Maurício, caseiro e sequestrador, foi levado ao hospital municipal da cidade por volta das 8 horas da manhã. A imprensa local e da capital fizeram uma verdadeira campana no lado de fora do rancho para alguns furos de reportagem. Depois que o acusado foi hospitalizado, a imprensa acompanhou até o hospital. Os repórteres faziam entrevistas com policiais e técnicos a fim de extraírem o máximo possível. O momento que todos aguardavam era a entrevista com o delegado Jucá.

Estava tudo preparado na delegacia para uma verdadeira sabatina. O velho barrigudo e barbudo chegou à tribuna em frente à delegacia. Eram apenas três jornalistas.

— Antes de fazerem as perguntas, saibam que só responderei àqueles que estejam de acordo com o caso ocorrido. Perguntas e comentários se o contexto do crime, serão desconsiderados. Que comece as perguntas.

— Delegado, eu sou Mara Gonçalves da Rádio Tupiniquim. Queria saber se realmente o caseiro é considerado esquizofrênico?

— Ainda não sabemos da sua saúde e não temos ainda nenhum quadro clínico quanto a isso. Infelizmente ainda estamos esperando.

— Delegado, sou Marco Aurélio do Diário de Fortaleza. É verdade que o senhor chamou o inspetor Ronaldo Lucena para elucidar o caso?

— Sim, chamei. Em Fortaleza, Ronaldo foi capaz de negociar em dois casos e em ambos foi um êxito. Infelizmente estávamos lidando com uma mente doente e sádica.

Uma repórter negra, com olhos castanhos, saiu de trás dos outros dois e ficou frente a frente com o delegado. Portando um gravador, a jovem foi bem direta.

— Senhor, eu sou a blogueira Ana Beatriz Muniz do blog Brasil Mistérios. Quero saber do senhor se a loucura que Maurício teve há relação com os casos de sumiços de mendigos e animais de rua. Outra questão é saber se a prefeita está a par de tudo isso e se tem feito algo para solucioná-los?

Jucá sorriu para a blogueira. Momentos depois, o velho delegado encerrou e pediu que todos se retirassem. Bia foi a primeira, mesmo assim não desistiu de um bom furo de reportagem. Além de escrever o texto para o seu blog, ela participava de um canal do youtube, e sua participação era mensal. O seu maior objetivo era descobrir casos misteriosos envolvendo lendas urbanas, sobrenatural e desaparecimentos misteriosos de pessoas.

— Isso é o cúmulo! Uma repórterzinha de quinta categoria, teimosa e imprudente. Acredita que ela teve o atrevimento de me colocar numa posição complicada e contra a prefeita? Cadê o Ronaldo?

— Esqueceu que hoje é a folga dele? — disse um policial.

— Esqueci completamente. Mas essa loucura ocupou a minha mente e fui perdendo a noção. Ora, alguma notícia do meliante?

— Ele está no hospital cuidando do tiro que levou.

...

Maurício foi levado ao hospital, porém seu caso não precisou de UTI. O criminoso encontrava-se deitado, sedado e algemado na grade ao lado da mão esquerda. A enfermeira observou o paciente pela última vez. Tudo tranquilo. Pediu aos policiais, que vigiavam do lado de fora do quarto, para não fazerem barulhos pois assim o paciente estaria mais disposto nos dias seguintes.

Algumas horas se passaram, os policias decidiram se revezar, sempre um ficando na porta e outro um no corredor. O PM mais novo, o que estava na porta, escutou um barulho estranho, ou melhor algo que lembrava um diálogo. Maurício balbuciava algumas frases desconexas como se alguém estivesse ali junto com ele. O policial tomou coragem e ficou escutando atrás da porta e ouviu claramente o paciente falando com mais alguém.

— Por favor, não me castigue... Eu faria o serviço completo se os policiais não tivessem atrapalhado...