Andrew Narrando

Acompanho Samantha pelo corredor enquanto ainda penso no olhar da Clarissa.

Sei que ela está com medo de que algo aconteça, mas eu não vou deixar que ninguém a machuque. Eu mato quem pensar em fazer alguma coisa com ela.

Andamos até pararmos em frente à uma porta. – Antes de abri-la Samantha se vira para mim.

— Andrew... – Meu nome saí da sua boca antes dela sorri provocativa. – Espero que se lembre que nós não somos seus inimigos.

— A única coisa que me lembro é de não confiar em vocês! – digo olhando em seus olhos.

Ela se vira e abre a porta. – Um escritório com uma grande mesa de reunião é revelado.

Cinco homens de meia idade estão sentados. – reconheço um deles. David McKee, o pai da Julie. – sabia que esse maldito estava metido nessa merda.

Enquanto escuto Samantha fechar a porta atrás de mim penso no erro de deixar Clarissa com Julie. – Ela pode ser cúmplice do pai. Caralho!

Olho de esguelha para porta, mas sei que eles não vão me deixar sair. – Então me sento. – Samantha é a única de pé, ela para de frente pra mesa e limpa a garganta.

— Senhores... – diz com suavidade. – Bom, creio que todos aqui conheçam o Andrew... Andrew Black. – diz olhando de mim para os outros. – Ele aceitou encarecidamente escutar nossas propostas.

— Encarecidamente?! – um dos homens debocha. Noto que ele está bem no meio e pela pose parece ser o “chefe” deles, ou acha que é.

Fuzilo ele com o olhar e Samantha mantém a pose.

— Senhor Jones, peço que por favor não me interrompa enquanto falo. – Sua voz sai educada, mas firme. – Andrew, posso falar sobre nossas propostas?!

— Sim. – respondo impassível.

— Todos aqui sabemos que antes da morte, a Senhora Candice Goldstein fez um acordo com o Andrew... nesse acordo havia uma cláusula em que dizia que se algo acontecesse com ela Os Acionistas seriam responsáveis pela segurança de Clarissa Goldstein...

— Após um ano. – falo olhando nos olhos dela.

— Sim. Após um ano nós seríamos responsáveis pela Clarissa... – Samantha se corrige. – Como todos também sabem, a Senhora Goldstein deixou absolutamente todos os bens para a sua filha... e como pagamento para você, metade do controle de seus negócios ilícitos...

— Metade?! – indago com frieza. – Meu acordo com a Candice é bem específico em relação a quanto ela me passaria de controle! Você sabe que era tudo.

— Acha mesmo que nós iríamos ficar sem nada garoto? – o tal Jones fala mais uma vez. Sua voz me irrita e sinto vontade de atirar bem no meio da cabeça dele.

— Nós tomamos metade enquanto a Clarissa não está pronta para assumir... – Samantha volta a falar, mas eu a interrompo.

— Ela nunca vai estar pronta! – falo alto chamando ainda mais a atenção de todos.

— Não é você quem decidi isso! – Jones fala no mesmo tom que eu.

— Acha que não sei que são vocês que querem o controle?! – indago com raiva.

— Está insinuando que queremos usar a Clarissa para tomarmos o poder dela? – Jones diz em tom de desafio.

Fecho o punho sobre a mesa me segurando para não dar um soco na cara dele.

— Não estou insinuando... estou dizendo com todas as letras caralho!

— Senhores! – Samantha intervém. – Deixem-me concluir... Como eu dizia, caso você não saiba Andrew, nós podemos tomar a Clarissa de você, quer dizer, a Candice nem está mais viva, e apesar do contrato valer, seria mais vantajoso para você nos entregar ela...

Escuto as palavras dela e sinto um ódio tão grande me invadir. – Esses desgraçados acham mesmo que vão tira-la de mim?!

— Então nossa proposta é a seguinte... – Ela volta a falar. – Você nos entrega a garota, nós te damos a sua parte adiantada e ainda estará livre do contrato muito antes do final. Não precisa responder agora, Andrew, esperarmos sua resposta e decisão amanhã. – Ela concluí.

A única resposta que passa pela minha mente é atirar na cabeça de todos eles. – mas tentar isso aqui seria burrice.

— Nós não somos inimigos, Andrew. – Samantha volta a repetir antes de sorrir para mim.

Ela vai até a porta e a abre.

— Agora se quiser ir aproveitar o jantar, está livre de nós. – diz e eu encaro o tal Jones desgraçado antes de sair da sala.

Caminho apressado pelo corredor, preciso ve-la e saber se ela está segura. – Mas no meio do corredor alguém me alcança e quando me viro vejo o pai da Julie atrás de mim.

Olho com raiva pra esse filho da puta. – Pego na gola de sua camisa.

— O que você quer? – indago em tom de ameaça.

Ele não fala nada, apenas coloca um papel pequeno dentro do bolso do meu terno. – percebo que ele queria exatamente que parecesse uma discussão. – o solto e volto a seguir meu caminho, quando estiver longe desse lugar vejo o que está escrito.

Procuro por Clarissa e não a vejo, avisto Nick e Julie e vou até eles.

— Posso falar com você, Nick?

Ele me acompanha até um local afastado dela.

— Cadê a Clarissa? – indago nervoso.

— Ela foi ao banheiro, Drew.

— Você tirou os olhos dela? – pergunto com raiva.

— Não, só não dá pra ir até o banheiro com ela... – Nick diz com descontração, mas logo me olha sério. – O que houve?

— Aqui não é seguro! Precisamos ir embora...

— O que aconteceu, Andrew?

— Você sabia que o filho da puta do pai da amiguinha da Clarissa faz parte do concelho de acionistas?! Sabe o que isso quer dizer, não é?

— Ela não é confiável! – Nick constata.

— Vou procurar pela Clarissa, em qual banheiro ela foi?

— Naquele perto do mini-bar, vou com você. – Nós dois atravessamos a sala e vejo Julie lançar olhares confusos pra Nick que lhe olha feio.

Ele parece decepcionado. – Nick é tão sentimental.

Vamos até o tal banheiro e eu bato com força na porta até ela ser aberta, uma mulher sai de lá, mas não é ela.

Olho para Nick com raiva por ele ter perdido ela de vista e ele me lança um olhar de culpa.

— Procura ela pelo outro lado e eu vou por aqui. – mando, e ele obedece.

Passo pelo mini-bar e vejo uma porta mais ao fundo, vou até lá e a abro.

Assim que meus olhos fitam a cena a minha frente eu puxo a arma da cintura.

— Solta ela caralho! – grito ao ver Josh segurar Clarissa pelo braço.

Clarissa Narrando

Já faz minutos que Andrew foi com aquela mulher para não sei onde. – Sinto um frio na barriga enquanto vejo Nick e Julie conversarem animadamente.

Estou mergulhada em pensamentos e não consigo prestar atenção em nada.

Digo que vou ao banheiro e Nick me lança um olhar inseguro, mas sorrio para ele e aviso que não vou demorar.

Antes de entrar no toalete escuto alguém me chamar.

— Josh? O que faz aqui? – indago e vou até ele.

— Sou motorista do senhor David e da Julie... Podemos conversar?

— Agora? – pergunto com dúvida.

— Sim! Vamos até a cozinha, eles estão servindo o jantar então não tem ninguém lá.

Penso por alguns segundos, mas acabo cedendo e aceito conversar com ele.

Assim que adentramos o local Josh me abraça – Estou surpresa, mas acabo retribuindo.

— Você está bem? – pergunta preocupado.

— Estou...

— Clary, não tenho muito tempo pra explicar, mas eu descobri umas coisas... sobre a sua mãe e sobre o senhor David... vai parecer loucura o que vou dizer.

— O que tem o senhor David? – indago. Já imagino o que ele tenha descoberto sobre a minha mãe.

— Como eu posso dizer isso?! – Josh parece nervoso – O senhor David não é um homem honesto... e nem a sua mãe. – Ele parece escolher as palavras para não me magoar.

Minha expressão neutra faz Josh me olhar estranho. – O choque que ele esperava que eu tomasse não veio.

— Clary, aqui não é seguro! Esse homem que você casou... Ele pode ser perigoso. – diz com preocupação – Eu vou tirar você daqui!

— O que? – digo tentando assimilar suas palavras.

— Nós podemos sair pelos fundos... Vem! – Me chama, mas eu não me movo. Não vou a lugar nenhum sem Andrew.

— Josh eu não posso...

— Você escutou o que eu te disse?! Essas pessoas podem te fazer mal! – Ele pega no meu braço e me puxa em direção a uma porta do lado oposto da cozinha.

— Josh! Me solta! – peço tentando me desvencilhar dele.

E nesse exato momento Andrew entra na cozinha e grita para que ele me solte, uma arma está apontada na direção de Josh que congela.

O aperto dele em meu braço se afrouxa até ele me soltar. – Acho que Josh nunca teve uma arma apontada em sua direção.

— Andrew, abaixa isso! – peço, mas ele parece não me ouvir.

— Esse filho da puta tava tentando te machucar? – Andrew fala alto e vejo seus olhos faiscarem de raiva.

— Não! Ele não estava. – digo me aproximando dele. – O Josh estava tentando me tirar daqui, ele acha que estou em perigo...

— Em perigo? É claro que você está! Esse merda estava tentando te arrastar pelo braço. – Andrew me olha perplexo.

— Ele não sabia de nada Andrew! – tento explicar. – Ele descobriu sobre a minha mãe... – Digo e Andrew me olha assimilando tudo. – Ele queria me tirar daqui pela minha segurança.

Andrew olha analítico para Josh que nos olha aterrorizado, e no fim acaba abaixando a arma.

— Você já sabia? – Josh indaga me olhando com um misto de surpresa e decepção.

— Soube um pouco depois do casamento...

— Por que não me procurou? Eu teria ajudado você... – Josh tenta entender.

— Porque eu não queria ajuda. – digo sentindo meus olhos arderam.

Vejo pelo jeito que ele me olha que ainda é apaixonado por mim. E não quero partir o coração do Josh.

— Espera... Você gosta dele? Desse bandido?! – Josh me olha com decepção e eu não suporto isso.

Andrew também me olha esperando que eu responda.

— Josh... – digo o nome dele enquanto sinto as lágrima rolarem pelo meu rosto.

— Até um nome falso ele usava, Clarissa! Como você consegue gostar de alguém como ele? – indaga.

— Se eu fosse você tomaria cuidado com as palavras! – Andrew fala em tom de ameaça.

— Vamos embora, Andrew. – digo limpando as lágrimas com o dorso da mão.

Josh me olha uma última vez antes de eu dar as costas pra ele.

Seu olhar de decepção não sai da minha mente. – Suas palavras me magoaram justamente por eu também não saber o porquê gosto do Andrew. – Ele é um caos, e sei que pode me levar a ruína, mas eu simplesmente não consigo e não posso controlar meus sentimentos.

Estava tão mergulhada em pensamentos que nem prestei atenção em mais nada até chegar no quarto do hotel. – tiro os sapatos assim que entro no quarto.

— Arruma suas coisas, nós temos que ir embora, agora! – Andrew diz chamando minha atenção.

— O que?

— Os Acionistas viram atrás de você... – fala me entregando um bilhete. – O pai da Julie me deu isso, ele é um deles... Não sei se é confiável, mas temos que ir embora.

“Eles sabem que você não vai entregar a garota, vão atrás de vocês essa noite, saía do hotel o mais rápido possível” — leio o bilhete com a mão trêmula.

Arrumo minhas coisas na mala com pressa e calço meu all star. – Andrew fala no telefone nervoso e logo Nick rompe pela porta.

— Eles já estão aqui. – Nick diz ajeitando a arma na cintura.

— Inferno! – Andrew xinga.

— Eles nos cercaram, estão no terraço e na recepção...

— E os nossos seguranças? – Andrew indaga analisando a situação.

Me sento na cama em desespero. – Meu coração bate tão forte que me incomoda, minhas mãos estão frias e suadas. Estou com tanto medo que nem consigo dizer nada.

— Dois na porta, dois no começo do corredor e dois no final. – Nick passa as informações.

— Eles estão em maior número, então precisamos de uma boa estratégia...

— Drew... – Nick faz um sinal para que Andrew olhe para mim.

Ele vem até mim na cama e se abaixa nivelado nossa altura. – Nick vai até a porta para nós dar “privacidade”.

— Clarissa? – Andrew olha em meus olhos.

Só aí percebo que lágrimas rolam pelo meu rosto.

— Sim? – minha voz sai quase inaudível, minha garganta está seca.

— Tem que confiar em mim, tudo bem?

— Se acontecer alguma coisa... – começo, mas ele me interrompe.

— Não vou deixar nada acontecer com você! – Andrew diz com firmeza.

— Não Andrew! Se acontecer alguma coisa com você?! – indago sentindo o desespero me invadir.

— Não vai acontecer.

— Como você sabe?

— Não vou morrer pelas mãos desses desgraçados! – Ele me dá um sorrisinho convencido. – Eu preciso ir, os seguranças vão estar na porta te protegendo.

Não quero que ele vá. – Sinto medo e desespero, mas o que eu posso fazer?

Sem pensar abraço Andrew. – nossos corpos sempre se tocam muito mais do que isso, mas esse tipo de afeto ainda é diferente.

Sinto o corpo dele rígido, mas alguns segundos depois ele me abraça de volta, sem dizer nada o vejo sair pela porta.