Betrayed Friendship - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 9
Capítulo VIII - Polaroid


Notas iniciais do capítulo

Olá amores! Chegay hehe. Como passaram o final de 2017? Bem? Eu tô pronta pra começar esse ano na bala uadshdusah.
Estou pensando se ainda estenderei a fic em mais dois capítulos e mais o epílogo ou só mais um. Provavelmente o próximo já vai ser o último capítulo e depois o epílogo, mas tudo depende de como vai sair o próximo. Espero que saia tudo como planejei hehe.
Enfim, boa leitura :D

[Capítulo betado por Alie ♥]



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— Bom dia, senhora e senhorita Evans — James cumprimentou-as com naturalidade. Como ele conseguia ficar tão calmo? Eu estava morrendo por baixo da carcaça que eu chamava de Lily.

                — Bom dia — mamãe respondeu com simpatia. Petúnia ainda estava em estado de choque. Encarar-me com maior cara de julgamento, impossível.

                Mamãe colocou a bolsa sobre o balcão da cozinha e lavou as mãos antes de virar para James Potter e tentar entender o motivo de estarmos em plenas seis horas da matina na casa dela falando com ela sobre assuntos banais (ou nem tão banais assim).

                — Estava indo à escola e decidi passar aqui para dar uma carona a Lily. Mas antes disso, esperava encontrar a senhora aqui para que eu pudesse lhe fazer um convite.

                Do que ele estava falando?

                — Ah, sim, James. Tudo bem. Estou te ouvindo — mamãe disse tirando o pote de café do armário.

                A questão era que mamãe sempre fora muito apegada a James, desde criança fomos muito amigos e mamãe não conseguia imaginar nada muito além do que ele estava dizendo a ela, afinal, segundo ela, ainda éramos melhores amigos. Pobre mamãe...

                — Um parente meu chegou da Nova Inglaterra final de semana passado e propôs que experimentássemos fazer uma ceia de Ação de Graças. Sei que por aqui não comemoramos, mas achamos a ideia interessante e gostaria muito que a família Evans estivesse presente no dia para compartilhar dessa nova experiência junto com os Potter.

                Mamãe largou a cafeteira em cima da pia, radiante.

                — Ah, que maravilha! — ela abriu um sorriso de orelha a orelha. — Agradeço o convite, querido. Tenho certeza de que eu e minhas filhas ficaríamos honradas em comparecer no dia combinado — ela caminhou até o rapaz. — Sabe que gosto muito de você. Fico feliz que depois de tanto tempo ainda faça companhia à minha Lily. Tenho certeza que faz muito bem a ela — ela completou de maneira dócil com as mãos sobre ambos os ombros de James.

                Morta. Era como eu me encontrava. Se existia o tom original da minha pele sobre o meu corpo já não sabia, porque claramente eu estava muito corada.

                Às costas dos dois, Petúnia rachava o bico em silêncio. Lancei um olhar repreensivo de longe.

                — Bem, acho que já está ficando tarde. Precisamos ir andando, a aula começa em dez minutos, não é, James? — disse o encarando com uma expressão de “vamos-dar-o-fora”.

                Ele pigarreou.

                — Ah, claro. Fico feliz por aceitar o convite, senhora Evans... Agora tenho que me apressar, caso contrário o professor Flitwick vai ficar furioso com o nosso atraso na primeira aula. E me perdoe por aparecer sem avisar...

                — Sem problemas. Apareça quando quiser ­— mamãe sorriu e voltou a prestar atenção no café. — Eu ofereceria um café, mas já que vocês estão com pressa... — fuzilei James com o olhar. Quanto mais tempo passássemos ali na companhia de mamãe e Petúnia, mais risco tinha de dar merda.

                — Acho que um cafezinho não vai cair mal — Potter comentou. Era claro que rejeitar um café sempre fora uma desfeita com seja lá qual fosse o anfitrião, mas ele não estava em posição de aceitar nenhum café, não mesmo.

— Ótimo! É só um segundo... — respondeu a mulher. Aproveitei para me jogar no sofá (a sala era vizinha da cozinha) e rolar meus olhos uns setecentos e vinte graus.

Petúnia, que até aquele momento estava paralisada na frente de James, me seguiu e desmontou ao meu lado enquanto o rapaz ficava de conversinha com a nossa mãe.

— Mas o que foi isso? — Petúnia perguntou depois de um tempo, animada.

Shh! Olha, não é o que vocês estão pensando. Quer dizer... Não é o que você está pensando, porque mamãe pareceu natural demais pra mim diante da situação — disse entre sussurros.

— Isso é o que me deixa ainda mais chocada! — ela exclamou quase me fazendo praticar minha leitura labial. — Você dorme com um garoto na casa dela e ela fica toda se engraçando pra cima dele como se fossem namorados há tempos.

Encarei a moça com uma cara de “ke”.

— Primeiro: eu não dormi com ele. Segundo: nós não somos namorados! — arregalei os olhos.

Ela estreitou os olhos.

— Olha, eu sei que pode não ser tudo isso que falei, mas essa história de convite não tá me descendo não — esclareceu erguendo as sobrancelhas e cruzando os braços voltando seu olhar para a dupla que papeava no cômodo ao lado.

— Eu sei. Não sei como mamãe conseguiu enxergar verdade nisso. Parecia que James a conhecia há anos! — exclamei horrorizada.

                — E não conhece? — estranhou minha irmã.

                — Conhece, mas... — suspirei. — É mais complicado do que você imagina, girassol.

                — Espere aí! Você me chamou de girassol? — ela aumentou o tom de voz, um sorriso enorme estampado no rosto.

                Tinha quem soubesse que girassol era um apelido de infância de Petúnia, já que era sua flor favorita e combinava com a cor de seus cabelos. Sabíamos que tanto eu quanto ela tínhamos nomes de flores, mas era engraçado como conseguíamos colocar apelidos tão criativos. Era como cenourinha, referente aos meus cabelos rubros. Entretanto, depois da separação de nossos pais, tínhamos nos afastado muito; eu havia ficado com mamãe enquanto ela fora morar com papai, levando os nossos apelidos e, consequentemente, nossa amizade consigo.

                — Quê? Claro que não — tentei disfarçar, mas como sempre, falhando amargamente.

                — Ah, cenourinha! Achei que você já tinha esquecido essa história. Fico feliz que ainda lembre! — ela me abraçou eufórica. Obviamente chamando a atenção do restante da galerinha do café.

                — Que vocês duas estão aprontando, mocinhas? — era cômico o quanto mamãe ainda parecia nos ver como duas garotinhas de seis anos.

                — Nada não, mãe. Só aproveitando um momento fraterno — disse Petúnia, que piscou pra mim.

                Neguei com a cabeça sem deixar ocultar um sorrisinho afetuoso que se formava em meus lábios.

***

                Depois de aceitar um cafezinho — maravilhoso, por sinal — Potter e eu retornamos ao carro. Discutimos sobre quem era ele com toda aquela amizade com a minha querida Senhora Evans e sobre o bendito convite para a “Ação de Graças”. Pra mim quem estava com graça era ele.

                — Desde quando seu tio está em Paris? E desde quando você convida a minha família para alguma coisa? — perguntei ainda não conseguindo entender como ele tinha pensado naquilo tão rápido. Quer dizer, tinha que ser uma brincadeira, não tinha?

                — Desde o final de semana passado. Ele veio para me ajudar no conserto de um carro antigo, o carburador está danificado e eu não estou sabendo como repará-lo, já que os modelos mais novos não possuem essa peça — ele terminou a explicação como se realmente soubesse sobre o assunto, e eu não duvidava que ele, de fato, soubesse. — E minha mãe já estava pensando em chamar a sua família para tomar um chá ou qualquer coisa do tipo, só não tinha achado a oportunidade certa. Claro que ela nem sonha que eu tive a ideia de convidá-los para a Ação de Graças, mas tenho certeza que quando souber, ela vai pirar. Ela adora a sua mãe — James virou o volante quase todo para a esquerda, virando uma esquina.

                Nós dois sabíamos que as famílias Potter e Evans sempre foram muito companheiras. Já tinha perdido as contas de quantas vezes os pais de James combinavam com os meus de levarmos nós dois, Petúnia, Dorcas e Snape para o parque de diversões que sempre abria aos feriados. Com o tempo, houve todos os desentendimentos que vocês já sabem: o divórcio dos meus pais (Fleamont era muito amigo de Mark); a ocupação da minha mãe com a cafeteria; minha ocupação com a pintura; a de James com os carros e; sobretudo, a escola e a minha secreta (não mais secreta) paixão por James Potter. Todos esses fatores fizeram com que a gente tivesse perdido cada vez mais contato, mesmo que ambas as famílias soubessem que poderiam contar uma com a outra para qualquer coisa que viesse a ocorrer.

                — Ok... — passei a língua entre os lábios e me calei.

                O restante da viagem não foi muito diferente disso. Ficamos em silêncio até que o carro de Potter fosse estacionado na frente da escola, ele dissera que havia desistido de ir para casa, visto que já estávamos em cima da hora e que o café da senhora Evans o havia despertado da ressaca do dia anterior. Incrivelmente tínhamos chegado cinco minutos depois de bater a sineta que anunciava o horário de adentrar nas salas.

                Mesmo que o sinal já tivesse soado, praticamente metade da escola ainda estava do lado de fora, já que ainda havia uns quinze minutos de tolerância para a entrada nas salas de aula (mesmo que o professor Flitwick não aceitasse muito bem essa regra), ainda que a outra metade tivesse ficado em casa por estar morta pós-resenha.

 Assim que fechei a porta do carro com a mochila nas costas, senti um olhar pesado sobre mim. Talvez porque eu tivesse vindo no mesmo carro que James Potter e o mesmo estava andando bem ao meu lado. Ouvi certas vozes que diziam: “Será que estão juntos?” “Quem é ela?”.

 — Se você contar pra alguém sobre ontem, você morre — murmurei para James e saí andando na frente. Não teve distância possível para que eu ouvisse sua resposta, e no final das contas não era tão importante assim, já que a aula de música com o professor Flitwick já havia começado.

***

Mais um dia na escola e Dorcas não estava por lá. Talvez estivesse na hora de finalmente ir visitá-la, afinal, toda essa história cheirava mal para o meu gosto. Precisava logo encarar os fatos e tentar descobrir de uma vez por todas que papo era aquele de “é mais complicado do que parece” e “Dorcas me fez jurar não contar”.

Assim que fechei a porta do armário senti meu celular vibrar no bolso da calça, era uma chamada de mamãe.

— Oi mãe — atendi me direcionando a porta de saída da escola.

Oi, querida. Tudo bem? Como foi a aula? — a voz dela era um pouco indecifrável, o barulho que fazia no ambiente em que se encontrava atrapalhava.

— Tudo bem. A aula foi boa, como sempre. Parece que as coisas estão movimentadas por aí hoje, huh? — disse essa última frase sorrindo.

É... Parece que Paris inteira veio pra cá hoje. Petúnia está aqui me ajudando a servir as mesas.

— Se quiser que eu vá ai para ajudar, mãe...

Na verdade eu estou ligando para que você desse uma passada no mercado e comprasse mais massa pronta para os croissants, eles saíram tanto que agora estou vendendo a última fornada. Temo que eles vão acabar muito em breve.

Tudo bem. Eu passo no mercado e chego aí em meia hora, quarenta minutos no máximo.

Ótimo. Obrigada, filha.

Não precisa agradecer, mãe. Um beijo...

No instante em que coloquei o celular no bolso da calça percebi que já tinha andado quase metade do caminho até o mercado. Chegando lá, fui direto ao setor de freezers e procurei o que queria. Assim que avistei o que procurava, apressei-me em abrir a porta do refrigerador e tirar lá de dentro uns quatro pacotes de massa pronta. Só então me lembrei de que não tinha onde colocá-los, porque carregar até o caixa, claramente, seria muito arriscado quando se está tratando do nome Lily Evans, o desastre em pessoa.

Coloquei os pacotes de volta ao freezer e saí disparada à porta do mercado, onde se encontravam alguns carrinhos de compra, e retornei ao setor dos congelados depois de pegar um, mal podendo me conter de ansiedade ao notar Dorcas com a cabeça dentro do freezer, no mesmo corredor, pescando alguns pacotes de queijo de cabra. Ela não demorou muito para perceber que eu estava bem ali na frente dela e eu senti minha espinha gelar e decerto não era o frio proveniente dos congeladores.

— Ah... Oi — Meadowes cumprimentou-me um pouco deslocada.

Como não disse nada, ela continuou:

— Bem, eu só vim comprar um pacote de queijo. Elliot gosta.

Elliot, para quem não sabe, era o filho mais velho da família Meadowes. Tinha vinte anos e ainda era o solteirão vagabundo que morava na casa dos pais. Dorcas não costumava falar muito dele e, mesmo que nós fôssemos muito próximas, nunca tive muita intimidade, ele era do tipo mal encarado demais para simpatizar. Segundo a irmã, ele passava praticamente o dia inteiro na rua com uns amigos jogando basquete e frequentando festas, voltava para casa apenas para comer e dormir (quando não fazia tudo isso entre os colegas).

— Entendo — respondi. — Vim comprar alguns pacotes de massa pronta para o Evans’.

— Legal — comentou a morena, que abaixou seu olhar para o queijo como se ele realmente tivesse vida e estivesse muito doente. Era nítido que estava descontente.

Suspirei.

— Estava pensando se podíamos conversar sobre você sabe o quê.

A garota largou o queijo dentro do carrinho e encarou o restante das prateleiras do refrigerador parecendo pensar no que dizer.

— Eu sei que você quer respostas, Lily... — ela me encarou. — Mas acontece que não é tão simples quanto parece. Tem muita coisa envolvida pra ser explicado no meio de um setor de frios.

— Vamos para a minha casa então. Você pode me explicar tudo e...

— Não dá. Elliot está um pouco doente e eu tenho que... Tenho que ficar e casa para cuidar dele — ela deu meia volta e tomou rumo ao final do corredor empurrando seu carrinho.

Larguei o meu e fui ao seu encontro, puxando-a pelo braço.

Nossas expressões nunca tinham sido tão duras como naquele momento, até eu tinha me assustado um pouco.

— Saiba que seja lá o que esteja fazendo comigo... É muito injusto. Você e James sabem de toda a história e não querem me contar! Por quê? — cuspi estas palavras a fim de que ela se arrependesse e voltasse atrás em sua decisão. Mas não foi tão fácil quanto eu imaginava.

Parecia que Dorcas fosse chorar. É uma cena horrenda quando se para pra pensar bem. No momento eu não enxerguei muito isso.

— Olha, me dê um tempo, ok? Eu preciso resolver algumas coisas antes de te contar, mas eu juro que isso tudo é para a sua proteção.

Ri com sarcasmo.

— O mais engraçado é que eu não preciso da sua proteção. Só preciso que você desembuche e eu nunca mais precisarei olhar na sua cara — a garota soluçou, mas não perdeu a sua compostura.

— Sinto muito, Lily, mas eu tenho mesmo que ir — ela puxou o braço de volta com firmeza e sumiu pelo corredor.

Por um momento eu pude sentir um quê de desespero passado de Dorcas para mim, entretanto, a minha frustração diante do motivo de ninguém simplesmente desembuchar logo me inquietava.

O que tinha de ser tão complicado de não poder sentar pra conversar? Mas que droga!

Peguei logo o que mamãe queria e segui para o caixa.

***

                No dia seguinte, Marlene me chamara para ir à sua casa depois da aula, o que não seria muito trabalho, já que ela residia na casa abaixo da minha. Havia ajudado mamãe na cafeteria depois da ida ao mercado, e apesar de minha cabeça estar longe, consegui servir muitas mesas e ainda encher várias xícaras de café sem fazer bagunça. Ainda não conseguia pensar direito, estava um pouco sonolenta por ter dormido pouco, pois ainda havia ido pintar um pouco para espairecer mesmo chegando tarde do Evans’ na noite anterior.

                A professora Sprout havia passado um trabalho em duplas sobre a evolução das espécies vegetais na Botânica. Cada grupo deveria escrever um texto de no mínimo trinta linhas sobre o assunto para entregá-la na próxima aula e, como os testes se aproximavam, eu não queria deixar nenhum trabalho acumulado, nunca gostei de deixar as coisas para a última hora.

                Fomos caminhando até a casa dos McKinnon e ao chegarmos lá, tivemos a sorte de encontrarmos o pai de Lene em casa.

                — Olá, senhor McKinnon — saudei o homem de meia idade que estava há pouco detrás do balcão do caixa da loja, que finalmente tinha voltado a abrir depois de três dias de inatividade. — Como vai?

                — Olá. Então você é a nova amiga da Lene? — indagou ele com um pouco de indiferença.

                — Hum, hum — pigarreei apertando sua mão num cumprimento amigável. — Sou Lily Evans, senhor. Marlene e eu estudamos na mesma sala no Paris Hogwarts High.

                — Que bom. Fico feliz que tenham se enturmado — comentou o homem e retornou sua atenção a umas muitas sacolas prostradas no chão, provavelmente cheias de roupas para abastecer as araras e manequins da loja.

                Lancei um olhar sugestivo à Marlene.

                — Bem, pai. Lily e eu vamos entrar para fazer um trabalho da escola. Qualquer coisa é só me chamar, ok? — ela beijou o rosto do pai depois dele ter assentido e atravessou uma porta que ficava aos fundos da loja com os dizeres: “Acesso restrito a funcionários”.

                Assim que me fiz presente no ambiente apreciei o quão aconchegante era. Um grande lustre de cristais iluminava a sala com sofás de um tecido fofo que eu identifiquei como camurça e um tapete de pelos altos.

                Realmente não era de se esperar que uma casa tão bonita estivesse bem aos fundos de uma loja de roupas.

                — Fique à vontade. Só vou dar uma arrumada na bagunça do meu quarto para ele ficar entrável — nós rimos e a garota desceu um lance de escadas, deixando-me sozinha.

                Parei para observar direito e vi que os sofás eram arrumados e colocados defronte a uma lareira, não era muito raro se encontrar lareiras nas casas de Paris, mas na minha casa não havia uma. Talvez porque mamãe não quisesse gastar dinheiro com isso e sim com os investimentos que trariam retorno. Por outro lado, tínhamos dois aquecedores que quebravam um grande galho nos invernos congelantes que beiravam zero grau.

                Mais adiante se via duas portas que davam visão a um quarto e uma sala de leitura, respectivamente. Havia uma cozinha vintage e no final do corredor um banheiro. Era uma casa pequena, porém bem aproveitada. Era o estilo de casa que eu diria que eu decoraria quando fosse morar sozinha.

                — Lily, pode descer! — a voz de Marlene soou do subsolo e eu me despertei dos devaneios que me possuíam.

                — MEU... DEUS! — exclamei boquiaberta assim que cheguei à metade da escada que dava no quarto da loira.

                Se eu pudesse descrever o quanto o quarto era bafônico diriam que eu estava exagerando, mas sério: era o típico quarto de patricinha rica que qualquer garota sonha em ter.

                O chão era totalmente revestido por um carpete de cor bege; uma cama Queen Size forrada em cobre-leito com roseiras estampadas por toda sua extensão; uma escrivaninha com luminária; dois pufes ao redor de uma mesinha de centro; duas portas, uma para o que parecia ser e outra de correr parecendo fazer parte de um closet e uma TV de tela plana fixa sobre uma placa de madeira na parede de frente para a cama.

Tudo isso com um pouco de bagunça era o quarto de Marlene McKinnon. Podia dizer que estava um pouco surpresa.

— Olhe, eu sei que está um pouco bagunçado, mas não precisa ficar tão assustada — ela riu da minha cara.

— Não, não é isso. É que o seu quarto é fantástico! Olha só o tamanho dessa cama e esse carpete... Eu adorei! — sorri.

— Se não fosse esplêndido não seria meu quarto — gabou-se.

Rolei os olhos.

— Ok, podemos começar? Acho que tenho que fazer tudo logo para ir ajudar minha mãe com a cafeteria de novo. A clientela tem sido forte essa semana.

— Tudo bem. Sente-se — ela apontou para um dos pufes e eu me acomodei nele.

Passamos umas duas horas apenas realizando pesquisas e anotando dados que seriam de maior relevância no trabalho e quando decidimos que era Marlene que iria escrever na folha original da entrega (por incrível que pareça minha letra era um pouco mais garranchada que a dela), ela respirou fundo, colocando seu laptop no chão e levantando-se de seu pufe.

— Estou faminta. O que quer comer?

— Não sei. A dona da casa é você, como o que me derem pra comer — brinquei, mas deixando claro que ela tinha um fundo de verdade. Ela riu.

— Ok. Vou lá em cima buscar alguma coisa e já volto. E não ouse pegar nessa caneta, porque eu sei que a senhorita está se coçando para escrever logo esse texto! — ergui minhas mãos em redenção.

— Larguei até o celular depois dessa — ela fez um sinal de “estou-de-olho” e saiu do quarto.

Coloquei-me de pé suspirando pesado. Tinha passado tanto tempo olhando para a claridade da tela do celular que meus olhos viam insetos imaginários voar por todo o quarto (efeitos colaterais de quem não é acostumada a passar tanto tempo mexendo em aparelhos eletrônicos).

Estalei os dedos da mão e me joguei na cama. Era tão terrivelmente confortável que se eu estivesse de olhos fechados eu poderia acreditar se alguém me dissesse que eu estava deitada sobre nuvens. Aquele quarto era um paraíso na Terra, sem dúvidas.

Virei-me de bruços e passei os braços por baixo do travesseiro e senti uma textura lisa e um pouco mais fria do que a colcha de fato estava. Franzi meu cenho e levantei o travesseiro. Lá se encontravam diversas fotos em Polaroid. Peguei algumas delas para observar melhor.

Quatro delas mostravam Sirius Black, em poses diferentes, mas em nenhuma das fotos ele olhava para a câmera ou nem mesmo posava de fato. Era como se as fotos tivessem sido tiradas sem que o rapaz soubesse. É daí que eu pude concluir que Black era fotogênico, pois, mesmo sem saber que estava sendo fotografado, tinha saído muito bem arrumado e espontâneo, digno de feed tumblr

                Em outra foto se via dois homens, pareciam estar conversando. Um era um rapaz moreno e o outro estava de costas para a câmera que parecia bem mais velho do que o rapaz, com certeza era adulto. Não me demorei muito em observar a foto porque ouvi o barulho de Marlene descendo as escadas. Enfiei logo a última foto no bolso e o restante debaixo do travesseiro onde se encontravam anteriormente.

                Levantei-me e fingi observar os pequenos quadros nas paredes com frases motivacionais quando ela entrou segurando uma bandeja com uma vasilha cheia de macarons de recheios diversos, dois pedaços de torta de limão e dois copos de suco.

                — Eita, menina! Quer me fazer engordar mais do que a minha vó? — perguntei com um tom brincalhão depois de ler a frase “Assim como frutos podres caem de árvores, amizades falsas tombarão uma a uma.”

                — Não exagera! Eu disse que eu estava com fome. Se você não comer tudo eu como — neguei com a cabeça entre risos.

                — Só não derruba comida em cima do trabalho se não eu faço um sozinha e não coloco o seu nome — alertei-a.

                Demoramos mais uma hora para terminar o trabalho e depois de agradecer ao senhor McKinnon pela estadia (se é que ele era a pessoa certa para quem eu deveria agradecer) e segui para o Evans’.

                Na mesma hora em que adentrei a cafeteria, Petúnia me lançou um olhar de quem queria conversar. Coloquei meu avental e dei um beijo em mamãe antes de pegar uma bandeja e servir a mesa dois. Então voltei para trás do balcão e fui para o lado de minha irmã esperando que ela me dissesse alguma coisa.

                — Você não vai acreditar! — ela murmurou, excitada.

                — O que houve? — perguntei e vi um homem erguer a mão da mesa nove. — Pode me contar depois? Preciso anotar o pedido daquele cara bem ali.

                — Eu marquei um encontro com o Vernon!

                — Quê? — arregalei os olhos voltando. — Mamãe já sabe disso? — indaguei com um sorriso malicioso no rosto.

                — Não e nem vai saber. Eu quero que você vá comigo para o local que marquei com ele só para você se certificar que ele é um cara boa pinta, daí quem sabe mamãe possa conhecê-lo depois disso... — ri de seu comentário.

                — Beleza. A gente conversa sobre isso quando chegar em casa, ok? — ela assentiu e voltou aos pulos para os fundos para lavar a louça suja.

                Respirei fundo e fui em direção tirando a caderneta dos pedidos do bolso do avental.

                — Bonsoir, seigneur. Posso ajudá-lo?

***

                Às onze horas da noite o café estava quase vazio, apenas dois casais terminavam suas refeições para que então finalmente nós pudéssemos fechar tudo e ir para casa. Petúnia terminava de secar os pires e mamãe já fechava quando eu disse que iria ao banheiro.

                Assim que entrei no toalete, fiz questão de me livrar do avental e dobrá-lo adequadamente. Depois de usar o banheiro e higienizar as mãos, lembrei-me que havia pegado uma das fotos que estavam na casa de Marlene. Retirei-a do bolso e tornei a observá-la, dessa vez com mais calma.

                Os dois homens pareciam estar numa viela ou alguma rua realmente estreita e ambos estavam bem próximos, pareciam sussurrar alguma coisa um no ouvido do outro, tamanha a proximidade dos dois. Parei para observar melhor e reconheci o garoto como parecendo Elliot, o irmão de Dorcas. O outro homem me parecia familiar, mas não conseguia identificá-lo.

                Saí do banheiro deixando meu avental sobre uma das mesas onde ficavam a sanduicheira e a fritadeira e fui até Petúnia, ela estava encostada na pia mexendo no celular, provavelmente estava me esperando para falar sobre seu encontro com o namorado, mas aquela foto estava me intrigando demais para que eu me mantivesse calada.

                — Tuney, vê se consegue saber quem são esses caras da foto — estendi a foto para ela.

                Ela analisou a fotografia por uns cinco segundos e disse sem pestanejar:

                — Eu não conheço esse rapaz, mas com certeza esse homem de costas é papai.

                — Papai? — perguntei pegando a foto de volta para vê-la melhor.

                Como não pude distinguir as costas de meu próprio pai? E o que ele fazia com o irmão de Dorcas? E além de tudo... Por que Lene teria uma foto dessas guardada embaixo do travesseiro? Isso, com certeza estava muito estranho.

                Eu precisava saber o que aquilo significava, mas eu não confiava em meu pai o suficiente para falar sobre aquilo, talvez ele pudesse estragar tudo. A única pessoa para quem eu podia recorrer era Dorcas. Afinal, o irmão dela estava na foto.

                — ...e então nós conversamos muito e decidimos que marcaríamos um encontro, afinal já faz um bom tempo que estamos juntos...

                — Me espere acordada, volto em uma hora e meia — disse à Petúnia, guardando a foto no bolso da calça e saindo dos fundos da cafeteria.


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Notas finais do capítulo

Eitaaaa, agora vai! Lily tá determinadíssima e não tem argumentos que Dorcas queira usar que ela desista de descobrir o que aconteceu. Ansioso? Segura só mais um pouquinho a emoção que eu prometo que tento voltar o mais breve possível com a continuação!
Muito obrigada pela sua leitura e um beijão ♥



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