Havia se passado exatamente uma semana desde o “jantar de noivado”. Não vi mais o Jensen e ainda não tinha dito nada ao Josh, hoje seria minha primeira prova do vestido de noiva. O casamento havia sido marcado para um mês após o jantar, assim me restando apenas uma semana de liberdade antes que minha vida fosse arrancada de mim.

Lauren, estava organizando toda a cerimonia, que segundo ela, seria “pequena e discreta”, não que eu tenha acreditado.

Me olhei no espelho, eu usava uma calça jeans escura, uma blusa da minha banda favorita e all star.

— Filha? – minha mãe entrou sem bater na porta, ela estava com seu celular na mão, e com uma roupa social, extremamente chique. – você vai assim? – perguntou me analisando decima a baixo, com um olhar reprovador.

— Sim, eu nem quero ir, então não tente me fazer mudar de roupa, porque se não eu mudo de ideia. – bufei.

— Eu sei que você não quer isso, Clarissa – ela se aproximou de mim, ficamos de frente uma para outra. – mas estou fazendo o melhor para você. Achei que já tivesse entendido isso.

— Eu entendi, mas não quer dizer que eu esteja feliz.

— Mas poderá ficar – disse, levantei uma sobrancelha, eu já sabia onde ela queria chegar.

— Isso é um casamento de um ano, apenas um negócio e não vou ficar com ele, se é o que a senhora deseja.

— Porque não da apenas uma chance para isso? Você ainda não o conhece direito.

— Nem quero! O pouco que já o conheci, vi que eu nunca ficaria com alguém como ele.

— E você ficaria com alguém como quem? O motorista? – mamãe me olhou seria.

— Como? – indaguei surpresa.

— Eu não sou burra, Clarissa! Só quero te dizer que suas aventuras com Josh acabaram e que você pelo menos tente fazer dar certo com Jensen, porque ele é muito melhor para você.

— Ele é melhor por causa do dinheiro? – gritei.

— Porque ele pode cuidar de você! – mamãe disse de volta – nunca mais grite comigo Clarissa, tudo o que eu faço é para o seu bem! – ela se virou e foi até a porta – você tem cinco minutos.

Depois da nossa pequena “discussão” todo o percurso até o nosso destino foi totalmente silencioso.

O carro parou e o motorista da minha mãe, abriu a porta, ela saiu e eu a seguia. Havia mais um carro nos acompanhando com três seguranças.

Entramos em uma loja de noivas, dois seguranças ficaram do lado de fora e o motorista e mais um entraram juntamente conosco.

— Ai está ela! – Lauren que já estava na loja veio ao nosso encontro. – eu e sua mãe já havíamos escolhido o vestido, mas temos outros modelos caso você não goste.

— Tanto faz, Lauren. – sorri sem animo.

— O que foi querida? – perguntou gentil – é seu casamento, se anime!

— Eu não quero isso! Me desculpe, sei que Jensen é seu filho, mas eu nem o conheço!

— Olha, sei que ele não parece ser um príncipe, mas Jensen não é tão ruim assim, Clary – sorriu – e também é seu casamento, sei que você ainda não o ama, mas essa festa toda é pra você!

— Eu sei – sorri.

— Ela é a noiva, senhora Lauren? – uma vendedora veio até nós. Minha mãe tinha se afastado um pouco para atender o telefone.

— Ah sim, linda não é?!

— Sim, o vestido ficará maravilhoso em você!

Entrei no provador e antes de fechar a porta a vendedora me entregou o vestido.

Demorei um pouco admirando-o no espelho. Ele havia caído como uma luva em mim. Era tomara que caia, branco (obvio) na parte de cima todo em pedrarias.

— VOCÊ ESTÁ MARAVILHOSA – Lauren gritou.

— Filha, você está linda!

— Obrigada – sorri tímida.

— Clary? – Julienne entrou na loja acompanhada de sua irmã. Ela me olhou surpresa.

Eu e Julie eramos amigas, ela foi a única que eu tive, minha mãe sempre foi muito protetora e o fato de eu sempre ter estudado em casa, me impediu de fazer amizades, mas Julie me visitava, ela era filha de um homem que trabalhava para mamãe e com isso, nos tornamos amigas.

— Você vai se casar?  – ela correu até mim, sua expressão de espanto me fez rir.

— Longa história! –  suspirei pesadamente – mas o que faz aqui?

— Minha irmã vai se casar – ela apontou para sua irmã que conversava animadamente com a vendedora.

— Ah sim – sorri.

—  Mas você, porque não me contou nada?!  –  Julie fez uma cara triste.

—  Me desculpe, foi tudo tão rápido, não deu tempo. 

—  Entendo  –  ela sorriu  –  você está linda, seu vestido é deslumbrante!  –  sorri em agradecimento.

—  Obrigada.

—  Mas você não me parece feliz.  –  ela me conhecia bem, isso era verdade. Julie era como uma irmã, apesar de ser mais velha do que eu (um ano apenas). Parecia ser mais nova, não na aparência, mas na inocência que transmitia.

—  Vou trocar de roupa, e nós conversamos, está bem? 

Julie acabou indo comigo para minha casa, mamãe disse que depois pedia para que alguém a levasse embora. Sua irmã entendeu perfeitamente, apesar de parecer não gostar muito da ideia.

Contei tudo a ela, sobre o jantar, sobre o Jensen e como eu já não gostava dele sem conhece-lo. Só não contei a parte da ameaça, apenas disse que mamãe arranjou esse casamento porque achava Jensen um bom par para mim.

—  Mas vocês não se amam!  –  disse indignada. Seu romantismo as vezes me irritava um pouquinho, ela era extremamente romântica, não que eu não fosse, mas Julie passava dos limites. 

—  Eu sei, esse é o problema, eu nem o conheço!  –  bufei.

—  Não se case então, Clary.

—  Não posso! Isso envolve mais coisas do que você imagina  –  disse.

—  Pode me contar?  –  perguntou curiosa, eu balancei a cabeça negativamente, Julie apenas sorriu compreensiva  –  e Josh? Já contou a ele?

—  Não.  –  ela era a única que sabia sobre nós dois  –  nem sei como vou contar!

—  Meninas?  –  escutei batidas na porta.

—  Entra, mãe.

—  Jensen está aqui, Clary, pode descer?!  –  sua pergunta soou mais como uma ordem.

—  Já estou indo.

—  Então hoje vou conhecer seu noivo?  –  Julie sorriu tentando me alegrar.

— É – confirmei desanimada.

Saímos do meu quarto e fomos em direção a escada, eu caminhava calmamente e Julie parecia curiosa e mais entusiasmada que eu, que mantive uma expressão de puro tédio.

Adentramos a sala, Julie ao meu lado. Jensen estava de costas para nós conversando alegremente  – de forma falsa, como sempre fazia –  com a minha mãe, mas havia mais alguém, Nick estava com ele

— Oi querida  – disse mamãe, fazendo com que os dois se virassem em nossa direção.

Julie e Nick se olharam. Um brilho pairou sobre os olhos dos dois.  – Notei que Julie estava ligeiramente corada.

Encarei Jensen sem entender, ele parecia analisar assim como eu toda a situação.

— Olá Clarissa. – Jensen disse quebrando o silencio que havia se instalado.

—  É Clary! – falei – Julie, esse é meu noivo Jensen... – ela e Nick só pararam de se olhar quando chamei sua atenção. 

—  Ah! Oi...! – a vermelhidão estava em seu rosto, Julie estava com vergonha, muita, pelo que há conheço.

— Prazer. – ele disse se aproximando dela e lhe dando um aperto de mão, Julie sorriu, mas Jensen apenas sorriu falso, enganando todos, menos a mim. – Esse é meu irmão, Nick.

— Prazer, Julie. – Nick a cumprimentou dando um sorriso gentil, que ela devolveu timidamente.

—  Podemos conversar? – Jensen se dirigiu a mim que apenas assentir que sim.

—  Diga. – falei quando entramos no meu quarto.

Jensen colocou a mão em um dos bolsos da calça e retirou uma caixinha de veludo preta.

—  Toma, isso é pra você – disse me entregando de qualquer jeito a caixinha.

—  Quanta gentileza! – sussurrei.

—  Você disse algo?  –  perguntou com uma sobrancelha arqueada.

—  Não!  –  desviei o olhar para a caixa e a abri, encontrando um lindo colar, não era nada extravagante, pelo contrário, tinha um pequeno pingente e era delicado, obviamente eu havia gostado – obrigada! – sorri em agradecimento.

—  Minha mãe achou que você iria gostar. – falou indiferente. Ele foi caminhando calmamente até a janela, eu o olhei com curiosidade, o que ele queria ali? Minha janela dava para o jardim do lado de fora da minha casa. 

— Então foi ela quem escolheu?  –  perguntei não obtendo respostas  –  Em?  – insisti.

— O que você acha?  –  Jensen respondeu grosso sem ao menos me olhar. Bufei. – Vem até aqui – seu pedido saiu mais como uma ordem. Demorei pelo menos cinco segundos até começar a caminhar.

— O que?  –  indaguei, ele se mantinha de costas para mim ainda  –  Jensen?  –  falei impaciente. Não obtive respostas então me virei de costas pronta para caminhar até sentir ele me puxando sem delicadeza pelo braço. – Você está maluco? – gritei quando Jensen jogou meu corpo com certa força contra a parede.

— Não, ainda!  –  ele se aproximou ainda mais de mim, seus olhos estavam cheios de malicia, me olhava como um predador, prensando seu corpo contra o meu.

— Me solte! – comecei a usar meus braços para tentar afasta-lo de mim, mas ele pegou minhas mãos e colocou acima da minha cabeça segurando-as firmemente contra a parede, com a outra mão livre, Jensen apertou minha cintura contra seu corpo. Fechei meus olhos, o que estava acontecendo comigo? Eu estava gostando daquilo? Eu me recusava a gostar disso, mas meu corpo não me obedecia. Senti seu hálito contra meu pescoço, sua boca quente me fez suspirar, mas com a mesma rapidez que a sensação veio, ela se foi quando ele me soltou e se afastou.

— Pronto. –  Jensen disse me dando as costas e indo em direção a porta.

— O que?  –  perguntei confusa com o corpo ainda colado contra a parede em estado de choque.

— Você me pediu para solta-lá. – disse –  Isso foi apenas uma lição, Clary.

— O que quer dizer? – perguntei baixo.

— Olhe a janela quando se recuperar, talvez ainda veja.

Virei meu rosto para janela, encontrando Josh, ele me olhava – com raiva ou decepção? –  Um misto dos dois.

— Não, não, não pode ser! –  sussurrei para mim mesma, me dando conta de que Jensen já tinha ido, e que essa era sua lição.

Porque ele fez aquilo? Como ele sabia do Josh? Minha mãe havia contado a ele?

Lágrimas se formaram em meus olhos, Josh havia descobrido da pior maneira possível.