Através do Tempo escrita por Biax


Capítulo 23
Reconfortante


Notas iniciais do capítulo

Hoje o capítulo é da bad, hein.

Boa leitura!



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— Tudo bem, Maria... pode ir. — Rebeca disse de forma arrastada.

— Tem certeza?

— Sim... preciso ficar sozinha.

— Tudo bem. Me liga se precisar de algo.

— Ok... obrigada.

Maria levantou e andou para a casa.

Depois de ficar algum tempo na mesma posição, as pernas de Rebeca estavam doendo, mas ela não se importou. Queria ficar parada, querendo acordar daquele pesadelo.

Suspirou e antes de levantar, pegou a calça que Aloys estava usando e o par de tênis. Viu a corrente com o crucifixo e a pegou. A colocou no pescoço e andou lentamente até o celeiro.

Seus olhos estavam ardendo, mas as lágrimas não paravam de sair. Foi direto até a escada e subiu. Parou e olhou para o quarto improvisado. Sua lamparina elétrica estava no mesmo lugar de sempre. Até a tigela com o café da manhã estava lá.

Tudo aquilo só fazia aquelas sensações parecerem mais reais. Mas sem Aloys por perto, tudo parecia uma grande mentira. Uma invenção.

Todas as suas lembranças pareciam ter sido inventadas. Ou pareciam cenas de algum filme. Por que era tão difícil acreditar?

Rebeca andou arrastando os pés até a cama. Largou as roupas no chão e deitou, se cobrindo.

Estar ali deitada sem Aloys do seu lado era desolador. Era como se ela tivesse acordado de seus sonhos perfeitos e tivesse que encarar a solidão da realidade.

Era tudo mentira. Era tudo verdade.

Ela queria desaparecer da mesma forma que ele.

Fechou os olhos e tentou não pensar. O que era impossível. Em sua mente não havia nada além de Aloys...

— Beca?

Com um susto, Rebeca abriu os olhos. Estava tudo escuro, mas havia uma luz em algum lugar. Sentiu alguém encostar em seu ombro.

— Filha?

— Mãe...? — Se virou.

— O que você está fazendo aqui sozinha?

Rebeca olhou para o lado. Seu pai estava ali também, e era ele que estava com a luz.

Olhou ao redor, vendo onde estava. Viu as cobertas e sentiu o travesseiro molhado debaixo do rosto. As lembranças vieram, e antes de conseguir segurar, começou a chorar de novo.

— Beca? — Maristela agachou, colocando a mão no rosto da filha. – O que aconteceu?

Ela jogou as cobertas para o lado e sentou, abraçando sua mãe. Ela não sabia o que falar.

— Vamos para casa, aqui está muito gelado. — Roberto disse.

Maristela abraçou Rebeca e a guiou até a escada. Os três andaram juntos pelo jardim escuro e entraram em casa.

— Você está gelada. — Maristela esfregou o braço dela. — Melhor você tomar banho.

Rebeca só percebeu onde estava quando sentiu sua mãe levantar seus braços para tirar sua blusa.

— Mãe... pode deixar.

— Tem certeza?

— Sim.

— Me chame se precisar. — Saiu do banheiro, fechando a porta.

Terminou de tirar a roupa e entrou na banheira, que nem tinha percebido quando sua mãe havia a enchido. A água estava muito quente, e toda sua pele ardeu quando entrou.

Abaixou, ficando com a cabeça submersa. Mesmo ali, embaixo da água, era difícil não lembrar dele. Voltou para cima e ficou lá, parada, sentindo os músculos relaxando aos poucos.

Quando a água começou a ficar morna, resolveu sair. Pegou sua toalha, se secou e se enrolou nela. Saiu do banheiro e foi direto para o quarto. Fechou a porta e no escuro, vestiu seu pijama, indo para a cama em seguida.

A porta abriu.

— Beca, não quer jantar? — Maristela perguntou baixo.

— Não.

Ela ficou em silêncio, e Rebeca não quis olhar. Mas logo a porta fechou de novo.

Suspirou e fechou os olhos.

—--

Rebeca teve que dar uma explicação para seus pais na manhã de terça. Ela não poderia simplesmente dizer que Aloys morreu, então falou que ele teve que se mudar para longe.

Claro que eles acharam exagero ela reagir daquela forma, mas não falaram nada.

Ela faltou na escola com a desculpa que estava gripada. Na quinta, depois do almoço, seu celular tocou. Ao pegá-lo, viu que era um lembrete: tinha que ir buscar as fotos que mandara revelar.

Sentiu-se subitamente nervosa. Como se ao ver as fotos, tivesse apenas ela, e não Aloys.

Aquela sensação de nervoso parecia novidade. Durante os dias que passara em casa, mal sentira algo. Era como se estivesse anestesiada, e naquele momento, o efeito passasse.

Era algo estranho.

Colocou uma roupa mais aceitável para sair e pegou sua bicicleta.

Até ela parecia solitária.

Foi para a rua e começou a pedalar. Foi até o centro, para a loja. Deixou a bicicleta encostada na fachada da loja e entrou. O cara a olhou e já a reconhecendo, pegou um pacote e deixou em cima do balcão.

Rebeca tentou sorrir para ele, sem saber se foi um sorriso convincente ou não e abriu o envelope, pegando o pequeno bolo de fotos.

Seu coração estava acelerado.

Olhou a primeira foto. A primeira que havia tirado dele. Ele estava ali, assim como nas outras, parecendo tão vivo quanto realmente estivera.

Lágrimas vieram.

— As fotos ficaram ruins? — O cara perguntou, assustado.

— Não! — Rebeca o olhou, se ligando que não estava sozinha. — É que eu sou muito emotiva... Elas ficaram lindas... Obrigada. — As guardou de volta no envelope.

— Eu que agradeço!

Rebeca saiu para fora, querendo respirar ar fresco. Ela sentia que precisava falar com alguém. Mas quem?

Olhou pela rua, e lá longe, bem no final, havia um prédio.

Rapidamente, guardou o envelope no bolso do moletom e saiu com a bicicleta, pedalado rápido. Assim que chegou, deixou a bicicleta encostada na parede e entrou.

Obviamente, estaria vazio. Haviam duas pessoas no salão, mas mesmo que estivesse cheio, Rebeca não teria ligado. Foi direto para a ala especial e ficou na frente da vitrine, onde estava o livro.

Até ele parecia menos mágico, e por um momento, ela temeu que até o Guardião tivesse ido embora, ou que a magia de alguma forma tivesse sumido.

Colocou as mãos no vidro, esperando que ele sumisse. Esperando que tudo sumisse.

Mas nada aconteceu.

O desespero começou a crescer, e Rebeca tateou o vidro, como se quisesse encontrar algum buraco onde entrar.

Não, você também não...

— Guardião. — O chamou, quase sussurrando. Nada. — Guardião, por favor...

Suspirou, encostando a testa no vidro.

Era estranho estar ali sem Aloys, e ainda mais estranho sem o guardião.

Onde estava toda aquele ar de mistério?

Onde estava aquele sentimento de nervoso?

Aquele sentimento de acolhimento que Rebeca sentia perto do livro?

Rebeca se sentia perdida e completamente sozinha. Parecia que nada daquilo tinha realmente acontecido. Foi tudo coisa da cabeça dela?

Ela tirou o envelope do bolso e pegou algumas fotos e as olhou.

Aloys estava ali, sorrindo para ela através da foto. Aquilo não foi invenção da mente fértil dela. Era impossível ser invenção.

Haviam as fotos, haviam aqueles vídeos que eles gravaram ali mesmo, no museu. Havia a corrente... Rebeca olhou para seu peito, onde o crucifixo descansava.

Tudo foi real. Mas...

Tudo estava triste e vazio.

O livro parecia só um livro velho, sem nada escrito, sem magia, sem sentido, sem nada.


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Notas finais do capítulo

Podem chorar, bater na mesa... Eu sei que não devia, mas preciso dizer que as coisas vão melhorar um pouco no próximo capítulo :B

Obrigada a todossssss que estão lendo, até o próximo o/



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