Mentes Quebradas escrita por Nando


Capítulo 12
Estações


Notas iniciais do capítulo

Ora viva caros leitores! Estou de volta com mais um capítulo! O nosso personagem principal anda em busca do paradeiro de Edward, será que o vai encontrar?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732491/chapter/12

            -Deixa-me fazer então um resumo: o teu amigo, que presenciou um atentado, mudou de casa sem contar aos próprios amigos, e a rapariga pelo qual estás apaixonado pertence a um grupo que é contra o teu. Que bela novela aqui temos!

            Ele tinha descoberto que eu gostava de Alice apenas a prestar atenção no que eu dizia. Albert conseguia-me ler como um livro.

            -É por isso que eu vim pedir ajuda, pensei que talvez pudessem saber onde ele está e o que deva fazer em relação a Alice.

            Albert olhou para a mulher, e eu acabei por olhar também. Ela estava radiante como sempre. Tinha um vestido preto, simples, e os seus cabelos ruivos criavam pequenas ondas á medida que percorriam o seu corpo. Os seus olhos azuis-claros criavam um contraste poderoso com os seus cabelos ruivos. Representava o fogo ardente e a água impiedosa. Era uma mulher maravilhosa, sentia-me atraído por ela… E pensar que alguém assim tivesse entrado nos Unknowns logo de começo…

            Helen retribui o olhar ao marido e este acenou afirmativamente com a cabeça. Virou os seus olhos azuis na minha direção e disse na sua voz doce, que não transparecia a sua verdadeira idade:

            -Nós temos a informação de que o teu amigo está neste momento numa casa cedida pela polícia de proteção.

            Levantei-me do sofá, com os nervos e a ansiedade a subirem-me á flor da pele:

            -Então porque não disseram nada?! Digam-me a morada…

            Helen não me deixou terminar:

            -Calma aí! Em primeiro lugar, senta-te – A sua voz estava mais fria e criava um impacto ainda maior que a de Albert, por isso obedeci – Nós não sabemos em que casa está, e tu tens que entender que ele presenciou um atentado do maior grupo terrorista na atualidade, sem falar que ele também é uma testemunha importante pois pode ter visto a face de alguns deles. Tu achas que os terroristas, sabendo isto, se limitariam a ficar de braços cruzados? Eles devem estar neste momento a tentar descobrir o paradeiro dele, por isso, a única opção que a polícia arranjou foi a de o esconder e de cortar as relações que ele tinha.

            O meu corpo tombou para trás, encontrando o conforto do sofá. O que ela dizia fazia sentido e sentia-me estúpido por não ter pensado nisso antes. Mas, mesmo assim, não me sentia conformado:

            -Mas não há maneira de saber onde ele está? Não têm contactos na polícia?

            Desta vez foi Albert a responder-me:

            -Não ouviste o que a minha mulher acabou de dizer? Eles querem que ele corte as antigas relações dele, nós até podíamos descobrir usando os nossos contactos na polícia, mas só estarias a piorar a situação se fosses ter com ele.

            Era verdade. Mas não iria desistir tão facilmente:

            -Seria apenas uma visita rápida. Só queria falar com ele…

            Albert suspirou e voltou a olhar para Helen em busca de ajuda. Ela fitou-me mais uma vez e falou-me numa voz calma e amável:

            -Ouve, eu sei que tu tens grande carinho pelo teu amigo, mas tens de entender que se o vires agora só lhe vais causar dor. Ele presenciou algo terrível e duvido que dois meses tenham sido o suficiente para apagar essa memória. Ele precisa de estar com a família para poder sarar esta ferida. – A sua voz tornou-se mais séria e fria, causando-me um arrepio pela espinha acima – Mas o grande problema está aqui, tu podes estar neste momento a ser espiado pelos terroristas!

            Estanquei sem saber o que dizer. Era uma possibilidade. Eles podiam ter procurado por pessoas relacionadas ao Edward e estarem neste momento a espiarem todos eles. Quem quer que estivesse a fazer isto devia ter muitos recursos á sua mão… Albert e Helen suspiraram e então uma ideia atravessou-me a mente:

            -Mas se eles me estiverem a seguir provavelmente devem saber que eu estou aqui…

            Sorri. Tinha-os apanhado. Albert e Helen preparavam-se para encobrir o que tinham dito, mas eu tinha aprendido muito bem o que eles me tinham ensinado:

            -Então é isso… Eu estive a ser seguido, e vós deveis ter descoberto e provavelmente ter dito á polícia. Ou seja, eu não devo estar a ser seguido agora!

            Sorri, triunfante, ao reparar na reação deles. Tinha estado quase dois meses pela sua supervisão e tinha-me habituado ao modo como eles agiam. Eles devem ter tido logo essa ideia, após saberem que Edward tinha presenciado o ataque e também eles deviam ter colocado alguém para me espiarem, para verem se alguém me seguia. Muito cautelosos… Albert ia começar a falar mas a sua esposa impediu-o:

            -Não adianta mentirmos. – Colocou, mais uma vez, o seu olhar penetrante na minha direção – é verdade, nós descobrimos que te andavam a espiar, mas nem sequer lhe demos tempo para descobrirem qualquer ligação que tivesses connosco. Mas isso não quer dizer que eles não tivessem mandado outro.

            Abri um largo sorriso. Pela primeira vez, era eu que os tinha na palma da mão. Repliquei:

            -E vós não teríeis certificado que isso não acontecesse?

            Helen Encostou-se ao sofá e Albert limitou-se a sorrir, provavelmente contente com o Homem que tinha criado. Não iria para ali:

            -Eu sei que as eleições estão a menos de um mês de distância, e este grupo chamado Knowns está a tentar tudo para deitar o meu abaixo, o que pode gerar graves consequências para vós. Então fica aqui a minha proposta, dai-me a localização de Edward e usarei tudo o que estiver ao meu alcance para vos por a comandar este país. Temos acordo?

            Levantei-me do sofá e alternei o meu olhar entre os dois, á espera da sua resposta. Albert levantou-se e fitou-me nos olhos, eu retribui o olhar.

            -E se recusarmos essa proposta?

            Tinha chegado até ali, não havia razão para parar.

            -Farei tudo o que estiver ao meu alcance para colocar o meu pai a comandar o país.

            Helen juntou-se á disputa:

            -Não te atreverias, tu também sairias a perder, ou esqueces-te do acordo que tiveste com o meu marido?

Virei o meu olhar na sua direção:

—O meu melhor amigo está neste momento a precisar da minha ajuda, não me interessa que a minha identidade seja revelada!

Helen não respondeu e eu voltei a olhar Albert nos olhos. Houve um silêncio entre nós, onde nenhum dos dois desviou o olhar. Após uns momentos Albert disse:

—Tens noção do que te acontece se não cumprires a tua parte dessa proposta, certo?

—Tenho plena consciência disso!

Albert fitou-me por mais uns segundos e então sorriu:

—Eu aceito a tua proposta!

Estendeu-me a mão e eu apertei-a. O acordo estava realizado. Albert meteu a mão no bolso e tirou de lá o seu telemóvel, dizendo de seguida:

—Ligar a Howard.

Enquanto fazia a chamada, saiu da sala, deixando eu e Helen sozinhos. Ela voltou a olhar para mim, com um sorriso na cara:

—Tenho que admitir que estou impressionada! Quando te vi pela primeira vez era apenas um rapazola que fazia tudo o que lhe diziam, senti-me desapontada, pois eu apaixonei-me pelo teu grupo assim que soube da tua existência e tu só mostravas ser uma pessoa de ideais que quebravam á menor ameaça. Mas hoje provas-te ser mais do que isso. Estou contente.

Fiquei maravilhado com o que ela tinha dito. Senti-me absurdamente feliz. Deu-me uma vontade enorme de lhe dar um abraço, mas isso já seria de mais. Ela era mais velha que a minha mãe e amava Albert acima de tudo. Já me tinha habituado a este facto. Preparava-me para lhe agradecer mas ela interrompeu-me:

—No entanto, a vida não é um mar de rosas. A decisão que acabas-te de tomar coloca-te num território perigoso, onde nem eu nem Albert te podemos ajudar. Estás por tua conta!

Tinha plena consciência disso, mas a minha decisão já estava tomada:

—Eu tenho uma promessa a cumprir, não vos vou deixar ficar mal!

Helen mostrou-se satisfeita. Albert chegou nesse momento:

—Ele está numa aldeia a duzentos quilómetros daqui, mandei a localização certa para o teu telemóvel. Espero que tenhas consciência de que serás tu a pagar a viagem.

Estremeci. Não sabia se teria dinheiro suficiente. Talvez tivesse de usar as minhas técnicas de persuasão nos meus pais. Mas não deixei transparecer nada, ou pelo menos, penso que não:

—Eu lá me arranjarei. Fico muito grato pela vossa ajuda.

Despedi-me deles e saí, expirando o ar fresco do outono. Adorava o outono, devido a comparar as estações a partes de uma história. A primavera representava a parte onde tudo corria bem, e o romance e as ligações entre os personagens começavam a ser criadas e aperfeiçoadas. O verão representava o aumento da intensidade na história e dependia do género da história. Representava os conflitos entre os personagens á medida que a história se ia adensando cada vez mais. O outono era o momento em que a história dava uma volta. Geralmente representa o resultado dos conflitos entre os personagens e o começo da rutura entre as suas ligações. O inverno representava a melancolia e a parte da história onde a tristeza reina e o “lado do mal” começa a ganhar ao “lado do bem”. A maioria das histórias que tinha lido usavam estes elementos, a única diferença era a ordem em que eram colocados. Perguntei-me a mim mesmo em que estação iria a minha história. A morte da minha irmã provavelmente representaria o Inverno, e a criação do grupo talvez representasse o Outono devido á quebra de ligações que tinham começado a ser criadas entre mim e as pessoas que me rodeavam. Mas, e agora?

Estes meus pensamentos foram interrompido por uma voz familiar que me chamava. Reconheci-a de imediato. Era Marta. Olhei rapidamente para trás, para verificar que já estava a uma distância considerável da cas de Albert, e só então me virei para Marta:

—Olá!

Marta olhou-me nos olhos, e então disse-me:

—Que estranho encontrar-te aqui! Vieste visitar alguém?

Ela estava a testar-me. Decidi jogar o jogo dela:

            -Vim visitar um amigo da família. E tu?

            -Eu moro aqui perto, vim apenas fazer uma caminhada.

            Não fazia a mínima ideia, e isso piorava muito a minha situação pois ela podia a qualquer momento ver-me entrar e sair da casa de Albert, estava em risco. Ela voltou á carga:

            -Tenho-te visto muitas vezes por aqui…

            Era o que eu temia. Tentei encobrir o melhor que conseguia.

            -Ele está a precisar da minha ajuda para lhe compor umas coisas no computador, e o caso é mais bicudo do que pensava.

            -Onde mora esse teu amigo?

            -Hoje estás muito curiosa… Porque que é que queres saber onde ele mora?

            -Eu perguntei primeiro.

            -E eu perguntei em segundo.

            Rimo-nos juntos com aquela estupidez. Pensava que me iria escapar dela, mas estava muito enganado.

            -E então quando é a viagem?

            Olhei-a sem entender.

            -Que viagem?

            Ela cruzou os braços e disse em tom reprovador:

            -Pensas que eu não percebo? Tu vens da base da polícia, andas a tentar descobrir para onde levaram o Edward, e aposto que te deram essa informação!

            Não sabia se havia de ficar preocupado ou aliviado. Ela não tinha descoberto a minha ligação com Albert mas tinha descoberto que eu sabia o paradeiro de Edward. Tentei encobrir este facto.

            -Não ouviste o que acabei de dizer…

            Ela interrompeu-me antes de eu acabar de falar:

            -Poupa-me essas mentiras, partimos amanhã?

            -Estou a ver que não me vais ouvir, por isso vamos analisar a tua hipótese: tu achas que eles dariam essa informação a um adolescente?

            Ela sorriu vitoriosa.

            -Então eu tinha razão, ele está sobre proteção da polícia, pois tu nem sequer tocas-te no facto de que a polícia podia não saber o seu paradeiro.

            Ela tinha-me apanhado na ratoeira. Tentei ao máximo me libertar, seguindo o rumo da corrente:

            -Mas conta-me lá então porque achas que eu sei o paradeiro de Edward.

            -Porque vens com um ar decidido e trazes esse sorriso palerma no rosto, como se fosses uma criança que tivesse acabado de receber um doce.

            Tentei ao máximo inventar desculpas mas ela rapidamente as cortava. Não tinha hipóteses e acabei por desistir:

            -Mas porque estás tão obcecada com o Edward?

            -Se me prometeres levar-me contigo eu digo-te.

            Suspirei, aquela rapariga dava-me sempre a volta:

            -Prontos está bem. Hoje á noite mando-te uma mensagem a confirmar a hora de saída.

            Ela pulou de alegria e deu-me um abraço apertado que durou apenas uns segundos, até ela se retirar e se despedir, seguindo numa direção oposta á minha. Pensamentos começaram a envolver-me. Marta estava diferente. Já há muito tempo que não tinha visto aquele sorriso genuíno. Voltei á ideia das estações e deparei-me com um dilema na minha história. Os conflitos adensavam-se o que indicava que estávamos no verão, mas se tivesse apenas de me referir ao meu relacionamento com Marta, eu diria que estávamos na primavera.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então gostaram? Aqui está a minha pergunta para vós. Em que estação está a história da vossa vida?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mentes Quebradas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.