para a cama. Não tinha sono. Para minha alegria, recebi uma mensagem no telemóvel, e era de quem eu estava á espera. A mensagem era um simples “Olá, porque querias falar comigo?”. Sorri. A minha família estava toda a arranjar diferentes maneiras de vingar a minha irmã. Este era o meu jeito. Respondi á mensagem da seguinte maneira:

            “Boa noite, Quebra-Mentes! Vim-te propor um desafio: Consegues quebrar a minha mente?”


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Estejam a par para o próximo capítulo!



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