Mentes Quebradas escrita por Nando


Capítulo 10
Um ponto de vista diferente


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta! Aproveitem a leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732491/chapter/10

            Edward não tinha vindo, mais uma vez. Dois meses tinham chegado e ido desde a última vez que o tinha visto. As notícias sobre o incidente no aeroporto, que Edward tinha presenciado, começavam a cessar embora tivesse ficado bem presente na mente das pessoas. 62 Mortos, 126 feridos ligeiros e 38 feridos graves, este foi o resultado desta atrocidade. Um verdadeiro desastre.

            Este atentado foi investigado a fundo por polícias de grande prestígio, mas apenas conseguiram descobrir a identidade de um dos terroristas, sendo este um dos responsáveis pela segurança do aeroporto que terá ajudado os outros a entrar. Foi condenado a prisão perpétua, embora muita gente afirmasse que devia ter pena de morte, gerando alguma controvérsia em certos debates sobre o incidente. Encontraram também alguns suspeitos, embora uma parte tivesse sido libertada devido á falta de provas, outra parte estava ainda a ser investigada, deixando tudo em aberto.

            Senti alguém a tocar-me no ombro. Virei-me e pude-a reconhecer pelos seus cabelos negros, que caíam ao nível do pescoço, e pelos seus olhos azuis eletrizantes. Era Marta. Olhou-me nos olhos e perguntou:

            -Tens alguma notícia do Edward?

            Acenei negativamente, enquanto dizia:

            -Já lhe tentei telefonar mas ele não atende e nem responde às minhas chamadas.

            Ela fitou-me mais intensamente:

            -E já foste a casa dele?

            -Pensei nisso, mas acho que ele deve precisar mais do apoio da família do que do meu, por isso é melhor dar-lhe espaço.

            Ela cruzou os braços e respondeu-me em tom de desaprovação:

            -Quando a tua irmã morreu ele também te ajudou a ganhar motivação!

            -E eu tenho plena consciência disso. – Senti um aperto no estômago, como acontecia sempre que mencionavam a minha irmã - Só que ele presenciou um momento que bem o podia ter levado á morte, viu o pai morrer e presenciou os atos inumanos que os humanos eram capazes de fazer. Embora a morte da minha irmã tenha-me afetado não posso comparar com aquilo que ele presenciou.

            Marta nem deve ter ouvido o que eu disse, ou se ouviu, não ligou nenhuma:

            -Eu acho que devíamos ir ter com ele. Não temos nada a perder!

            Fitei-a desconfiado:

            -Nunca lhe ligaste nenhuma! Porque queres ir agora ter com ele?!

            Ela suspirou:

            -Eu não sei que impressão tens de mim, mas eu não tenho um coração de pedra! Vamos?

            Olhei-a de cima a baixo e fiquei com a impressão de que havia algo mais. Albert tinha-me ajudado a estudar linguagem corporal, para que eu entendesse os intuitos daqueles que fizessem contacto comigo, e pude notar que ela estava em uma posição que indicava um certo desconforto… No entanto, decidi deixar isso de lado:

            -Vamos lá, então.

            Comecei a andar e ela seguiu-me. Tinha ido a casa de Edward apenas algumas vezes mas sabia o caminho. Ele obrigou-me a decorá-lo para o caso de ele ficar bêbado e não ter ninguém para o levar. Sorri. Isto fez-me lembrar de quando ele era viciado em álcool. Como as coisas tinham mudado desde esses tempos… Quem diria que só se tinham passado três anos?

            Olhei discretamente para Marta. Ela e Edward tinham sofrido uma enorme alteração na sua personalidade, desde esse tempo. Edward, antes solitário e rude, ficou muito mais amigável e alegre, após o termos ajudado a superar o seu problema. No entanto, por essa altura, o irmão de Marta tornou-se uma das vítimas do Quebra-Mentes, e ela nunca mais mostrou o seu sorriso radiante nem os seus cabelos longos que antes dançavam ao som do vento. Esta mudança deixou a leve sensação de que tinha sido ela a partir, deixando uma substituta que apenas tinha o mesmo nome e os mesmos olhos azuis que a antiga. Mas ela não tinha sido a única que tinha sofrido com a morte de um irmão. Se Albert não me tivesse ajudado eu provavelmente ter-me-ia suicidado por motivos que surgiram por causa da morte da minha irmã. A morte de uma pessoa querida mudava-nos e deixava-nos num poço de desespero, em um lugar entra a vida e a morte, num lugar que não era realidade nem sonho, apenas escuridão. Escuridão e desespero.

            Os meus pensamentos cessaram no momento em que vislumbrei a casa de Edward ao longe. Avisei a Marta e ela limitou-se a fazer um gesto de concordância. O silêncio continuou a pairar sobre nós até que vislumbramos Alice à frente da porta de Edward. Provavelmente vinha ver como ele se encontrava. Estava para a chamar, mas Marta foi mais rápida:

            -Também estás por aqui?

            Notei uma certa indelicadeza na sua voz. Alice virou-se e encarou connosco. Ficou parada sem dizer nada, notando-se o nervosismo a percorrer-lhe o corpo. Hesitou um pouco antes de responder:

            -Sim vim visitar o Edward. Vós também, certo?

            Marta ignorou completamente a pergunta.

            -Tu disseste-me que não sabias onde o Edward morava. – A indelicadeza na sua voz tinha aumentado.

            Pensei que Alice respondesse de uma forma mais amigável, mas também na sua voz se notou um certo desagrado:

            -Também não me disseste que te tinhas tornado amiguinha dele pois não – Apontou para mim – Bem, não que seja da minha conta. E eu também não sabia o caminho para a casa dele, descobri apenas hoje.

            Marta franziu o sobrolho e o clima ficou pesado á nossa volta. Constrangido, decidi quebrar este silêncio:

            -Já que estamos aqui todos, porque não tocamos á campainha?

            -Já tentei, acho que ninguém está em casa.

            -Tens a certeza?        

Ela acenou afirmativamente com a cabeça. Uma voz chamou-nos, interrompendo a nossa conversa. Era uma das vizinhas de Edward. Aparentava ter à volta de oitenta anos, mas o seu ouvido aguçado conseguia superar o meu. Aderiu á nossa conversa:

            -Vocês são os amigos do rapazito louro que vive aí?

            Acenamos afirmativamente com a cabeça.

            -Lamento informar-vos mas eles mudaram-se na semana passada.

            Foi como um murro em cheio na cara. Edward tinha-se mudado?! Porquê?! Para onde?! Porque não nos tinha dito nada?! Fiquei parado a pensar nas diversas soluções enquanto Marta procurava respostas concretas:

            -Sabe para onde?

            -Não. A única coisa que sei é que vieram vários homens de preto em carros que deviam ter custado mais que a minha casa. Vi o vosso amigo e a mãe a irem num desses. Desde aí nunca mais os voltei a ver.

            Homens de preto?! O que se estava ali a passar?! Seriam membros do grupo terrorista?

            A idosa continuou a conversar, criando teorias cada uma mais rebuscada que a outra. Marta desculpou-se dando sinal para nos irmos embora, conseguindo assim escapar das suas teorias da conspiração e dos seus oferecimentos de chá e bolachas.

            Quando estávamos longe o suficiente para não a ouvir, Marta quebrou o silêncio:

            -Será que devamos acreditar nela?

            Acenei afirmativamente.

            -Eu ando a estudar linguagem corporal e pelo que vi pareceu-me estar a dizer a verdade. Pelo menos, o que ela acredita ser verdade.

            Caímos todos nos nossos pensamentos. Desta vez foi Alice a quebrar o silêncio:

            -Eu acho que isto é trabalho dos Unknowns!

            Fitei-a incrédulo. A culpa era dos Unknowns?! Onde é que o meu grupo encaixava nesta história?! Eu planeava dizer alguma coisa mas Marta antecipou-se:

            -Lá vens tu com esta história… Mas agora tudo o que acontece é culpa deles?!

            Alice fitou-nos ferozmente. Nunca a tinha visto assim. Mas aquela história intrigava-me… O que é que ela tinha contra nós? Esperei que ela se explicasse:

            -Não é uma ideia muito rebuscada, pois não? Por fora o grupo dá a entender que está a tornar a internet num lugar seguro, mas o seu intuito é bem diferente…

            Marta respondeu-lhe com uma irritação bastante clara:

            -Outra vez a conversa das drogas?! Eu já te disse… - Alice interrompeu-a antes de ela acabar de falar.

            -Eu pensei que fosse apenas isso mas há muitas coincidências… Houve um aumento enorme na adesão ao grupo. Mas há um fator importante. Ninguém de fora consegue aceder sem primeiro ter passado pela fase de entrada, isto indica que o grupo tem á sua disposição vários informáticos de alto nível… Imaginem o que seria possível com estes informáticos todos…

            Marta voltou a repreendê-la:

            -Caso não saibas a Internet deixa rastos. Se o grupo fosse mesmo suspeito a polícia, que tem informáticos bem melhores á sua disposição, teria descoberto tudo. E além disso, estamos a falar de um ataque terrorista. Onde achas que eles iriam arranjar armas e bombas sem ninguém suspeitar?!

            Alice revelou um sorriso sinistro:

            -Na Deep Web.

            Desta vez fui eu a intervir:

            -A Deep Web foi neutralizada e agora apenas pode ser utilizada por agências como o FBI, CIA, etc…

            Alice virou toda a sua atenção na minha direção:

            -Isso é o que te levam a acreditar. Na verdade a Deep Web ainda é acessível, mas só alguém com imenso conhecimento tecnológico pode chegar lá e a atividade ilegal continua, mas, desta vez, numa camada ainda mais profunda, onde nem essas agências conseguem chegar…

            Fiquei incrédulo a olhá-la:

            -Como sabes tudo isso?

            -Fiz o meu trabalho de casa. – Disse enquanto sorria.

            Marta voltou á carga:

            -E quanto a depósitos bancários? Se eles fizessem mesmo esse tipo de compras o dinheiro tinha que aparecer nalgum lado. E dinheiro simplesmente não aparece, logo isso levaria a muitas suspeitas.

            Como sempre, Alice tinha a resposta na ponta da língua:

            -Já ouviste falar em bitcoins?

            -Então tu estás a dizer que eles utilizam dinheiro virtual…

            -Claro! Os governos tentam ao máximo esconder a sua existência mas ele anda sempre a flutuar pela Internet. Basta transferires o teu dinheiro para um banco virtual de bitcoins e prontos. O processo é praticamente anónimo e muita gente utiliza para fazer compras normais. Como a Deep Web está “supostamente” encerrada, ninguém liga muito a quem utiliza a moeda virtual. Mas mesmo que suspeitassem, não lhe conseguiriam cheirar o rasto, pois os Unknowns têm à sua disposição informáticos que conseguem simplesmente tornar-se invisíveis na Internet.

            Não sabia o que dizer. Era demasiada informação para lidar. Marta também não respondeu. Não havia nada a dizer. Alice sorriu triunfante e disse:

            -Bom mas isto é apenas uma teoria, posso estar errada. – Olhou para o relógio – Tenho que ir mas vou dizer-vos uma coisa. Se acham que eu tenho razão, adiram ao grupo, Knowns. Somos contra os Unknowns e estamos a fazer de tudo para que a verdade venha ao de cima – Sorriu – Até outro dia!

            Virou costas e continuou a andar cada vez mais longe de nós, até não a conseguirmos ver. Troquei olhares com Marta e pude ver que ela estava tão incrédula quanto eu. Nós sabíamos que o grupo não fazia nada daquilo, a nossa surpresa estava em Alice, o que me fez mudar o pensamento que tinha antes. Não tinha sido só eu, Edward e Marta que tínhamos mudado. Alice também tinha. Só não sabia dizer se seria uma mudança boa ou má…


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Não esqueçam de dar o vosso apoio, favoritando. Como eu não sou nada pontual, acompanhem a história para estarem sempre a par. E dêem a vossa opinião! Estou aberto a críticas construtivas ou então a apenas um gostei ou então, não gostei. E por hoje está tudo dito. Até à próxima!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mentes Quebradas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.