- É assim que um filho trata sua querida mamãe depois de meses sem vê-la? – A rainha disse se aproximando e sentando na cama de John.

- Não vem com essa mãe, porque não pergunta logo o que quer e para de teatrinho? Estou cansado disso...

- Estava tentando ser uma boa mãe como sempre, mas estou vendo que meu filho não quer então vamos pular a parte chata... Onde está a garota? – ela perguntou autoritária.

- Eu não sei mãe... já disse que eu fui a isca para trazê-la para cá como tinham me pedido... o resto eu não sei...

- Você vai trazer ela até aqui então... qual é o nome dela?

- Annie... mãe, como quer que eu traga ela se nem ao menos sabe onde ela está?

- Ela deve estar te procurando, recebi noticias de que o plano da Resistência também fracassou... então... se ela ver você possivelmente vai te seguir e você obvio vai trazê-la até mim, não é querido?

- Não... eu não quero mãe!

- Do que está falando? Não quer continuar sendo príncipe para o resto da vida? Tem todos esses privilégios graças a mim!

- Eu não gosto disso, não gosto do que você está fazendo com Underland!

- Você não tem escolha! – A rainha disse enfurecida – Você vai trazer essa garota até aqui porque EU estou mandando! Não ligo se você se arrependeu ou não!

- Eu não quero que ninguém a machuque!

- Ah... então é isso... está apaixonado de verdade por essa menina?

John não respondeu nada e virou seu rosto para o lado. A rainha entendeu a fraqueza de seu filho, mas tinha outra carta na manga.

- Ela está por ai... sozinha andando com algum ser desconhecido... ela pode acabar morrendo por nada...

- Como assim com um ser desconhecido?

Na mosca. Ela tinha conseguido a atenção do filho.

- Um dos membros da Resistência sumiu junto com a menina...

- Como sabe disso?

- Tenho minhas fontes... a questão é... vai deixar ela por ai andando com outro?

- Se for para o bem dela... Annie sabe se cuidar sozinha “mamãe” – John disse ironicamente

- E quanto a Elizabeth? Ela não é mais útil... acho que posso...

- Você não pode!

- Porque não? Ela que colocou em risco a vida da sua preciosa menininha...

- Mas Elizabeth é...

- Como uma mãe não é mesmo?

John não queria admitir, mas era verdade. Quem tinha criado ele e dado amor desde pequeno tinha sido Elizabeth, ela não estava exatamente do lado da Rainha, tinha feito tudo aquilo por John, para que não lhe acontecesse nada de ruim e como ele não conhecia Annie, ele tinha concordado em fazer aquilo, mas os meses se passaram na suposta casa de recuperação e ele se apaixonou por aquele jeito engraçado de Annie e acabou se arrependendo muito de ter feito parte daquilo. Mas agora ele estava em um dilema, então resolveu o seguinte.

- Vou trazer Annie até você mamãe... mas prometa que não vai encostar um dedo em Elizabeth...

- Não vou... ah! E não se esqueça de fingir que ainda está doente... quanto mais drama, mas o pobre coraçãozinho dela fica frágil e fácil de controlar.. – ela se aproximou dele passando a mão em seu rosto - ... sabia que você não me decepcionaria!

- Senhora... – disse Elizabeth entrando no quarto

- O QUE É?

- Eles estão perto... os guardas aéreos os virão na direção da saída da floresta e perguntaram o que é para fazer...

- Mande eles virem até aqui... eles vão levar John...

Após a risada histérica e triunfante a Rainha saiu junto com Elizabeth deixando John sozinho novamente.

- Eu vou te salvar Annie... eu sinto muito...  – ele disse se lamentando.

------------------------------------------"--------------------------------------------------

Annie e o Chapeleiro já tinham acordado e estavam no caminho. A floresta estava cheia de galinhos e pedrinhas que faziam Annie tropeçar e sujar ainda mais seu pijama, o que estava a deixando bem irritada.

- Quando vamos chegar heim? – Ela perguntou impaciente.

- A onde exatamente? – Ele perguntou inocente.

- Não se faça de bobo Chapeleiro!

- Tá tá... em pouco tempo chegaremos no final da floresta e ai... bom, você decide o que vamos fazer...

O que ela queria fazer era simples, ir até o castelo e encontrar John. Mas por alguma razão que ela não entendia ele sempre desviava o assunto.

- Porque não quer ir até lá?

- Porque? – ele perguntou irritado – Não está obvio? Vamos morrer! E eu vou estar te entregando de bandeja para a Rainha!

- Não estará... vamos sair de lá antes que isso aconteça Chapeleiro... alias, você tem um nome?

- Porque a súbita pergunta? – Ele perguntou desconfiado.

- Não sei... mas Chapeleiro que não é, certo?

- Adam... – ele falou sem se importar enquanto caminhava.

- Bonito nome... quem deu?

- Minha mãe...

- E como ela era?

- Escuta aqui... vai querer ficar falando sobre a minha família é?

- Só queria falar sobre alguma coisa enquanto caminhamos... – ela disse ofendida - ...como você foi grosso agora!

- AH é mesmo? – ele retrucou – É bom ir se acostumando menininha!

- Da pra parar de gritar?

O Chapeleiro percebeu que tinha pegado um pouco pesado com a discussão e fechou o bico, pelo menos naquela hora. Eles continuaram o resto do caminho em silencio. Ela pensando em como seria encontrar seu amigo depois do que tinha passado e ele em como ela era teimosa. E então, finalmente chegaram ao final da floresta. De cima, os guardas da Rainha apenas olhavam esperando o momento certo para dar o sinal para o plano entrar em ação. O final da floresta era apenas uma enorme campina.

- E então, para que lado vamos agora? – Annie perguntou se sentando na grama.

- Não sei ainda... precisamos achar uma estradinha...

- Aquela ali? – Ela apontou para uma mancha de outra cor bem longe.

- Uau... você é rápida... é ali mesmo..

- Ah... – ela respondeu sem muito animo.

E aquela resposta perturbou um pouco a consciência do pobre Chapeleiro que começou a se sentir culpado por gritar com ela minutos atrás.

-------------------------------------------"-------------------------------------------------

- E então? – Perguntou a Rainha para um súdito.

- O que madame? – ele perguntou de volta em duvida.

- COMO ESTÁ O PLANO SEU IDIOTA! Acha que eu quero saber o que? Como vai sua família?

- Eles estão apenas observando ainda, o Chapeleiro está conversando com a garota...

- O que?

- O Chape—

- NÃO MANDEI VOCÊ FALAR DE NOVO!    

- Sinto muito... – ele disse abaixando a cabeça.

- O que o Chapeleiro está fazendo com a menina? Ele é da Resistência! Você não tinha me dito isso Elizabeth!!

- Da pra ficar calma? Ele está sendo perseguido por eles também, possivelmente ajudou a menina a escapar...

- Isso é péssimo! PESSIMO!

A Rainha enlouqueceu quando começou a pensar em que tipo de relacionamento aquela menina poderia estar tendo com o Chapeleiro. E se eles tinham se tornando amigos? Ou o pior, e se eles se apaixonassem? Qualquer coisa do tipo poderia arruinar seus planos com a menina.

- Não é muito ruim... a menina está vindo para cá, pense pelo lado positivo.

- Quando a capturarem deixem os dois bem longe um do outro... ela terá que ficar só grudada com o meu John...

- Quer fazer o menino sofrer ainda mais?

- Isso não é uma sugestão, é uma ORDEM! Ela tem que continuar pensando apenas no John... se não tudo irá por água a baixo... todos os meus planos friamente calculados...

- Como quiser Senhora... – Disse Elizabeth saindo do recinto.

- E você? Vai ficar ai que nem um rato morto ou vai embora? – Perguntou ao súdito que estava ao lado dela de cabeça baixa.

- Ah, não madame! Estou indo embora agora mesmo...

- Faça algo útil e me traga noticias de como está indo o plano, seu IMBECIL! - ela gritou histerica enquanto ele saia da sala.

------------------------------------------“-----------------------------------------------

Eles ficaram sentados ali por um bom tempo, calados, o que estava matando o Chapeleiro.

- Ainda está brava comigo por eu ter sido grosso com você? – ele perguntou receoso.

- Ah? – Annie voltou do mundo dos sonhos e começou a rir – Claro que não Chapeleiro! Não se preocupe! Eu já entendi que não faço o seu tipo de amizade e fique calmo, daqui a alguns dias, poucos eu espero, você não vai mais precisar me ajudar porque eu vou finalmente embora, e ai você vai ter sua vida de volta ao normal...eu estava pensando no John, por isso estava quieta...

Por alguma razão que ele ainda não entendia, aquilo acabou com o pobre coraçãozinho dele. Ele ali se sentindo culpado, achando que ela estava brava com ele, quando na verdade ela estava apenas pensando naquele menino. O John.

- Ahh... por isso estava quieta... está com tanta saudade dele assim? – Ele perguntou meio nervoso

- É pode-se dizer que eu estou... não da pra imaginar que eu fui tão besta de não deixar aquele beijo acontecer do jeito que deveria, tudo aconteceu tão rápido... – ela falou em um suspiro se lembrando.

A palavra "beijo" fez o Chapeleiro ficar mais pensativo ainda, como assim BEIJO?

- Então ele beijou você...

- Sim... mas eu estava tão confusa... e depois começou a acontecer todas essas coisas e eu não pude dizer o quanto eu amo ele... percebi isso só depois do beijo, no caminho pra cá, loucura não?

- Ooh... não imagino o quanto... bom, mas isso significa que quando você o encontrar...

- É... vou dizer o que sinto, afinal eu gosto dele...

- Muito? – Ele arriscou perguntar

- Vamos falar da minha vida agora? – Ela perguntou ironicamente se referindo a bronca que ele tinha dado nela mais cedo.

Eles se olharam e começaram rir.

- É...acho que não...

- E você? Já se apaixonou Chapeleiro?

A pergunta o pegou de surpresa, o deixando encabulado por lembrar-se de algumas coisas do passado. O que ele menos tinha sido era inocente quanto ao amor ou uma paixão.

- Bom... já que estamos falando disso...  – ele disse derrotado - ...sim, mas não foi uma historia muito bonita Annie...

- Porque não? – Annie insistiu

Aqueles olhos ternamente azuis e cheios de curiosidade estavam o deixando louco. “Tanta curiosidade em uma menina!” Ele pensou um pouco irritado, mas acabou cedendo.

- Eu era apaixonado por ela e ela por mim... obvio... mas ela me deixou, me largou por alguma outra pessoa e sumiu da minha vida... na verdade nunca superei isso...

- Então nunca mais se apaixonou por ninguém?

Ele estava pronto para dizer “sim”, mas as palavras não saiam de sua boca, então ele simplesmente balançou a cabeça positivamente voltando a olhar para o horizonte.

- Desconheço o amor a muito tempo já...

- Se você não superou isso significa que você ainda a ama... digo, algum lugar ai dentro – ela disse colocando a mão sobre o peito dele – ainda gosta muito dela...

Aquele gesto da pequena o fez tremer e voltar seus olhos para ela assustados com o toque, ele não estava acostumado a ser surpreendido assim e para Annie aquilo era apenas uma atitude normal que ela queria fazer para confortá-lo.

- É... talvez não é mesmo?

- Você só precisa encontrar alguém diferente, alguém novo para gostar, isso sempre funciona... – ela sorriu tentando dar uma dica.

- Então... vamos andando? Você precisa encontrar o seu amigo e...

- Não precisa mais procurar ninguém... – A voz de John o interrompeu.

Ao escutar a voz dele Annie virou o rosto rapidamente vendo John parado em sua frente com mais um monte de homens vestidos de preto e um deles o segurando. A garota não teve duvida, se levantou e correu para os braços de John, aliviada por ver que ele estava vivo e bem. John por sua vez se sentiu aliviado por ver a menina viva, mas um pouco angustiado também porque sabia que tudo aquilo seria uma armadilha para ela. O Chapeleiro ficou sentado não gostando nada daquela situação e se sentindo um pouco desconfortável com a cena de Annie agarrada aos braços de outro. O homem que ela amava.

- Como você está? Porque veio parar aqui? Eu estava tão preocupada com você John! – Ela dizia em prantos.

- Eu estou bem, mas terão que vir comigo...

- Como? – O Chapeleiro disse se levantando rapidamente.

- Não vamos a lugar nenhum!

- Chapeleiro! – Annie falou soltando John e indo até ele – O que aconteceu?

- Eles são empregados da Rainha, Annie, esse é o problema...

- John? – Ela se virou para ele com olhar de quem pedia explicações.

- Eu fui... – ele não queria mentir, mas era preciso - ...capturado pela Rainha... vocês...

- Vocês terão que vir conosco se querem salvar o menino aqui... – disse um dos engravatados puxando John pelo braço – Vocês vem?

- Mas é claro! – Ela respondeu sem pensar duas vezes.

Na verdade eles não tinham escolha, ou iam por bem ou por mal e o Chapeleiro tinha entendido que ela estava indo por bem, então porque não ir junto? Eles foram escoltados até o castelo e chegando lá um homem pegou o Chapeleiro o levando para o lado oposto, o que fez Annie começar a ir atrás deles, mas outro homem foi mais rápido a pegando pelo braço.

- O que está fazendo? Me solte! Para onde estão o levando? Chapeleiro!

- Annie!

Ela pode escutar a voz dele vindo de longe, lá no fundo do corredor. John se irritou um pouco com a importância que ela estava dando a ele, mas não podia falar nada, não ainda.

- Calma menina! – O homem disse a apertando com um pouco mais de força – ele ficará bem, tá? Só vamos levar você até a Rainha...

- E ele? Porque não vem comigo? Não quero enfrentar isso sozinha!

- E está sozinha Annie? – John perguntou um pouco chateado.

- Não... não é isso John... – ela respondeu se sentindo meio culpada pelo comentário - ... é que você está aqui a mais tempo, já deve ter falado com ela... alias, porque virou prisioneiro dela?

- Lembra quando eu te disse que isso aqui costumava ser minha casa?

- Underland era sua casa?

- Eu fugi daqui e fui para o seu mundo para ficar longe daqui e das regras dela... mas ela me encontrou... e é por isso que tudo isso está acontecendo...

Annie ficou quieta depois daquela conversa, então não era só ela o problema, John também tinha a ver com alguma coisa daquele lugar. Menos mal, enquanto isso teria que começar a pensar em um bom plano para fugir dali junto com John e também em um bom lugar para deixar o Chapeleiro seguro. “O Chapeleiro... como será que ele está?”. Ela começou a pensar nele e até a sentir falta do não senso de humor que ele tinha. Com esses pensamentos ela começou a lembrar do que tinha passado com ele até agora e um leve sorriso surgiu em seus lábios, deixando John curioso.

- O que está fazendo você rir tão docemente Annie? – ele perguntou calmo como sempre.

- Anh? Não... nada...

- Só você mesmo para rir enquanto anda até a pior mulher do planeta...

Ela ia perguntar, mas uma porta se abriu na frente dela e os homens os guiaram até o meio da sala. Lá na frente, um pouco mais longe estava uma mulher com um vestido todo vermelho, um cabelo ruivo bem penteado e olhos queimando de ódio, que transmitiam raiva para qualquer um que olhasse. Era de dar medo e era exatamente o que Annie estava sentindo, muito medo. A pequena agarrou o braço de John que aparentemente estava calmo, tentado seguir com o plano da mãe para poder iniciar o seu.

- Olá minha cara nova guerreira... – ela disse se levantando da cadeira - ...esperei por este momento em toda a minha vida e vejam só! Chegou...

- Ahh... olá... – Annie falou incerta.

A única coisa que ela podia concluir agora era que o Chapeleiro tinha razão, ela não conseguiria nunca tirar John de lá sem ter um bom plano. Não agora.