Entre lobos e vampiros. escrita por sadgirl


Capítulo 1
01. Chuva.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732468/chapter/1

— Está um temporal e tanto lá fora. — exclama Taylor ao adentrar o recinto.

Ele retira sua capa de chuva azul totalmente encharcada e a coloca sobre um banquinho tão velho quanto os exemplares de Charles Dickens. Seu cabelo loiro está um pouco molhado, talvez por conta da chuva ou pelo banho recém-tomado, percebo então que ele está usando uma camisa de uma das minhas bandas favoritas, qual eu recomendei inúmeras, incontáveis e diversas vezes. Ao perceber que eu o observava, ele sorri.

— Não mudei nada desde ontem, Heloise. — fala ao caminhar até a caixa registradora. Ele deposita um copo de café e aponta para mim, que agradeço com um sorriso.

— Na verdade, — contrario sua frase. — nasceu uma espinha do lado direito de sua testa.

— Tão observadora.

Ele caminha até a estante onde estão localizados os romances da atualidade e começa a organiza-los calmamente. Vendo que seria impossível algum cliente adentrar o local, caminho em direção à janela que fica perto da estante de ficção cientifica e me sento numa poltrona herdada da família Campbell e observo a chuva cair. O céu está demasiadamente escuro apesar de não se passar das duas horas da tarde; algumas pessoas caminham com um guarda-chuva com a intenção de não se molhar, o que é totalmente falho, já que a cidade decidiu acabar numa tempestade fora de época.

As minhas férias de verão estavam sendo as piores possíveis, já que meus pais me obrigaram ir para a casa da minha tia-avó que mora num fim de mundo porque ela precisava viajar para alguma feira de livros no norte do país e tinha de deixar a biblioteca com alguém de confiança e da família, ou seja, eu. A biblioteca era monótona e era raro receber mais de três clientes por dia, graças a Deus, eu obtinha a ajuda de Taylor Johnson, um habitante da pacata cidade de Beacon Hills. Ele limpava as estantes das quais se enchiam de pó a cada duas horas, organizava livros e limpava as vidraças. Porém, eu que tinha que lidar com os clientes, o que não era meu forte.

O sino tilintou no inicio da loja e eu levantei o olhar, havia dois garotos inquietos em frente o balcão. Levantei-me da poltrona e fui atendê-los. Forcei um sorriso.

— Em que posso ajuda-los? — questionei com um sotaque britânico terrível.

— Vocês têm livros? — um dos meninos me perguntou. Ele era alto, cabelo escuro e com o maxilar levemente torto.

— Isso é uma biblioteca. — respondo. — Temos muitos livros.

— Lobisomens. — o outro falou. Esse era baixo, também com o cabelo escuro, porém, era totalmente mais branco que o outro.

Sorri e apontei com a cabeça para que me seguissem. Caminhamos por entre a estante onde se concentravam meus autores favoritos: Shakespeare, Tolstói e outros. Passamos por Taylor, que sorriu a me ver e finalmente chegamos a uma estante onde se concentrava coisas místicas e mitológicas. Retornei ao meu posto e esperei que os dois garotos encontrassem seus livros, o que demorou um bom tempo.

O tédio havia tomado posse de meu corpo e a chuva lá fora estava mais forte, o que impossibilitou a ida de Taylor até a cafeteria onde seus pais trabalham para ir buscar mais café para nós dois. Eu já havia lido três manuais diferentes de como se consertar um ventilador de teto, duas revistas antigas sobre moda e mais de quarenta páginas de As Vantagens de Ser Invisível. Nada de interessante naquela cidade ou biblioteca, estava rezando para que Mary voltasse logo para que eu finalmente – e felizmente – voltasse para Londres.

— Já lemos tudo que se é possível ler sobre lobisomens e nada. — ouvi um dos garotos dizer.

— Eu sei Stiles... Mas eu posso de alguma forma, ajudar Derek. — o outro disse com um quê de tristeza na voz.

A conversa entre os dois passam para sussurros, o que dificulta minha audição, mas afinal, eu nem deveria ouvir as conversas alheias – como se o meu “querer” realmente dependesse de mim, diga-se de passagem –, quando percebo passos se aproximando abaixo o olhar para um livro qualquer, que logo vejo que se trata de Crepúsculo e dou uma risada. Eu deveria estar nesse livro.

— A chuva acabou. — informa Taylor e olho para a janela, o tempo estava feio, porém, a chuva felizmente havia cessado. — Hora de fechar.

— Irei informar aos dois garotos que meu tédio da tarde se cessou e para que eu possa iniciar o tédio noturno preciso fechar a loja. — suspirei e Taylor riu.

Fiz o mesmo monótono percurso até a área de coisas místicas e mitológicas e me deparei com os garotos e uma grande bagunça, qual Taylor ficará extremamente nervoso no próximo dia. Pigarreei e quando perceberam que eu estava lá, pararam de ler imediatamente e olharam para mim.

— Algum problema? — o garoto de maxilar torto me perguntou.

— Hora de fechar. — respondo.

— Mas Mary sempre fecha mais tarde... — iniciou o outro garoto.

— Eu tenho cara de ser Mary?

— Na verdade parece um pouquinho sim...

— Era uma pergunta retorica! Vocês já fizeram a maior bagunça e tudo o que quero fazer é trancar a droga desta loja. Dou três minutos e mais nada.

Dou meia-volta e retorno ao balcão esperando que os dois se retirassem da loja enquanto Taylor fechava todas as janelas do andar de cima. Cinco minutos depois os garotos passam pelo balcão desejando-me uma boa noite. E em seguida eu e Taylor vamos até a cafeteria de seus pais, qual eu fico até tarde.

— Olhe a hora! — exclamo após observar o horário em meu celular. — Preciso ir.

— Eu levo você, Heloise. — diz o menino mais jovem da família Johnson, eu me seguro para aceitar, já que Tyler é uma graça.

— Está tudo bem. — recuso com um sorriso no rosto, mas na verdade eu estava chorando por dentro. — Vou andando, é rápido.

Retiro-me da loja minutos depois após a grande insistência de Elizabeth para eu levar pra casa alguns bolinhos que a filha mais nova da família, Margo, fizera especialmente para mim. As ruas de Beacon Hills estão escuras, gélidas e a única coisa que corta o silêncio são meus passos apressados para chegar rapidamente a casa. Amaldiçoou a residência por ser tão longe e pergunto-me o motivo de Mary querer morar ao lado de uma floresta, qual lugar só habita a casa dela. Mas é algo a se questionar, já que ela não é totalmente uma Campbell, digo, ela não tem sangue de vampiros escorrendo em suas veias... Mas um dia já tivera. Meu avô diz que Mary é a ovelha negra da família e que eu não deveria seguir seu exemplo, mas eu a admirava muito.

Cassandra, mais conhecida como minha mãe, sempre me disse que Mary adorava ser uma vampira, mas após conhecer um mortal e se apaixonar totalmente por ele, decidiu que não mais tomaria sangue humano e que abandonaria suas raízes. De algum modo ela se envolveu com forças muito maiores que as nossas, meros vampiros, e conseguiu reverter seu sangue, tornando-se uma humana. Ela viveu alguns bons anos ao lado do homem que amou, mas meu avô ficou extremamente irritado e amaldiçoou-a com a imortalidade, e bem, cá está ela. Uma mulher centenária, com a aparência de trinta anos, numa vida solitária, com uma casa ao lado de uma floresta bizarra e uma biblioteca monótona e velha.

O motivo de eu admira-la tanto é que ela se mostrou mais forte que um sobrenome, recusou a aceitar o destino que lhe obrigavam a viver – em partes –. Talvez eu não tivesse total coragem de ser como ela. Desobedecer a uma regra dos meus pais era algo desafiador e então, aos falsos dezessete anos estou em uma cidade estranha, cuidando de uma biblioteca, quando eu deveria estar em casa, divertindo-me com séries ou com meus amigos.

Por conta do frio, aperto o casaco em meu corpo e começo a caminhar mais rápido. Ainda faltavam duas ruas quando um som ensurdecedor invade meus tímpanos. Um uivo ecoa por todas aquelas casas, que maravilha, um lobo e um vampiro juntos. Amizade certeira. Começo a correr em direção a casa, eu era muito jovem para morrer em uma noite fria naquela cidade. Felizmente chego frente a casa e adentro o local rapidamente e tranco a porta. Coloco uma poltrona em frente à porta somente por precaução.

— Salva e livre de perigo. — suspiro e começo a retirar os casacos por conta do calor da corrida.

— Salva, talvez, agora livre de perigo... Nunca. — escuto uma voz masculina atrás de mim e viro-me rapidamente. Droga, não pode ser. Não. Eu me recuso a acreditar. — Olá, Heloise.

— Peter! — exclamo ao ver aquele rosto novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?

Beijos e até o próximo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre lobos e vampiros." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.