A M O N G U S escrita por Ero Hime


Capítulo 8
C H A N C E T O U S


Notas iniciais do capítulo

O apoio que eu recebi no capítulo passado foi simplesmente incrível! Eu nem tenho como agradecer todos os comentários e elogios, de verdade. É fantástico estar escrevendo algo que as pessoas gostem, e acompanhem, e torçam por. Muito obrigada, por todos que leem, comentam e separem um tempo para ler a fic.
Aproveitem minha inspiração repentina e minha animação para escrever. Especialmente dedicado a (sem maiores surpresas) Bruninhazinha, que postou uma one MARAVILHOSA ontem, confiram!
Para os ansiosas de plantão, o próximo capítulo vai ter o que todos estão esperando desde o começo. Espero que gostem!



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São tempos sombrios, não há como negar. Nosso mundo jamais enfrentou ameaça maior que a que enfrenta hoje.

Ou sobre o que se aproxima, e a importância de novos aliados

 

Hinata já entrara no escritório de Hiruzen antes, mas, sendo sincera, nunca parou para analisar a decoração exótica do diretor. Havia muitos quadros – muitos quadros –, diretores antigos, paisagens barulhentas e fantasmas importantes da História da Magia preenchiam as paredes de cantos arredondados, enquanto prateleiras flutuantes continham os mais diferentes e inusitados itens mágicos. O Chapéu Seletor permanecia adormecida na prateleira mais alta, no canto, ao lado de um par de bota surrada. Frascos, cristais, recipientes de vários tamanhos, centenas de livros, eram apenas alguns dos objetos que compunham a sala. A mesa no centro, após a Gárgula, estava vazia, mas mantinha alguns papéis presos embaixo de um peso mágico.

A Hyuuga desejou ter reparado antes – naquele momento, ela estava sedada, sob o efeito de uma forte poção revitalizadora, dada pelo diretor instantes antes dele sair. Hinata lembrava-se de ter visto o velho com um pijama prateado, mas suas pálpebras começaram a pesar e sua cabeça girava, não deixando-a certa do que era realidade ou fantasia. Sentada em uma das cadeiras da mesa do centro, a garota lutava para permanecer acordada. Seus instintos estavam em alerta, e o aperto que sentia no peito tampouco deixara-a, mas seus pensamentos estavam confusos, como milhares de zonzóbulos permeando-os. Apoiou a cabeça com uma das mãos, piscando lentamente. Embora sedada, sabia que os ferimentos em sua costela haviam sido curados. A Haruno fora particularmente precisa quando lançou o feitiço para afastar Hinata.

Enquanto esperava notícias, Hinata desejou estar na enfermaria. Sentia-se ansiosa, e as imagens do corpo estirado do grifinório deixavam-na perturbada. Conseguia sentir o efeito da poção lutando contra seus nervos, obrigando-a a se acalmar, mas era impossível. Todas aquelas marcas, as cicatrizes, o sangue seco em seu torso, seu rosto desfigurado. Hinata desejou uma poção de esquecimento. Seu coração falhou uma batida, e ela pendurava-se a beira de um precipício de culpa e arrependimento, ao mesmo tempo que seu orgulho a segurava, não permitindo que ela se entregasse totalmente.

Passou meses – anos! – negando a si mesma quaisquer resquícios de sentimento. Suportou todas as pontadas, todas as caretas de decepção, todas as acusações. Foi fria, calculista, ignorou com primazia todas as investidas. Hinata não era totalmente insensível – sabia que sua fama lhe precedia, e era quem era, uma sonserina, mas ela tinha coração, e, raios, ela não era estúpida –. Entretanto, também conhecia suas responsabilidades, e, tal qual o lema da sua Casa, a lealdade era algo que prezava. Presa naquela encruzilhada, tinha a sensação de ser puxada para várias direções, despedaçada. Sua razão conseguiria superar suas emoções, quando o momento chegasse?

Ouviu passos, obrigou-se a prestar atenção, mas sua vista estava turva, e precisou apoiar-se para não tombar para frente. Avistou, no entanto, cerca de quatro ou cinco pessoas que adentravam o escritório, conversando em voz baixa. O ambiente, outrora silencioso, foi preenchido com inúmeras vozes e conversas altas. Os quadros haviam acordado e questionavam, entre si, qual a gravidade da situação. Hinata achou o barulho incômodo, e, se conseguisse falar, teria dito para todos se calarem.

— Ah, senhorita Hyuuga. – a garota escutou a voz inconfundível de Hiruzen, que se aproximou arrastando seu pijama pelo chão, com o costumeiro cachimbo em sua boca. Hinata esforçou-se para levantar, mas, tonta, caiu novamente – Não se incomode, minha cara. Tsunade, poderia cuidar da senhorita Hyuuga? Acredito que o efeito da poção curativa já tenha agido com o efeito necessário.

Hinata distinguiu o vulto da diretora da Grifinória a sua frente, puxando seu lábio inferior e abrindo sua boca, o suficiente para colocar uma pequena pílula embaixo da sua língua. Tinha um gosto azedo, mas Hinata sentiu-se imediatamente desperta. Sua mente clareou e seus olhos focalizaram. Sentou-se com a postura ereta, e seus membros não latejavam mais. Sentiu apenas um pequeno formigamento da língua, mas estava mais desperta do que antes.

Olhou em volta, e avistou os professores de Hogwarts. Além do diretor e da professora Tsunade, identificou também os diretores da Corvinal e da Lufa-Lufa, e o professor Kakashi, de Defesa Contra as Artes das Trevas. Os professores reuniam-se próximos ao diretor, sem lhe dar atenção, e, pelas vestes, também haviam sido retirados da cama.

O barulho não prolongou-se por muito tempo. O diretor ergueu uma das mãos, ornamentada com um curioso anel, e todos se calaram, olhando-o com expectativa. Hinata atentou-se, permanecendo sentada, à vista dos professores. Hiruzen fitou-se inexpressivo, com os óculos meia-lua pendurados em seu pescoço.

— Diretor, isso é inaceitável. – professora Kurenai, da Lufa-Lufa, foi a primeira a se pronunciar, evitando encarar Hinata – Um aluno foi atacado nas dependências da escola. Os responsáveis devem ser expulsos, para dizer o mínimo!

— Minha cara, os responsáveis não foram localizados ainda. – Hinata podia jurar que viu um lampejo nos olhos do diretor, mas permaneceu com a cabeça baixa. Ela sabia quem eram os responsáveis, ao menos o principal deles. Mas sua garganta tinha um bolo, dolorido.

— Como não! – a professora retrucou, desta vez os olhos voltando-se para a sonserina sentada abaixo deles, e redirecionando com a mesma rapidez. O silêncio se instalou por alguns segundos, e até mesmo os quadros esperavam, com expectativa.

— Não acusaremos ninguém dentro da escola. – o tom de voz do diretor era sério e determinado – Faremos uma investigação sobre o caso, e dobraremos a segurança nos corredores. Não deixaremos que a situação se repita. Hogwarts é para ser segura e acolhedora aos alunos. Sua única preocupação é estudar. – não houve respostas.

— O que ela está fazendo aqui? – o professor Kakashi perguntou, por fim. Não dissera seu nome, mas Hinata soube que se referia a ela.

— A senhorita Hyuuga salvou a vida do senhor Uzumaki, e era a única monitora em trabalho esta noite. – a única? — Contaremos com sua inteira colaboração para localizarmos os responsáveis, e aplicarmos as devidas punições. – os olhos azuis intensos pousaram sobre seu rosto, e Hinata assentiu, encabulada. Felicidade não era o sentimento predominante nos rostos dos professores presentes, mas ninguém contrariou sua decisão.

Repentinamente, desejou saber como o Uzumaki estava. Não havia tido notícias desde que foi encaminhada para a sala do diretor por madame Chiyo, e, certamente, não seria permitida visitá-lo – de uma maneira ou outra –. Sentiu o peito se apertar, e não estava acostumada com aquela sensação angustiante.

— Senhorita Hyuuga, pedirei para que nos ceda sua memória desta noite. Iremos analisá-la para solucionarmos este quebra-cabeça o mais rápido possível. – Hinata congelou.

Não podia ceder suas memórias. Haviam segredos, pensamentos ocultos, lembranças que condenariam não somente seu próprio primo, como também grande parte dos alunos da Sonserina – e, como se não fosse o suficiente, Hinata ainda se deu o luxo de envergonhar-se de determinados pensamentos inadequados quanto a certo grifinório –. Hiruzen percebeu a hesitação da garota, e complementou, fitando-a com intensidade:

— Fique tranquila. Somente iremos ver as lembranças que a senhorita nos permitir. Peço apenas as memórias desta noite, um pouco antes de encontrar o senhor Uzumaki. – a garota assentiu, respirando fundo.

O diretor entregou sua varinha, que não lembrava onde tinha deixado. Segurou-a com firmeza e aproximou de sua cabeça, quase rente às têmporas. Mentalizou suas memórias, desde o momento em que saíra para a ronda, o barulho inaudível que identificara atrás da porta, seus pensamentos confusos. Ocultou, propositalmente, o desespero escancarado ao identificar o aluno ferido, e a cena na enfermaria. No entanto, incluiu o momento em que a professora Tsunade entrou junto dos demais grifinórios. Silenciosamente, puxou a varinha devagar, e viu o pequeno fio prateado escorrer, sem resistência, pairando na ponta. O diretor adiantou-se, aproximando o frasco de vidro, e Hinata depositou a memória dentro.

— Muito agradecido. – o diretor guardou a lembrança em suas vestes – Agora, a madame Chiyo está esperando pela senhorita. Ela irá levá-la até seu dormitório, e irá lhe entregar uma poção relaxante que irá ajudá-la a dormir. Eu e os outros professores temos muito que discutir. – seu sorriso era morno, e Hinata, um tanto atordoada, assentiu, sem nada dizer. Levantou-se com cuidado, para não tropeçar, e caminhou até a porta. Escutou, de relance, antes de sair, os professores iniciando um novo debate. No entanto, não foi capaz de ouvir o que falavam. No fundo, pensou que não precisava adivinhar.

A enfermeira-bruxa aguardava a garota quando ela desceu as escadas da Gárgula. Tinha a feição preocupada, e fez questão que a garota comesse um pedaço de sapo de chocolate antes de acompanhá-la até as masmorras. Hinata aceitou de bom grado. Quando o doce derreteu em sua boca, sentiu-se muito mais leve e aquecida. Talvez tudo que precisasse fosse um bom banho e uma longa noite de sono – isto é, se conseguisse pregar os olhos –.

Chegaram na entrada da Casa, e Hinata agradeceu polidamente que Chiyo tivesse lhe acompanhado. Respirou fundo antes de entrar. Era tarde da noite, talvez duas ou três da manhã. Seu corpo estava pesado, e seu pescoço doía com a tensão. Ao entrar, imaginou que o Salão Comunal estaria vazio. Seus olhos correram pela sala decorada com tons escuros de verde e preto, e a lareira trepidante estava acesa, com suas chamas esmeraldas. A garota, porém, avistou três pessoas aglomeradas na poltrona, as vozes baixas ecoando em sussurros. Viraram-se para a entrada, e então, os olhos perolados se cruzaram.

Hinata sentiu algo subir por sua coluna. Era quente e esmagador. Seus olhos cegaram-se, e suas mãos se fecharam em punhos. Seus pensamentos, subitamente, enevoaram, e sua mente, agora vazia, parecia ter sido ocupada com flamas avermelhadas, instigando-a. A Hyuuga sentira raiva muitas vezes em sua vida – mais do que seria capaz de contar –, mas, naquele momento, era diferente. Era um ódio, puro e simples, que tomava conta de seus nervos. Era cólera, do âmago, que movimentava. Fitou o par de olhos iguais aos seus, e tudo a sua volta estava um tanto embaçado. O outro, sentado no meio, com pose de rei, a olhava com um sorriso irônico.

Tudo aconteceu em um piscar de olhos. Foram precisos três segundos para que Hinata cruzasse a sala com varinha em mãos. Os dois capangas que o acompanhavam não tiveram chance de reação. Ao perceber o que estava acontecendo, a garota já estava com a varinha rente ao pescoço do Hyuuga, encarando-o, furiosa. Suas narinas subiam e desciam, e havia uma veia saliente próxima a sua sobrancelha. A varinha estava ameaçadoramente posicionada, mas Neji não pareceu sequer piscar. Continuou encarando firmemente a prima com o mesmo ar superior.

— Você quase o matou. – sibilou a morena, a voz ríspida e cortante. Os dois garotos de fora entreolharam-se, concordando, silenciosamente, que não deveriam se meter em uma briga entre os Hyuuga.

— E você está defendendo um sangue-ruim. – retrucou Neji – Quem de nós está errado? – ergueu uma sobrancelha, parecendo se divertir. Hinata grunhiu, apertando mais a ponta da varinha em seu pescoço

— Não tinha o direito! – sussurrou, irritada – Chamando atenção, cometendo erros, fazendo merda. Poderia ter sido descoberto. Poderia ter posto tudo a perder! – seu peito subia e descia descompassadamente.

— Ora, priminha, você não deletaria seu único primo. – zombou Neji. Hinata soltou uma lufada pesada de ar, retirando a varinha de súbito e se afastando, tentando se acalmar – A situação está sob controle. Não seremos descobertos.

— Vocês estão por um fio. Pôs tudo a perder! – acusou novamente – Está muito cedo!

— Hinata. – pela primeira vez, Neji soou sério. Seus olhos faiscaram, e sua voz era profunda – Você não está entendendo. Recebemos o sinal. Já começou.

A garota parou, atônita. Toda a raiva que tomara seu corpo esvaiu-se de uma vez, deixando-a subitamente cansada. Deu dois passos para trás, desequilibrada. Então, virou as costas, e subiu até seu dormitório, confusa. Era como receber uma azaração de desarmar, deixando-a desprotegida. Pela janela, avistou o fundo do Lago da Lula Gigante, escuro, coberto de algas. Era de madrugada, e não havia dormido. Seu corpo latejava, entrando e saindo do efeito de poções. Sua mente apenas não estava funcionando mais. Ela havia passado por muita coisa em tão pouco tempo.

Chegou a sua cama, e estava desarrumada, da mesma maneira que deixou quando saiu para a ronda. Sentou-se na borda, ainda em estado de choque. Ela ouvira direito? Não sabia mais o que era realidade. Parecia estar em um constante sonho. Sentia-se cansada. Deitou, sem forças para sequer tomar um banho. Deitada de lado, seus olhos não pregaram. Permaneceram abertos, encarando o dossel ao lado, de uma de suas colegas. Sentiu inveja por ela estar dormindo. Hinata queria dormir.

Já começou.

Era cedo demais. Cedo demais. Precipitado demais. Não podia estar acontecendo ainda.

Hinata não estava preparada. Ela queria dormir.

Finalmente, começou a fechar os olhos, e agradeceu pelo cansaço. Sua mente, livre da imagem de Neji, voou para longe, para o garoto loiro de olhos azuis. Desejou vê-lo. Seu último pensamento antes de apagar foi que queria ter uma capa de invisibilidade para ir visitá-lo, longe de tudo, longe de todos. Hinata teria muito tempo para suas lutas internas. Com um último suspiro, dormiu.

 

Seu olho piscou algumas vezes, acostumando com a claridade. Era estranhamento claro e branco onde estava. O colchão era duro, e estava com calor. Acima de tudo, estava dolorido. Naruto fitou o teto, confuso. Levou alguns minutos para identificar onde estava, mas, nem depois de se esforçar, não conseguiu fazer-se lembrar como fora parar ali. A enfermaria estava silenciosa, e clara. Parecia ser de manhã, mas o garoto não lembrava-se qual era o dia. Estava coberto com dois lençóis grossos, e, quando tentou mexer os braços para afastá-lo, sentiu pontadas agudas, e fez uma careta, gemendo baixo. Não conseguiu ver, mas tudo queimava. Sentiu o rosto enfaixado, embora seus lábios formigassem. Tudo doía, como se tivesse sido atropelado por uma manada de centauros enfurecidos. Forçou-se um pouco mais, e alguns flashes apareceram.

Era confuso. Lembrou-se do corredor, escuro, e de capas. Lembrou-se das cordas e de ficar inconsciente. Não lembrou-se do que veio depois, mas reconheceu a dor, aguda e lancinante. Em seguida, tudo escureceu. Vozes. O que pareceu muito tempo depois, sentiu mãos macias, e tinha um cheiro bom. Lembrou-se claramente daquele rosto fitando-o com preocupação. Os soluços, a preocupação. Depois disso, nada. Não conseguia lembrar-se. As lacunas continuavam saltando, deixando-o irritado.

Seu estômago reclamou de fome, e, mesmo que quisesse se levantar, não conseguia. Parecia ter sido anestesiado totalmente, e sentia apenas a ponta dos dedos. Olhou para os lados, a muito custo, e surpreendeu-se ao ver Sakura dormindo em uma cadeira ao seu lado. Estava encostada de maneira desleixada, com um cobertor jogado sobre suas pernas. Naruto não entendeu porquê a amiga havia dormido na enfermaria.

— Senhor Uzumaki, vejo que já acordou. – madame Chiyo entrou, trazendo alguns frascos flutuando com sua varinha. O garoto assentiu minimamente, fazendo mais caretas – Não se esforce. O senhor passou por um processo muito doloroso de reconstituição corporal, um dos mais difíceis que eu já realizei. – suspirou – Fiz o melhor que pude, e os ferimentos mais graves foram curados com sucesso. Acredito que algumas cicatrizes restaram, mas futuramente o senhor poderá utilizar algumas pomadas mágicas feita por curandeiros húngaros. – a bruxa ajeitou a cama, tirando um dos lençóis e analisando seus curativos.

— O que... o que aconteceu? – o garoto perguntou, ainda mais confuso. Chiyo lhe fitou, surpresa, e sua face se tornou compreensiva.

— Acredito que o diretor virá conversar com o senhor logo, senhor Uzumaki. Descanse. Irei trazer algum desjejum para o senhor. – terminou de checá-lo e afastou-se – Sua amiga não saiu do seu lado em momento algum. – comentou.

— Há quanto tempo estou aqui? – sua voz se tornou alarmada.

— Cerca de um dia inteiro, senhor Uzumaki.

Um dia inteiro. O garoto sentiu sua cabeça rodar, atônito. O que tinha acontecido com ele? O que tinha sido capaz de deixá-lo com cicatrizes que nem mesmo Chiyo conseguira tratar? Um dia inteiro! Sakura havia dormido ao seu lado por todo esse tempo. Naruto sentiu-se enjoado. Queria saber o que estava acontecendo.

Teve lampejos em sua mente, e ouviu uma voz conhecida. Não conseguiu distinguir o que dizia, mas sabia que era ela. Acalmou-se um pouco. Hinata estava com ele, havia estado antes, havia cuidado dele. Ouvia sua voz ecoando dentro de seu ouvido, suave. Quase como um sonho – mas algo dentro de Naruto dizia que fora real –.

— Naruto? – o loiro acordou de seus devaneios com Sakura lhe chamando. A Haruno bocejou alto, e passou os dedos entre o cabelo para penteá-lo. Apesar do aspecto cansado, Sakura sorria largamente – Que bom que acordou! Você deu um susto e tanto na gente. – ralhou, se aproximando e sentando na borda da cama.

— Sakura. – Naruto resfolegou, aliviado – Sakura, o que está acontecendo? Onde está Hinata?

A rosada, outrora sorridente, substituiu a feição alegre por uma carranca. Crispou os lábios e soltou um grunhido, como se a simples menção daquele nome lhe causasse náuseas. Naruto não entendeu a reação. Apesar da rivalidade que cultivava com os sonserinos, Sakura quase sempre ficava de fora das brincadeiras e dos duelos.

— Aquela sonserina maldita. – resmungou – Fica tranquilo, Naruto. Eu dei um jeito, ela não vai mais te importunar. Pode ter certeza de que a professora Tsunade ficou sabendo e também vai tomar alguma atitude. – seu tom era orgulhoso, e Naruto ficou mais confuso ainda. O que ela queria dizer com “dei um jeito”? O que havia acontecido? Hinata realmente havia estado ali? Eram tantas perguntas que sua cabeça começou a latejar – Agora você precisa descansar. Logo o diretor vem para conversar com você. – tornou-se séria, quase preocupada. Seus olhos estavam nublados, e Naruto sentiu um arrepio na espinha, imaginando o que, de tão grave, estava acontecendo – Ele não quis falar para nós, e tampouco fez um pronunciamento para a escola, mas eu soube que estão todos comentando.

Naruto gostaria de saber que era o centro das atenções, novamente, mas não naquele momento. Seu estômago revirou, e ele não sabia se era de fome ou de nervosismo. Sua mente não conectou todas as informações de imediato, mas suas pernas formigavam, e ele sentiu algo que há tempos não sentia – talvez nunca o tivesse feito com tamanha intensidade –. Lembrou-se, então, de Tsunade avisando-o que as coisas não eram mais como antes.

— O que vai acontecer? – perguntou, com a voz falhando no final, e Sakura suspirou. Ela também parecia não ter a resposta.

— Eu não sei. Está tudo diferente. Como se... como se houvesse algo a mais. As cobras não estão mais falando com a gente, e alguns corvinos estão se bandeando para eles. – sua expressão era pensativa – Você acha que vai acontecer uma guerra? – sua voz baixou algumas oitavas, e Naruto não tinha parado para pensar naquilo. Não respondeu. Moveu seus olhos para frente, encarando as prateleiras repletas de poções. Seus pensamentos foram para longe, e, pela primeira vez, não sabia o que esperar.

A algumas salas dali, dois diretores conversavam, servindo-se de uma xícara fumegante de chá. A mulher preferia uma jarra forte de whisky de fogo, mas não negaria a oferta do Diretor. Algo em seu estômago também estava revirando, e ela não tinha certeza se uma bebida melhoraria ou pioraria a situação. Estava sem dormir há algumas horas, naquele momento, e sentia-se em alerta, embora seu corpo estivesse cansado. Mais um pouco, e teria de beber alguma de suas poções para permanecer firme. Não poderia se dar o luxo de perder tempo com algo tão trivial quanto dormir.

— Diretor, o senhor tem certeza disso? – perguntou, novamente, pela terceira ou quarta vez desde que chegara no escritório.

— Minha cara Tsunade, a sua falta de fé em mim é ultrajante. – o diretor replicou, bem-humorado, enquanto tomava sua xícara de chá com algumas gotículas de limão. Ambos sentaram-se nas poltronas ao sul da sala, e Tsunade não relaxou os ombros – Sei o que está pensando, mas o garoto não tem mais onze anos. Ele precisa saber da verdade, ou parte dela.

— Eu sei, mas... – parou, inquieta – Mas ele já passou por tanta coisa! Hogwarts deveria ser uma escola, um lugar onde os alunos pudessem se sentir seguros. – suspirou – Não imaginei que aconteceria tão cedo.

— Você está aqui há tanto tempo quanto eu, minha querida. – o diretor falava calmamente, e algo em sua aura tranquilizava as pessoas ao redor – Estava aqui, nesta mesma sala, comigo, quando ouvimos pela primeira vez. Esse tempo chegaria, não sabíamos quando, mas chegaria. Hogwarts deve contar com seus alunos para protegê-la.

— Mas revelar a verdade só causará mais pânico e brigas! – apontou a diretora.

— Certamente que não diremos toda a verdade, mas não podemos deixá-los na ignorância. Eles precisam estar preparados, e precisam se unir.

— Vai ser impossível. – a diretora da Grifinória suspirou – Eles nunca irão se unir. Orochimaru sequer participou da reunião. – sua voz continha uma pequena ponta de rancor, e o diretor Hiruzen soltou uma risada.

— Tsunade, eu conheço seu passado com Orochimaru, mas eu confio minha vida a ele. Talvez ele não tenha as mais nobres qualidades, mas sua lealdade está conosco. Ele me garantiu que irá se responsabilizar. – o diretor finalizou seu chá, e Tsunade grunhiu enquanto tomava mais um gole – Acredito que o senhor Uzumaki já deva ter acordado. Vamos.

Se levantaram, deixando as xícaras em cima da mesa, e estas desapareceram assim que passaram pela Gárgula. Caminharam lado a lado, silenciosamente, e Hiruzen arrumou suas vestes antes de empurrar as grandes portas da enfermaria. Avistou o Uzumaki e sua amiga, ambos acordados, e lhes dirigiu um sorriso morno.

Naruto se assustou quando ouviu as portas abrirem, e avistou a professora Tsunade e o diretor Hiruzen entrarem. Engoliu em seco, trocando um olhar desconfiado com Sakura. Os professores se aproximaram, e Tsunade parecia tensa.

— Como está, Naruto? – perguntou, chegando seus curativos e o efeito dos feitiços curadores.

— Estou melhor, professora. – garantiu o Uzumaki.

— Perfeitamente. Senhorita Haruno, creio que estão servindo deliciosas tortas de abóbora na cozinha. A senhora se importaria de ir até lá e buscar algumas para o senhor Uzumaki aqui? Creio que não demoraremos. – a garota entendeu que queriam conversar a sós, e assentiu, levantando-se. Trocou um último olhar com Naruto, que balançou a cabeça afirmativamente. A rosada saiu, encostando a porta. O silêncio se instalou por alguns segundos – Senhor Uzumaki, ficamos muito felizes que o senhor esteja se recuperando bem. – o diretor falou, polidamente, aproximando-se da cama.

— Professor, o que está acontecendo? – Naruto não aguentava mais esperar. Tsunade lhe fitou, e o garoto não soube reconhecer o brilho em seus olhos.

— Senhor Uzumaki, creio que não teremos uma conversa agradável. – o diretor suspirou, murmurando um accio e puxando duas cadeiras próximas da cama – O senhor foi atacado ontem, por três pessoas desconhecidas. – Naruto engoliu em seco, não dizendo nada – Foi torturado e os indivíduos marcaram-lhe com feitiços poderosos. – o garoto fechou os olhos por um instante, quase podendo reviver a dor – Sinto muito por isso. – ambos os professores lhe deram um minuto – Nós estamos procurando pelos responsáveis neste exato momento, o senhor pode ficar tranquilo. Seus amigos lhe fizeram companhia, e o senhor está a salvo aqui. – não era com a sua segurança que Naruto se perguntava. Apesar de saber o que tinha acontecido, ainda pairava no ar uma pergunta, a mais crucial delas – Naruto, o que vou lhe dizer não será fácil. – o garoto se surpreendeu quando o diretor lhe chamou pelo primeiro nome – O senhor é um bruxo inteligente, e creio que já sabe parte da situação. Bruxos das trevas estão atacando nascidos-trouxas.

Naruto prendeu a respiração, confuso e chocado. Sua cabeça latejou novamente, e ele não pode mover as mãos para apertar as laterais. Seus olhos desfocaram, e, de repente, as peças começaram a se encaixar. Em seus olhos, visualizava a todo momento a manchete do jornal trouxa que lera há alguns dias. Até o mundo trouxa já estava percebendo. Quantos dias se passaram, quantas mortes aconteceram, até que os trouxas percebessem? Não somente em Londres, mas em todo mundo. Naruto sentiu-se enjoado, mas não tinha comido nada ainda. Tsunade lhe olhou com compaixão e compreensão.

— Sei que é duro para o senhor ouvir isso, sendo um nascido-trouxa. – o diretor falou com cuidado – O senhor foi o primeiro aluno a ser atacado dentro da escola. Não mentirei dizendo que não esperávamos pelo ataque, mas aconteceu mais cedo do que prevíamos, e pedimos desculpas por isso. Estamos nos preparando, e reforçando a segurança de nossos alunos. Localizaremos os responsáveis. – o diretor transmitia tal certeza e segurança que Naruto apenas assentiu. Seus ouvidos zumbiam.

— Quem... quem está fazendo isso? – Naruto não se referia a quem tinha o atacado, e os professores perceberam. Tsunade suspirou pesadamente.

— Bruxos das trevas. – respondeu a diretora – Bruxos que praticam as Artes das Trevas, conhecidos como Comensais da Morte.

Naruto nunca tinha ouvido falar nesses bruxos, mas não estava surpreso, ou com medo. Apenas sentiu um sentimento crescente de raiva. Bruxos matando pessoas inocentes. Praticantes das artes negras. Sentiu-se imponente. Ele queria ajudar aquelas pessoas.

— Não sabemos ainda a quem eles seguem. – Tsunade parou por alguns segundos, hesitante – Mas são essas as informações que temos no momento. Aurores do mundo todo estão se reunindo para começar a controlar a situação. Nós iremos fazer um comunicado a todos os alunos, mas queríamos falar com você primeiro. – Naruto sentiu o peito se aquecer, e sorriu, ou tentou, com a parte do rosto que não estava inchada – Descanse. Voltarei para ver como o senhor está. – sorriu, e ela e o diretor se levantaram.

— Espere! – pediu Naruto, e ambos se voltaram – E Hinata? Digo, a Hyuuga. – seu rosto coraria, se pudesse, e Tsunade não deixou de dar um risinho.

— A senhorita Hyuuga salvou sua vida. Ela quem o encontrou e o trouxe até a enfermaria. – Naruto assentiu, sorrindo. Ele estava certo! – Ela não queria sair da enfermaria, mas... – a diretora parou, pensativa – Sabe, talvez seja melhor conversar com a senhorita Haruno sobre isso. – riu baixo, como se contasse uma piada interna – Até mais, Naruto.

Naruto acenou, com a expressão confusa. Não sabia o que a diretora quis dizer com aquilo, mas parte de si não se importou. A Hyuuga havia salvado sua vida – havia se importado o suficiente para acompanhá-lo, para ficar com ele na enfermaria –. Lembraria de perguntar à Sakura, mais tarde, o que Tsunade quis dizer quando citou seu nome. Mas, naquele momento, sentiu que quase valia a pena ser torturado por bruxos do mal, se fosse para finalmente ter uma chance com a sonserina.

 

Hinata acordou muitas horas depois, com a cabeça doendo. Seus olhos ardiam, e seu braço estava dormente, por ter dormido sem cima dele. Estava com as mesmas roupas da noite passada, e levou alguns minutos para perceber que a madrugada anterior não havia sido um mero sonho criativo que ela inventara. Com alguns resmungos, Hinata se levantou, e o quarto estava levemente iluminado, com os raios solares invadindo pelas margens do lago. As camas do dormitório estavam todas vazias, e a sonserina não se deu o trabalho de xingar por estar atrasada. Seu corpo estava pesado, e ela tinha tido uma péssima noite de sono, mesmo que tivesse dormido mais que deveria.

No banheiro, a água quente ajudou a relaxar suas juntas, e colocar roupas limpas melhorou seu estado de espírito. Já limpa e desperta, caminhou até o Salão Principal. Não tinha ideia de que horas eram, e estava confusa até mesmo sobre o dia, mas tinha um pressentimento de que algo estava para acontecer, principalmente depois do que acontecera.

Só de lembrar já sentia a raiva tomar conta de suas células. Se pudesse, torturaria Neji com um Crucio muito bem-dado, mas não podia agir, não sem ordens. Já estava começando. Muito mais cedo do que previra, do que se programara. Acreditava que nem mesmo o grupo infiltrado havia sido avisado do ataque da noite anterior. Ninguém estava preparado, e, agora, estavam expostos.

Respirou fundo. O corredor estava vazio. Ajeitou a camiseta e a gravata, afrouxando-a no pescoço, antes de entrar. Poucos olhares se voltaram para ela, mas, tão rapidamente quanto, voltaram-se para frente, desviando. A garota caminhou com a cabeça erguida até sua mesa, e sentou-se perto de Gaara. Sasuke não estava com ele. O ruivo a olhou preocupado, e Hinata moveu os lábios silenciosamente, dizendo que depois conversariam. O garoto assentiu, e voltou-se para frente. Todos os professores estavam em pé, e o diretor Hiruzen estava no púlpito, esperando para falar.

Hinata localizou Neji, mais a frente, e o garoto sustentou o olhar por alguns segundos, antes de desviar. Havia mais dois ou três ao seu lado, grandes e inchados, com os braços cruzados e cara de mau. A Hyuuga ergueu uma sobrancelha, cruzando os próprios braços, a espera.

— Alunos de Hogwarts! – a voz de Hiruzen ecoou pelo Salão com um amplificador de voz feito por sua varinha. Os alunos aos poucos se calaram, com expectativa – Agradeço a paciência de todos! Acredito que todos já estão a par da situação. – murmurinhos surgiram – Ontem, um aluno da Grifinória foi atacado. Os responsáveis estão sendo procurados e serão devidamente punidos. – as conversas se tornaram mais altas, em grupos, e se instalou a confusão. Hinata suspirou, evitando fazer contato visual com ninguém. Notou que apenas a mesa da Sonserina permaneceu em silêncio – Calma, calma! – a voz do diretor aumentou, até que todos se calassem novamente – Não é nossa intenção causar pânico. Queremos que fiquem cientes, para que se protejam, e estejam atentos. Precisamos cuidar uns dos outros. – agora todos ouviam com atenção – Tempos difíceis se aproximam, e precisamos estar preparados. Hogwarts irá lutar por todos aqueles que merecerem.

O diretor deu as costas e se sentou na mesa dos professores. As Casas, então, voltaram a conversar, levantando teorias, fofocando e apontando possíveis culpados. A medida que conversavam, bolavam motivos mais e mais absurdos. Na mesa da Grifinória, os sextanistas conversavam em voz baixa.

— Eu tenho certeza que foram aqueles sonserinos desgraçados. – acusou Sakura. Ainda estava irritada por ser sido tirada da enfermaria, e mal havia conseguido comer.

— Eles são arrogantes, sim, e alguns dão medo, mas você acha mesmo que eles torturariam o Naruto? – Ino perguntou de volta, com a voz tão baixa quanto possível. Sakura bufou.

— São os aprendizes perfeitos para as artes malignas. Alguma coisa está acontecendo, e eles estão envolvidos. Não é a toa que a Casa deles abrigou tantos bruxos suspeitos. – a Haruno parecia convencida, encarando os sonserinos com os olhos elétricos – Inclusive os Hyuuga. Eles não são flor que-se-cheire. Inclusive, onde está aquela garota maldita? – esticou o pescoço, mas não conseguiu avistá-la.

Hinata Hyuuga já estava longe há muito. Saiu durante o discurso de Hiruzen. Não estava com paciência – ou vontade – de aguentar aquilo. Ela já sabia o que tinha acontecido. Sabia o que estava por vir. Era inevitável, não importava quantas palavras bonitas fossem pronunciadas. O destino estava agindo exatamente como deveria agir, e, logo, o mundo seria dividido. A guerra estava se aproximando.

Não sabia para onde seus pés estavam levando-a, mas, quando deu por si, estava na frente da enfermaria. Suspirou. Aquilo também era inevitável. Sua cabeça estava ocupada desde que acordara. Precisava vê-lo, precisava saber que estava bem. Não se sentia psicologicamente pronta para enfrentar aquela situação naquele momento, mas não tinha outra escolha.

Entrou, hesitante. Os leitos estavam vazios, exceto por um. Madame Chiyo também não estava, e o ambiente estava silencioso. Hinata se aproximou devagar, procurando não acordá-lo, mas percebeu que ele se moveu, tentando olhar quem chegara. Quando seus olhos se encontraram, Hinata sentiu um choque em sua espinha, e seu rosto paralisou. Naruto tinha faixas enroladas e algumas partes ainda estavam inchadas, mas, definitivamente, Chiyo havia feito um ótimo trabalho. Quase não haviam cicatrizes visíveis. Estava coberto com o lençol, mas imaginou que haviam mais faixas em seu torso e em suas pernas. Mesmo deitado e corado, Hinata achou-o fraco, debilitado. Subitamente, quis correr para pegar sua mão, mas se controlou. Chegou perto o suficiente da borda da cama, fitando-o, com expectativa.

— Oi. – murmurou, e, mesmo baixa, sua voz pareceu ter ecoado pela sala. Naruto abriu o maior dos sorrisos, e Hinata sentiu-se envergonhada.

De início, Naruto pensou ser Sakura se aproximando, mas, quando conseguiu enxergar, avistou as cores verde e prateada serpenteando. Em momento algum pensou ser um inimigo – ou alguém procurando por terminar o trabalho –. Seu coração começou a palpitar, e ele já sabia quem estava vindo em sua direção. Suas palmas suaram, e, se estivesse em pé, suas pernas teriam virado gelatina. Agradeceu por estar na cama, e ter uma desculpa para corar tão vergonhosamente.

O simples fato de estarem na presença um do outro criava uma bolha cheia de tensão. Não sabiam como agir, o que falar, o que fazer. Seu toque gerava eletricidade, que, outrora, pensavam ser pela fato de odiarem um ao outro – bem, Hinata odiar Naruto, e Naruto simplesmente provocar Hinata –. Mas, naquele momento, não se odiavam nem um pouco. Nem de longe.

— Oi. – Naruto limpou a garganta, mas achou que não tinha adiantado muita coisa – Como você está?

— Acho que eu deveria perguntar isso. – Hinata não conseguiu frear o sarcasmo, mas Naruto não se ofendeu. Ambos riram – Estou bem. E você?

— Estou melhorando. – tentou dar de ombros, mas fez uma careta de dor – Ouvi dizer que você salvou minha vida. – mesmo inchado e com dor, abriu um sorriso brilhante, e Hinata não pode evitar de corar.

— Pois é. Inevitável, eu acho. – seus dedos brincaram com o lençol, e Naruto quis desesperadamente agarrá-los – Quando eu te encontrei, caído, foi... – parou, com a voz fraca, e o Uzumaki desejou por abraçá-la – Foi horrível. Nunca me senti daquele jeito. – soltou uma risada débil. Naruto estava surpreso. Nunca havia visto a sonserina daquela maneira. Parecia tão normal. Insegura, sem a máscara habitual de frieza.

— Obrigado. Por ter me encontrado. – agradeceu, e Hinata assentiu. Permaneceram em silêncio por algum tempo – Achei que você me odiasse. – Naruto comentou. Ele sabia que não ela não o odiava, mas, pela primeira vez, estavam conversando civilizadamente, e até mais que isso. Era sua chance de saber a verdade, de entender.

— Eu não te odeio. Já disse isso. – a Hyuuga suspirou – É bem difícil te odiar, embora você facilite muito. – riu baixo, e Naruto fez uma careta – Mas eu não te odeio. – parou, como se estivesse pensando em suas próximas palavras – Eu não sei como fazer isso. – confessou, e Naruto parou, surpreso – Eu não tenho experiência, ou bons exemplos. Eu sou quem sou, e eu sou da Sonserina. Mas, tem algo que você... – ela parecia angustiada – É impossível me afastar. Eu sempre me vejo voltando, e voltando, e sendo atraída por você. Eu fui criada de um jeito, e eu tenho minha família, e todas as coisas que aconteceram, mas, quando você se aproxima, eu esqueço de tudo. Você tem esse efeito em mim, e eu tenho medo, porque eu nunca me senti desse jeito. Eu não posso me sentir desse jeito. – sua voz estava mais intensa – Eu tentei te odiar, tentei te afastar de todas as maneiras, mas você é insistente. Eu não sou a melhor, ou a mais fácil de lidar, mas eu decidi que talvez seja mais fácil se eu simplesmente aceitar. Aceitar lidar com isso, aceitar que você me atinge, de alguma maneira. Eu estou cansada de lutar, Naruto.

Naruto a encarava com o olho saltado, a boca entreaberta. Ele não estava preparado para aquilo. Esperava por alguma briga, ou provocações, mas, novamente, a sonserina havia lhe surpreendido. Parecia que estava encarando outra pessoa. Um novo lado da Hyuuga, alguém que não se deixava conhecer. Naruto conseguiu visualizar suas ruínas, seus muros caindo. Ele notou coisas que não havia reparado antes.

Hinata era muito bonita, parada contra a luz.

A garota estava com os olhos baixos, mas, então os ergueu, fitando Naruto com expectativa. Sua íris continha um brilho anormal, e ela sorria, mesmo que minimamente. Suas maçãs estavam vermelhas, e Naruto nunca tinha sido presentado com a aquela expressão – ele se sentiu honrado –. Retribuiu o sorriso. Não era o sorriso costumeiro, aberto e galanteador, que usava para irritá-la. Era um sorriso mínimo, constrangido, mas feliz.

No entanto, antes que Naruto pudesse falar algo, a porta da enfermaria foi aberta de supetão. Hinata se assustou, dando um pulo para longe da cama, e Naruto fitou-a confuso, querendo estender o braço para segurá-la próximo dele.

Então Sakura entrou, com varinha em punho, acompanhada de mais três ou quatro grifinórios. Hinata os reconheceu das vezes que Naruto importunava a ela e os outros sonserinos. Sakura corria até eles com os olhos saltados, a expressão furiosa. Quando se aproximou, apontou a varinha diretamente para o rosto de Hinata, que não se defendeu. Permaneceu fitando a rosada calmamente, e Naruto percebeu que havia voltado com a máscara de frieza.

— Sakura! – Naruto reclamou, mas a rosada não deixou que ele continuasse.

— Naruto, fica tranquilo. Ainda bem que cheguei a tempo. Ela fez alguma coisa com você? – a garota alternou os olhares entre o grifinório e a sonserina.

— Não é nada disso, Sakura...

— Não se preocupe! Não sei que tipo de feitiço ela lançou em você, mas isso vai acabar. – interrompeu-o novamente. Se voltou para Hinata, e sua voz estava irritadiça – Você não vai mais chegar perto dele enquanto eu estiver por aqui, me ouviu? – Naruto tentou argumentar, mas não foi ouvido – RESPONDA! – a rosada aproximou a varinha ainda mais. Naruto sabia que Hinata poderia se defender se quisesse, mas a morena limitou-se a suspirar.

— Eu entendi. – respondeu, ligeiramente entediada. Os demais observavam a cena, ansiosos com o que poderia virar, mas se surpreenderam quando a Hyuuga deu as costas e começou a andar, sem sequer retrucar.

— Maldita sonserina. – Sakura resmungou, enquanto observavam Hinata caminhar para fora.

Naruto grunhiu, frustrado, querendo azarar Sakura, mas mal podia se mexer. Observou Hinata sair, e, quando a garota estava próxima a porta, virou-se, e fitou seus olhos. Naruto a viu dar um ligeiro sorriso, e fitou mais calmo. Sabia que não seria a última vez que a veria, apesar de tudo.


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