A M O N G U S escrita por Ero Hime


Capítulo 9
U S


Notas iniciais do capítulo

Todo o apoio que eu venho recebendo nessa fanfic é incrível. Eu não consigo agradecer o suficiente. Estou amando escrevê-la, e amando todo esse retorno, é a melhor coisa que um escritor poderia receber. Muito obrigada.
Eu esperei tanto para escrever esse capítulo quanto vocês esperaram para ler. Aproveitem!
Ah, vejam minha nova fanfic: Teorema do Contador de Histórias!



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Por que você vive?

Porque tenho um bom motivo para viver.

Ou sobre nós. É tudo sobre nós.

 

— Sabe, eu realmente iria em um show das Esquisitonas. – Naruto riu com o nome da banda bruxa, e riu ainda mais por saber que Hinata era fã do som adolescente popular.

Aquela era a terceira noite. Deveria ser três ou quatro da madrugada, mas as cortinas fechadas não permitiam que tivessem certeza. De qualquer maneira, o horário não era de suma importância. Hinata ia para seu dormitório quando ouviam as primeiras movimentações de Ebisu, o zelador mal-humorado que percorria os corredores pela manhã acordando os quadros. Até que ouvissem as reclamações nada agradáveis de Ebisu, Hinata permanecia na cama do leito mais afastado da porta, devidamente protegido pelo cortinado e um Abaffiato lançado pela morena.

Naruto sentia-se culpado da garota perder sua noite de sono para ficar com ele, mas Hinata garantira que não havia problema. Caso dormisse nas aulas, poderia afirmar que não estava se sentindo bem, e então passaria mais tempo na enfermaria.

Naquele momento, ambos estavam aconchegados – ou tentando estar – na dura cama de solteiro, cobertos pelo lençol apenas para não pegarem friagem da brisa noturna que entrava pela portinhola aberta no alto. Hinata estava sentada com as costas eretas e postura ligeiramente defensiva, mas Naruto estava deitado confortavelmente com sua cabeça no colo da Hyuuga, enquanto esta passava os dedos distraidamente por seu cabelo, afagando-o. Permaneciam naquela posição por horas a fio, até que, a contragosto, Naruto deixava que a garota voltasse para as masmorras.

Se alguém narrasse aquela cena meses atrás, Naruto certamente azararia a pessoa – com Hinata não havia nem mesmo a possibilidade de alguém ter a audácia de tal coisa –. Mas, no silêncio da enfermaria, o grifinório e a sonserina se permitiam relaxar. Passavam a noite conversando sobre trivialidades, e Naruto surpreendia-se a cada minuto, descobrindo particularidades de Hinata que apenas deixavam-na mais atraente aos seus olhos. O Uzumaki não saberia explicar se alguém lhe perguntasse, porque as palavras simplesmente lhe fugiam quando olhava para seu rosto iluminado pela lua, com o cabelo preso para trás. Naruto se dava conta de que estava, desespera e estupidamente, hipnotizado por aquela garota.

Concluía, então, que algumas coisas apenas não necessitavam de explicações, e seu peito se acalmava, porque os dedos gentis de Hinata acariciavam seu cabelo e ele sentia-se leve, quase sonolento, mesmo que seu coração palpitasse tão rápido que seria impossível dormir.

De certo, Naruto não saberia explicar a maior parte das coisas que estavam acontecendo naquele momento – ele também não faria a menor questão –. Era inusitado. Depois da cena com Sakura, o garoto aguardou ansiosamente ao longo do dia, olhando sobressaltado para a entrada sempre que a porta se abria, se frustrando com a mesma rapidez. Quando o sol se pôs, começou a achar que sua mente havia imaginado coisas e criado uma realidade alternativa onde Hinata Hyuuga se interessava por ele. Na hora do jantar, conseguiu mordiscar apenas um pedaço de torta, o estômago revirando de nervosismo. Pediu uma poção para dormir para Madame Chiyo, mas a curandeira contentou-se em rir e deixá-lo sozinho. Naruto resmungou por alguns minutos e tentou dormir. Conseguira cochilar quando ouviu um farfalhar em sua cama, e seu primeiro pensamento foi gritar o mais alto que poderia, pois estava sem varinha – e sem condições de fazer qualquer movimento que fosse –. No entanto, surpreso, viu a Hyuuga lançando feitiços silenciadores em volta de leito e virando-se para ele, com um meio sorriso. Vestia uma capa e calças de linho, e seu cabelo estava preso no alto. Naruto a encarou por tanto tempo que a garota teve de chacoalhá-lo.

Naquela primeira noite, Hinata ficara sentada na beirada da cama, e suas costas estavam tão retesadas que Naruto se perguntou se ela não sentia dores na coluna. O loiro percebeu que ela estava se esforçando para sentir-se a vontade, e seu peito inflou por saber que ela estava mesmo lhe dando um voto de confiança. O loiro não imaginava como as coisas haviam mudado tão rapidamente, mas, ei! Não seria ele a reclamar.

Em algum ponto da noite, Naruto disse que Hinata podia sentar-se na cabeceira da cama, para, ao menos, encostar as costas no apoio, mas, assim que a garota recostou, o grifinório apoiou a cabeça em suas pernas prostradas para frente. De início, Hinata ficara tão tensa que suas mãos permaneceram coladas na lateral de seu corpo em todos os momentos. Quando ouviram Ebisu, a garota se despediu rapidamente, saindo em um piscar de olhos, mas Naruto quase afirmava, com certeza, que viu suas maçãs coradas. E ele estava satisfeito com aquilo.

Na segunda noite, Hinata arriscou a pousar a mão perto de suas têmporas, e, mesmo não mexendo-as, Naruto sentia o calor que emanava de suas palmas. Não conseguiam fazer contato visual, pela escuridão e pela posição em que estavam, e era confortável. Estavam confortáveis.

— Você precisa conhecer as bandas trouxas, então. São inigualáveis. – Naruto respondeu, rindo para o escuro, e Hinata se deu ao trabalho de rolar os olhos, exibindo um sorriso que o garoto em seu colo não conseguiria ver.

— Não acredito em você. – riu, deixando claro que era uma brincadeira, e Naruto não discutiu, fazendo um barulho semelhante a um bufar, mas ele estava alegre demais para parecer descrente.

Hinata ficou em silêncio, deixando que suas mãos percorressem todos os fios mecanicamente. Eram macios, e haviam alguns pequenos nós que desembaraçava. Seu rosto estava em brasas, e ela sentia-se quente, com um calor que se recusava a passar, mesmo que o clima estivesse excepcionalmente frio para a época do ano. Apesar disso, recusava-se a se mexer, e suas pernas ficariam dormentes dali algumas horas. Seu corpo estava pesado de cansaço, mas a Hyuuga sentia-se alerta, mas não de uma maneira estarrecedora. Ela não queria dormir.

A sonserina tampouco sabia como as coisas haviam acabado daquela maneira. Parte de si havia sido treinada para repudiar aquela situação, e a batalha interna que estava travando desde o começo da semana deixava-a mentalmente exausta. Mas a parte que ansiava pela chegada da madrugada sempre vencia. Quando ela podia esgueirar-se para a enfermeira como uma criminosa, lançar feitiços para silenciar, deitar-se com um grifinório sangue-ruim e adular seu cabelo. Era insano – como um eu pessoal que jamais teria chance de existir. Hinata apenas não sabia explicar, e ela odiava não saber explicar como se sentia. Toda sua criação fora pautada em saber controlar seus sentimentos, saber ser fria, saber como não se importar, e, de repente, se viu lançando todos seus ideais para o alto e deixando na mão da sorte. Era assustador, e ela não conhecia como lidar com aquela nova personalidade que ela não fazia ideia que tinha. Mas, naquelas poucas horas que se deitava e ficava conversando sobre banalidades, ela apenas não sabia como se importar.

Ninguém jamais perguntara sobre seus interesses – e, sinceramente, ela quase não respondia aquelas questões –. Sua amizade com Gaara e Sasuke era verdadeira, mas baseada em um princípio simples que era conveniente para os três: a impessoalidade. Hinata nunca precisara pensar no seu sabor de feijãozinho preferido, ou no feitiço que mais gostava de fazer, ou no sonho impossível que ela mais queria realizar. Mas o grifinório irritante em suas pernas parecia querer saber de tudo. Mais que isso, parecia se interessar o suficiente para ouvi-la monologar por horas a fio. Hinata não conseguia ver suas expressões, mas ela sabia que ele a estava encarando como podia, porque suas terminações nervosas descontrolavam-se quando as íris azuis pousavam sobre ela.

Eles não sabiam o que estavam fazendo. A capa de Hinata ficava dobrada cuidadosamente sobre a cadeira, e Naruto tinha conhecimento de que o brasão da Sonserina permanecia virado para baixo, enquanto Hinata tinha plena visão para o cachecol vermelho e amarelo que um de seus amigos deixara ali. Além, eles se odiaram por anos. O mundo bruxo estava entrando em uma guerra que eles não sabiam como acabaria. Era como se o universo estivesse enviando todos os sinais, avisando que um propósito muito maior pairava sobre eles, que a ordem natural do destino havia se quebrado, mas eles simplesmente não sabiam porque era tão bom falar sobre bandas bruxas no meio da madrugada.

— Quando? – Hinata perguntou, de repente, quebrando um silêncio agradável que se instalara. Chegou a pensar que Naruto havia adormecido, mas a respiração do garoto denunciava-o.

— Quando? – Naruto repetiu, mas Hinata soube que ele havia entendido. Quase arriscou que o Uzumaki estava ficando envergonhado – Eu não sei. Sabe, uma hora eu estava azarando você e seus amigos, e na outra eu estava chamando você para sair. – Hinata não conseguiu segurar a risada alta, e Naruto sorriu largamente, definindo aquele som como absolutamente adorável.

— Aquele foi um ano estranho. – Hinata comentou.

— Eu não sei dizer quando. Apenas... aconteceu. Eu olhei para você e pensei: “Uau, ela até que é bonita”. – Hinata riu novamente – Não custava tentar. Mas você simplesmente acabou comigo por todos esses anos. – Naruto deu um riso debochado e sentiu a garota dando de ombros e suas pernas tremendo de rir – E você? Quero dizer, você ter se interesse por mim foi a grande surpresa. Você me odiava! E, já que estamos sendo sinceros, você é da Sonserina. Vocês não tem sentimentos. – Naruto não pode ver a careta que Hinata lhe dirigiu, mas sentiu o safanão de leve no alto de sua cabeça.

— Sua sinceridade me comove. – sua voz era monótona. Naruto percebeu que ela disfarçara do assunto, e não insistiu. Ficou com medo de ter acabado com o bom clima que havia se instalado. Sabia que Hinata estava se esforçando para se abrir e ser mais descontraída. Ele não conseguiria contar quantas vezes a escutou rir, e aquilo por si só era um acontecimento histórico, então ele não forçaria nada. Esperaria até que ela se sentisse acolhida – Não foi algo instantâneo. Como eu já disse milhares de vezes – foi a vez de Naruto revirar os olhos – eu não te odiava. Não era algo pessoal. Você era insistente. – Naruto sentiu o sorriso em suas palavras – Eu apenas comecei a reparar mais. Você confundia minha cabeça, e eu não sabia o que estava acontecendo. Quando eu te encontrei naquela sala... – Hinata agradeceu por estar escuro, e Naruto desejou profundamente que pudesse pegar em sua mão naquele momento – Eu percebi que não adiantava ficar fingindo ou ignorando. As coisas acontecem de repente, eu não quero perder tempo. – sua frase terminou em um sussurro.

— Não quer perder tempo, é? – Naruto soltou, com a voz carregada de segundas intenções, e Hinata gargalhou, descrente, batendo em seu ombro.

— Babaca. – Naruto conseguiu o que queria: tornar o clima mais leve. Estava exultando por dentro, e não se acostumaria tão cedo com aquele turbilhão de sensações. E nunca se cansaria do toque macio de Hinata em sua pele – Quando você sai daqui?

— A Madame Chiyo disse que se eu ficasse sem me mexer, e eu não me mexi nenhuma vez, – Hinata rolou os olhos com o tom orgulhoso que ele expressou por sua obediência – eu poderia sair amanhã. Ela quer ter certeza de que a poção revitalizadora fez efeito, mesmo com todos esses curativos. Mas, pelo menos, vou poder me mexer. Odeio ficar parado. – fez uma careta.

— Você me parece ser uma fonte inesgotável de energia. – Hinata brincou, surpreendendo Naruto, e alegrou-se ainda mais, se possível.

Não haviam se beijando uma única vez. Embora houve uma clara tensão entre eles, procuraram não estourar a bolha, tornando-se íntimos de diversas outras formas, e estavam gostando de como aquela proximidade natural estava se desenrolando. Não sentiram falta do contato físico, e concordavam que haviam coisas mais importantes para desfrutar. Naquele momento, em seu pequeno mundo, eram tudo que precisavam.

Continuaram a conversar, distraidamente, sobre os mais diversos assuntos. Naruto lhe contava como era o mundo trouxa, sobre sua família, a fazenda, e todas as coisas que conhecia. Em contrapartida, Hinata contava como era nascer no mundo bruxo, sobre sua infância e curiosidades mórbidas. O tempo passava rápido, e, quando se deram conta, o ambiente começou a clarear ligeiramente. Hinata soltou um bocejo, e percebeu que conseguia ver as sombras de Naruto mais nitidamente. Tentou não corar quando percebeu que seu torso nu estava para fora do lençol.

— Como vamos fazer quando eu sair daqui? – Naruto perguntou, tentando virar a cabeça para cima, para poder encará-la, e Hinata deu de ombros.

— Honestamente? Não sei. Encontros furtivos nas torres. – brincou, mas viu um brilho travesso nos olhos do loiro – Eu estou brincando!

— Não, eu gostei da ideia! Tudo em segredo é melhor. – a Hyuuga reprimiu um suspiro, assentindo para ele. Seu coração se apertava sempre que chegava a hora de voltar para seu dormitório – As coisas vão ficar feias em Hogwarts. – seu tom tornou-se subitamente sério, e Hinata ficou alerta – Hiruzen me falou sobre os comensais, a guerra, os ataques. – a garota sentiu o estômago embrulhar – O que iremos fazer?

— Eu não sei. – a resposta não passou de um sussurro desesperado, mais para ela que para o garoto.

O sol despontou rapidamente, e Hinata moveu cuidadosamente a cabeça de Naruto de volta para o travesseiro, e se colocou de pé. Seus pés adormeceram instantaneamente, e ela fez uma careta dolorosa, batendo-os contra o chão até que a sensação de câimbra passasse. Alongou-se, estralando um ou dois ossos das costas, em seguida do pescoço. Voltou-se para Naruto, que a encarava com um brilho desconhecido, e ela corou por ser observada. O Uzumaki, por outro lado, sentia-se fascinado por cada movimento da Hyuuga.

— Eu preciso ir. – fez um bico, e Naruto fingiu chorar. Ela sorriu, se aproximando polidamente – Acho que nos vemos mais tarde. Sua amiguinha não vai me deixar entrar aqui de dia. – zombou, e Naruto perguntou-se se Hinata não estava com ciúmes de Sakura. A menor possibilidade lhe deixava deliciado.

— Qualquer coisa eu peço para alguns amigos te machucarem e você vem para cá. – Naruto sorriu diabólico e Hinata fingiu choque.

Em seguida, depositou um beijo em sua testa, com cuidado para não atingir os cortes que estavam cicatrizando. Demorou-se, e Naruto fechou os olhos, inalando seu perfume e aproveitando o contato. Seus lábios eram quentes, e ele queria que nunca se afastassem. Quando ela começou a se levantar, Naruto sentiu-se imediatamente entristecido.

— Até mais. – a garota se despediu, abrindo as cortinas e retirando os feitiços. Pegou sua capa e acenou por cima do ombro.

Naruto a observou se afastar e, próximo da porta, lhe dirigiu um último olhar, até que ela desapareceu, fechando a porta atrás de si. Suspirou, a cama fria e dura demais. Sem poder se mover, deixou que seus pensamentos o levassem, e cochilou sem perceber. Há tempos que não se sentia daquela maneira, e não conhecia aquela sensação nervosa no estômago, mesmo que fosse boa.

Hinata caminhava um tanto bamba, com um sorriso brincando em seus lábios. Estava desnorteada, como se o mundo real não fizesse parte do que sua mente estava processando naquele momento. Seus olhos se ajustaram com a claridade, e ela finalmente sentiu o cansaço lhe abater. Ponderou faltar as primeiras aulas – nenhum professor se incomodaria com uma falta de uma das suas melhores alunas –. Chegou às masmorras depois de andar muito tempo, e caminhava devagar. Na Sala Comunal, topou com alguns primeiranistas, que desviaram o olhar, assustados. Estava chegando nas escadas do dormitório quando foi interrompida por Neji, que descia junto de seus comparsas mal encarados.

— Onde você estava? – perguntou, acusador, com os olhos a analisando. Hinata parou, respirou fundo e virou-se para ele, com sua melhor cara de tédio.

— Não é da sua conta. – respondeu simplesmente, subindo as escadas sem que o outro retrucasse.

Todas suas colegas ainda dormiam, e ela suspirou aliviada quando seu corpo tocou o colchão macio. Fechou suas cortinas para não ser incomodada e adormeceu, sem retirar os sapatos. Não soube dizer se fora pelo cansaço ou pela sensação de tranquilidade que sentia. Não fazia muita diferença.

 

 

— Finalmente você foi liberado, eu não aguentava mais aquele lugar. – Sakura reclamou, enquanto caminhava ao lado de Naruto, que apenas ria do mau humor da rosada. Estava rodeado por vários de seus amigos e algumas outras pessoas que foram acompanhá-lo quando Madame Chiyo lhe deu alta.

— Eu não pedi para você ficar lá o tempo todo. – ergueu uma sobrancelha.

— E te deixar sozinho lá? Nunca! – argumentou, gesticulando, e Naruto acompanhou as risadas, internamente feliz pelos amigos que tinha. O céu estava limpo e claro, e parecia um ótimo dia para jogar Snaps Explosivos ou praticar Quadribol. Naruto ficou uma semana sem se mexer, queria gastar o máximo de energia que pudesse.

Madame Chiyo lhe liberou na manhã seguinte, após retirar suas ataduras. Naruto estava impecável – mais uma prova do bom trabalho que a curandeira fazia com poções –. Por uma infelicidade, não conseguira remover todas as cicatrizes, mas, a não ser que Naruto estivesse sem camisa – e ele não estava –, qualquer pessoa que o visse diria que ele gozava de pleno estado de saúde. Estava andando, nenhum de seus músculos estava doendo, seu olho estava perfeitamente desinchado e seu rosto não continha um arranhão sequer. Apesar do gosto amargo dos remédios que Chiyo obrigara-o a tomar, Naruto não poderia estar mais feliz por finalmente sair da enfermaria. Havia perdido inúmeras matérias, mas os professores garantiam que não atrapalharia seus NIEMs.

O Uzumaki evitou pensar em seu torso. Por mais que os esforços de Madame Chiyo tenham sido louváveis, restaram algumas cicatrizes. A bruxa procurou minimizá-las o máximo que pode, e eram apenas finas linhas sobre a pele, Não formavam palavras ou frases, mas eram um lembrete constante a Naruto sobre a dor que sentira, e a raiva que alimentara.

Mas, também eram um bom lembrete. Lembrava-o de Hinata.

A sonserina havia deixado-o naquela manhã, depois de passarem mais uma madrugada juntos. Naruto quis argumentar com as olheiras que começaram a se tornar sobressalentes embaixo de seus olhos, mas a garota foi inflexível, e permaneceu acordada até raiar o dia. Conversaram sobre coisas cotidianas, e sobre assuntos profundos. A cada conversa, Naruto sentia que descobria uma Hinata que ninguém mais conhecia, e sentia-se privilegiado. Quando estavam juntos, não havia rixas ou rivalidades. Não havia Casas. Apenas eles dois.

— Naruto! – o garoto foi chamado de volta pela realidade e parou sua procissão, levando uma das mãos a nuca.

— Ah, oi, Shion. – a loira era uma quintanista grifinória, e Naruto se lembrava dela de alguns dos treinos de Quadribol.

— Fiquei sabendo que você tinha saído da enfermaria! Fico feliz que está bem. – a loira tocou seu braço e Naruto sentiu um choque. Disfarçadamente, deu um passo para trás, estabelecendo uma distância segura.

— Pois é, Madame Chiyo fez um ótimo trabalho. – sorriu sem graça, enquanto sentia os olhares dos amigos perfurarem suas costas.

— Então, eu queria perguntar uma coisa. – Naruto viu o rosto da mais nova corar – Esse fim de semana tem a visita à Hogsmead, e sabe, eu queria saber se você não quer ir comigo. – ela encarava seus sapatos, envergonhada, e Naruto travou, congelado. Seu cérebro não conseguia pensar em nenhuma desculpa decente. Tudo que conseguia visualizar era uma certa sonserina, e foi isso que o salvou.

— Poxa, Shion, eu adoraria, mas a Hyuuga me colocou na detenção, e me proibiu de ir à Hogsmead por um mês. – tentou fazer sua melhor cara de chateado, e a loira murchou.

— Que merda! Sonserina ridícula. – resmungou, mordendo a bochecha, e Naruto não expressou reação – Deixa para a próxima então. Tchau! – saiu rapidamente, dando as costas, e, assim que a garota virou o corredor, Naruto foi atacado por seus amigos de todos os lados.

— Cara, você está louco? É a Shion! Ela é, tipo, supergostosa! – Kiba reclamou. O grifinório tentava sair com a quintanista há meses.

— Menos, Kiba. – Sakura reclamou, revirando os olhos – Mas ele está certo, Naruto. Você nunca recusou sair com uma garota igual a Shion! – a garota o fitou com seus olhos de águia, e Naruto engoliu em seco.

— Eu falei a verdade! – lutou para não gaguejar – Hyuuga me colocou na observação e a Tsunade vai me matar se eu sair do castelo. – por ser verdade, não teve problemas em encenar, e os amigos pareceram aceitar suas desculpas.

Naruto voltou a andar, aliviado. De repente, sentia-se mais animado ao lembrar que quase todos os alunos estariam fora no fim de semana, ocupados no vilarejo. Sua mente voltou a trabalhar tão rápido quanto antes, planejando seus próximos passos.

 

Hinata estava se segurando para não amaldiçoar ninguém, embora estivesse sendo muito difícil se controlar. Estava sentada, reunida com um grupo de idiotas que só a faziam perder seu tempo. Ao seu lado, Gaara não parecia muito mais calmo, e apenas Sasuke mantinha a mesma expressão indiferente, mas Hinata o viu puxar sua varinha para o colo. Estavam naquela sala havia alguns minutos já, e nada fora decidido até aquele momento. A morena estava impaciente, e sua cabeça não ajudava, levando-a para longe dali, quando deveria estar se concentrando.

— Eu não quero saber, Wagarashi, você estava responsável por isso. Sabia que precisávamos do sinal.

— Cala a porra da boca, Ryu, você é um nada aqui dentro. – o outro garoto retrucou. Seus punhos se fecharam sobre a mesa, e eram punhos grandes. A maioria dos garotos que estavam ali detinham mais músculos que massa cerebral, mas força bruta era essencial para a operação dar certo.

— Não adianta ficar discutindo por pouca coisa. Já está feito. – Neji quem falou, e todos instantaneamente se calaram, ouvindo-o. Era influente ali dentro, e Hinata quis vomitar – Precisamos ficar atentos para o que o velho irá fazer. Ele está começando a suspeitar de nós. – uma veia saltou em sua testa e ele parecia frustrado.

— Nossa Casa é suspeita por mais da metade das merdas que acontecem em Hogwarts. – outro sonserino falou, Taketori.

— Mas dessa vez é diferente. – Sasuke resolveu se pronunciar, e, tal como Neji, as pessoas temiam-no – Falhas podem colocar tudo a perder. Demoramos anos para nos infiltrar direito. – apontou, prático – Acredito que o primeiro passo deveria ser a Reunião. Não podemos continuar com essa bagunça. – Hinata sabia o que “a Reunião” significava, e não ficou mais aliviada com isso.

— Não depende de nós. – Gaara respondeu, suspirando – Além disso, ele acha que está muito cedo.

— Era muito cedo para atacar o sangue-ruim, mas isso não impediu ninguém. – alguém falou do fundo, e Hinata bufou com as narinas. Ninguém se atreveu a olhá-la, mas sentiu Neji a fitando de relance, rapidamente, antes de continuar.

— Tudo bem, todos concordamos que a Reunião precisa ser feita. Vou comunicar os outros. Acredito que será nessas férias. E então saberemos em quem podemos confiar. – Neji finalizou, e os alunos começaram a se levantar, dispersando-se.

Hinata não estava pronta, mas ela não podia dizer aquilo. As paredes tinham ouvidos poderosos, e qualquer passo em falso chegaria ao conhecimento do seu pai. Ela não poderia se dar a esse luxo. Já estava suportando tudo aquilo. Estava quase chegando a hora. Só de pensar, seu estômago embrulhava. Gaara apertou seu ombro quando passou por ela, e trocaram um olhar carregado antes de se separarem.

A Hyuuga se livrou dos garotos imbecis e seguiu, sozinha, pelo lado contrário. Precisava andar, arejar a cabeça. Como se não bastasse os sonserinos idiotas, ainda preocupava-se com o grifinório, que não via há alguns dias. Não conseguiam encontrar-se sozinhos, e levantariam suspeitas caso fossem pegos por alguém. Não podiam arriscar. Hinata não gostava do jeito que estava se envolvendo. Sabia que aquilo acabaria mal. Seria inevitável. Restava saber se, na hora, ela teria coragem de escolher o lado oposto ao dele.

Hinata se assustou quando uma coruja pousou em seu ombro. Observou um bilhete preso na pata do animal de pelugem marrom, e desamarrou o barbante. Acariciou o bico da ave e a afastou, vendo-a abrir as asas e voar de volta para o Corujal, na Torre do lado externo. Abriu o pergaminho, que continha apenas algumas palavras escritas com uma letra elegante.

Sábado.

Oito horas.

Sala Precisa.

Pense no bilhete.

p.s. Pense em mim também.

Hinata sorriu de maneira que consideraria ridícula. Permaneceu encarando o bilhete por alguns minutos, até que a tinta começou a esvaecer até desaparecer por completo. A garota suspirou, admitindo que havia sido uma ideia brilhante colocar um feitiço de tempo. Não tinha assinatura, mas a garota tinha um bom palpite de quem tinha mandado, e seu rosto não deixou de ficar quente. Sentiu-se estúpida, mas algo em seu peito se aqueceu. Conhecia muito bem a Sala Precisa, e, quaisquer que fossem as surpresas que o grifinório estivesse planejando, Hinata sentiu-se ansiosa para descobrir.

Guardou o pergaminho, agora em branco, no bolso, e continuou seu caminho, achando o dia muito mais bonito do que antes.

O sábado demorou para chegar, e a sonserina já se encontrava em um estado de pura inquietação, e nem mesmo Gaara estava aguentando-a. Os amigos não tinham conhecimento o que tinha acontecido na enfermaria – em nenhum dos vários dias –, mas desconfiavam de algo, deixando a Hyuuga ainda mais nervosa, por estar sendo interrogada tantas vezes, o que a obrigou a se manter no dormitório mais tempo do que realmente gostaria.

Naquela manhã, Hinata acordou antes do planejado, mas as camas de suas colegas já estavam vazias. A tranquilidade que reinava na Sala Comunal a deixou instantaneamente de bom humor. Isso, somado ao pequeno compromisso que tinha dali alguns minutos, fez com que Hinata estivesse quase radiante, o que, definitivamente, era raro. Após suas higienes básicas, a garota foi tomada pelo costumeiro nervosismo pré-encontro – não que ela estivesse considerando um encontro ou algo do gênero –. Já saíra algumas vezes com garotos da Sonserina, mas não suportou sequer um dia com eles. Era exigente, e cansava-se rapidamente da companhia de certas pessoas, tornando-se uma pessoa ainda mais difícil de agradar. Naquele momento, estava sentada na cama, com as pernas tremendo. Visualizou todas as roupas que tinha, tentando optar por algo sofisticado, mas que não demonstrasse desespero.

No final, acabou escolhendo uma das opções menos ruins. O clima estava agradável, embora o sol não tivesse despontado entre as nuvens pesadas que se formavam acima do castelo. Hinata ficou satisfeita por poder usar sua meia-calça mais grossa, e estava alegre por ter encontrado sua blusa de alças. Saiu das masmorras, caminhando rapidamente. Não encontrou ninguém pelo caminho, o que foi um bom sinal. Chegou ao corredor da Sala Precisa e passou três vezes em frente a grande parede, pensando com todas suas forças no bilhete que recebera e nas íris azuis. Na terceira volta, uma porta se materializou. Era pequena, e Hinata segurou sua maçaneta com insegurança. Respirou fundo antes de abrir.

Naruto escutou a movimentação e limpou o suor das palmas na calça pela segunda vez naquele minuto. Mexeu no cabelo, andando em círculos, checando se estava tudo certo. Não tinha necessidade de todo aquela aflição – a Sala Precisa forneceria tudo que precisassem –, mas o loiro queria certificar-se de que tudo saíra como planejado. Fora difícil convencer aos amigos a irem à Hogsmead sem ele, e mais difícil ainda fugir deles para montar a Sala ao longo da semana. Queria que tudo fosse perfeito.

Quando Hinata entrou, o loiro parou no centro, encarando-a com expectativa. A Hyuuga fechou a porta atrás de si, ouvindo-a desaparecer, e tentou disfarçar o nervosismo estampado em seu rosto.

A primeira coisa que Hinata notou era que Naruto estava de pé. Nos dias em que se encontraram, Naruto ficava sempre deitado, e Hinata não pode vê-lo levantado. Surpreendeu-se ao ver que o garoto era mais alto que ela um bom palmo. À luz, a sonserina reparou em detalhes que passaram despercebidos antes. Notou como sua pele era bronzeada, e como seu cabelo caía bagunçado por seus olhos. Reparou nos ombros eretos e largos, e em como o suéter que o garoto vestia valorizava seu porte físico, com as mangas dobradas, revelando um antebraço rígido. A garota corou, e Naruto a encarou confuso, vendo-a ficar vermelha de uma hora para outra.

Hinata se aproximou lentamente, com medo de cair. Sentia-se tapada por estar daquela maneira tola, tremendo, agitada, temerosa. Não era ela. Queria ser de novo a garota confiante e que se impunha, mas, apenas de estar na presença do grifinório, toda sua pose era tomada, deixando-a naquele estado deplorável.

Caminhou até ficar frente a frente com o loiro, que a olhou nos olhos, sem rodeios. Quando as orbes azuladas pousaram sobre ela, Hinata sentiu que ela estava lendo todos seus segredos. Era um azul calmo, com o oceano em um bom dia. Era maresia, tranquilidade, e, ao mesmo tempo, continha uma determinação assustadora. Hinata não era capaz de lidar com aqueles sentimentos tão diretos e intensos. Ela não conhecia as fórmulas, ela não dominava os próximos passos. Era assustador, mas de um jeito bom.

Naruto a observou da cabeça aos pés em questão de segundos, memorizando cada detalhe. Era singular vê-la no claro, em um espaço aberto. Já a vira tantas vezes, mas era diferente. Sentia-se diferente. Gravou a maneira que seu cabelo descia por suas costas, liso, e como a franja tocava suas sobrancelhas. Gravou seu conjunto de roupas escuras, que modelavam seu corpo, deixando-a tão bonita. Gravou suas mãos entrelaçadas junto ao corpo, e seus olhos, pérola. Claros, leitosos, encarando-o confusos e apreensivos. Naruto sorriu. Um sorriso calmo, largo. Hinata viu aquele sorriso se abrir, e sentiu-se instantaneamente mais calma. Arriscou sorrir de lado, sem dizer nada.

— Bom dia. – a voz do loiro era grossa, fazendo com que Hinata sentisse a nuca se arrepiar.

— Bom dia. – por sorte não gaguejou. Permanecerem um de frente para o outro, sem se tocar.

— Espero que goste do que eu planejei!

Hinata olhou em volta, reparando no lugar pela primeira vez. Lutou para manter a boca fechada, maravilhada. A sala estava toda decorada com pequenas luminárias, que a garota não soube dizer se eram mágicas ou não. Uma lareira estava acesa, deixando o ambiente agradavelmente quente. Almofadas espalhadas por todos os lados, grandes, pequenas. No centro, o mais impressionante: uma grande toalha esticada, com inúmeras comidas em cima. A Hyuuga nunca tinha visto tantos tipos de comidas diferentes, mesmo nas refeições no Salão Principal. Doces, salgados, frutas, suco. Notou uma caixa de morangos silvestres, e sentiu o coração aquecer, porque comentara com Naruto que eram seus preferidos.

Voltou-se para o loiro, muito mais tranquila do que quando entrara. Naruto reparou que sua aura mudou, e também relaxou.

— Vem, senta. – o garoto apontou, e puxou algumas almofadas confortáveis para eles – Como é de manhã, trouxe algumas coisas para o café, e outras coisas que eu gosto. – parecia encabulado, e Hinata achou fofo a maneira que ele falava, explicando-se – Sei que é de cedo, mas queria passar o dia com você, o quanto eu pudesse. – corou, envergonhado, mas Hinata se sentou, olhando-o com genuína felicidade.

— Está tudo ótimo. Obrigada. – Naruto sorriu de volta, a expressão suavizada.

Começaram a comer pelas torradas. Naruto ofereceu uma mistura especial de caramelo, que Hinata concluiu ser sua nova comida favorita, fazendo o garoto rir mais. Começaram muitos doces, dos mais variados tipos, que Hinata suspeito terem sido contrabandeados da Dedosdemel. Quando ficaram devidamente satisfeitos, sentaram-se um ao lado do outro, conversando. Entre eles o assunto parecia não se esgotar. Discutiam sobre coisas que concordavam, que discordavam. Hinata descobriu que Naruto era, de fato, muito inteligente, e tinha opiniões muito maduras sobre a maioria das coisas. O tempo passou sem que percebessem, e a companhia um do outro era agradável.

— Confesso que fiquei um pouco nervoso. – Naruto disse, torcendo os dedos.

— Por que? – a garota o encarou, confusa, achando graça na sua inquietação.

— Achei que não viria. – admitiu, envergonhado.

— Ora, por que eu faria isso? – Hinata replicou. Em sua cabeça, era mais que óbvio que ela aceitaria o convite. Óbvio até mais do que gostaria.

— Não sei. – Naruto sentiu-se um idiota – As vezes eu acho que minha mente imaginou todas essas coisas. Você, eu... – gesticulou entre eles, e Hinata não pode segurar o riso.

— Está querendo dizer que eu sou, como dizem? Muita areia para o seu caminhãozinho? – zombou, utilizando uma das expressões que o nascido-trouxa lhe ensinara, e Naruto resmungou, arrependido de tê-la ensinado – Naruto, algum dia você vai se convencer de que eu estou aqui porque eu quero estar. – a garota rolou os olhos, se arrastando para mais perto. Estavam próximos. Suas mãos quase se tocavam, e Naruto conseguia ver as pequenas manchas ao redor dos olhos da Hyuuga.

Ficaram em silêncio, se encarando. Hinata não conseguia desviar, por mais que quisesse. Seu estômago começou a se pronunciar, e suas pernas tremelicaram. Ela encarava aqueles olhos penetrantes, mas também conseguia ver os detalhes de seu rosto. A simetria era fascinante. Naruto era muito bonito.

— Eu espero que você não fique brava com o que eu vou fazer agora. – Naruto sussurrou, tão baixo que Hinata poderia não ter ouvido. Mas ela ouviu. Claramente. E apenas assentiu.

Naruto se inclinou devagar, atento a todos os movimentos. De repente, a atmosfera parecia mais densa, e qualquer atrito causaria uma descarga elétrica. O Uzumaki estava atento em Hinata, que fechou os olhos, subitamente confiante no que estava fazendo. Era o sinal que Naruto precisava. Também fechando os seus, separou a distância que, naquele momento, era mínima.

Os lábios se chocaram sem cerimônia. Era um beijo cuidadoso, mas que fora esperado por muito tempo. Era ainda melhor do que Naruto se lembrava. A maciez, a umidade. Não sabia que sentira tanta falta daquilo até aquele instante. Hinata, por outro lado, estava atordoada. Não conseguia pensar em mais nada, a não ser ali, no que estava acontecendo. Na boca contra a sua. Muito tempo pareceu ter se passado, até que Hinata tirou as mãos do chão e levou-se diretamente para a nuca de Naruto. O garoto, surpreso, abraçou-a pela cintura, puxando-a até que ela se chocasse contra seu peito em um abraço de ferro – mas Hinata sequer percebeu –. As bocas se entreabriram, e as línguas se encontraram, causando uma onda de eletrochoque que percorreu a ambos. Começaram afoitos, desordenados, mas, aos poucos, se acalmaram, encaixando-se um no outro, e o beijo tomou um ritmo gostoso. Naruto percebeu que jamais sentira aquilo antes. A língua de Hinata contra a sua era uma sensação inebriante, desigual de tudo que já sentira antes. Era macia, e tinha gosto doce. Entrelaçava-se na sua como quem espera tomar o comando, e Naruto entregou sem lutar. Gostou de ser conduzido por Hinata.

A garota apertava sua nuca, por vezes emaranhando seus dedos contra os fios e puxando-os suavemente, fazendo Naruto soltar pequenos suspiros durante o beijo. O garoto dividia-se entre sua cintura e suas costas, espalmando-a e puxando-a contra seu corpo o máximo que conseguia. Começaram a perder o ar, mas nenhum dos dois queria quebrar o contato. Por fim, Hinata separou o encaixa, mantendo os olhos fechado e a respiração ofegante. Naruto não estava muito distinto. Colou suas testas, os narizes quase se tocando. Parecia impossível se separarem, tão colados quanto o viável.

Não saberiam dizer onde estavam, mas não importava. Nada importava. Hinata sentiu o último dos muros se desfazendo dentro de si, e algo nela se acendeu. Queimava, a ponto de doer, mas ela ansiava por aquilo. Era como se toda sua vida estivesse preparando-a para aquele momento. Era como se eles já se pertencessem, porque não havia outra maneira de ser.

Não disseram nada, porém palavras não eram necessárias. Permaneceram abraçados, com os pulmões ardendo. Passados alguns segundos, foi Hinata quem se aproximou, dando início a um novo beijo, calmo e tranquilo. Era lento, gradual. Descobriam-se em um novo toque, uma nova necessidade. Acomodaram-se entre as almofadas, sem se separar em algum momento. Tornou-se indispensável, mais que oxigênio. O medo se dissipou, e estavam em brasa. Não pensavam em nada. No que aquilo significava. No que seria do futuro. Em seus amigos, familiares. Em suas Casas. Sequer em como estavam se sentindo. Nada. Era simples. Apenas Naruto e Hinata. Sem sobrenomes, sem títulos, sem passado.

Sem Sonserina e Grifinória.

Eram somente eles, e, de alguma maneira, nada parecia mais certo do que aquilo.


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