Sempiterno escrita por Sarah


Capítulo 1
1º Ano


Notas iniciais do capítulo



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Sirius sentia-se muito perto de vomitar ao subir no Espresso de Hogwarts, de volta a casa para suas primeiras férias de natal. Remus estava atrás dele e pousou as mãos sobre a base das suas costas, suave e discretamente, incentivando-o a seguir em frente. Se não fosse o toque Sirius poderia jurar que ficaria ali a vida inteira, sem se mover, mas quando percebeu já estavam entrando em uma cabine, num dos vagões mais ao fundo do trem. As janelas estavam cobertas com uma crosta de gelo e era quase impossível ver o que acontecia lá fora.

James era todo contentamento com a perspectiva de voltar para a casa. Ele contou, animado, como seu pai provavelmente encatara bonecos de neve no jardim para cantarem canções de natal, sobre os presentes que esperava ganhar, e sobre a torta de chocolate de uma tia Rose, que nenhum deles sabia quem era, mas que aparentemente cozinhava muito bem. Sirius fez seu melhor esforço para sorrir para tudo isso e comentar as coisas certas. Não culpava James por não perceber seu nervosismo. Não precisara de muito tempo de amizade para se dar conta de que os pais dele eram completamente distintos dos seus: James sequer imaginava que a ideia de passar o natal com a família pudesse causar temor em alguém.

Remus, por sua vez, parecia bastante consciente da sua angustia. Ele próprio não estava muito melhor, na verdade. Havia olheiras sob os seus olhos e ele parecia terrivelmente pálido. Sirius apostaria sua vassoura que ele estava ficando doente de novo. Pela forma como Remus olhava pela janela, opaca de gelo, sabia que nenhum dos dois estava ansioso por deixar Hogwarts.

Mas estavam indo embora mesmo assim, e a escola não tardou em ficar para trás, substituída por campos repletos de neve. Em algum momento Remus soprou por entre as mãos em concha, na tentativa de aquecer os dedos, gelados apesar da calefação do trem, e Sirius notou que as luvas que ele usava estavam puídas nas bordas. Estava considerando luvas como um bom presente de natal quando James os deixou sozinhos, dizendo que ia procurar o carrinho de doces. Ele mal tinha fechado a porta quando Remus lhe lançou um olhar de esguelha.

— James vai explodir de animação antes de a gente chegar em King’s Cross.

Sirius deu de ombros.

— É bom saber que o natal vai ser bom para alguém.

Remus bufou em resposta ao seu comentário, mas gesto foi mais teatral do que realmente exasperado.

— Você com certeza vai ganhar bons presentes também. Tem alguma coisa especial que você quer?

Era muito sutil, mas Sirius soube através do tom de Remus que a pergunta era uma armadilha. Deixou-se cair mesmo assim, pois achava que iria sufocar em breve se não colocasse aquilo para fora. De qualquer forma, tinha certeza de que Remus já deduzira seus receios.

— Vai vser a primeira vez que eu vou ver minha mãe depois de ter sido selecionado para a Grifinória. O melhor que eu espero ganhar é uma maldicão cruciatus. Com sorte, vou conseguir voltar vivo de casa — disse e tentou forçar um sorriso para que aquilo soasse mais ou menos como uma piada, mas não foi bem sucedido. Em vez disso sentiu-se mais perto de vomitar do que nunca.

— Você não teve culpa de estar na Grifinória — Remus ofereceu baixinho, e Sirius assentiu, mas então considerou aquilo melhor.

— Sabe, talvez eu tenha culpa — falou, encarando algum ponto além dos ombros de Remus. — Eu tinha brigado com a minha mãe antes de entrar no Expresso de Hogwarts e eu estava com tanta raiva ainda, queria irritá-la, e então pensei que Grifinória seria uma boa ideia.

Sirius não sabia bem o que esperava do outro, mas o meio sorriso admirado de Remus foi uma surpresa.

— O chapéu seletor não ia colocar você na Grifinória se não achasse que você é corajoso o bastante para estar lá. E se isso significa enfrentar sua família, você vai conseguir enfrentar. 

Quando se deu conta, percebeu que estava sorrindo também, tão fácil quanto se Remus tivesse enfeitiçado-o para isso. Gostou de como as palavras dele soaram, porque ele não estava dizendo que ia ser fácil. Ao contrário, Remus estava incitando-o ao desafio, e Remus vinha estabelecendo-se muito bem como aquele que continha a ele e a James, então o fato era especialmente agradável. De repente o desesepero que estivera dando voltas em suas entranhas desvaneceu-se.

— Claro. Eu vou ficar bem — disse, inesperadamente percebendo que acreditava mesmo nisso.

O sorriso de Remus se alargou e ele inclinou-se em sua direção, provocando-o com um ligeiro empurrão de ombros. O movimento fez a manga da sua camisa, muito pequena para ele, subir, revelando o pedaço de pele entre o punho e as luvas. Uma cicatriz, vermelha e inchada, arrastava-se por seu pulso, e pela primeira vez Sirius considerou que o que Remus encontraria em casa poderia ser ainda pior do que aquilo que esperava por ele.

— E quanto a você? Como acha que vai ser o seu natal? — perguntou, tentando lançar o mesmo tipo de artimanha que Remus tinha jogado para ele.

— Vai ser bom — Remus disse, a sombra de um suspiro pesando em sua voz. — Estou com saudade dos meus pais.

Sirius levantou uma sobrancelha. Remus tinha faltado às aulas apenas três semanas atrás, dizendo que estivera em casa visitando a mãe doente. Ao perceber seu gesto, ele corou.

— Remus. — Remus ergueu os olhos para ele, e Sirius hesitou, mas a cicatriz vermelha ainda queimava sob suas pálpebras. — Se você quiser conversar sobre algo, se estiver acontecendo alguma coisa, bem, você pode falar. Eu vou ajudar. E James também.

Por um instante Remus pareceu assustado, mas então, antes que Sirius pudesse perceber a mudança em sua expressão, ele estava rindo como se Sirius fosse meio louco.

— Céus, Sirius, é apenas o natal! Nós vamos todos sobreviver.  

O tom de Remus fez Sirius se sentir tolo, e ele agradeceu por James não ter estado ali para ouvi-lo. Talvez a cicatriz fosse antiga. Talvez Remus tivesse caído da vassoura e estivesse com vergonha de contar para eles.

— Você sabe, eu não tenho muito dinheiro para presentes — Remus declarou, suas bochechas tornando-se ainda mais vemelhas, distraindo Sirius de seus pensamentos. — Mas nós temos um pessegueiro no quintal e minha mãe costuma fazer compotas de geléia. Eu posso mandar um pouco para você.

O gracejo havia desaparecido do sorriso de Remus, e ele parecia apenas gentil, mais acolhedor do que qualquer coisa que Sirus teria em casa. Aquiesceu, mas antes que pudesse dizer que aquilo seria ótimo James estava de volta com uma enorme quantidade de doces nos braços, que ele despejou no colo de ambos com um suspiro satisfeito.

Eles estavam se tornando uma espécie de família, Sirius percebeu, e de repente o natal não parecia mais tão assustador.


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