O policial militar girou a maçaneta, abriu a porta e viu o homem se contorcer na maca. A boca dele espumava, seus olhos estavam revirados e a maca suja de urina, a visão mais perturbadora que o policial viu em sua vida. Maurício se contorcia como se estivesse possuído como no filme Exorcista. Ele imediatamente chamou a enfermeira.

— Ele veio me punir! Não posso ser punido por ele!

— Segurem os braços dele. Darei uma dose mais forte — disse ela. A enfermeira deu uma injeção com o sedativo. O paciente descansou depois de muito balbuciar. — Quem foi o que abriu essa janela.

A janela era trancada e bem segura, porém estava aberta. Os dois policiais sequer perceberam isso, sobretudo o que viu a cena pela primeira vez. A enfermeira verificou o lado de fora, impossível alguém ter entrado e feito isso com o acusado, porque o quarto era no quinto andar e não havia parapeito, nem sacada e nem algo do tipo para servir de apoio.

— Podem sair, eu ficarei com ele até a tarde. Olha essa bagunça. Temos que rocar o cobertor.

O policial mais jovem ficou impressionado com o que viu. Jamais se esqueceria.

...

A blogueira não desistiu da sua matéria. Retornou à delegacia, porém foi convidada a se retirar outra vez. Ficou sentada nos degraus até observar os outros dois jornalistas conversando algo baixinho. A jornalista Mara repassava uma informação importante, deixando o seu colega, Marco Aurélio, de queixo caído. Bia implorou pela informação, mas Mara resolveu ir embora.

— Por favor, Marco, conte-me — implorou.

— Tudo bem, mas só fica entre nós. Parece que a prefeita e o delegado estão mancomunados com a real história dos sumiços dos mendigos e animais de rua. Parece que ambos estão tentando abafar os casos.

— Mas por quê?

— Aí eu não sei. Isso está me cheirando a tráfico de órgãos. Ocorreram casos semelhantes há alguns anos no interior de outros estados. Mesmo com tantos casos iguais, não houve uma solução e por isso os casos foram arquivados.

— Isso é horrível...

— Como são só suposições, não temos nada de concreto. As pessoas do interior são reticentes, desconfiadas. Não será fácil extrair alguma informação verídica acerca desses casos. Agora já vou.

Bia ficou pensativa, entrou num uber e pegou o seu notebook.

— Tráfico de órgão? Que besteira. Desde quando traficantes de órgãos dão chá de sumiço em animais doentes e quadrúpedes? Isso está me cheirando outra coisa.