Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 13
Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

O cerco está se fechando em cima dos nossos heróis e nada pode evitar os próximos acontecimentos.



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Semanas depois, os jovens guerreiros receberam as novas notificações.

Os lideres das Aldeias concordaram em fazer uma avaliação conjunta, no estilo do Exame Chunin, para não haver controvérsias. Como os gêmeos já haviam se formado, não participariam das avaliações, mas insistiram em acompanhar a mãe que se uniria aos outros avaliadores.

Em uma manhã fria de outono, as delegações começaram a chegar na Aldeia da Areia. Seria uma avaliação maior do que qualquer outro Exame já realizado e, ainda para piorar a situação, os pais dos jovens insistiram em acompanhá-los. O orgulho parecia quase palpável em suas feições.

Havia alguns pertencentes a Clãs de renome, orgulhosos de seguir os passos de seus pais, mas havia outros que nem na Academia estavam apesar de já terem idade. O que significava que ou não tinham interesse ou pertenciam a famílias civis. O que por si só já começaria a arrumar problemas. Os pais desses últimos pareciam os mais receosos sobre o futuro de suas crianças.

Foi deixado claro desde do inicio que nenhum deles seria forçado a seguir carreira, mas seria bom eles receberem orientação sobre como lidar com as suas novas habilidades.

Não que isso os tenha deixado mais aliviados.

A guarda fora quadruplicada para o evento. Tantos guerreiros jovens e inexperientes juntos não era seguro, todos sabiam, então Gaara tivera reforço das demais Aldeias para garantir que a reunião não fosse interrompida como acontecera com o último Exame Chunin.

Ver o quase sempre taciturno e entediado Shikadai no meio dos jovens guerreiros que observavam seus amigos encheu seus tios de orgulho. O cargo de Kazekage era sempre passado de uma geração a outra dentro da mesma família, mas o menino, neto legitimo do Kazekage anterior, somente porque seu pai pertencia a outra Aldeia, fora excluído da linha sucessória sumariamente. Agora a revelação de que ele era um dos Elos tão valorizados pelo Conselho fora como um tapa na cara daqueles que o haviam desprezado por causa das escolhas de sua mãe.

Não que isso fosse visto com bons olhos pelo primo, Shinki, herdeiro do Kazekage atual. Afinal, era a mãe de Shikadai, Temari, e não seu pai, Gaara, que era a filha mais velha do velho Kazekage. Na verdade, seu pai era o caçula, tendo superado os dois irmãos por ser o mais forte deles. Agora aparecia seu primo que ele sentia nos ossos ser o mais forte da atual geração.

Talvez o Conselho resolvesse reconsiderar sua posição com relação a ele agora e ele não teria a menor chance se usassem o mesmo critério quando seu pai partisse.

A maioria dos jovens se revelou ter um domínio razoável de seus Elos, mas alguns ainda teriam de treinar um pouco mais. Assim, os jovens com menos de dez anos ainda permaneceriam na Academia, ou seriam inscritos naquelas de seus respectivos países, e seriam reavaliados ano a ano até que completassem a formação básica. Mas poderiam ser promovidos a Guenin antecipadamente se suas avaliações os considerassem aptos.

 

Sakura estava na Torre mais alta da Aldeia, olhando para o horizonte quando sentiu alguém se aproximar. Ela apenas olhou de lado.

— O que você quer?

A mulher a fitava em desafio, insolente, mas manteve uma distância segura.

— Não espere um pedido de desculpas de minha parte. Estava apenas cumprindo ordens.

— Ordens que você cumpriu displicentemente.

A outra ficou vermelha de tão irritada.

— Você nunca foi uma mãe para o Saizo.

— O que foi que aquele peste lhe disse?

— Nada, eu mesma vi. Posso ser suspeita em falar, mas nenhuma mãe que eu já vi trata o filho com tanta frieza quanto você o tratava. Então não espere qualquer agradecimento de minha parte por ter cuidado dele por tantos anos.

Ela se levantou de onde estava sentada, encarando a rival.

— O que diabos você faz aqui?

— Sou uma das médicas indicadas para cuidar dos jovens.

Só agora Sakura lembrou que ela também era formada em medicina.

— Boa viagem de volta – disse, lhe dando as costas, mas, de repente, ouviu um barulho surdo. Algo a acertou antes que tivesse a chance de desviar.

Ela se pôs de joelho, levando uma das mãos as costas e puxando algo semelhante as agulhas usadas pelos membros da Anbu. Sua visão começou a ofuscar quase instantaneamente. Seus membros começaram a ficar dormentes, se recusando a obedecer as ordens de sua mente.

— O que injetou em mim?

— Nada… apenas um composto paralisante.

Naori Uchiha sorriu, diabolicamente, empunhando sua adaga. Em uma luta justa, ela jamais faria frente a Sakura, mesmo sem o elo, então usara o veneno para lhe dar uma vantagem.

Ela atacou, mas, surpreendentemente, a Senin sacou sua adaga e bloqueou o ataque. Seus olhos brilhavam prateados, surpreendendo a adversária que saltou para trás, em posição de ataque.

As mãos de Sakura assumiram o tom azul característico, seu rosto franzido mostrando o esforço empenhado em apenas tentar se movimentar. A dose tinha sido suficiente para derrubá-la, então como ainda se movimentava?

— É a besta, não é? É ela que está te emprestando chakra…

A mulher de cabelos cor-de-rosa sorriu.

— Não pense que me vencer será tão simples assim…

A Senin se levantou com dificuldade, em nenhum momento afastando o olhar da adversária, seus olhos originalmente verdes, agora cor de prata.

— Após muitos anos de acertos e erros, descobrimos que as pessoas portadoras dos Elos tinham todos características em comum. Eram pessoas pelas quais ninguém dava nada; fantasmas que facilmente passariam despercebidos na multidão, mas que tinham um grande potencial oculto que pelas mais diversas razões não revelavam. Então por que ninguém de seu Clã, exceto o companheiro dela e seus filhos, possuem Elos? Cheguei a pensar que era por causa do Sharingan, mas…

Naori atacou novamente, mas passou no vazio.

— Após ver você me atacando covardemente, longe dos olhos de qualquer um que pudesse denunciá-la, compreendi. Vocês dão tanto valor as aparências e as habilidades inerentes a sua linhagem que aqueles que poderiam ser Elos se tornaram arrogantes a ponto de seus padrões mentais se tornarem incompatíveis. Você é um exemplo clássico.

O comentário a deixou ainda mais irritada, mas nem conseguiu arranhá-la. Mas ela não era estupida a ponto de não perceber que a adversária estava tentando ganhar tempo para que seu corpo pudesse absorver o veneno. Então, se fosse o caso, seu tempo era escasso.

Por isso, decidiu finalizar a luta. Percebendo que o esforço começava a cobrar seu preço e seus movimentos eram mais lentos, lançou o golpe final, mas, de súbito, um movimento no canto de seu olho a fez perceber que estava encrencada a tal ponto de fazê-la recuar instintivamente.

Dois jovens amparavam a mulher enquanto que um homem estava diante dos três. O vento balançava seus cabelos cumpridos e o sol refletia-se na katana em sua mão esquerda. Ela só teve tempo de ver os olhos dele mudarem segundos antes de desabar sobre seus próprios pés.

— Você a matou? – perguntou Sakura, a voz enrolada.

— Não, só a derrubei. Naruto decidirá o que fazer com ela… isso se Gaara não acabar com sua raça antes de sair da Aldeia. Da última vez que verifiquei, tentativa de assassinato ainda era crime – disse, pegando a agulha caída no chão com cuidado.

Ela mal ouviu o restante do discurso.

 

A reunião dos Kages teve lugar no dia seguinte a avaliação, na própria Aldeia da Areia. Além dos lideres das cinco grandes nações, as outras haviam enviado os seus para acompanhar a avaliação dos jovens, então agora o salão estava lotado.

A tentativa de assassinato de Sakura Haruno já tinha se tornado de conhecimento geral e se tornara ainda mais urgente assegurar a segurança dos demais. Não que não soubessem que possivelmente era um ato de vingança com relação a questões que não diziam respeito ao principal tópico da questão, mas isso não desmerecia o ocorrido. Principalmente considerando o fato de estar próximo o julgamento de Itachi Uchiha, líder do Clã ao qual a pretensa assassina fazia parte, e que guardava um grande rancor com relação a Haruno.

Era o outro tópico que provocava ainda mais discussão. Queriam que Uchiha fosse feito de exemplo, principalmente considerando o fato de que as Aldeias, com toda aquela historia, haviam revivido o pesadelo vivido por diversas décadas quando crianças desapareciam sem deixar nenhum vestígio.

Todos concordavam de que deviam proteger os jovens…

 

Os dois irmãos já dormiam em suas camas quando Sakura foi certificar. Não era tempo que soubessem dos problemas que enfrentariam se o tio fosse condenado pelo que tinha feito a família do irmão. Tudo dependeria do que o Conselho decidisse sobre o novo líder que poderia determinar até mesmo suas exclusões por causa do sangue misto.

Para Sarada, que nunca fora efetivamente parte do Clã, isso não seria de todo um problema, mas Saizo…

Ela entrou em seu quarto e olhou pela janela a paisagem. Era estranho que até hoje ainda sentisse falta da paisagem de Konoha. Seu adorado lar…

Uma mudança no ar do quarto chamou sua atenção e ela se voltou a tempo de ver algo se materializar bem a sua frente.

— Já disse que para isso existem portas – disse, irritada, sentando-se na cama.

Ele sorriu, sarcasticamente, sentando-se ao seu lado.

— Estão todos dormindo?

— No sétimo sono… Nem uma bomba é capaz de acordar esses dois. Passaram a tarde inteira treinando com as outras crianças da Vila, apesar dos pais proibirem terminantemente. Meus ouvidos estão queimando com todas as reclamações.

Ele deitou-se de costas na cama, sem se preocupar em se despir.

— Logo todo esse treinamento que eles odeiam terá valido a pena. Eles brigam e xingam hoje, mas vão agradecer amanhã.

Ela bem o sabia. Seus pais nunca passaram do básico e secretamente esperavam que ela também não, mas nunca a criticaram por buscar se superar até chegar ao nível máximo e agradeceram por sua perseverança quando voltou para casa como uma heroína de guerra. Tudo sem grandes ferimentos.

— Até que durou muito, não é? Era bom demais para ser verdade.

Ele voltou a se sentar e a abraçou.

— Nossos meninos continuarão com nosso legado… e perseguirão nosso sonho com a mesma determinação.

Ela deitou a cabeça em seu peito, suspirando, enquanto a noite estrelada lá fora parecia convidar os amantes.

 

A Aldeia permanecia em um estranho silêncio, as sombras transmitiam uma impressão fantasmagórica, assustando até mesmo aqueles que no geral não conseguiam sentir qualquer alteração no ambiente.

Kankuro mandara dobrar a guarda, mas, mesmo assim, algo o incomodava. Tantas pessoas juntas com tanto poder era um chamariz para problemas, pensou, sentado sobre a Torre mais alta da Vila. Foi uma noite longa e cansativa.

Viu o Sol se erguer no horizonte, pensando seriamente que estava ficando velho para aquele trabalho. Seu desejo era estar em casa, esperando seus filhos acordarem, mas continuava perseguindo fantasmas onde não havia. Sua vida era muito simples quando tudo o que tinha de fazer era proteger o Kazekage.

Ele já se preparava para descer da Torre quando um movimento na rua abaixo chamou sua atenção. Conseguiu intercepta-lo antes mesmo que cruzasse o umbral de uma das portas e o arrastou para o alto da Torre.

— O que pensa que está fazendo? – perguntou a Shinki mais cansado do que efetivamente zangado. – Não devia estar em casa, dormindo?

O menino suspirou, zangado.

— Posso perguntar uma coisa, Sensei?

— Sobre o quê?

— Você me acha adequado… para ser Kazekage um dia?

— Por que está perguntando isso?

Shinki pareceu indeciso por segundos.

— Bem, pela logica, meu pai não deveria ser o Kazekage.

— Nunca te contaram a historia do seu pai, não é?

O menino pareceu mais confuso ainda.

— O nosso pai, o velho Kazekage, literalmente destruiu toda a infância de seu pai em sua busca insana de recuperar a antiga gloria da nossa Vila. Ele selou a besta de uma calda, Shukaku, dentro do corpo de seu pai quando ele ainda estava na barriga da nossa mãe. Isso causou a morte de sua avó e, em sua loucura, nosso pai o culpou por isso. Tentou mata-lo várias vezes ao perceber que não podia controlá-lo… Por fim, seu pai se viu incapaz de qualquer outro sentimento a não ser a raiva e o ódio. Se não fosse pelo Naruto, um jovem que havia vivenciado o mesmo drama do meu irmão e escolheu outro caminho para superar essa dor, eu não sei o que teria sido do Gaara ou da Aldeia da Areia.

Shinki não soube o que dizer, apenas baixou os olhos.

— Todos o olhavam com desconfiança e medo, seu pai ganhou muitos inimigos enquanto estava mergulhado na própria insanidade. Mas superou tudo em nome de seu desejo pela paz. Quando Shukaku foi removido de dentro dele e um de nossos Anciões sacrificou a própria vida para trazê-lo de volta do mundo dos mortos, todos o receberam com festa. Porque ele era a esperança de que dias melhores viriam.

Kankuro se ajoelhou diante do sobrinho, pousando a mão em seu ombro.

— Seu pai não se manteve no cargo de Kazekage por ser o mais forte dentre nós, filho, se manteve lá por amar nossa Vila e a todos que aqui viviam. Mesmo eles o desprezando e o temendo, um a um ele ganhou o respeito de todos por acima de tudo ter a perseverança de ir ao inferno e voltar sem perder sua alma.

— O que quer dizer com isso?

Seu tio sorriu, acariciando seu cabelo.

— Que nossas escolhas definem tudo o que somos e o que seremos. Naruto é o mais poderoso ninja vivo, mas cresceu com um rejeitado sem ter tido culpa alguma. Ele podia ser um Renegado, alguém muito semelhante a Madara Uchiha, mas hoje é o líder mais respeitado e amado em todo mundo. Seu pai foi criado como uma máquina de guerra, mas ainda sim aprendeu a amar e a respeitar os outros – disse, erguendo um dedo e sorrindo. – Seu destino não o define, são as suas escolhas. Suas escolhas definem o seu destino.

Kankuro sorriu, enquanto se levantava.

— Isso sem contar que deve considerar que você leva uma vantagem quanto a Shikadai… Você foi criado aqui, ele não.

O menino ficou tão surpreso que não soube o que dizer enquanto o tio se afastava. Como pude não pensar nisso?


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