Outra Dimensão escrita por ACLFerreira


Capítulo 12
O que você fez?


Notas iniciais do capítulo

É a hora da verdade...



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O dia já amanhecia quando os dois apareceram na entrada da Aldeia. O garoto de cabeça baixa, sem nada dizer, mas tinha noção de suas responsabilidades. Se propusera a dedicar-se ao longo treinamento e estava determinado a não mudar seus planos. Seu tio já destruíra sua vida o suficiente.

Ao ver os pais conversando no portão, ele se deteve.

— O que foi? Mudou de ideia? – perguntou a irmã, ao seu lado.

— Claro que não! Mas não sei como posso encarar minha família de novo.

— É difícil, eu sei, mas a vida é assim. Pelo menos, você pode encontrar sua mãe de novo… mesmo que as circunstancias não tenham sido as ideais.

O menino sorriu, encarando a irmã.

— Para se dizer o mínimo, não é?

De repente, os olhos dela brilharam diferentes.

— Os pais não são perfeitos, Daisuke! E qualquer um pode ver que esses dois se amam… mesmo que eles tentem negar até mesmo para si mesmo. Se quer culpar alguém pelo fato de só agora ter descoberto sua verdadeira mãe, jogue em cima do seu tio… ou melhor, prove a ele que não é sua genética que o define. É sua determinação.

— Você está certa…

Por anos, ele não compreendera porque seu tio o olhava com tanto desdém ou porque se mostrara tão decepcionado e contrariado por ele ser melhor até mesmo que o seu filho. Agora tudo se encaixou como em um quebra-cabeça. Ele não conseguia enxergar a verdade por trás da fachada pacifica de sua mãe.

Agora que seu Sharingan fora despertado, ele conseguia ver todo o poder e a habilidade que aquela mulher tinha guardado. Se seu nível de chakra fosse maior, podia ser até mesmo que ela conseguisse dar conta de seu pai ou até mesmo do Hokage. Sua admiração e orgulho dela aumentara ainda mais.

Seu problema fora porque seu pai não estivera lá para protegê-los. Sua raiva não fora direcionada a ele, mas as tradições tão arraigadas que levaram seu tio a trair o próprio irmão desta forma.

Os dois se voltaram em sua direção, ansiosos.

— Vamos?

A mulher assentiu, sorrindo ligeiramente.

— Sim! Gaara vai cuidar das punições cabíveis ao médico que fez meu parto, tentando não chamar a atenção, mas devo dizer que isso vai ser difícil. Assim que tudo isso chegar ao Conselho, vai ser um escândalo. Acho bom que, assim que chegarmos a Konoha, coloquemos o Naruto a par da situação. Muito provavelmente vão pedir provas de tudo isso e pode sobrar para a Aldeia da Folha.

— Não estou entendendo…

— Querendo ou não, Itachi é parte integrante de Konoha e tráfico de pessoas é um crime. Tudo isso pode não terminar bem para nenhum dos lados.

O menino ficou ainda mais confuso.

— Embora seus pais tenham nascido na Aldeia da Folha, você nasceu na Aldeia da Areia e foi traficado de volta para Konoha sem a permissão ou o conhecimento de seus pais – explicou o pai, pacientemente. – Pode abrir um precedente para o questionamento sobre a sua nacionalidade e qual Aldeia tem jurisdição sobre a sua pessoa.

— Podem caçar minha bandana? – questionou o garoto, horrorizado. Para um ninja não poderia haver uma humilhação maior e pior, algo pelo qual ele sequer tivera culpa.

— Duvido que Naruto ordene tal ato hediondo… Afinal, seus pais nasceram lá, no mínimo você pertence a Konoha e a Aldeia da Areia. É provável que deem prioridade onde se formou, afinal não pode ser prejudicado pelos atos de outros.

Mas não há certeza de que isso não se volte contra nós!, pensou ele, em silêncio. Seria mais uma munição que seu tio usaria contra seu pai e ele. Para “o bem do Clã”, o Conselho poderia considerar ignorar os crimes de seu tio e se voltar contra eles. Naori também poderia se dizer vitima de toda aquela situação e, no final, poderiam simplesmente exclui-los do Clã. E seu tio venceria no final, conseguindo até mesmo que seu filho fosse o herdeiro presuntivo.

O pai o olhou como se entendesse seu raciocínio.

— Lidaremos com uma coisa de cada vez.

O menino assentiu, enfim se voltando para Sakura.

— Como devo te chamar agora?

Ela riu, cruzando os braços.

— Isso você vai ter de me dizer.

Os três se foram, observados de perto pela filha que sorria, mal percebendo que alguém a observava na escuridão.

 

Por várias semanas, a situação ficou em suspenso. A maior parte da Aldeia não fazia ideia do que acontecia, enquanto os profissionais de confiança do Hokage refaziam o teste que supostamente Orochimaru fizera e dera inicio a todo aquele problema.

Naruto queria, desesperadamente, que aquilo não fosse verdade, embora as possibilidades fossem bem limitadas. Somente agora pequenas coisas começavam a fazer sentido. O problema eram as repercussões que isso poderia causar não somente para seu povo como para a União.

Itachi fizera algo potencialmente condenável aos olhos dos principais Clãs ninjas e das principais Aldeias. Se o exame confirmasse os fatos, não sabia se conseguiria explicar a situação. Primeiro tinha de falar com o líder dos Uchiha, mas somente depois da confirmação que sairia logo.

O Sol se punha no horizonte quando Sakura chegou ao escritório e, minutos depois, os dois irmãos.  Naruto encarou um a um os três e pegou o envelope já aberto de cima de sua mesa.

— Vou direto ao assunto… Há algumas semanas, foi levantada uma grave acusação por alguém que, infelizmente, não é de confiança. Quando Sakura e Sasuke me puseram a par da denuncia e das evidencias de que possivelmente era verdade, ordenei que meus cientistas de confiança fizessem algumas analises. E aqui está o resultado – disse, franzindo os olhos em direção a Itachi. – Aqui diz que Daisuke Uchiha é, na verdade, Saizo Haruno, tendo nascido na verdade na Aldeia da Areia.

O líder Uchiha se manteve altivo, sem demonstrar emoção.

— Investigações feitas a mando do Kazekage descobriram que o médico que fez o parto de Saizo e de sua irmã gêmea, Sarada, entregou o menino a um guerreiro que se dizia enviado por sua família paterna para ser entregue ao pai. Mas eu duvido que Sasuke, meu amigo pessoal por tantos anos, fosse capaz de fazer algo tão cruel ou que ganhasse algo com isso. O que nos deixa com apenas uma pessoa que se beneficiaria do rapto de um bebê recém-nascido.

O homem deu um passo atrás, mas bateu em uma barreira invisível. O Hokage tivera a presteza de preparar uma barreira de proteção para isolá-los, isso sem nem ao menos erguer um dedo.

— O que tem a dizer em sua defesa, Itachi?

— Sabe que essa barreira não é capaz de me conter, não é, garoto?

— Eu estou lhe dando uma oportunidade de se defender junto a quem jurou lealdade anos atrás. Outros em meu lugar lhe entregariam ao Conselho e levariam as mãos frente a tamanha falta de caráter. Se o seu Clã tão respeitável é capaz de fechar os olhos diante de atos tão hediondos, não espere a mesma amabilidade de minha parte.

Itachi olhou para os pais do garoto.

— Daisuke era um Uchiha, tinha direito de cria-lo segundo os preceitos de seu Clã para seguir segundo nossas regras. Não importava quem era sua mãe, era meu sobrinho e era minha obrigação trazê-lo para sua família.

Sakura o olhou como que querendo fuzilá-lo.

— Ele era meu filho, você não tinha o direito para leva-lo para longe de mim.

— Você era fraca, jamais seria capaz de incentivá-lo a buscar todo seu potencial.

— Até você deve admitir que fiz um excelente trabalho com a Sarada, a menina que você considerou fraca demais para ser uma herdeira digna.

— Aquele médico desgraçado nunca me disse que havia uma segunda criança.

Sakura avançou para cima dele, mas a barreira a impediu.

— Então você admite? Sequestro, falsificação de documentos… e possivelmente a destruição de todo o futuro de Daisuke. O que você acha que vai acontecer se o Conselho começar a questionar a jurisdição e a nacionalidade de seu sobrinho?

Com um movimento de braço, a barreira se desfez. Sasuke tomou a frente de Sakura, empunhando a sua espada, mas Naruto manteve-se atrás da mesa, apenas observando a movimentação.

— Tem certeza de que quer fazer esse movimento, Itachi? Eu já o admirei como shinobi um dia, odiaria ser aquele que o faria cair.

Anos atrás, Itachi sobrevivera a duras penas a um câncer raro causado pelo uso excessivo do Sharingan. Por isso, ele não podia mais usar sua principal arma sob o risco do câncer retornar e dessa vez não haveria um milagre.

Mesmo assim, ele se preparou para atacar, mas algo o acertou em cheio jogando-o contra a parede.

— Não atacará os meus amigos na minha frente – disse o Hokage, ainda com a mão esticada. – Isso só foi uma fração ínfima da minha energia, não me teste.

A custo ele se levantou enquanto que vários membros da Anbu, a guarda de Elite responsável por proteger o Hokage, surgiram.

— Levem-no para a prisão até a reunião do Conselho. E tomem cuidado, ele é perigoso.

Os homens se afastaram com o prisioneiro, deixando os três Senins finalmente a sós.

 

Quando a noticia da prisão de Itachi e as circunstâncias que levaram a isso se espalharam, os Uchiha se mostraram consternados e revoltados com a situação. Os pais de Naori se mostraram contrariados e horrorizados com as atitudes da filha mais nova, mas não foram capazes de convencer Sasuke. Dias depois da prisão do irmão, quando todos sabiam de sua humilhação, ele deu entrada no pedido de divorcio e ninguém em sã consciência seria capaz de questionar seus motivos.

Seu único interesse agora era proteger sua família.

Logicamente, os membros mais fieis ao seu irmão não estavam nem um pouco satisfeitos com os acontecimentos. Provavelmente internamente compreendessem que o que ele fizera fora errado, mas isso não os impedia de tentar defende-lo perante o Conselho do Clã. Se tornou um impasse tão grande que o Clã permaneceu sem comando até o julgamento final de Itachi.

Embora não concordasse com isso, nem mesmo toda a fama de Sasuke e o grande respeito que tinha dentro não só do Clã, mas também em toda a Aldeia, venceria os aliados de Itachi que o culpavam pela desgraça do velho líder. E Daisuke, agora Saizo, não tinha idade o suficiente para tamanha responsabilidade. E acabou que a reunião acabou dando em nada.

A essa altura Saizo e Sakura estavam de volta as cercanias da Aldeia da Areia para cumprir com o calendário previamente acordado. Não foi nenhuma surpresa que Naori não tenha feito nenhuma tentativa de se aproximar do menino desde da revelação de que ela não era sua mãe, mas isso ainda o magoava.

Mal ultrapassaram o portão, os jovens se acercaram do amigo, tagarelando sobre seus avanços e ele logo se esqueceu de sua tristeza.

— Sakura – chamou Matsuri, a esposa de Gaara. – Gaara quer vê-la.

Ela se voltou para o filho entretido com as outras crianças.

— Ele vai ficar bem. Os guardas têm ordens de não permitir que deixe a Aldeia desacompanhado… de um adulto.

Ela se afastou, ainda com a sensação de que aqueles seis meses seriam os mais longos de sua vida.

Gaara estava parado ao lado da janela de seu escritório quando Sakura entrou e foi direto ao ponto:

— Quando será o julgamento de Itachi Uchiha?

— Ainda não há uma data, mas o Conselho concordou que fosse o mais rápido possível. O Clã está causando algum alarde, mas em sua maioria concordam que ele passou dos limites. Mesmo assim, não acredito que termine em uma punição muito dura já que ele é tido em grande estima por todos. Acho que pensam ser o suficiente a destruição de sua imagem publica.

Gaara suspirou, sentando-se em sua cadeira.

— Como eu lhe no dia em que me contou quem era o pai de sua filha, gostaria que tivesse sido honesta desde do inicio. Poderíamos ter evitado toda essa dor de cabeça, pois eu não sou tolo em não ver que há pessoas aqui mais interessadas em seus próprios ganhos do que no bem estar dos outros.

— Sei disso…

— Agora com relação a Saizo… gostaria que dissesse a ele que respeitaremos qualquer decisão que ele tomar com relação a sua lealdade. Ele tem idade o suficiente para compreender as implicações de suas decisões e, cá entre nós, ele cresceu na Aldeia da Folha. Com relação a nós, não haverá quaisquer questionamentos no que diz respeito a quem ele deve sua lealdade.

— Obrigada… Isso será de grande alívio para o meu filho. Ele temia que toda essa história o fizesse perder sua posição como ninja.

— Até os membros mais reticentes do Conselho concordaram que seria algo terrivelmente injusto. Ele não foi o primeiro e nem será o último a nascer em um país e ser formado em outro.

A mulher assentiu, suspirando.

— Quantos elos confirmados temos aqui?

— Sessenta e sete. Estamos programando a avaliação deles, mas está difícil definir os critérios. Achei que pudesse me ajudar quanto a isso.

A mulher riu.

— É bom mesmo porque sua irmã já está quase trancando o filho em casa por conta disso.

— Shikadai?

Ela simplesmente levantou as mãos.

— Quem diria? O ninja mais preguiçoso de Konoha…

— É também o mais inteligente como o era seu pai na nossa época. Parece que ele só precisava de uma motivação para começar a dançar conforme a música.

O Kazekage a encarou firmemente, fazendo-a ficar em alerta.

— Faz muito tempo desde da época do meu pai, quando uma aliança com Konoha era algo impensável, mas as determinações dele ainda são muito fortes. Não que eu concorde com a maioria delas, mas é difícil mudar algumas coisas – disse Gaara, levantando-se novamente. – Naruto deixou bastante claro que ainda a considera uma kinoichi da Aldeia da Folha e você não o contestou.

— Eu nasci lá, tenho muitos amigos na Aldeia.

— Não foi isso que eu perguntei…

Ela suspirou.

— Nunca se preocuparam com isso, por que agora?

— Deve ser por causa das estranhas visitas de seu velho amigo…

— Sasuke? Ele estava preocupado porque o Orochimaru mostrou interesse na nossa filha e de tempos em tempos aparecia para ver o que estava acontecendo. Só falava comigo porque não queria que Saizo pensasse que ele não confiava que ele sabia cuidar de si mesmo.

— Ele também é o principal espião do Hokage, além de ser seu principal guerreiro.

Ela mordeu o lábio inferior.

— Temos uma longa história e não dá para simplesmente cortar os laços. Se fizer todos se sentirem melhor, solicitarei a Naruto minha aposentadoria como shinobi e me dedicarei exclusivamente a medicina. Mas não me peçam para escolher um lado, meu coração está em Konoha, o homem que eu amo e meu filho vivem lá, mas minha casa é aqui. Tenho uma vida construída aqui.

Dizendo isso, ela se voltou para a porta, mas ainda falou, com a mão na maçaneta:

— E não faça a mesma pergunta a sua irmã… Tenho a impressão de que ela não será tão educada em sua resposta – disse, fazendo-o lembrar da vez que a enviara para investigar o estranho comportamento do até então amigo Shikamaru e ela destruíra metade do escritório do Hokage porque Kakashi, que era o Hokage então, não quisera lhe contar o que estava acontecendo.

Ao vê-la sair, o homem se voltou para a janela. Os anos a fizeram ganhar seu respeito, não só por sua habilidade com a medicina, mas também por seu espírito decidido e altruísta. Perdê-la estava fora de cogitação.

Mas outra coisa que ela dissera o fez voltar a olhar para a porta. Anos antes, quando Temari anunciara seu noivado com Shikamaru, o Conselho quase o forçara a escolher uma noiva para que assim pudesse produzir um herdeiro, impedindo a ascensão de um Nara, com laços estreitos com a Vila da Folha, ao cargo de Kazekage. Seu sobrinho, Shikadai, fora assim excluído da linha sucessória, embora não oficialmente, uma decisão que deixara sua irmã furiosa. Embora não pudessem proibi-lo de fazer parte da família que haviam construído arduamente depois de uma infância inteira separados por força dos atos do pai, deixaram subentendido que ainda controlavam suas vidas e desde então Temari quase se declarara parte da Vila da Folha. Os guardas sabiam bem que não podiam impedir seu transito pela Aldeia, temiam-nos demais para isso, mas pisavam em ovos quando o assunto era a irmã do Kazekage. Na maior parte das vezes, seu irmão, Kankuro, e ele tinham de ir a Konoha para vê-los.

E se…


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Notas finais do capítulo

Verdades dolorosas vieram a tona. Como poderão continuar agora?



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