Betrayed Friendship - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 8
Capítulo VII - Perda Total


Notas iniciais do capítulo

Olá vocês!
Sei que demorei um pouquinho pra postar xD (SORRY), mas decidi que não podia deixar o Natal passar e não deixar um capítulo fresquinho pra vocês!
Bem, espero que gostem.
Boa leitura :D

[Capítulo betado por Aline Costa ♥]



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Tomar banho, dormir, fazer dever de casa, pintar, assistir séries. Essas são algumas das coisas que eu poderia estar pensando no momento.

Petúnia deveria estar em casa nesse momento, deitada na minha cama; mamãe chegando do trabalho depois de mais um dia exaustivo no Evans’, papai resolvendo seja lá o que ele tenha pra resolver e eu poderia estar em casa estudando para os testes. Era fato que as aulas mal haviam começado direito, mas poderia estar estudando ou fazendo alguma coisa de útil, não é?

                Mas, obviamente, eu não estava.

                — Nossa, Potter, eu não deixava! — uma série de vozes gritou em coro seja quer que estejam vindos.

                Nem eu sabia o que estava fazendo.

                — Lily?

                Só caí na real quando ouvi alguém chamar meu nome. Pisquei meus olhos três vezes e vi o rosto de Potter lançado para o lado direito do seu corpo, minha mão a menos de dez centímetros dele.

                — Lily... Vem, vamos sair daqui — era a voz de Tonks, que provavelmente tinha acabado de chegar.

                Fui puxada pelo braço e enquanto caminhava, ainda um pouco aturdida, avistei uma mancha loura vindo logo atrás de mim.

                — Caramba, Lily. Não posso deixar você nenhum segundo sozinha que já acontece isso?

                — Não enche, Marlene — era a voz de Dora.

                Não conseguia dizer nenhuma palavra para me defender, eu nem sabia o que estava havendo...

                Quando me deparei estava sentada numa cadeira de balanço numa sacada que eu não conhecia.

                — Aí não, Tonks. Sei como a Lily é, não é preciso muita coisa pra ela colocar tudo pra fora — fui levantada e colocada num outro assento mais estável.

                Finalmente pude enxergar os contornos do rosto de Marlene e Ninfadora em pé bem à minha frente. Estavam lindas, Tonks principalmente, já que, aparentemente, nem tinha entrado na festa.

                — O que houve? — perguntei como se tivesse acabado de acordar de um desmaio.

                — Houve que eu deixei você sozinha por dois minutos e você já sentou a mão na cara do James — ela riu.

                E então todas as memórias de instantes atrás voltaram ao meu conhecimento.

                — Por que você fez aquilo? — perguntou Tonks e eu notei certo tom de incriminação em sua voz.

— James queria me ajudar a me livrar do Diggory e eu bati nele — disse estranhando minhas próprias palavras. Como as meninas ficaram em silêncio, eu continuei: — Claro que ele não fez jus ao que podemos chamar de ajuda, afinal, ele não contribuiu em nada a não ser para minha raiva ao me beijar para provocar o Amos — recuperei minha compostura.

O quê?! — as duas exclamaram em uníssono.

— Pois é, vocês chegaram bem depois que a bomba explodiu, minhas queridas.

Ahahaha — Tonks riu debochada. — Se James Potter acha que pode ficar com a Dorcas logo depois de Lily ter se declarado pra ele e depois vir todo engraçadinho pra cima dela está muito enganado.

Fiquei calada. Era estranha a sensação que percorria o meu corpo, uma mistura de receio e satisfação. Receio por temer que tivesse feito besteira, satisfação por ter apreciado o tapa que dera na cara do garoto mais idiota do mês (tirando Diggory que é o maior idiota do século).

E se ele realmente só quisesse me salvar? Ele realmente teria coragem para ferir meus sentimentos? De novo? Seria aquela história de aposta realmente verdade?”, esses eram pensamentos que enchiam a minha cabeça no momento sendo eu a pessoa iludida que sou.

Ainda não conseguia pensar com clareza. Sabia que Dorcas e eu sempre fomos de ficar desafiando uma à outra por meio de apostas, mas chegaria ela naquele ponto de cumprir uma aposta que arruinaria tudo o que havia preparado para o dia em que eu fosse realmente assumir meus sentimentos pelo cara por quem eu estava apaixonada? E ainda por cima ela sabendo disso? Não conseguia acreditar em tamanho ultraje.

As duas garotas conversavam coisas que eu não ouvia, mas não importava. Não era com elas que eu precisava conversar.

— Preciso voltar pra casa — comentei, decidida, pondo-me de pé.

— Ahn? Agora? — Marlene questionou, confusa.

— Sim. Não posso mais voltar àquela festa a não ser para ser enchida com zombarias na qual não estou interessada. Além do mais... Nem sei por que vim. As meninas disseram que viriam e todas me deixaram sozinha, enquanto essa aqui — apontei para McKinnon — estava aos beijos com o aniversariante.

Tonks lançou um olhar repressor à Lene e outro de súplica a mim.

— Peço desculpas pelo atraso. Eu estava enrolada com a minha mãe lá em casa... Teve um ataque de asma — engoli em seco.

— Não, imagina! Não precisa se desculpar. Era da sua família que você estava cuidando — soltei e vi Marlene cruzar os braços e bufar de irritação bem ao meu lado. Não era a minha intenção atingi-la, mas é aquele famigerado ditado: “Se a carapuça serviu...”.

Encarei a luz amarelada dos quatro postes que clareavam a rua, pensativa.

— Afinal, onde estamos? — perguntei a fim de quebrar o gelo.

— Na casa de uma amiga minha. Avenida Montagne, a duas quadras da cafeteria da sua mãe — Dora pronunciou-se dando de ombros, tentando ignorar a inquietação da loura ao seu lado e muito provavelmente o fato de que o restante das meninas não cumpriu com sua palavra. Mesmo não a conhecendo, Ninfadora não parecia uma pessoa que não cumpria promessas, muito pelo contrário.

— Ótimo. Obrigada por me ajudarem a me tirar daquele lugar, mas eu realmente preciso ir andando. Se quiserem aproveitar a festa é melhor irem logo — falei com modéstia. Sabia que elas ficariam muito melhor sem ter que precisar ficar de olho em mim.

— Lily... — Marlene segurou meu braço. — Não acho que seja uma boa ideia... Agora já é tarde e você vai sair sozinha.

— Não se preocupe, minha casa fica a quatro quarteirões daqui, posso pegar um Uber.

— Se meu pai estivesse na loja hoje eu pediria a ele que viesse nos buscar, mas ele viajou para Frankfurt ontem.

Frankfurt... Era onde papai morava.

— Bem, de qualquer forma, não há ninguém que possa vir me buscar. Boa noite, meninas — desejei ao descer o desnível da sacada que dava na calçada.

— ‘Noite, Lily — as duas disseram, a contragosto.

Na mesma hora em que saí dali, dei uma breve olhada para trás e vi que na caixa de correio em frente à casa lia-se: Delacour. De alguma maneira aquilo me lembrara Snape, não pelo nome gravado na superfície metálica da caixa de correio, mas sim pela indiferença com a qual Tonks dissera que estávamos na casa de uma amiga dela. Sentia que agira da mesma forma com Snape ultimamente, evitando-o a todo custo e fugindo da minha personalidade de companheira que sempre fui. Não era porque as coisas tinham complicado um pouco para o meu lado que eu tinha que ferrar com todos os meus valores.

Tirei o celular, mais uma vez, das profundezas do meu vestido dourado e desbloqueei a tela. Já passava da meia noite. Talvez ele não se incomodasse se eu fizesse uma breve ligação tão tarde, uma vez que ele havia me ligado no mesmo horário no dia em que voltei da festa depois do que acontecera lá.

Parei num posto de gasolina próximo dali e fiquei do lado de fora de uma lojinha de conveniência. Precisava de um banheiro.

— Com licença, senhor. Será que pode me informar onde fica o toalete? — pedi ao frentista que enchia um tanque de uma Range Rover.

— Ah, claro. Hm... É só seguir por dentro da loja de conveniência e a primeira porta depois da entrada restrita a funcionários é o banheiro.

— Entendi, obrigada — respondi com um sorriso singelo e segui as instruções até chegar ao banheiro.

No momento em que atravessei a porta e assisti ao meu reflexo no espelho do banheiro a chamada foi atendida.

— Severo... — ele ficou quieto do outro lado da linha. — Sei que tenho andado meio distante e talvez um pouco mais chata do que de costume...

Você não costuma ser chata — interrompeu-me. — Só nessa última semana que você tem estado um pouco aérea.

— Peço desculpas por isso. É que... — suspirei. — Tem coisas sobre a Dorcas que eu não paro de pensar e não vou descansar até entender o que significa.

Certo... E você quer a minha ajuda para fazer isso? — perguntou Snape, como se estivesse receoso de falar demais e levar uma patada.

— Bem... Eu sei que você não é melhor amigo dela, nem sei se eu ainda sou... Mas eu gostaria da sua ajuda nisso.

Ok, mas... Porque essa ligação agora? ­— questionou ele parecendo um pouco desentendido.

— Nada... Só estava pensando e decidi ligar para esclarecer que não vou me afastar de você só porque algumas coisas que aconteceram me afetaram. Você é meu melhor amigo.

Não se preocupe com isso, Lily. Amigos são pra isso, não são? — assenti e, embora ele não pudesse ver, tive a impressão de que ele entendera o gesto como se tivesse sido expresso em palavras.

— Tudo bem, então — um breve silêncio se estabeleceu na linha. — E Severo...

Sim? — respondeu ele como se estivesse realmente esperando que eu dissesse algo a mais no final das contas.

— Obrigada.

Me agradeça quando sairmos da casa dos Meadowes sabendo de tudo o que temos que saber — rimos.

Despedimo-nos e então ele desligou.

Suspirei.

Meu coração não se inquietava. Iria atrás de saber o que, de fato, aconteceu. Caso os motivos fossem suficientes, uma amizade de infância nunca mais seria reatada. Como podia ter chegado a esse ponto?

Há alguns dias era tão idiota pensar que Dorcas e eu fôssemos ficar brigadas por tempo indeterminado... Era tão idiota pensar como eu pude ser tão cega de não ter notado as proporções que as coisas tinham tomado...

O dia da cafeteria... Ela podia ter muito bem se aproveitado daquela reunião para planejar tudo sobre o dia da festa e o que se desenrolou no armário de vassouras. Mas poderia ela cometer tamanha barbárie? Logo comigo que sempre estive ao seu lado e sempre fui sua amiga desde que éramos crianças de chupar os dedos? E ainda mais com a concordância de Potter? James, definitivamente, não deveria concordar com nada disso... Ele também era meu melhor amigo.

De repente, senti tudo apagar.

— Hey, Lily... Pode me ouvir?

Sentia-me encharcada e enojada.

— Lily, por favor, acorde!

Abri meus olhos com dificuldade e via que o que me encharcava era a chuva. Caía um temporal. Mas por que eu estaria tomando chuva? Eu não deveria estar em casa?

E então, como um baque, um enjoo incontrolável me atingiu, tamanho que não pude conter o que voava para fora da minha boca direto para o chão asfaltado. Começava a me assustar, pois não sabia onde estava e nem o que me levara àquele estado.

— Que droga, Lily... — a voz pesarosa me assistia definhar, colocar minhas tripas para fora, mas ao mesmo tempo me ajudava ao impedir que meus cabelos se misturassem com a poça nojenta que se prostrava ao meu lado.

Por um momento cheguei a pensar que fosse um dejà vu e que a pessoa que estava lá fosse Marlene, já que fora ela que fizera isso da última vez. Entretanto, a voz que eu ouvia estava longe de confirmar minhas suspeitas.

— Como você veio parar aqui?

Não consegui responder. Mesmo que eu soubesse a resposta, estava tonta e enjoada demais para explicar. A chuva só piorava tudo.

— Vem, eu vou te levar pra casa... — dois braços envolveram-me e eu tentei empurrá-los.

Não preciso... Da sua ajuda — ouvi minha voz soar estranhamente mal. — Me deixe aqui sozinha — senti minha mão direita apertar com ainda mais força (se é que a tinha) uma superfície de vidro.

A pessoa retirou o objeto da minha mão e eu ouvi o barulho do que parecia ser uma garrafa soar há alguma distância dali.

Então, quando achei que aquele alguém tivesse ido embora, ouvi seus passos se aproximarem novamente e então me tomou nos braços, era bem mais confortável do que o lugar em que estava deitada. Decerto havia sido colocada em algum lugar fechado, já que percebera que o barulho da tempestade abafara.

Minha cabeça explodia.

Não posso ficar aqui, preciso ir pra casa — murmurei sentindo minha boca salivar.

— Vou te levar pra casa — um barulho de porta ecoara nos meus ouvidos. — Você tem a chave da sua casa?

Não... Está na planta perto da porta — não sabia o porquê de estar confiando a chave de minha casa para alguém que eu nem vira quem era, mas algo me dizia que se eu não o fizesse, talvez eu acabasse num lugar e condições piores do que as quais em que me encontrava.

Quase que instantaneamente estava sendo retirada do lugar onde estava, de volta aos braços do indivíduo que me ajudava. Uma porta foi aberta e eu fui levada e colocada sobre uma superfície macia que se assemelhava a uma cama. Senti que poderia capotar ali mesmo, (se é que não já estava suficientemente capotada), mas o enjoo não passava e a minha cabeça ardia mais do que uma incidente causado por um enxame de abelhas. Não pude reprimir gemidos.

                A voz não havia dito mais nada. Será que tinha ido embora? Sua tarefa fora simplesmente me tirar do meio da tempestade? Ouvia outro barulho de água, só que mais próximo de onde eu estava.

                — Acho melhor você se molhar.

                “Mais do que eu já estou?”, pensei, mas infelizmente não o disse em voz alta. Seria cômico.

                O vulto descalçara minhas sandálias e me colocara de pé, mas meus joelhos fraquejaram. Eu era praticamente uma marionete velha. Ainda assim, fui carregada aos poucos em pé e em poucos instantes senti o calor se expandir da minha cabeça até os pés. Estava debaixo do chuveiro e sendo graciosamente segurada, se eu escorregasse ou desmaiasse no meio do “banho” não teria ferimentos muito desastrosos. A claridade da luz, do que provavelmente era o banheiro do meu quarto, estava me incomodando muito, porém, ainda atrevi-me a abrir meus olhos.

                Minha vista fraca distinguia um rapaz, cabelos escuros, vestindo trajes casuais, aparentemente todo encharcado, assim como os meus. Ainda me encontrava com um vestido dourado da festa. A droga do garoto apenas me assistia ficar debaixo d’água, observei-o com dificuldade, ele me olhava de volta. Podia ser meu senso de percepção abalado, mas contei muito mais de um minuto naquela mesma cena.

                Assim que o chuveiro foi desligado, senti uma onda de emoções me atingirem. Gotas quentes ainda pingavam no meu rosto, percebi que eram lágrimas do meu próprio choro. Era isso, estava ali chorando em frente daquele que era o maior motivo de fraqueza nos últimos dias.

                James pareceu não notar, já que pegou uma toalha qualquer e me secou, ainda não ousando tirar meu vestido para fazê-lo. Voltou a colocar-me sobre a cama e sentou-se na beirada.

                — Não deveria ter bebido tanto...

                — Não deveria ter feito aquilo... — disse com a voz clara de quem estava sendo sufocada pelo choro, como se estar bêbada não fosse o suficiente para fazê-lo. Afinal, o que era aquela merda? Uma explosão idiota de sentimentos?

                O rapaz não pareceu entender se eu me referia a ele, por me beijar, ou a mim, que tinha batido nele.

                — Shh... Vai ficar tudo bem... — ele disse passando uma toalha nos meus cabelos, aparentemente numa tentativa inútil de secá-los e, claramente, de mudar de assunto.

                — Não era pra você estar aqui — disse numa voz chorona. Obviamente ele notaria todas as pinturas que havia feito em sua homenagem. Alguns quadros preenchiam-se com carros e mecânicos pintados a óleo, todos explicitamente apresentados com no mínimo umas três feições que deixassem claro que era ele a minha inspiração. Talvez ele não os visse na penumbra em que se encontrava o quarto.

                — Era isso ou sabe Deus o que iria acontecer com você nos fundos daquele posto de gasolina. De onde tirou a ideia idiota de se embebedar longe de suas amigas?

                — Não tenho amigas — eu disse emburrada.

                — Ótimo.

                Um silêncio ensurdecedor caiu sobre o cômodo. Gemi.

                — Onde está doendo? — perguntou ele como se já soubesse de cor o que estava a se passar. Coloquei minha mão sobre a cabeça. — Tá. Vou buscar aspirina pra você.

                — Não... Precisa — segurei-o pelo pulso, arranjando força sabe-se lá de onde e ele parou. Constrangida com o meu ato, virei-me para o outro lado da cama, a fim de não olhá-lo. — Acho melhor voltar para a festa, é aniversário do seu melhor amigo, e além do mais... Não preciso de nenhuma babá.

                Sentia o desconforto das lantejoulas douradas do meu vestido sobre minhas costelas, minha vontade era de tirá-lo, mas não estava em condições no momento.

                — Se não quer que eu fique aqui vou chamar Marlene para ficar com você então...

                — Não — ouvi a voz de uma criança mimada sair de minha boca.

                — Então sinto em te dizer que não vou sair daqui.

                — Vai embora.

                — Não.

                — Eu te odeio.

                O silêncio se espalhou novamente. Talvez ele tivesse ido embora de vez. Sorte a minha, que poderia dormir em paz, minha cabeça não parava de latejar.

***

                Acordei na manhã seguinte com um toque de despertador. Peguei o meu celular e vi que eram cinco da manhã.

                Cinco da manhã? Mas meu despertador toca às seis...

                Latejando como um segundo coração, minha cabeça não parava de doer. O que estava acontecendo?

                Fui até o banheiro e percebi, relutantemente, com a luz que emanava da lâmpada do banheiro que ainda estava usando as roupas da festa do dia anterior. Teria aula daqui a duas horas. Eu sempre me arrumava rápido para ir à escola, nunca realmente tive problemas em chegar atrasada, mas sentia que esse dia era diferente. Sentia que se não passasse pelo menos uma hora debaixo de água quente nada faria ser meu dia produtivo. Por que mesmo eu tinha ido àquela festa? Nem mesmo me lembrava de ter me divertido. Do jeito que minha cabeça doía seria desperdício ousar dizer que a festa fora um fracasso.

                Tomei um banho dentro do tempo que havia estimado e retornei ao quarto para me trocar. Um som de despertador soou de novo. Então percebi que aquele não era o som do meu despertador, nunca fora.

                — Mas o que... — fui seguindo o barulho às cegas (o interruptor da luz do quarto não estava ao meu alcance), mas mal tive tempo de distinguir as coisas já que havia tropeçado em algo.

Gritei assustada. A coisa se mexera.

Ah! — uma voz gritou de volta, provavelmente em resposta ao meu. — Droga de celular... — arregalei os olhos quando a claridade de um celular iluminou um rosto.

— Ah, meu Deus... James? — perguntei. — Devo estar sonhando — murmurei em voz baixa para mim mesma. — Acorda, sua idiota...

— Pronto, desliguei — ouvi a voz de novo. Não podia ser verdade.

— Potter? — perguntei sem mexer um músculo, rezando para que ninguém respondesse.

— Me desculpe pelo despertador, realmente caí no sono — disse ele, lamentando-se e meu coração parou. Tateei as paredes e finalmente achei o interruptor. Acendi a luz e minha vista escureceu um pouco.

Tinha alguma coisa muito errada.

Assim que a tontura passou, vi um rapaz levantando-se de um colchão estirado sobre o piso, bem ao lado da minha cama, o colchão em que Petúnia usava para dormir, só que dessa vez era James quem o utilizara.

— Pode me explicar o que você está fazendo no meu quarto? — coloquei a mão na cintura.

— Eu, ah... Eu estava esperando você dormir para ir embora, mas acho que acabei dormindo... — ele explicou um pouco sem graça, a mão direita passando displicentemente pelos cabelos embaraçados.

— Como assim me esperando dormir? Como você entrou aqui? Por que ainda não está na festa? — as perguntas voavam da minha mente a fora sem nem eu mesma me dar conta. Era óbvio que as coisas precisavam de uma explicação.

— Claro que você não lembra... — comentou ele como se já previsse a minha reação.

— Como assim...?

— Resumidamente: você bateu na minha cara na festa, saiu puxada por Tonks e McKinnon e quando fui à loja de conveniência do posto de gasolina comprar mais pacotes de gelo para a festa encontrei você nos fundos com uma garrafa seca de gim, sentada bem ao lado de um container de lixo no meio da chuva. Eu te tirei de lá e te trouxe pra cá, eu disse que se preferisse que eu não ficasse aqui eu poderia chamar Marlene para vir, mas você não quis, parecia chateada com ela. Então eu fiquei aqui — terminou ele como se estivesse ensinando um retardado a como fritar um ovo.

O quê? — arregalei os olhos mais uma vez. — Como assim eu bati em você?

— É sério isso? — ele perguntou erguendo o colchão do chão e colocando-o de pé ao lado do meu cavalete de pintura. Percebi que ele estava um pouco corado quando se voltou para mim, repetindo o mesmo gesto que fizera instantes atrás com seus cabelos.

Então não soube se ele estava se referindo à minha memória horrenda ou à falta de vergonha na cara por estar tendo uma conversa supercivilizada de toalhas. Corei furiosamente e saí em disparada para o banheiro.

— Mas que merda! — percebi que não tinha pegado minha roupa e fui até o guarda-roupa procurar alguma coisa que me deixasse apresentável para ir à escola, se é que eu ainda iria depois de tudo que estaria prestes a descobrir. Senti o olhar de James se desviar e ocupar-se com outra coisa. Melhor ainda.

Peguei uma calça jeans, uma blusinha casual e uma sapatilha. Não demorei nem cinco minutos para sair do banheiro, vestida e com o cabelo penteado, apesar de ainda molhado. Flagrei James contemplando a pintura na qual denominei “O mecânico”.

— Nunca tive chance de agradecer pelo seu ótimo trabalho com o quadro de Sirius. Tenho certeza que deve ter sido bastante demorado e trabalhoso — ele disse ainda observando o quadro, as mãos enterradas nos bolsos da calça jeans tão baixa que deixava a marca de sua cueca à mostra. Ele se virou ao perceber que não tinha recebido nenhum “ah, não é incômodo” de volta. — Ele ficou surpreso quando o recebeu.

Era engraçada a cena. Não tivera tempo de analisar direito por conta do nervosismo, mas James tinha roupas aparentemente úmidas, uma circunferência marcada no rosto decorrente do botão localizado na manga de sua jaqueta — naturalmente o rapaz deveria ter passado a noite com o rosto sobre o braço — e os olhos inchados da madrugada mal dormida. Teria quem risse dessa cena... Eu seria um exemplo, mas minha ânsia de saber o que decorrera na noite passada se sobressaía à minha vontade de rir.

— Foi só uma encomenda — disse a fim de não me estender muito, afinal, só Deus sabia o quanto aquele quadro me estressara. — Quer voltar ao assunto de ontem à noite? Eu realmente não me lembro de muita coisa...

— Do que se lembra? — indagou o rapaz tornando a virar-se ao amontoado de quadros na parede oposta, para onde Petúnia e mamãe os haviam arrastado.

— Lembro-me de ter chegado à festa e nenhuma das minhas amigas terem chegado. Eu fiquei muito estressada, Marlene chegou bem depois e nós entramos. Lembro-me do Amos Diggory me enchendo o saco e do Black beijando a minha amiga. Depois disso não me lembro de mais nada.

— Bem, eu tinha saído pra comprar mais bebida e quando cheguei você estava do lado de fora da Casa dos Gritos. Não parecia muito contente. Nós tocamos em assunto da noite de Halloween e o Diggory veio atrás de você de novo. Acho que você o acertou em cheio — disse ele num duplo sentido de acertar em cheio o coração e as partes baixas. Ri brevemente. — Depois disso eu o afastei e você foi embora. Depois eu só te encontrei nos fundos da loja de conveniência — James suspirou.

“Realmente não sei como você foi pensar que se embebedar sozinha era uma ideia brilhante”, disse ele, por fim, virando-se de novo.

— Bem, muito menos eu. Parece que tudo isso que você me contou não passou de um sonho...

— É, parece mesmo — disse Potter, deixando transparecer uma áurea de pesar.

— Bem, já são seis e meia. Ainda vamos para escola? — perguntei esperançosa. Não podia perder mais aulas. Não quando eu havia cabulado as últimas três aulas no dia anterior.

— Eu vou pra casa, mas se quiser posso te dar uma carona até lá. Ainda preciso tomar um banho — acrescentou e eu assenti.

— Obrigada mesmo — disse com sinceridade, aproveitando para agradecer pela carona e por ter passado a noite para ficar de olho em mim, ele certamente entendera.

Potter balançou a cabeça e ninguém mais disse nada.

— Seria inadequado se você me explicasse o que realmente aconteceu naquela noite? — ele sabia que eu me referia à noite do dia 31.

— Temo que você tenha que conversar com Dorcas para descobrir tudo — disse por fim. — Nem eu entendi direito.

Decidi encerrar a conversa, tinha certeza de que não valia a pena tentar arrancar de James o que ele não estava disposto a contar. Desci as escadas com o garoto ao meu encalço. Lembrei-me que havia deixado minha mochila e celular no piso de cima.

— Esqueci meu celular, se quiser pode ir se sentando, já volto para preparar um café.

Não que eu estivesse sendo boazinha com Potter, ele foi um idiota e todos já estão cansados de saber disso, mas ele tinha perdido a festa só para cuidar de mim e isso não é qualquer idiota que faz.

Era estranho. Não tinha mais ninguém em casa a não sermos nós dois. Onde estaria Petúnia e mamãe?

Peguei meu celular em cima do criado mudo e abri nas mensagens.

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[02/11/2017 – 23:41] Petúnia Evans: Lily, tive que ir ao Evans’, uma amiga da mamãe apareceu por lá e ela nos convidou para tomar um chá na casa dela e colocar o assunto em dia. Ajudei mamãe a fechar a cafeteria e estamos indo para a casa dela agora, com certeza faz tempo que mamãe não se diverte então decidi ir com ela, provavelmente voltaremos amanhã de manhã às sete. Fique bem.

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Olhei no relógio: 06h35min. Ainda tínhamos tempo de sair sem que fôssemos pegos...

No mesmo momento ouvi a porta da frente ser aberta. Arregalei os olhos, coloquei a mochila nas costas e corri para o andar de baixo. Talvez fosse James se apressando para ajeitar as coisas no carro...

— Chegamos, Lil’ — era a voz de Petúnia. — Voltamos mais cedo...

Assim que pisei o tapete ao pé da escada congelei. Mamãe e Petúnia encaravam o rapaz em pé bem ao meu lado com uma grande interrogação estampada no rosto de cada.

— James, querido... O que faz aqui tão cedo? — mamãe perguntou com inocência. Petúnia ainda nos encarava com espanto.

Potter e eu nos entreolhamos. Estávamos ferrados, ou pelo menos, eu estava.


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Notas finais do capítulo

Hihi, adoro terminar no suspense.
Gente, nem sei se vai ter como postar um capítulo antes do ano novo, já que eu estou menos frequente na escrita ultimamente, principalmente pelo final de ano aí...
Então desde já desejo um Feliz Natal e um Ano Novo maravilhoso a todos vocês! Obrigada por todo o apoio que recebi esse ano e pelas demonstrações de carinho. Vocês são uns amores ♥
Até mais ver ;*



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