Betrayed Friendship - Jily escrita por Vitória Serafim


Capítulo 10
Capítulo IX - Amizade Traída


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus pimpolhos hdusahdsuahda
Chegay mais cedo hoje pra postar capítulo porque tava loca pra vocês lerem logo.
Não vou nem enrolar, apenas leiam.
Nos vemos lá embaixo ♥

[Capítulo ainda não betado]



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Passei disparada pelo balcão e vi mamãe me acompanhar com o olhar, certamente se perguntando onde eu estava indo com tanta pressa. Não lhe deixei brechas para fazê-lo.

                — Estou indo à casa de Dorcas. Volto para o jantar, ok? — avisei à mamãe, que por mais que estivesse curiosa sobre, não quis se manifestar. Talvez porque confiasse em mim. Agradeci por isso e deixei a cafeteria.

                À medida que apressava meu passo, meus pés pareciam caminhar cada vez mais por si só, sentia minha mente trabalhar como um projetor antigo de cinema tentando dar movimento a fotos e meu peito apertar como se a Evil Queen estivesse ameaçando me matar. Era agora ou nunca.

                Quando cheguei à esquina dos Meadowes meu celular tocou. Seja lá o que fosse teria de esperar até eu resolver o que tinha para ser resolvido.

                Caminhei, determinada, até a porta de entrada e toquei a campainha.

Ninguém respondeu.

Passei mais uns cinco minutos batendo insistentemente e finalmente a porta se abriu.

— Mas que merda é essa de insistência? Eu já te disse que... — era a voz de Elliot. — Ah... É você — ele completou, sem emoção.

O garoto não estava muito diferente da foto, exceto pelo cabelo que estava muito maior e havia uma tatuagem nova bem na maçã de seu rosto. Ele tinha um headphone enganchado no pescoço, segurava um iPod nas mãos e estava com roupas de moletom, como quem estivera preso em casa por dias.

— Seja lá quem esteja procurando, não estamos em casa — ele fez menção de fechar a porta, mas eu coloquei o pé na frente, impedindo seu movimento.

— Onde Dorcas está? — perguntei adentrando a sala sem nem mesmo pedir licença, olhando de um lado para outro, como quem tinha perdido o celular e estava entrando em desespero.

— Está se vestindo, ela acabou de tomar banho. Mas ela não está aberta a visitas sinto... Ei! Volte já aqui! — ele exclamou assim que me viu subir as escadas, embalada, simplesmente ignorando tudo o que ele havia dito.

Não importava o que me dissessem, nem o que colocassem no meu caminho. Nada iria impedir que eu chegasse até Dorcas e a fizesse falar. Até porque eu tinha uma coisa que a faria falar. Aquela palhaçada tinha que acabar e tinha que ser naquele exato momento.

Não foi muito difícil achar o quarto da morena, visto que já tinha estado naquele lugar tantas vezes quanto em minha própria casa. Tantos momentos que estariam guardados em minha memória...

[Flashback On]

— Direito, Lily! — a garotinha exclamava irritada quanto presenciava a amiga não levar a sua sessão de fotografias tão a sério quanto ela imaginava.

— Ah, Dorcas... Estou cansada! Será que não podíamos montar um quebra-cabeças ou pintar alguns desenhos? Acho que já tiramos fotos demais por hoje — eu respondia, impaciente, fuzilando aquela maldita máquina fotográfica rose com o olhar como se ela tivesse vida própria e pudesse morrer como uma só encarada.

Não estava apreciando nem um pouco estar sendo a modelo para as fotos de Dorcas. Ainda mais quando poderíamos estar fazendo coisas muito mais divertidas que aquilo. O dia estava muito lindo lá fora, talvez eu até viesse com um papo de ir fazer poses no jardim pra ver se ela caía e acabasse esquecendo para ir brincar de pique esconde (tá que é bem chato brincar de dois, mas qualquer coisa era melhor do que ficar tirando fotos o dia todo).

— Só mais duas poses... ­Por favorzinho — ela olhou-me fazendo biquinho. Rolei os olhos.

— Tá. Mas só mais duas, em? — respirei fundo e forcei um sorriso virando meu rosto de perfil.

Dorcas dizia que as fotos saíam bem melhores quando você olhava pra parede ou qualquer coisa que não fosse a câmera. Nunca entendi muito bem, mas eu aceitava.

— Prontinho! Olha só, você daria uma capa incrível da Numéro — ela disse entregando uma fotografia minha sacudindo os demais polaroids.

— E não é que eu saí bonita? — olhei bem para minha silhueta na foto, animada. — Vai ver eu não me torno uma modelo e você uma fotógrafa famosíssima! Dorcas e Lily viajando pelo mundo como duas melhores amigas e colegas de trabalho — disse esta frase como se a estivesse lendo numa manchete de jornal. — Não seria formidável?!

— Seria mesmo! Mas antes de tudo nós temos que prometer a nós mesmas que não importa o que aconteça, mesmo que tivermos a maior briga de todas, nós vamos achar um jeito de ficarmos de bem de novo — minha amiga disse, séria.

— Certo, certo. Promessa de dedinho? — estendi meu mindinho e ela entrelaçou o dela no meu.

— Promessa! — ela sorriu e nós nos abraçamos.

— Meninas! Venham aqui na cozinha, eu fiz biscoitos! — era a voz da senhora Meadowes.

— Já vamos, mãe! — a filha gritou. — Vem, Lily. Vamos comer alguns biscoitos e depois nós podemos fazer uma caixinha pra guardar essas fotos, o que você acha? — então nós descemos as escadas atrás do cheiro delicioso que era aquela forma de biscoitos.

[Flashback Off]

Quando voltei a ter consciência de meus atos, percebi que estava parada bem em frente à cama de Dorcas, esta se encontrava bem ao meu lado, me encarando espantada. Percebi que já tinha mostrado a ela a fotografia. Não me lembrava de mais nada que tinha acontecido antes disso, as lembranças que aquele lugar me trazia eram demais pra mim.

Assim que senti que meus pulmões ainda não haviam entrado em combustão e que eu ainda conseguia respirar, perguntei:

— Você sabe o que essa foto significa?

Dorcas passou a mão pelo rosto livre de maquiagem e suspirou passando a língua entre os beiços.

— Onde achou isto? — ela perguntou, porém sem me encarar.

— Fui fazer um trabalho na casa da Marlene e achei essa foto por lá. Ela não sabe que está comigo. Mas isso não interes...

— Foi tudo um jogo de chantagem — ela começou e eu franzi o cenho, mas nada disse, temia que se viesse a interrompê-la ela poderia não mais abrir a boca.

Meadowes respirou fundo e então continuou:

— Sei que foi errado não te dizer desde o começo, até porque você sempre me disse tudo sobre os sentimentos que você nutria pelo James, mas eu tenho que te confessar que sou apaixonada por Sirius Black — arregalei os olhos, abismada, o silêncio era intenso, a madrugada se aproximava. — Sempre fui. Tirava fotos dele em segredo na escola. E eu queria te contar, de verdade, mas eu nunca tinha gostado de ninguém antes e eu não queria que eu dissesse que gostava dele sem realmente saber se gostava...

Então ela parou de falar. Pisquei os olhos duas vezes antes de voltar a olhá-la e enfiar as mãos nos bolsos de minha calça jeans.

— Tudo bem... — murmurei amistosa, apesar de magoada por ela não ter me contado nada. — Mas o que isso tem a ver com o que aconteceu na festa? Eu pensei que você estivesse gostando do James também. Isso não está fazendo muito sentido pra mim.

— A questão é que até aí tudo esteve bem, como sempre costumou estar. James e eu sempre fomos bons colegas, nada mais. Vocês dois andavam muito juntos e me entrosar com ele foi só uma questão de tempo, mas eu nunca realmente pensei em ter algo com ele. Sempre foi Sirius.

— Desculpe, mas ainda não estou entendendo — insisti.

— No dia anterior à festa de Halloween do colégio fui até Black depois da aula e perguntei se poderíamos conversar. Eu ia dizer a ele sobre meus sentimentos. Ele disse que estava ocupado com os lances da festa dele e que não ia dar, mas ele me passou o número dele. Tudo isso foi no estacionamento da escola. Era óbvio que eu não iria ligar pra ele. Não se diz que se está apaixonada por alguém por telefone.

Ela largou a foto em cima da cama e começou a andar lentamente de um lado para o outro do quarto, enquanto eu fiquei ali, de braços cruzados, sem conseguir mover um músculo de tão imersa que eu estava na conversa.

“Acontece que o fato de eu estar apaixonada por Sirius não era um total segredo. Mesmo que eu não tivesse contado a ninguém sobre... Estava indo pra casa e fui parada por Marlene. Ela disse que sabia sobre o que eu sentia e que eu não poderia nem sonhar de se meter com ele. Obviamente eu achei tolice de cara, afinal, quem ela pensa que é para tentar parar o relacionamento dos outros?”

Engoli seco.

— Só que não foi tão fácil quanto eu pensei — a garota suspirou. — Parecia que ela estava me vigiando há meses, cada passo meu. Então quando eu dei as costas, ela me puxou e tirou do bolso essa fotografia — ela apontou para a foto que deixara sobre cama. — E eu reconheci o meu irmão na hora. O que eu não sabia era que o seu pai estava envolvido.

— Envolvido no quê? — perguntei prevendo que meu coração sairia pela boca.

— Drogas.

Prendi minha respiração. Dorcas percebeu que eu não seria capaz de falar nada a respeito no momento, então prosseguiu:

— Meu irmão sempre foi um cara encrenqueiro... Ele sempre acabava saindo com os amigos quando lhe desse na telha e nem mesmo fazia questão de deixar uma mensagem. Meus pais passavam dias preocupados e ele nem aí... Bem, o ponto é que ele acabou indo parar em Frankfurt, cidade que o seu pai reside, atualmente. E, segundo o meu irmão, Mark estava contrabandeando cocaína, e quando se fala em contrabando estamos automaticamente começando a tratar de quem trabalha pra quem e é aí que a coisa fica séria, porque se o patrão descobre, há perseguição.

— Dorcas, onde você quer chegar com... — tentei interrompê-la, mas ela estava focada demais para parar agora, ela simplesmente me ignorou.

— Marlene de alguma forma acabou tirando uma foto bem na hora que meu irmão comprava a droga que seu pai estava vendendo. Ela disse que entregaria aquela foto à Bellatrix Lestrange, que nós duas sabemos que ela é...

— Editora do jornal da escola... — completei, finalmente tentando entrar no raciocínio dela.

— Sim. Contrabando de drogas são dois anos e meio de cadeia e a estadia na cadeia é deplorável, como é de se esperar. Era a segurança do meu irmão e do seu pai que estavam em jogo. Eu não podia deixar que isso acontecesse, não mesmo. Então eu perguntei o que ela queria que eu fizesse para que eu ganhasse o seu silêncio — ela me encarou. — E é aí que entra o ocorrido do dia 31.

Senti meu estômago revirar. A verdade estava sendo jogada nua e crua bem na minha cara com mais crueldade do que eu esperava. Não conseguia digerir como Marlene sabia sobre Sirius e eu, que era sua melhor amiga, não conseguia perceber. Na verdade, eu não estava digerindo absolutamente nada.

— Marlene não achou suficiente o fato de eu me afastar totalmente de Sirius, mas me fez garantir que beijaria James na festa, para que de alguma maneira desse a entender que eu não tinha nenhum interesse em Sirius. E assim eu tive de fazer. Naquele dia — ela se referia ao dia do Halloween — mais cedo eu contei a James, logo depois que você foi para casa se arrumar, depois do sorvete que tomamos. Ele não sabe da história toda, nem da metade, na verdade, mas sabia o suficiente que nós teríamos de fazer aquilo para a sua segurança, ou melhor, da do seu pai.

Meus olhos marejaram.

— McKinnon é uma manipuladora, Lily. E ver você andando com ela nos últimos dias nunca foi tão difícil pra mim... Eu achei que o beijo ia acontecer e você não ia ficar sabendo, mas, obviamente, Marlene fez questão de passar toda a cena em primeira mão para a equipe do jornal. Fiquei sabendo quando você foi embora que tinha beijado James antes de mim. Eu me senti um lixo. Me senti totalmente indigna da sua amizade, beijando o garoto por quem você sempre me disse que fora apaixonada. Enquanto eu nunca nem disse nada sobre o Sirius... — Dorcas também estava começando a se emocionar. — E...Eu só sinto muito, Lily — ela passou a mão direita pelos olhos que trabalhavam como torneiras abertas, agora.

Eu não conseguia dizer nada, aproximei-me dela e a abracei.

— Eu é que sinto... Fui tão idiota com você... — desabamos a chorar.

Não sei dizer quanto tempo ficamos ali entre lamentações, era como se precisássemos uma da outra, e, de fato, precisávamos, porque, dentre todas as garotas, Dorcas sempre foi a única que sempre foi minha amiga de verdade, e não importava o quanto eu tentasse me convencer do contrário. Eu sempre acabava me frustrando. Tentei achar conforto recorrendo a Marlene e nunca realmente soube que ela estava não só querendo prejudicar o relacionamento de Meadowes e Black, mas entre Potter e eu. Ela tinha me levado para dentro da própria casa, me apresentado seu pai e ainda tinha a cara de pau de pagar a de conselheira e de me convencer a ir numa festa que eu nunca quis ir para me deixar de lado, sozinha. Eu não conseguia acreditar.

— Eu sei que é muita informação, mas se tiver alguma dúvida...

Realmente era muita informação, mas acho que tudo o que ela havia me dito fora o suficiente. Algumas horas de procrastinação cairiam bem para assimilar as coisas.

Eram tantas coisas que não pareciam cair a ficha... Papai deixando Petúnia aqui em Paris, provavelmente com medo de se meter em encrenca e envolverem a filha nisso; o beijo em si; o jeito na qual James tentou explicar tudo mesmo sem saber de nada; a conduta de Lene sempre me fazendo estar contra Dorcas, sendo ela a megera que armou tudo.

Era bem óbvio que quase nenhuma ficha tinha caído, até porque eu não conseguia pirar pelo fato de papai estar envolvido com contrabando, era simplesmente inimaginável que ele pudesse fazer uma coisa dessas, pois, apesar de ter ido morar com outra mulher, ele sempre fora um bom pai. Eu é que morria de raiva dele por ter deixado mamãe, impressionantemente Petúnia aceitou melhor que eu.

— Ok, mas... O que é que vamos fazer? — perguntei.

Estávamos sentadas no tapete em frente à cama dela. Conversar sentada sempre fora melhor que deitada.

— Estava pensando numa maneira de fazer com que Sirius abrisse os olhos em relação à ela, mas acontece que não queria expor nada sobre o acontecido com os Marotos. Mesmo que isso os envolva, James principalmente.

— Eu acho que a primeira coisa de temos que fazer é nos livrar dessa foto — sugeri e ela assentiu levantando-se.

Dorcas pegou a fotografia que descansava em cima da colcha da cama e a rasgou três vezes, então encaminhou-se ao banheiro e eu pude ouvir o barulho da descarga do vaso sanitário.

— Prontinho. Se ela quiser incriminar alguém terá que procurar na estação de tratamento de esgoto — ambas rimos.

Ela voltou a se sentar e então ficamos quietas mais uma vez.

— Por que não me contou antes? Teria poupado muito sofrimento...

— Não sei... Simplesmente não conseguia. Eu só tive... medo.

— Sabe que eu cheguei a pensar que não teria mais nenhum amigo... Só Severo. Aliás, você se incomoda se eu contar a ele sobre isso? Eu prometi que ele me ajudaria a desvendar o que aconteceu, mas fui ansiosa demais e tive que resolver sozinha.

— Acho que você pode esclarecer as coisas com quem precisa ser alertado, aqueles com quem você se preocupa e estão diretamente ligados à Marlene ou, pelo menos, esteja de alguma maneira relacionado ao que conversamos hoje. Só que vale lembrar que quanto menos pessoas souberem, melhor.

Concordei com a cabeça. Eu poderia dizer a história a Severo se ele perguntasse alguma coisa, caso contrário eu ficaria de boca fechada.

Conversamos até tirarmos todo o atraso de assuntos (o que levou umas duas horas) e finalmente eu disse à minha amiga que Petúnia e mamãe estavam esperando por mim em casa. Nos despedimos e então eu segui meu rumo até em casa.

Só percebi que tinha demorado mais do que eu tinha prometido quando cheguei ao meu quarto e notei Petúnia largada sobre minha cama, de calça jeans e tudo. Provavelmente dormira me esperando para contar tudo sobre o Vernon. Me senti muito mal por isso, mas eu precisava mesmo descobrir as coisas.

Ela precisava saber sobre o papai.

***

Acordei no dia seguinte com a vibração do celular ao meu ouvido. Só naquele momento fora que eu me recordara que não tinha checado nada nele na noite anterior, apenas tinha ficado deitada no colchão da minha irmã pensando por mais umas três horas. Provavelmente já era bem tarde, mas quem se importava? Era final de semana.

Desbloqueei o celular e vi oito chamadas perdidas de Marlene e uma de Ninfadora Tonks. Teria de tirar o dia para resolver algumas coisas sobre o conversado com Dorcas no dia anterior, já que ela não poderia fazê-lo por estar de olho no irmão (os pais tinham ido passar o final de semana em Londres para comemorar o vigésimo quinto aniversário de casamento).

Dei uma breve espreitada na cama de cima e percebi que Petúnia já tinha acordado, estava deitada mexendo no celular. Provavelmente me aguardava para contar tudo sobre o encontro com Vernon, na qual eu fiz o favor de cortá-la para ir à casa dos Meadowes.

Eu era uma péssima irmã.

— Tuney? — chamei-a.

Petúnia apontou a cabeleira loira para fora da cama sorrindo com ternura.

— Bom dia, Lil’. Como vai? Dormiu bastante, huh?

— Bom dia... — sentei-me coçando os olhos. — Que horas são? — o quarto estava com as cortinas ainda fechadas, não dava para ter a mínima noção de quão tarde estava.

— Dez e vinte. Acho que devemos levantar...

— Definitivamente — concordei, levantando-me do colchão estirado no chão num pulo.

                Petúnia abriu a janela. O sol me cegou um pouco, à princípio, mas eu gostava de iluminar o meu quarto, então não culpei minha irmã por isso.

                — Mamãe tomou café agora há pouco e foi para o Evans’. Quis dormir mais um pouco — disse ela.

                — Totalmente aceitável. Ela trabalha tanto... Mesmo que nós a ajudemos sempre ela sempre fica sobrecarregada — respondi enquanto terminava de dobrar um dos lençóis esparramados sobre a cama.

                — Eu estava pensando e... — a loira hesitou.

                — E?

                — E eu não quero mais morar com o papai — confessou. Encarei-a.

                — Por que está dizendo isso agora?

                — Não sei. Eu só... Me sinto melhor aqui. Mais acolhida. Mariele sempre passa a maior parte do tempo com papai, apesar de ele me dar atenção sempre que pode. É uma droga na maior parte do tempo, entende. Aqui na casa de mamãe tenho sempre uma oportunidade de estar perto dela ajudando no café e de conversar com você.

                Mordi a mucosa da minha boca e me balancei brevemente antes de perguntar:

                — Se achava tão ruim, por que continuou morando com ele todo esse tempo? — ela suspirou e colocou os lençóis e edredons dobrados dentro de um dos compartimentos do guarda-roupa, fechando a porta deste logo depois.

                — Não sei. Achei que acabaria me acostumando lá, já que era muito apegada com papai, mas eu quase nunca saía de casa e tinha apenas alguns amigos da escola em que eu estudava — deu de ombros.

                Caminhei até o banheiro e coloquei creme dental na escova. A que falara há pouco fez o mesmo. Escovamos o dente em silêncio e assim que sequei minha boca na toalha de rosto pendurada ali perto, continuei:

                — Não me importaria se viesse morar comigo. Quer dizer... Comigo e com a mamãe.

                Pude contemplar o brilho refletido nos olhos de Petúnia ao ouvir aquilo.

                — Seria ótimo — ela sorriu logo depois que terminou de escovar os dentes. — O que acha de irmos tomar café no Evans’? Assim posso te contar tudo sobre o Vernon.

                — Por mim excelente — respondi e ela deu as costas depois de assentir num sorriso sem mostrar os dentes.

                Fomos até a cafeteria de mamãe a pé e Petúnia disse tudo sobre Vernon. Que o tinha conhecido através do Instagram, onde o garoto tinha curtido algumas fotos dela e a chamou no direct para conversar sobre como gostavam de rosquinhas (ele tinha visto as diversas fotos tumblr que ela havia postado comendo algumas) e então passaram a se conhecer e depois de dois meses eles começaram a namorar virtualmente, isso porque ele morava na Inglaterra e ela na Alemanha. Então quando ele soube que ela viria passar um tempo aqui em Paris, teve a ideia de chamá-la para sair, eles iriam almoçar num restaurante comum onde poderiam comer rosquinhas e milkshakes de sobremesa.

                Pelo que ela havia me dito ele parecia ser muito carinhoso com ela, afinal, era a primeira vez que namorava uma garota. Ela me mostrou uma foto e ele era fofo. Não que eu tivesse coragem de namorá-lo, mas não era totalmente de se jogar fora. Eu torcia para que ele não fosse um cafajeste disfarçado e que o relacionamento dele com Petúnia realmente pudesse funcionar.

                Chegando ao café, demos bom dia à mamãe e sentamos numa das mesas à janela, nos servindo de um bom café expresso.

                Minha irmã também me disse que o encontro seria daqui a duas horas e que o restaurante ficava a vinte minutos de casa. Não sabia como ela podia estar tão tranquila com o fato de faltar apenas duas horas para encontrar o namorado pela primeira vez e ainda não estar se arrumando, mas de qualquer maneira eu acabaria a ajudando.

                Depois de passarmos uma meia hora conversando sobre conversas banais, decidimos que já estava mais do que em tempo de começar o protocolo “girassol-no-primeiro-encontro”. Não demoramos muito na arrumação. Petúnia colocou uma blusa de lã, uma jeans de cintura alta e um tênis branco; o cabelo loiro amarrado numa trança que caía pelo lado direito do corpo. Sua maquiagem estava simples, um batom nude e um olho contornado com delineador e realçado com máscara. Estava delicada, uma verdadeira joia.

                — Uau... — ela olhou-se no espelho depois de pronta. — Obrigada, Lily — sorri em resposta.

                Eu precisava contar a ela sobre papai, mas ela estava tão feliz e animada que achei que não valeria a pena estragar o momento com notícias preocupantes como: “nosso pai é um traficante”. Então desisti.

                — Disponha. Agora é melhor irmos logo andando, não quer chegar atrasada no seu primeiro encontro, certo? — perguntei e ela balançou a cabeça.

                Já que o restaurante era há vinte minutos dali e já estávamos em cima da hora, decidi usar minha bicicleta para poupar o dinheiro de um táxi ou de um Uber. Petúnia foi no banco do carona e eu pedalei até o restaurante que ela me informara que aconteceria o almoço.

                Cheguei um pouco ofegante por conta do sedentarismo, porém viva. Petúnia não estava suja e nem suada, com o que eu fiquei grata, afinal, era ela quem deveria estar impecável.

                Petúnia pediu para que eu entrasse primeiro e sentasse-me à mesa mais ao fundo do restaurante, assim, teria menos risco de ser pega observando-a por Vernon. Assim o fiz.

                Quando minha irmã atravessou a porta e olhou para os dois lados não tendo o menor sinal do garoto meu coração despedaçou. Ele não poderia ter dado bolo, poderia?

                No momento em que estava prestes a lançar um olhar de interrogação para Petúnia, a porta se abriu e um rapaz entrou. Vi o sorriso de Petúnia se alargar. Era ele.

                Vernon era um rapaz gordinho, mas nada muito exagerado, tinha cabelos negros e vestia uma roupa esportiva muito engraçada, pois na blusa lia-se: “I FUCK ON THE FIRST DATE” e usava uma bermuda, ele realmente não estava com nenhum sinal de estar com frio apesar do clima lá fora estar com temperaturas inferiores a quinze graus. Claramente se via que ele seria o famigerado tio da barriguinha de chope que falava “É pavê ou é pa cumê?” nas ceias de Natal.

                Depois de uns quinze minutos de vigia, percebi que o rapaz era um tanto quanto simpático e engraçado, além de respeitoso (ele não tinha tentado nada com Petúnia ainda). Então pensei que já estaria na hora de ir embora para dar mais privacidade ao casal.

                Saí tão de mansinho que Petúnia nem mesmo notou, estava muito entretida rindo com seja lá o que o garoto estava dizendo. Sorri uma última vez e montei em minha bicicleta dando o fora daquela rua.

                Foram vinte e cinco minutos de pedaladas entre puros devaneios. Estava doida para contar o que Dorcas havia dito para alguém. Minha mente estava uma bagunça e talvez se eu repetisse tudo em voz alta as coisas pudessem parecer mais verdadeiras.

                Estava indo rumo à cafeteria para dar um último apoio a mamãe antes de voltar para casa e fazer alguns deveres de casa para a próxima semana e terminar o quadro que havia começado nessa semana. Entretanto, meus planos foram por água abaixo quando me dei conta de que tinha pegado um caminho diferente do que de costume e já estava na rua da casa dos Potter. Assim que me aproximei da casa, avistei ele.

                James Potter limpava as mãos cheias de graxa numa flanela, provavelmente estava consertando o carro defeituoso que tinha me falado há alguns dias. Involuntariamente (ou nem tanto assim) estacionei a bicicleta na guia em frente à garagem em que ele se encontrava.

                Ele lançou um olhar curioso em minha direção e ficou um pouco perdido, então colocou os óculos.

                — Oi — disse entrelaçando meus dedos uns nos outros, mal sabendo o que iria dizer, exatamente.

                — Oi, Lily — ele disse largando a flanela, tornando a me encarar. — Espero que não esteja aqui para me matar ou coisa do tipo — disse ele passando a mão pelos cabelos, esquecendo completamente que a graxa ainda estava um pouco impregnada na sua mão.

                Eu neguei com a cabeça não conseguindo rir do comentário dele.

                — O que foi? — retrucou vendo que o assunto poderia parecer mais sério do que ele imaginava.

                Umedeci meus lábios e cruzei meus braços.

                — Falei com Dorcas ontem à noite.

                E então ele entendeu do que se tratava.

                — Você... Hm... Quer dar uma volta? — indaguei apontando para o lado de fora da garagem. — Se eu estiver atrapalhan...

                — Não, imagina! — ele precipitou-se em esclarecer. Eu só estava arrumando umas peças. Vou só lavar as mãos e já volto, ok? — assenti e ele desapareceu pelo portão que dava para dentro de sua casa.

                Não demorou muito para ele voltar e se ele não dissesse que iria lavar as mãos eu não perceberia que ele o tivesse feito. Suas unhas ainda estavam sujas, mas isso não era importante no momento, apesar de me afligir um pouco.

                Deixei minha bicicleta dentro da garagem e saímos a pé para um passeio. Caminhamos uns cinco minutos em silêncio. James parecia ansioso, pois tomou a iniciativa de começar a conversa:

                — E então? — perguntou ele depois de um pigarreio.

                Não conseguia olhá-lo. Se começasse a contar e acabasse achando seus olhos teria uma boa probabilidade de eu me embaraçar inteira no raciocínio ou até mesmo perder o controle e fazer uma coisa idiota e, cá entre nós, sabemos que sou bem capaz disso. Então me concentrei maior parte do tempo na rua e nos carros que passavam por ela, mesmo que fossem poucos.

                — Até que ponto sabe sobre a aposta que Dorcas teve de cumprir? — perguntei cruzando os braços.

                Ele suspirou.

                — Bem, ela me contou que alguém, que ela não poderia revelar o nome, tinha feito uma aposta com ela que era preciso que ela me beijasse, caso contrário a sua segurança e a dela estaria sendo posta em jogo. Disse que tinha a ver com seu pai e o irmão dela. Eu estranhei muito isso no começo. Quer dizer, quem chega a alguém pedindo pra beijar tal pessoa com uma explicação dessas? Ela só podia estar sendo ameaçada.

                — Mas como foi que confiou nela para isso? — prossegui sentindo uma pontada dentro de mim. Tinha de ter certeza se ele estava realmente sendo sincero ou era realmente um idiota de primeira.

                — Você sabe, Lily, que Dorcas não é mentirosa e nem inventora de histórias, não desse naipe. Ela sempre foi sua melhor amiga, não seria possível que ela brincasse com uma coisa dessas. Foram muitos anos de convivência e ela nunca foi muito próxima de mim e também nunca mostrou nenhum interesse e... — ele deu de ombros. — Eu não sei... Achei que um beijo idiota não seria nada perto da segurança do seu pai e de Elliot. Mesmo que ela estivesse blefando, era melhor não arriscar.

                Paramos em frente ao Museu do Louvre e nos sentamos num banquinho em frente a um chafariz. Então eu lhe contei a história inteira, com todas as palavras que eu me lembrava, pelo menos. Ele pareceu um pouco atordoado depois que me calei.

                — É, essa também foi a minha reação, à princípio — comentei esboçando um sorriso de canto.

                — Lily, eu sinto muito. Eu não imaginava... — ele piscou os olhos umas duas vezes seguidas e deixou seus braços caírem sobre o colo.

                — Você fez a coisa certa, James. Eu é que fui egoísta, só pensei no quanto Dorcas era uma traíra e... — suspirei. — Eu fiquei com tanta raiva que eu me deixei cegar. Passei uma semana saindo com McKinnon como se ela fosse minha nova melhor amiga, quando ela estava me passando a perna desde o início e Dorcas sofria em silêncio. Isso tudo por causa do “amor” que ela diz ter por Sirius.

                — Obcessão, você quis dizer — retrucou Potter. — Cara, Sirius nem imagina com quem está lidando. Eles vão sair amanhã, se não me engano. Ainda bem que pelo que ele me disse não parecia tão apegado a ela. Ele sempre foi um pouco complicado nesse lance de compromisso — engasguei quando ele pronunciou esta última frase. — Eu também... Mas cara, se ele estivesse realmente na dela poderia ser duas vezes mais complicado do que já me parece.

                — Bom, isso você só vai descobrir quando tentar contar pra ele — disse ainda receosa de encará-lo. — Só não diga nada sobre os sentimentos de Dorcas. Quero que ela mesma diga isso a ele, caso ainda vá fazer isso — ele assentiu.

                Dezenas de pessoas caminhavam pela calçada onde estávamos, todas agasalhadas e muito estilosas ( o outono era uma época incrível para se assistir as pessoas desfilarem no meio da rua com suas roupas espetaculares). O vento batia frio em nossos rostos, mas eu não senti muito, afinal, já estava acostumada com as baixas temperaturas que faziam naquele lugar no final do ano.

                — Por que demorou tanto para me contar? — perguntou ele depois de um tempo que ficamos em silêncio.

                — Só falei com Dorcas ontem à noite... — ele franziu o cenho.

                — Não, sobre isso não. Sobre os seus sentimentos. Você sabe... Por mim.

                E então senti meu coração dar um triplo mortal carpado para trás. Eu definitivamente não estava esperando que fôssemos discutir sobre esse assunto. Percebi que ele estava me fitando e isso não melhorou em nada as coisas.

                — Sei lá... Nós sempre fomos amigos. Não achei que você realmente enxergasse as coisas da forma que eu.

                Balancei a cabeça e finalmente tomei coragem para olhar em sua direção, mesmo que fosse por cinco segundos e fosse para as sobrancelhas dele.

                — A sua amizade sempre foi muito importante pra mim e se as coisas começarem a ficar estranhas entre a gente eu vou me culpar pra sempre por ter estragado tudo — eu sentia meu interior sendo esmagado lenta e progressivamente, era demais falar sobre meus sentimentos, assim, tão abertamente. Ainda mais sendo para ele.

                — Hey... — ele puxou meu rosto com o dedo indicador, fazendo com que eu olhasse nos seus olhos. — Você não está estragando nada, está me ouvindo? Está tudo bem... — seu dedo abandonou meu rosto, mas não me mexi.

Eu não conseguia parar de admirá-lo.

                James percebeu e me puxou para um abraço.

                — Não vou deixar que nada aconteça com você — ele afagou meus cabelos e tudo o que eu conseguia fazer era aspirar seu cheiro inebriante. Não o cheiro do perfume, mas o cheiro dele. Eu estava perdendo a razão. Se é que eu já não tinha perdido.

                — Estou me sentindo uma idiota.

                Acompanhei Potter engolir um bocado de saliva e passar a língua entre os lábios antes de dizer:

                — Não sinta-se. Eu também te beijei de surpresa — ele respondeu como se soubesse exatamente sobre o que eu estava me referindo.  Foi a minha vez de franzir o cenho.

                — Do que está falando? Fui eu que avancei em você na festa de Halloween.

                — Da festa do Sirius, ué. Era óbvio que eu não iria deixar o idiota do Amos Diggory te beijar enquanto eu mesmo poderia fazer isso — explicou ele como se constatasse que cinco e cinco são dez.

                Aquilo foi melhor do que qualquer declaração de amor. Talvez James Potter e eu não fôssemos tão amigos assim, se é que me entende.

 


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Notas finais do capítulo

Eu tô é morta. Desculpem pelo capítulo maior do que o de costume, eu realmente tinha muita coisa pra colocar.
Espero que ainda estejam vivos porque o epílogo vem aí!
Muito obrigada por ler e não me matem rs'
Até breve :D



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