Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 25
Zuko


Notas iniciais do capítulo

HEEEEY!!!!
Quem fala é a MHSI!!
Estão todos preparados para 2018? Não? Sim?
Pois é, vou jogando logo a bomba: Essa será a última One de EAA. O QUEEEE? Pois é gente, essa será a última. MAAAS, não se preocupem!! Logo logo iremos postar mais uma outra Coletânea ;) só ficarem ligadinhos ein!!!
É com orgulho e tristeza que todas nós nos despedimos desse conjunto de histórias maravilhosas, com diversos temas e diversas escritas - todas, por assim dizer: maravilhosas.
O SHOW DEVE CONTINUAR, NÃO É MESMO?!
Pois é, esse ano já começou então... vamos lá embarcar em mais 365 dias de várias emoções!!
De qualquer forma, vou ''presenteá-los'' com uma estória épica, uma estória que deixará seus cabelos em pé e que fará vocês todos pedirem ''BIS''...
Okay, elevei muito as expectativas... é apenas a minha vez na Coletânea, porém, mesmo assim, desejo que essa leitura seja especial!
Não fiz uma One natalina nem de final de ano, no entanto, essa estória terá Natal... Halloween... começo de semestre...
Oh! Mas como assim?!
Sim leitores lindos, eu fiz uma retrospectiva de Agosto a Dezembro... e aí, o que acham?!
Seus maravilhosos, quando propus minhas ideias à Ellen, o desafio proposto por ela foi criar um empecilho humano na vida dos protagonistas, ou seja, uma ''pessoa problema'' para desfazer a linda harmonia entre o casal ( se é que me entendem ).
Desafio realizado!!
Não vou dizer mais nada sobre a One, quero que seja surpresa hahaha ( Don't kill me, please ) apenas que tem um bocadinho de referências desse ano, assim como de coisas antigas... alguém já assimilou o nome da One?!
Espero que as linhas seguintes agradem a todos vocês leitores, assim como minha querida desafiante e as meninas que conversei um bocado sobre a One ( Bel, Sel e Dry, estou falando com vocês!! ).
PS: Terá um outro aviso nas notas finais, então, agradeceria se lessem... acho que interessará a quem leu ''América'' ( minha primeira One postada nessa Coletânea maravilhosa ).
PS2: Capa feita por mim mesma ;)
ENJOOOOY!!!



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Agosto, 2017

— Katniss... Não.

— Vamos lá Prim, o que há de errado ir em um show? – indago direcionando meu rosto para o local onde havia deixado meu celular, no mesmo período em que coloco meus sapatos.

— Um show que é perto das provas de admissão daqui! Eu preciso focar, estudar e... – Ela procura por uma palavra enquanto reviro meus olhos e ponho o aparelho em mãos, tirando do viva voz e encaixando em minha orelha.

— E tirar essa bunda da cadeira. – Completo – Prim, você apenas tem dezessete anos, vai socializar, curtir a vida, beijar na boca. – Ouço uma gargalhada do outro lado da linha, logo complementada com uma sentença a qual faz meu rosto queimar, assim como a xícara de café que havia retomado em mãos instantes atrás:

— E os namoradinhos Katniss?

— Não existe namoradinhos Prim. Já te contei que estudei como louca para as provas da monitoria.

— E depois fala de mim... – minha irmã resmunga e eu reviro os olhos com o ato.

— Mas é, tenho esse direito, sou sua irmã mais velha. – Solto a sentença com um tom brincalhão misturado com imperatividade, logo após beberico o líquido amargo e saio do meu quarto à procura da minha bolsa pelos outros cômodos do apartamento.

— Como se você fosse muito mais velha que eu. Katniss, a nossa diferença de idade é de dois anos, você se acha tão idosa assim? – ironiza, me fazendo rir internamente – Não só sou eu que precisa ir para shows e relaxar mais, além de que, eu tenho o direito de ficar dessa forma porque quero ser aceita em pelo menos uma universidade.

— Certo Prim, certo... você tem razão. – Tento cortar logo aquela pose superior que ela impôs sobre mim enquanto ando pela sala caçando a minha bolsa com os olhos – Avise aos nossos pais que eu passei nos testes, hoje será meu primeiro dia como monitora. – Assim que completo a oração encontro o objeto que estava buscando, localizado quase por trás do sofá o que me faz perguntar de que forma ele foi parar naquele local, porém, meus pensamentos são interrompidos por comemorações vindas da loira:

— Eu sabia! Mas afinal escolheu qual, bioquímica ou anatomia? – ela questiona ao mesmo tempo que coloco a bolsa apoiada em meu ombro direito.

— Anatomia por... – começo a justificar, mas a garota me corta.

— Mãe, eu falei que a Katniss é carniceira, ela escolheu anatomia. – Ouço minha irmã gritar para os meus pais que estariam em outro local da casa e solto risos como reação, me direcionando para a cozinha deixando a caneca na pia, fazendo uma nota mental para me lembrar de lavá-la quando chegasse.

— Agora preciso ir. – Olho para o relógio pendurado na parede do lugar e percebo que se demorar mais alguns minutos chegarei atrasada – Espero te ver aqui logo, odeio ficar sozinha nesse apartamento.

Olho ao redor, tudo aquilo parecia tão vazio e de certa forma, aquele espaço me refletia. Estava com saudade da minha família, mesmo tendo voltado há duas semanas de Miami – minha cidade natal – os três meses que passei próximo dos meus familiares pareceram insuficientes. E talvez, nenhum tempo fosse suficiente o bastante para a saudade contida em mim.

— Então não me mande para shows. – Aquela sentença de certa forma afugentou os pensamentos antecedentes, me fazendo sorrir de canto com sua afirmação – Katniss, há uma coisa importantíssima – uma pausa dramática - me avise se tiver algum boy delícia na turma em que você for monitora.

— Prim! Eles são um ano mais novos do que eu. Não quero ser babá de ninguém. – Resmungo como consequência de sua insinuação.

— Como se um ano fosse muita coisa.

— Você sabe que apenas me interesso por mais velhos. – Me justifico à proporção que apoio meu jaleco no braço e me encaminho para a porta.

— Katniss, vamos lá, você não se interessa por ninguém. E não ouse dizer nada sobre Gloss, ele era seu professor de Educação Física, não conta. Vai ficar para titia!

— ‘Tá certo Prim. – um sorriso cresce em meus lábios - Bons estudos, estou guardando seus cadernos.

— Mas eu ainda não me decidi, não há necessidade de toda essa preocupação. – Alega de uma maneira quase convincente.

— De qualquer forma, eles estão à sua disposição. – Suspiro enquanto encaixo a chave na fechadura – Tchau, te amo.

— Tchau, também te amo chata.

( ... )

A CNY parecia mais assustadora hoje, tinha impressão de haver mais pessoas andando pelos corredores, assim como pareciam menores, trazendo uma sensação sufocante. Eu não estava nervosa por ser meu primeiro dia como monitora, estava dessa forma por saber quem iria me auxiliar e avaliar.

Ninguém diferente de Alma Coin, coordenadora da Capital e uma das maiores angiologistas do estado, conhecida por ser precisa e meticulosa em suas cirurgias, uma mulher de poucas palavras e vários pensamentos.

Posso estar apenas no terceiro período, porém, a opinião que Coin teria sobre mim poderia definir minha reputação nos meus próximos anos de curso, ou até mesmo depois de tal.

Respiro fundo antes de girar a maçaneta da porta, desejando que tudo dê certo naquele dia. Quando adentro o compartimento avisto duas pessoas bem conhecidas por mim, o que decorre na diminuição da minha frequência cardíaca.

— Já que acabou de chegar senhorita Everdeen, os três podem me seguir. – A mulher de cabelos grisalhos comenta friamente no momento em que me posiciono ao lado de Annie e Cinna, me fazendo engolir em seco.

Acompanhamos Coin pelos corredores e novamente eles me fazem ficar mal. Nada mais parecia fazer som, apenas os estalados do salto da mulher a minha frente chegavam aos meus ouvidos, tornando aquele momento mais desconfortável.

Não há nada que não possa ficar pior.

 Minhas mãos já estavam suadas e o meu coração palpitava dentro do meu peito, quase poderia apostar que aquelas três pessoas ao meu lado estavam ouvindo o barulho que o meu órgão reproduzia.

— Vocês irão ficar com a sala 373, hoje não terá muito trabalho já que são as provas teóricas do primeiro período. – A senhora de olhos frios se vira para nós subitamente, fazendo com que eu quase tropece em meus pés, todos ao meu redor parecem perceber e sinto meu rosto corar – Senhorita Cresta e senhor Anderson, vocês irão distribuir as provas, enquanto você – a mulher que até aquele momento estava anotando algo em sua prancheta aponta a caneta em minha direção – será o ponto de distração.

Coin abre a porta e adentra a sala conosco em seu encalço. Vários alunos que antes conversavam e outros que liam alguma coisa em seus cadernos param imediatamente suas ações para apenas se concentrar no grupo que acaba de chegar.

— Como todos sabem, neste horário será aplicada a prova de anatomia, então peço com gentileza, que aqueles que ainda tem materiais em mão os guardem imediatamente. - Que tamanha gentileza—  Esses ao meu lado serão os seus monitores da disciplina ao longo do semestre. Tenham todos uma boa prova.

Ela fala algo para os meus dois amigos, dando tempo para eu analisar os alunos. Típica sala de aula. Mesmas características.

As garotas que vem estudar parecendo que logo após irão a um desfile da New York Fashion Week. Os garotos, ala o ego presente em Danny Zuko de Grease. Os famosos ‘’nerds raiz’’. As peças alternativas, como os punks dos anos 70. E no meio aos estereótipos, os ‘’em cima do muro’’ – onde eu me enquadraria – mais conhecidos como: gente normal.

Quando menos percebo as provas já estão sendo entregues e a coordenadora havia desaparecido da sala. Todos olham para mim ao mesmo tempo, o que me deixa extremamente constrangida, eu teria que ficar sendo observada por todos até que os dois outros acabassem de entregar as provas e dessem o sinal para começá-las.

Aquela sensação de ter feito alguma coisa de muito errada ou de estar nua na frente da plateia chega aos meus pensamentos, o que faz meu rosto levemente dar uma ruborizada. Endireito minha coluna e vago meus olhos atentamente para as pessoas, como se aquela ação fosse esvair a intimidação presente. Em contrapartida, meu olhar estaciona quando percebo que a pessoa sentada na primeira carteira – da qual estou em posição frontal - me fita de uma maneira magmática.

— Podem começar. – A voz doce de Annie me tira dos devaneios, fazendo com que solte o ar dos meus pulmões cujo não me lembrava de estar segurando por tanto tempo. Me posiciono ao seu lado e me sinto aliviada de agora não ter mais todos aqueles pares de olhos me fitando.

Porém, se eu achava que os olhares iriam acabar quando as provas fossem entregues, eu estava enganada.

O mesmo garoto que me fitava de maneira estranha continuou me espiando no meio tempo em que a prova era resolvida, fazendo com que eu franzisse as sobrancelhas diversas vezes e no mesmo período tirasse risadas baixinhas de Cinna.

O que ele estava olhando?

Mais minutos passam e as pessoas iam se esvaindo, até que apenas resta o garoto estranho e um moreno aparentemente alto. Me viro em direção ao quadro e começo a caminhar de um lado para o outro, uma tentativa falha de fazer o tempo passar mais rápido.

— Até mais, Katniss Everdeen. – Atrás de mim ouço uma voz aveludada seguida por um riso, impulsivamente me viro e novamente encontro o encarador fazendo jus ao seu apelido enquanto deixava a prova na última página em branco.

Agora em pé, percebo o quão azuis seus olhos são e a sua estatura tremendamente alta comparada a minha. Me sinto observada por todos – incluindo o moreno - mas não consigo expressar nada a não ser pelas minhas sobrancelhas que quase se unem quando franzo o cenho.

Ao mesmo momento que penso como ele conseguiu descobrir o meu nome mais uma frase sai de sua boca:

— A propósito, prazer. Peeta Mellark. – Solta um sorriso em minha direção e posteriormente passa pela porta.

— Que? – me viro confusa para meus dois amigos que pareciam estar lutando para não soltar uma gargalhada.

— Ah e a resposta para seu possível questionamento, Katniss. – O último garoto, que por acaso parecia muito com o ator que faz o Thor, se levanta rumando a saída – Jaleco. – Direciono meu olhar aonde havia meu nome e sobrenome gravados no tecido branco. – Um aviso, o Peeta é dessa forma mesmo. Tchau Annie, Katniss e Cinna.

Assim que apenas resta nós três na sala os risos que Cinna e Annie continham foram soltos, reproduzindo um som alto, fazendo com que eu quisesse procurar um buraco para me esconder.

Com certeza aquele garoto de olhos azuis era um Danny Zuko loiro.

( ... )

Prim! Eu tenho que te contar sobre hoje!— Annie fala alto da cozinha com o intuito de fazer aquela mensagem audível para minha irmã que conversava comigo pelo Skype nesse momento.

Depois do episódio da monitoria, os meus amigos demoraram a parar de rir e quando o fizeram desejei que não tivesse ocorrido pois como passamos o dia juntos – por sermos da mesma sala – não houve um momento sequer sem o assunto ‘’Peeta’’.

Ou melhor, traduzindo, não houve um momento sem ‘’Katniss constrangida por um loiro gato de olhos azuis’’.

— Annie, não. – Imploro de olhos fechados para não encarar Prim na tela.

Sua desgraçada!— exclama – Eu disse para me contar se ocorresse qualquer coisa envolvendo você e alguém com órgão genital oposto!

— Prim, essa sua afirmação foi muito estranha e não ocorreu nada demais hoje, foi apenas um dia de fiscalização de provas. – Tento mentir com um sorriso enorme, porém, pela expressão inconformada da minha irmã eu não havia a convencido. 

—Você é uma péssima mentirosa, Katniss. E você sabe disso – bufo e Annie senta ao meu lado no sofá se aconchegando com um prato de macarrão com queijo em mãos – Prim! Eu não te conto, um gato deu em cima da sua irmã na frente de todo mundo na sala de aula!

Isso que é notícia, não precisava dar em cima, tinha que ser em público. Gostei desse garoto.

— Meninas, ele é um Danny Zuko. – Alerto.

— Que? – indaga Annie virando para mim com a boca cheia de fios de macarrão.

— Aqueles carinhas que andam por aí se achando super-descolados, super-pegadores, super-‘’posso fazer o que quiser’’. Não gosto. Não me interesso. – Cruzo os braços.

— Odeia, sei. – A ruiva ironiza – Mas ficou toda vermelhinha com as insinuações e com aqueles olhinhos lindos sobre você.

Ruiva, já te disse. A Katniss não é feia, não é burra, não é tão chata.— Dá ênfase no ‘’tão’’ e como consequência estiro minha língua para a pessoa em minha frente – Ela poderia ter namorado quem ela quisesse, mas há dois problemas. Um, ela idealiza o homem perfeito como se ela pudesse ter o Chris Evans. Dois, que é uma consequência do primeiro: ela dá fora em todos que se aproximam.

— Voltando a dizer: não me interesso. – Dou de ombros e roubo o garfo das mãos de Annie para experimentar o macarrão, que por sinal estava delicioso.

— Você nem o conhece! – a pessoa ao meu lado se opõe e logo após tira o objeto de minhas mãos par dar mais uma garfada em seu jantar.

— Nem preciso.

— Porém vai ter que encará-lo pelo menos até o final desse semestre.

— Ui! Annie, já que a minha irmãzinha querida não vai me dar detalhes, te deixo encarregada em me relatar as cenas dos próximos capítulos.— Pisca para Annie que faz o mesmo enquanto passo o computador que apoiava em minhas pernas para as da ruiva.

— Fiquem aí falando da minha vida, porque tenho coisas mais importantes para fazer, como colocar as matérias de patologia e anatomia do sistema urinário em dia, coisa que a dona Annie também deveria fazer. – Me inclino até a mesinha de centro pegando o Sobbota e o Robbins em mãos, em conjunto a outros cadernos dispostos pela área plana.

— Certo, mamãe. Eu já acabo minhas fofocas aqui com a senhorita Prim sobre o seu loirinho delícia. – Ela gargalha enquanto me encaminho ao meu quarto.

— Olha que eu ainda posso te enxotar às – tiro meu celular do bolso para checar a hora – dez e quarenta da noite.

— Tudo bem, eu me rendo. Não o chamo mais dessa forma. Vai lá estudar seus lindos ureteres e adrenais.

 E com isso, entro no meu quarto indo tomar de conta da minha vida acadêmica, enquanto Annie e Primrose tomam também conta da minha vida, porém, a amorosa.

( ... )

— A maior dificuldade dessa matéria é assimilar e decorar os nomes, ainda mais para vocês que estão no primeiro semestre. Depois que passarmos da etapa geral, vamos focar em cada membro locomotor, tanto os superiores como inferiores. Então, bom final de semana e até a próxima. – Dou sinalizações ao finalizar a aula para o meu grupo que majoritariamente sai da sala.

Eu disse, majoritariamente.

Além de mim, Annie e Cinna, ainda persistia uma pessoa que por ‘’acaso’’ fazia parte da minha bancada.

— Oi Katniss. – Peeta lançou um sorriso galanteador, fazendo suas covinhas aparecerem, tornando uma imagem bonita de se contemplar, porém, ao me lembrar de dias atrás reviro os olhos em sua direção e os desvio, me encaminhando até uma das lixeiras do laboratório enquanto retiro as luvas de minhas mãos e as coloco no local apropriado.

— Diz. – Tonalizo minha voz com indiferença enquanto confiro o local, vendo se algo tinha sujado com a aula de análise muscular. Percebo que meus amigos perambulam pela sala mostrando falso interesse em alguns cadáveres dispostos pelas mesas.

Eu não sabia que sacrificariam minutos de suas vidas cheirando formol apenas para descobrir o que Peeta queria comigo. Que irmandade.

— Bem, eu estou com dúvidas em bioquímica, mais especificamente nos cálculos e gráficos das enzimas, além do mapa metabólico. – Sua expressão muda para uma que nunca pensei em ver um garoto do tipo realizar, preocupada – Então... – o interrompo.

— Gente, podem sair. – Aquela sentença sai como ordem, que eles concedem dando de ombros, porém, não os impede de realizar gracinhas. Cinna faz um telefone com as mãos e sussurra um ‘’liga pra ela’’ ao mesmo momento que Annie alerta que eu estou solteira – Pode continuar. – Ando até uma das arestas da sala gélida, onde havia deixado meus pertences.

— Então, você teria algum material para me emprestar? Assim, eu ouvi que você é uma ótima aluna e a Annie disse que você até passou na monitoria de bioquímica. – bendita Annie— O que me diz?

— Eu poderia sim, é que minhas anotações dos semestres passados estão em uns cadernos.

Logo um toque de realidade vem a mim. Os cadernos para Prim. Fiz uma promessa para mim mesma que eles estariam intactos e organizados para quando a loira chegasse. E como Annie havia comentado ontem, eu nem o conheço.

— Poderia trazer para mim amanhã? Segunda temos prova. – Seu rosto ainda transmite aflição, o que me impede de recusar até por causar certa pena em mim. Não iria deixar o garoto se dar mal na prova por um capricho meu.

— Tudo bem. – Suspiro e saio da sala com Peeta em meu encalço.

— Muito obrigado. – Ele me abraça de uma maneira espontânea e em reação dou três batidinhas em suas costas.

— Humm... de nada? – comento de maneira confusa enquanto ele me solta.

— Tchau, Katniss. – Se despede, transmitindo um sorriso singelo.

— Tchau, Zuko. – Digo isso para mim mesma e saio andando para minha próxima aula, que seria de histologia.

Talvez ele fosse bipolar ou... aquele não seria um galanteador tão ruim quanto pensava.

 E até seria possível existir uma mente entre sorrisos e olhares galanteadores.

( ... )

De alguma maneira eu havia acabado de receber uma mensagem de Peeta para entregar os cadernos agora – horário do almoço - na frente do prédio universitário. Logo assimilei o ‘’liga pra ela‘’ de Cinna no dia anterior. Aqueles dois tinham dado o meu número a Peeta.

Já iria reclamar com eles no momento que encarei meu aparelho telefônico, porém, quando olhei pelos lados, não encontrei nenhum resquício do moreno ou da ruiva.

Uma hora eles teriam que me ouvir.

Voltei os meus olhos para o que tinha escrito na tela do celular e soltei um suspiro, não há um mal que não traga um bem não é mesmo? Pelo menos não teria que ficar perambulando atrás de Peeta.

Tirei os utensílios que entregaria ao loiro da minha bolsa e arrumei o sobretudo preto sobre o meu corpo. O frio já começava a se apossar de Nova York naquela época do ano, o que iria me render alguma doença respiratória ao decorrer do período.

Sai da sala me encaminhando ao local marcado. No entanto, quem encontrei não foi o loiro que esperava, mas sim um outro que não via a tempos.

— Finnick! – exclamei para o jovem que estava de perfil e com braços apertados contra seu corpo observando o movimento da rua movimentada, que ao meu chamado vira-se e me dá um abraço reconfortante. – Quando chegou? – indago assim que saímos um dos braços do outro.

— Ontem pela noite, queria fazer uma surpresa para a...

— Ah, essa é a garota de quem estava falando? – alguém se direciona para Finnick, e por acaso esse alguém era quem eu estava procurando de primeira.

— Aqui, seus cadernos Peeta. – Sinalizo, antes que Finnick possa dizer algo e ponho dois cadernos nas mãos rosadas do Zuko – Enzimas e metabolismo como pediu. Cuidado com eles. - Volto para perto de Finnick que ri da forma como fui direta com Peeta. Percebo que mais alguém compartilhava a cena e sorrio para a respectiva pessoa – Oi Gale.

Eu não seria grossa com Peeta, apenas o trataria com uma maior formalidade, já que não poderia abrir brechas para suas investidas. Não dizem que se corta o mal pela raiz? Seria exatamente isso que eu faria.

— Ainda com aquela coisa da Prim? – pergunta Finnick e sinalizo ‘’sim’’ com a cabeça – Sabe que ela não vai escolher isso, né? Quando fomos a Miami pela última vez e eu bati a porta do carro no dedo, ela não conseguia olhar para a região, como acha que ela vai conseguir olhar para um cadáver sem sentir repulsa?

— Finnick, sério, não vamos voltar a essa conversa. – Ele assente não insistindo na conversa, passa o braço por meus ombros me apertando de lado e faz carinho em meu braço com suas mãos.

— Bem, respondendo a você Peeta.  Minha namorada não é a Katniss, que você parece já conhecer, mas sim a Annie que apresentarei a vocês hoje.

Eu namorada do Finnick? Essa foi boa. 

— Nós conhecemos a Annie, junto com a Katniss e o Cinna. Eles são nossos monitores. – Gale finalmente entra na conversa, já que antes digitava em seu celular.

— Então, falando desses dois, alguém aqui os viu? – mudo de assunto questionando no mesmo momento que percorro meus olhos pelo campus. 

— Pedi para o Cinna a despistar, porque vou fazer uma surpresa. – Travo o maxilar e cruzo os braços em direção ao loiro que já sabe o motivo da minha carranca – Olha Katniss, você não sabe mentir não poderia te contar.

— E você é um péssimo amigo.  – Rebato, fazendo uma careta que é retribuída por Finnick – Além de perder meus acompanhantes para o almoço sou taxada de boca frouxa.

— Eu posso ir com você, estou morto de fome e sem acompanhantes de mesma forma. – Gale comenta e eu agradeço internamente por ele estar livre ao invés de Peeta – Vamos?

Confirmo e atravessamos a rua. Sinto uma estranha sensação de ter um sol queimando minhas costas, a sensação de estar sendo observada. 

Setembro, 2017

Gale era uma boa companhia. Era um cara natural, inteligente, sem um ego inflado – como achei um dia ter - e com um belo senso de humor. Quem o namorasse teria que estar à altura pela grande pessoa que é, porém, o mesmo me disse que tinha o famoso dedo podre.

E com isso o fiz me contar de algumas experiências, prologando nossa conversa. 

Nosso almoço se saiu muito bem, juntamente ele me contou que assim como Peeta conhecia Finnick por seus pais serem amigos. Tinham uma relação de longa data e eu até tentei imaginar um mini dos três garotos, o que me rendeu risadas repentinas das quais deixei Gale sem entender. 

Logo depois daquele dia não houve nenhuma risada da minha parte.

Eu estava preocupada nas semanas seguintes, diversas provas tanto práticas como teóricas vieram em um curto período de tempo, o que me deixou com nervos à flor da pele.

 Não falei muito com Finnick depois daquele dia, Peeta não me procurou mais, Gale parecia perceber minha aflição não ousando se aproximar e havia um longo período de tempo que não falava com meus familiares. As únicas pessoas com quem ainda trocava algumas palavras eram os dois que não largavam do meu pé, conhecidos como Annie e Cinna.

Ontem tive um tempo para descansar e liguei para Primrose, já que era necessário dar notícias e perguntar como estava em casa. No entanto, uma conversa que deveria ser relaxante só aumentou minha pressão e fez minha cabeça latejar.

— Katniss, você vai ter que conviver com isso. – Comenta Cinna passando a mão pelas minhas costas tentando me fazer um conforto – Prim só não tem as mesmas ambições que você, aliás, a vida é dela.

— Cinna eu sei, não precisa ficar repetindo isso. – Cruzo os braços e me endireito no banco do carro já estacionado e me altero ao falar – Mas eu planejei tudo, deixei todas as minhas anotações, já estava me preparando para mudar toda a minha casa para a vinda dela. E no final ela escolhe um curso que nem faz menção as minhas anotações e ainda por cima, mesmo passando aqui ela escolhe ficar na Flórida.

— Katniss, ela tem os motivos dela. Você não pode controlar a vida de todo mundo só por achar que a sua é o maior exemplo a ser seguido. – O moreno suspira e passa as mãos pelo rosto.

Cinna poderia ser um ótimo amigo, sempre estar comigo nas piores horas, – aquela era uma delas – mas ele sempre foi respeitoso, tão respeitoso a ponto de todas as vezes me dizer a verdade.

E aquela última era uma delas e infelizmente ela doeu.

— Abre a porta. – Peço em voz baixa, sentindo meus olhos queimarem pela vontade de chorar.

Meu pedido é consentido e fecho a porta do carro rapidamente ainda com certa força por estar sentido uma raiva crescente no meu interior. Percorro o caminho em passos largos, apenas desejando logo chegar a sala de aula que a este horário estaria vazia, tudo que eu queria era ficar sozinha com os meus pensamentos.

Entretanto sou parada por um garoto loiro de olhos azuis do qual não estava nem um pouco interessada em conversar.

— Hey Katniss, eu posso ir deixar os cadernos hoje na sua casa? Esqueci completamente na vinda. – Questiona Peeta me acompanhando na caminhada.

— Como queira. – Digo em um fio de voz ainda concentrada em meus próprios passos.

— Mas preciso do seu endereço. – Ele alerta e bate de ombros com algum outro garoto por querer acompanhar minha caminhada apressada e logo pede desculpas.

Paro minha caminhada e retiro meu celular da bolsa enquanto sou observada por Peeta, mando para ele uma mensagem com as coordenadas e quando tento voltar ao meu caminho vejo uma ruiva correr em minha direção com os olhos esbugalhados e respiração ofegante.

— O Irma chegou na Flórida.

(...)

Não sei quantas ligações foram realizadas por mim nas últimas horas mas já eram nove horas da noite e eu não tinha retornos.

Ulteriormente ao anúncio da minha amiga ruiva sai apressada pedindo para que avisassem que não iria assistir as aulas do dia.

Cheguei em casa.

 Liguei a televisão em um canal de notícias esperando sair algo sobre o furacão. Abri o computador fiquei atualizando os acontecimentos do dia, mas nada novo saia. Liguei para os meus pais e Prim, sem sinal.

Nada.

Eu não conseguia chorar, não conseguia expressar nada. Tudo que eu queria era alguma notícia e a apreensão estava me consumindo por inteira.

Nesse momento estou envolta de cabos conectados a tomadas e com olhos vidrados no anúncio oficial de que Miami está alagada.

No período em que estive nessa busca por informações saíram na internet vídeos do tipo, escolhi não vê-los.

Não queria observar tamanha catástrofe. Meu querer era que alguém me desse algum sinal de vida.

Sinto um toque em meu ombro e com o gesto me viro rapidamente dando margem para encarar a pessoa.

Bufo e começo:

— Pode deixar em cima da mesa. Aliás, como entrou aqui?

— A porta estava aberta. – Sinaliza Peeta apontando para o local.

Como você esqueceu de fechar a porta Katniss?

— Então... você está bem? – Inquere o loiro assim que passa a chave na porta e se encaminha ao meu lado no chão observando o estado da minha sala.

— Não percebe que essa é a pergunta mais estúpida a se fazer agora? – expiro o ar preso em meus pulmões e volto os meus olhos ao computador, atualizando mais páginas.

— ‘Tá... vamos para uma outra alternativa. – Ele faz uma pausa por alguns segundos e logo retorna – Você não comeu.

— Comi sim. – Tento alegar cruzando os braços e revirando os olhos, em seguida pego o controle da TV e busco por outros canais alguma informação.

— Vai tomar banho que eu vejo o que consigo fazer ‘pra você. – diz Peeta já se levantando e desligando o aparelho em que estava atenta.

Mas que astúcia é essa?

— Olha, você não é nem meu amigo e não tem nada a ver com a minha vida. Então não tem o direito de invadir a minha casa e me dar ordens. – Altero minha voz franzindo o cenho e ligando de novo a televisão com o controle.

— É, mas eu sei o que acontece. – Vejo as cores sumirem da tela de novo e Peeta me encara friamente – Você vai ficar procurando informações a todo momento e uma coisa eu te digo: você não vai receber de imediato então é melhor se acalmar porque com isso você só vai sofrer mais.

— E você se importa comigo agora? Até parece, você é só um carinha que anda aí se achando o tal, o famoso galinha orgulhoso. Eu deveria ouvir alguém que ficou me encarando no primeiro dia de convivência apenas para me fazer ficar envergonhada?!

— Katniss, vai tomar banho e esfriar a cabeça. – Suspira Peeta de olhos fechados, parecendo que estava se segurando para não ser grosso comigo.

Ele sai do meu campo de visão assim que se encaminha para a cozinha, me deixando sozinha no local. Peeta não iria sair do meu pé mesmo que tentasse o expulsar da minha residência.

O mais fácil seria seguir suas ‘’ordens’’.

Desligo o computador e deixo o celular na mesa de centro, pego a primeira muda de roupa que avisto e rumo ao banheiro.

Observo meu reflexo atentamente após duas semanas, eu não estou a mulher mais bela. Na verdade, eu não estou nem apresentável.

Olheiras enormes, – provavelmente adquiridas pelo tempo de estresse recente – olhos vermelhos pelo direto contato com dispositivos digitais, magreza bem aparente, cabelos desgrenhados e pele pálida.

Quando menos percebo já estou debaixo do chuveiro deixando a água escaldante cair sobre o meu corpo despido. Fecho os meus olhos e penso no que Cinna disse para mim mais cedo, sobre o meu narcisismo e arrogância.

Ele não estava errado de qualquer forma e eu não tinha como esconder isso. A amostra dessas duas características poderia ser exemplificada pela última conversa que tivera com Peeta a alguns minutos atrás.

O que não se difere do meu controle sobre Prim. Eu realmente quero que ela siga meus passos.

Contudo, o mais importante é que: ela não quer.

E eu teria que aprender a conviver com isso. Elevei muito as expectativas para uma vida que não me pertence e eu devia desculpas a Prim.

Em contrapartida, eu não conseguia me comunicar com ela.

— Katniss, a comida está pronta.

Me ensaboo rapidamente e me enrolo em uma toalha. Direciono meu olhar para o espelho, estava menos mal que antes. Tento fazer os músculos da minha face darem um sorriso, no entanto, não foi decentemente possível realizar esse feito.

Me troco e saio do banheiro me encaminhando a cozinha, sentindo um cheiro muito bom vir da mesma.

Adentro o local e vejo uma figura loira mexendo em uma frigideira com precisão, logo após despejando o conteúdo em um prato.

— Fiz macarrão campestre. Já que na sua geladeira apenas tem legumes e na dispensa macarrão, não há melhor receita que essa. – Comenta se virando para mim e direcionando até a mesa retangular do local, onde se senta em uma cadeira e em seguida faço o mesmo.

Observo toda aquela montanha de massa, toda aquela quantidade de carboidratos. Aquilo me assustava, juntamente com os olhares de Peeta alternando entre mim e a comida.

— Sério que eu vou ter que te alimentar como uma criança? – me encara com uma expressão tediosa, colocando seu cotovelo na mesa e apoiando seu rosto com a mão.

Muito engraçadinho ele.

Pego o garfo e começo a espetar os legumes e os colocar na boca, recebendo uma reprovação de Peeta.

— Eu não vou comer tudo isso.

— Depois eu que sou orgulhoso. – Ironiza e eu olho feio em sua direção - Vamos lá, Katniss.

— Ainda me pergunto porque você continua aqui – enfio uma quantidade de massa na boca e o garoto a minha direita sorri.

E nossa, realmente, aquilo estava muito bom.

— Porque eu quero. – Dá de ombros.

— Eu não te convidei. – Provoco – Até porque não estou com humor para visitinhas, como você mesmo viu.

— Nossa que grossa. – Ele coloca a mão direita no peito teatralizando sua oração, o que me faz soltar um sorriso amarelo.

— Olha, se você não estivesse fazendo medicina, diria para realizar o curso de gastronomia. Isso está muito bom. – Dou mais uma garfada e quando encaro o loiro, ele sorri para mim fazendo minhas bochechas esquentarem.

Enquanto consumo o jantar que Peeta fez para mim, ele me olha por alguns instantes o que me faz ficar meio constrangida. O loiro tinha um olhar – como dito por mim a semanas atrás – um tanto quanto estranho, para minha pessoa era impossível saber o que aquele garoto estava pensando ou o que aqueles azuis queriam transmitir.

— Por que acha que sou tão mal? – questiona no momento em que lavo a louça suja.

Eu não estava esperando essa pergunta, não mesmo.

— Humm... porque você é. – tento fugir da pergunta e agradeço por estar de costas para ele, o impedindo de me ver ruborizar.

— Porque você acha que eu sou o típico cara de filme de colegial, líder do time de futebol americano, sem cabeça e que apenas se importa com sexo. – Ouço suas risadas soarem por trás de mim o que me leva a fazer a mesma ação. Acabo com a minha tarefa e me viro para ele, me apoiando na bancada da pia.

— ‘Tá mais pro Danny Zuko.

— Danny Zuko? Virei um líder de gangue, gostei. – Volto a me sentar ao seu lado. – Mas se fosse para escolher a minha Sandy, nunca seria você. – Debocha e arregalo os olhos em sua direção.

— Eu posso ser uma pessoa meiga e fofa sim. – Peeta me fita com uma feição debochada e eu me acomodo na cadeira – Certo, eu não consigo ser meiga e fofa com você.

— Wow, sou tão especial assim? – gargalha de mim e sai da cadeira passando para sala, fazendo menção em guardar meu computador.

— Não! – tiro o computador de suas mãos bruscamente, uma ação que até o assusta – Eu ainda vou ver umas coisas da... faculdade.

— Você deveria escutar o Finnick, você não sabe mentir. – Debocha de mim arrancando o equipamento do meu aperto.

— Para de agir assim! – o seguro pelo ombro, impedindo que ele resguardasse o computador na maleta disposta sobre o sofá.

— Assim como? Me preocupando com você? – é a primeira vez que vejo Peeta ficar bravo com alguém, sua alteração de voz me faz estremecer. Não pela forma ríspida que proferiu tais palavras, mas sim porque talvez ele fosse embora assim que soltasse seu ombro.

E depois que ele apareceu de repente, não quero que ele vá.

— Desculpe. – Sussurro e abaixo a cabeça encarando meus pés gélidos.

— Olha Katniss, eu sei o que você acha de mim, até acabou de afirmar o que eu pensava anteriormente. Mas não fique achando que eu sou um insensível. Eu sei pelo que você está passando, não é nada agradável ficar sem notícias quanto mais precisamos delas, mas você precisa deixar que as informações venham até você nesse momento. Pois como tinha dito anteriormente, você vai sofrer mais se continuar assim.

Peeta se solta do meu aperto e eu continuo olhando para baixo pelo meu constrangimento.

Que merda você fez Katniss.

 Fecho os olhos e espero a porta da frente bater, ao invés disso sinto braços passarem pelo meu corpo.

Me sobressalto de primeira, mas logo retribuo o abraço de forma possessiva.

Carência. Culpa. Isolamento. Cansaço.

Essas eram apenas algumas palavras que me definiam no dia.

— Você é muito clichê sabia? – indago de maneira humorada e ao mesmo tempo triste.

— Não, por quê?

Peeta passa suas mãos pelas minhas costas, transmitindo um bem-estar. Arfo e aconchego minha cabeça em seu peito.

— Porque vem atrás das mais difíceis.

— Muito convencida você. – Se desvincula do abraço e se encaminha ao sofá se aconchegando no local enquanto eu sento no chão gélido.

— É, talvez.

Logo após um silêncio toma conta do ambiente e tomo uma atitude considerada insana a horas atrás.

— Amigos? – levanto meus olhos para conseguir ver seu rosto que dá um modesto sorriso.

— Claro. Até quando você não perceber que é caidinha por mim, seremos só amigos. E um segredo. – Lança um olhar galanteador, parecido com o do dia em que nos conhecemos e sai do sofá, se ajoelhando perto de mim fazendo menção em falar algo no meu ouvido -  Sobre o primeiro dia... era mesmo para te provocar.

Outubro, 2017

Recebi uma ligação do meu pai na manhã seguinte, estava tudo bem com todos.

Segundo ele me preocupei demais, realizei a conhecida tempestade no copo d’água.

Antes de finalizar a ligação pedi para falar com Primrose que concedeu à contra gosto por pressão do patriarca, logo se explicando com frustração em sua voz. Em contrapartida, no final da conversa eu já chorava pedindo desculpas por negligenciar suas escolhas e ela me dizia para não se preocupar porque já havia me perdoado.

Depois de entrar em contato com a minha família e retornar a minha rotina, eu poderia me concentrar mais na faculdade. Por isso, tentei entrar na Liga de Pediatria, passei no teste teórico, no entanto, quando ocorreu a entrevista fui rejeitada por ser muito ‘’séria’’. 

O que aquilo realmente queria dizer?

No final das contas, descobri que se tivesse sido aceita teria que fazer uma Contação de Histórias na palhaço-terapia. E com certeza, aquilo não era para mim. Não que eu não gostasse de crianças, apenas pensava que eu teria outro posto na Liga.

O terceiro período estava carregado de assuntos, genética era um deles, que apesar de sempre ter gostado estava cada vez mais aprofundado e consequentemente complexo. Assim como imunologia, um assunto de grande importância para medicina moderna – o que me fez estudar com muito cuidado.

A monitoria de anatomia não me atrapalhou, tentava até correlacionar os assuntos estudados por mim – como transplantes, que é um tópico da imunologia – o que no final foi de grande ajuda.

Eu ainda fazia anotações nos cadernos e já que Prim não iria cursar medicina, Peeta ficou definitivamente com todos eles. Quando acabamos de conversar na minha casa naquele dia entreguei o restante das anotações do primeiro semestre para o mesmo, que agradeceu e foi embora.

Nossa amizade ia bem, ele não dava investidas e eu não o tratava com indiferença, assim tudo corria bem. Nós tínhamos conversas provocativas, que segundo Finnick ‘’eram nossa forma de demostrar amor’’, que por sinal teve a ideia de fazer o Halloween desse ano em sua casa, já que o último feito na minha tinha sido muito sem graça. 

O que havia de sem graça em assistir Gasparzinho enquanto comíamos hot dog’s em formato de dedo?

Depois de algumas contestadas aceitei a rejeição dos meus amigos quanto as minhas ideias passadas, de qualquer forma a festa seria na casa de Finnick, onde dezenas de pessoas seriam chamadas, a bebida iria rolar solta e filmes de terror – sem ser infantis, segundo ele – seriam postos para quem quisesse assistir.

Esse ano teria uma novidade: acompanhantes com mesmo tema de fantasia.

E com certeza aquilo era uma tentativa fajuta de me fazer par com Peeta.

— Eu vou com a minha Annie, é claro. – Finnick dá um selinho na sua tão amada namorada, fazendo todos na mesa rolarem os olhos com o tanto de mel contido tinha aquele casal.

O casal nos convocou em pleno sábado para ir ao Hard Rock Cafe anunciar a festividade. Me fazendo resmungar, pelo pensamento de que o encontro fosse mais importante.

Qual é, não podiam mandar uma mensagem ou avisar na segunda?

— Acho que vou convidar o Jessie. – Avisou Cinna ao meu lado fazendo uma cara safada arrancando risos de mim enquanto tomava minha coca cola.

Assim como Prim, eu havia me desculpado com Cinna, que em seguida me contou de suas novidades: Jessie, um cara que havia conhecido por meio de seu primo.

Eles estavam saindo há algumas semanas e eu apoiava a relação, já que Jessie parecia fazer Cinna feliz sendo ele mesmo. O moreno tinha me contado que queria ir com calma na relação, já que suas últimas foram fracassadas pelo fator pressa.

— Vai convidar a Madge, Gale? – Peeta se vira para o amigo que logo fica vermelho com a insinuação e eu me surpreendo, logo entrando na conversa.

— Quem é Madge?

— É... – Gale coça a cabeça ao começar e todos o observam com expectativa – Uma garota que conheci há uns dias atrás na Capital, ela faz arquitetura.

— Perdi todos os meus amigos. – Faço drama colocando minha mão direita no peito enquanto a outra deu um toque leve na mesa circular.

— E eu sou o que? – indaga Peeta com um olhar indignado se vira para mim.

— Um objeto material.

— ‘Tá vendo aí Peeta? – diz Cinna cruzando os braços com um sorriso estampado no rosto – A Katniss te ama apenas pelo que você tem e não pelo que você é.

— Pois é, ela apenas gosta do meu lindo sorriso – abre a boca revelando seus dentes braços - e das comidas que trago ‘pra ela. – Reviro os olhos e começo a me defender:

— Primeiro, eu não te amo. – Burburinhos começam, ‘’você apenas não confessa Katniss’’ – Segundo, sem esse sorrisinho – Peeta desmancha a expressão e finge uma séria – e eu gosto mesmo das suas comidas, quer que eu diga o que, Zuko?

Depois do dia do furacão, Peeta começou a trazer alguns doces para mim o que me alegrou nas semanas de estresse, fazendo – infelizmente – eu aumentar umas gramas.

— ‘Tá bom, tá bom. Todos já têm uma ideia de par. E vocês, vão finalmente se assumir? – após dizer algo para o atendente do local Annie inquere com um sorriso desafiador.

— Se tivesse algo para assumir, eu assumiria. – Dou de ombros e Peeta se faz de ofendido, arrancando de todos risos.

— Você não contou a eles dos nossos beijos às escondidas, Katniss? – o loiro faz piada e eu dou um leve tapa em seu braço me inclinando para pegar mais batatas fritas.

— Afinal, o que todos querem saber: vocês vão juntos? – sinaliza Cinna.

— É, pode ser. Katniss? – Peeta se prontifica a responder e me olha com aguardo, assim como todos os outros.

Ir com Peeta não iria me matar.

— Tudo bem. – Levanto as mãos em rendição e a comemoração é sentida.

A conversa flui para outros rumos, continuando com momentos leves e de descontração, até que Peeta sussurra algo perto do meu ouvi causando em mim arrepios:

— Já sei qual a nossa fantasia, Sandy. 

(...)

Oi Katniss!— exclama uma voz enjoada atrás de mim e o pior, eu conhecia a pessoa proveniente daquela voz.

Um. Dois. Três. Respira. Sorriso falso. Vira.

— Oi Delly!

Continua com o sorriso, Katniss, só continua. Sua boca vai rasgar? Talvez, mas continua. Depois você mata o Finnick por ter convidado essa naja.

— Bonita sua roupa. Só acho que está um pouco apertada. – Sinaliza, apontando com o indicador pintado de vermelho, combinando com sua fantasia de diabinha.

Sinceramente, ela deveria usar aquilo todo dia, parece a forma como ela veio ao mundo. As pessoas nascem apenas nuas, no entanto Delly era com certeza uma exceção, ela veio ao mundo com dois chifres e uma cauda, apenas para infernizar a vida das pessoas – ou pelo menos a minha.

 - É, obrigada. Agora preciso ir falar com o Finnick. – Aviso e quando ia subindo as escadas ela me puxa pelo braço me fazendo virar com um simulado singelo sorriso para a loira irritante. 

— Mas uma coisa, do que ela é? Digo, a fantasia.

O que aquela criatura diabólica queria comigo, afinal?

Um braço com um agasalho branco passa pelo meus ombros e puxa meu corpo para si.

— De um filme de 78, Grease. Mas você não deve saber, Delly. É muito moderninha para essas coisas, não é? – Peeta encara a loira de forma galanteadora e aquilo de certa forma de assustou e me deixou curiosa. De onde ele conhecia Delly?

Ah, depois descobriria isso. Eu agora tenho outros assuntos para resolver.

— Pois é, se vocês já se conhecem, fiquem aí conversando que eu preciso encontrar o Finnick. – Tiro o braço de Peeta que franze as sobrancelhas em minha direção enquanto Delly a lançava olhares sugestivos em direção ao meu acompanhante.

Subo pelas escadas com os meus saltos vermelhos altíssimos à procura de um Han Solo de olhos verdes.

O apartamento de Finnick dava acesso ao telhado do prédio, onde estava a maioria das pessoas, por isso, tive que me espremer entre elas, que dançavam ao som de uma música não conhecida por mim. Finalmente o encontro ao lado da sua Princesa Leia, tomando ponche e conversando da mesa onde tinha essa bebida, com Madge - que eu havia conhecido a pouco tempo.

— Odair. Vem cá. – O seguro pelo colete com força, deixando as duas que antes o acompanhavam na conversa com questionamentos. Assim que conseguido levá-lo para um local menos barulhento começo com meu discurso raivoso – Por que convidou a Delly? Você sabe que eu e ela nos odiamos. – Puxo Finnick e encaro diretamente os seus olhos cor de esmeralda – E você sabe que se Annie descobrir o que ela fez comigo ano passado, ela mata eu, você e Cinna por não termos contado a ela. E ainda de quebra ela manda aquela lá ‘pro inferno, onde é o lugar dela.

— Calma Katniss. – Ele segura meus ombros e me afasta, fazendo com que eu tire a pressão da minha mão sobre o tecido – Respira. - Finnick começa a massagear meus ombros desnudos e assim acalmo meus ânimos, depois desse acontecimento ele volta a falar – Eu não a chamei.

— Não chamou?

— Não. Se quiser que eu a tire daqui, eu tiro. Onde ela está? – indaga, olhando pelos arredores cheios de iluminação roxa.

— Lá embaixo com o Peeta. Mas não precisa, deixa ela lá. Melhor que arrumar confusão. – Dou de ombros e ele assente. Me lembro de perguntar uma coisa antes que voltemos a mesa de bebidas – De onde o Peeta conhece ela?

Assim que pergunto o Han Solo para, causando estranhamento.

— Promete não ficar brava? – questiona com medo em sua voz e face.

— Vou pensar em seu caso. – Dou risadas, mas meu coração parecia se comprimir a cada segundo que passava.

O que é isso, Katniss?

— Eles já foram namorados.

— Eles o que? – profiro aquelas palavras com alta entonação, chamando atenção das pessoas que estavam próximas de nós conversando – Eles o que? – repito próximo ao ouvido de Finnick.

— Foi no colégio, não durou muito. Além de que foi o Peeta que terminou. Não se preocupe com isso. – Sussurra dando risadinhas. Assim que consigo ver seu rosto de novo traço uma carranca em consequência do que acabou de dizer.

— Cala a boca.

O puxo de volta para onde encontrei, tendo que passar novamente entre várias pessoas – algumas delas já bêbadas. Encontro Annie sozinha com uma expressão mal-humorada.

— Aí estão eles, pensei que nunca mais iam voltar. – Comenta com raiva, me querendo fazer rir. Não apenas pela forma como disse, mas agora que parei para analisar, Annie ficava estranhamente fofa de Leia.

— Cadê os casaizinhos? – indago enchendo até a borda o meu copo de ponche, recebendo uma desaprovação de Finnick com a cabeça.

— Ali, todos se pegando. – Indica dois cantos do lugar. Em um canto mais escuro estavam Gale e Madge trocando beijos singelos, acho que poderia dizer juras de amor pela forma que se encaravam. Já perto da escada Cinna e Jessie se pegavam loucamente.

Cadê a calma meus amigos?

— Você está muito bem minha princesa. – Me reverencio em direção a Annie que muda de expressão, sorrindo singelamente para mim.

— Digo o mesmo, Sandy. – Elogia, me olhando de cima a baixo.

Aquela roupa preta não estava apertada antes de Delly comentar, mas agora meu psicológico deixava ser levado, eu sentia uma agonia inexplicável dentro daquelas vestes.

— Nem tanto. – Comento, virando de uma vez meu copo, deixando Annie impressionada enquanto Finnick desaprovava meu ato novamente.

O gosto cítrico... aquilo realmente estava bom.

Eu ia virando copo a copo e nem percebi quando Annie e Finnick sumiram em meio as pessoas que dançavam freneticamente.

Puff, bando de bêbados. E eu podia falar o que depois de... sei lá quantos copos?

— E aí, Katniss? – um colega de Finnick se aproxima de mim com um sorriso enorme e vestido com uma cueca dourada.

Certo, ele quer impressionar com The Rocky Horror Pircture Show.

— Brutus, é melhor você sair logo. Eu estou bêbada e você não quer levar um fora nesse estado, eu não vou ter piedade. Tchau. – Ele desmancha o sorriso e sai frustrado, provocando gargalhadas em mim.

Me apoio melhor na sacada conseguindo me equilibrar em cima de meus saltos. Afofo meus cabelos cheios e passo as mãos pela minha roupa – que por sinal, foi Peeta que comprou - a arrumando.

 Tudo perfeito.

Passo facilmente pelas pessoas que dançavam ao som de Shape Of You, posteriormente descendo as escadas com um pouco mais de dificuldade, por causa da tontura que começava a se tornar presente.

A sala estava diferente de quando cheguei com Peeta, agora os sofás estavam afastados e uma rodinha de pessoas com uma garrafa no meio.

As pessoas aqui têm o que? Doze anos?

Quando decido tomar rumo para o banheiro algo me chama atenção. Na verdade, duas pessoas se beijando. Mesmo bêbada não demorei para reconhecer a loira vestida de vermelho e o garoto deitado praticamente embaixo dela.

Delly e Peeta.

É, Finnick tinha razão, eu não tinha com o que me preocupar. Não precisaria me preocupar com a ocupação da boca de Peeta.

Ele era sim o que eu pensava no início.

Meus olhos queimam e saio de cena de queixo erguido. Mesmo que ninguém ali tenha percebido minha presença e os aplausos sejam numerosos, eu não deixaria nenhuma mísera pessoa me ver chorar. 

Entro no banheiro, fecho a porta e respiro fundo.

Você não vai chorar, Katniss.

Me olho no espelho.

O que estava acontecendo comigo?

Um enjoo percorre o meu corpo e logo minha boca é aberta por um jato de suco gástrico e álcool misturados, minha sorte é que consigo abrir logo o vaso sanitário impedindo que o local fique imundo.

Depois de vomitar, me encosto na parede já sem forças para me levantar. E fico por lá mesmo, amanhã seria outro dia. Então me contento a dormir ao som de New Rules.

Novembro, 2017

— Katniss! – apresso os passos quando ouço Peeta me chamando pelo corredor – Katniss! Para de fugir! – viro à direita não sabendo qual rumo iria tomar, apenas não queria conversar com aquele falso.

Como cheguei a esse estado?

Depois de acordar com hálito de vômito e dor de cabeça no Halloween praticamente tudo voltou ao que era antes.

Eu era indiferente em relação ao Peeta e aquilo era o bastante.

Até ele me questionar o porquê do meu modo de agir com o próprio estar diferente e eu ter que mudar minha tática. Passando a ignorá-lo.

Onde eu poderia encontrar a dona daqueles lindos cadernos? Quer ir ao cinema conosco? Uma sorveteria nova abriu, quer ir comigo amanhã? Amanhã vou trazer seus doces prediletos, pode ser? Katniss? Por que não fala nada? Te deixei brava com alguma coisa? Aconteceu algo com a sua família?

Esses eram questionamentos mandados por mensagem, dos quais eu não respondia a quase um mês.

Peeta tentou falar comigo diversas vezes após as aulas de monitoria – que por sinal foram diminuindo por estar chegando o final do ano – no entanto, eu sempre conseguia despistá-lo ou arrumava uma desculpa.

Os meus amigos estranharam minha maneira de agir com Peeta e me perguntaram várias vezes o que havia ocorrido, mas não os contei nada.

Até porque não queria admitir que começara a sentir algo por Peeta. Já que isso havia acontecido, nada melhor que distância para me fazer esquecer desse sentimento instigante – e se fosse possível, até do próprio loiro.

Tudo se resumia a importante análise de Coin sobre mim, avaliações e colocar matérias em dia. Ou pelo menos, para mim.

Sim, eu estava fugindo do problema Zuko.

 Sinto uma mão forte agarrar meu braço e parar a minha quase corrida.

— Dá para me escutar? – os olhos azuis me fuzilam e mesmo assim não baixo a guarda.

— Não, me desculpe agora tenho coisas importantes a fazer com alguém. – Impulso meu corpo para frente tentando sair de seu aperto, porém, falho – Poderia fazer a gentileza de me soltar? – solto entre dentes.

Antes que uma palavra saísse de sua boca ele me arrasta para dentro da primeira sala que vê. Peeta desfaz o aperto do meu braço e se encosta na porta me impedindo de passar.

Sério isso? Desde quando virei um cachorrinho?

— Por que está me evitando?

— Eu não estou te evitando.

— Não?

— Não.

— Então com quem ia resolver tais ‘’coisas importantes’’. – Faz aspas no ar com um tom irônico e raivoso ao mesmo tempo.

— Annie. – Solto o primeiro que vem a minha cabeça.

— Annie foi almoçar com o Finnick. – Rebate.

— Ah, Annie não, o Cinna. – Cruzo os braços em modo de defesa.

— O Cinna foi falar com a Coin.

Pensa Katniss!

— Pois é, eu ia encontrar eles.

— Para quê?

Idiota!

— Almoçar.

— Almoçar com a Coin? – ele solta uma gargalhada e volta a me encarar ainda risonho.

— Olha, eu não te devo satisfações da minha vida. – Travo o maxilar e me encaminho em sua direção tentando o tirar de frente da porta.

— Pare de mentir, Katniss! – ele bate em suas coxas se mostrando inconformado, me fazendo estremecer junto com o tom irritadiço em sua voz.

— O que quer que eu diga? – deposito minha bolsa em cima de uma carteira e cruzo os braços, percebendo que não vai sair de frente daquela porta nem tão cedo.

— Por que está me evitando? – reviro os olhos e digo algo que logo me arrependo.

— Pergunta para a Delly.

— Delly? – Peeta se faz de desentendido o que aumenta o sentimento crescente de raiva que se apossava do meu ser. Eu via a hora agredi-lo fisicamente e logo após sair correndo da sala – Do que você está falando?

— Por onde eu começo? – bato o pé no chão repetidas vezes e continuo cínica – Pela parte em me deixou sozinha a festa inteira ou pela parte que você estava deitado beijando aquela piranha na frente de todo mundo? – meus olhos estão em chamas, mas não desvio o olhar rígido em direção ao loiro que parecia tentar se lembrar de algo.

— Okay... isso pode ter acontecido, mas eu estava bêbado! – suas palmas ficam abertas na altura dos ombros, em sinal de defesa – Se bem, você mesma disse que não iríamos ter um relacionamento.

— Cala a boca, Peeta. – Me aproximo dele, que protege a madeira com as mãos, não me deixando passar – Me deixa sair! – tento tirar seu corpo de frente da maçaneta ao menos, porém, parece uma missão impossível.

Logo faço a coisa mais estúpida que poderia ser pensada para aquele momento: eu beijo o desgraçado.

Foi uma ideia bolada em mente para o distrair, mas quando percebo já estou imersa naquela sensação prazerosa que o beijo me proporcionava.

Tento sair do transe e enquanto beijava Peeta, consigo pegar minha bolsa em cima da mesa e logo inverto nossas posições, me deixando de costas para a porta. Penso em sair logo, mas... algum tempinho a mais não ia matar ninguém, não é mesmo?

Quando o fôlego nos falta Peeta logo abre a boca para falar algo, porém o seu estado ofegante impede esse ato. Eu arregalo os olhos, o observando assustada.

Procuro a maçaneta atrás de mim e logo corro para fora daquele local, andando em disparada pelos corredores, me dirigindo a saída.

Olho para trás e Peeta não me segue.

Oh merda! O que eu fiz?

Dezembro, 2017

Meu final de ano estava de mal à pior.

Meus pais não conseguiram vir no Natal pela empresa em que pai trabalha não o ter liberado. O que me fez passar essa data na casa dos pais de Finnick, com sua grande família alegre – aquela de comercial de margarina, sabe? – com uma grande ceia e vários jogos envolvendo presentes dos quais fiquei de fora por não estar no clima.

Basicamente fiquei sentada no sofá trocando mensagens com Prim que parecia triste pelos mesmos motivos que eu, junto ao fato de que seu primeiro Natal em Nova York não ocorrera.

Para minha grande surpresa – ou não – Peeta e seus pais vieram passar o Natal com os Odair. Seus pais pareciam ser gentis e bem acolhedores, algo que tirei por minhas conclusões, já que apenas os cumprimentei sem prolongar nenhuma conversa.

Diria que fui seca com todos que cumprimentei, meu humor estava um completo lixo. Este que foi – com certeza - notado por todos os presentes, que escolheram não me induzirem a nada.

A noite foi tranquila, o que eu agradeci internamente por um Zuko loiro não ter se prontificado a falar comigo como sempre faz. Mesmo eu percebendo que Peeta me espiara por alguns momentos enquanto falava com Finnick e Annie assim que chegou – já que eles haviam descoberto sobre Delly e o beijo pelo próprio Peeta semanas atrás.

Não trocamos mais que uma saudação, dizendo nossos nomes de forma rápida enquanto seus pais se apresentavam para mim.

E com sorte, isso foi o bastante.

Instantes depois do jantar ser servido eu sorrateiramente me despedi dos anfitriões da festa inventando uma dor de cabeça e sai apressada pela porta dos fundos, tentando não chamar atenção dos demais convidados.

Eu só queria estar perto da minha família vestida com suéteres bizarros, cantando canções natalinas velhinhas e com um copo de coca cola em mãos esperando ansiosamente sair do forno os biscoitos de canela super-decorados que fazíamos.

Naquele dia eu apenas cheguei em casa, olhei para os arredores e encontrei a solidão; esta que me acompanharia ao lado de Esqueceram de Mim até eu dormir -  uma tentativa falha de me sentir em casa.

Eu teria que esperar pelo próximo ano.

E ironicamente o Ano Novo, assim como o Natal foi destruído.

A viagem do Natal não conseguiu ser reposta antes do dia 31, já que não haviam voos disponíveis, me fazendo ficar furiosa em meio a notícia dada pela minha mãe – que tentava me acalmar dizendo que chegariam no dia 3 pela madrugada. Desliguei ainda revoltada, tento esse sentimento logo reposto pela tristeza, acompanhada de um choro e soluços agoniados.

Sério?

Eu não estava acreditando, todo esse tempo sozinha me contentando apenas com ligações e chamadas de vídeo. Naquele dia cogitei tantas vezes pedir transferência para a Flórida, desistir de tudo que havia construído de Nova York e voltar para a minha família.

Tudo que falam sobre essa cidade ser fria e sufocante? É verdade. E de certa forma em meio aos meus lençóis molhados e abarrotados eu percebi que o ar poluído de Nova York já havia me sufocado.

Eu estava poluída.

— Annie, o que acha de eu pedir transferência para Miami? – questiono para a ruiva que amarrava atenciosamente o cadarço de suas botas de cano médio.

— Do que você está falando, Katniss? – ela pôs os olhos grandes sobre mim de forma espantada antes até de eu terminar minha fala.

Só fala, Katniss. Não tenha medo desses olhos verdes.

— Bem, eu estava pensando em voltar. – Suspiro, mordendo o lábio inferior em expectativa a sua reação.

— Você está louca?! – Annie salta da cadeira que estava sentada e se encaminha em minha direção com uma cara nada amigável – Olha Katniss, se for pela Delly, esquece aquela ali ‘tá bom?! Eu sei que você ficou chateada com ela te infernizando de novo sobre o seu peso na noite do Halloween, além da infeliz ter beijado o Peeta...

— Espera aí, ‘’de novo’’? – faço aspas com as mãos e arregalo os olhos. Annie sabia do que havia acontecido. – Você sabia? Por que não me disse?

— Katniss, esse não é o ponto. – Annie parece descartar tudo que eu havia inquirido e volta a falar - Você não pode voltar para Miami! – aponta para mim com uma escova que estava em cima da cama, dando um ar ainda mais dramático a cena.

— Annie, como você descobriu?

— O Finnick contou sobre ela te induzir a ter bulimia. – Suspira e em conjunto cruza os braços sobre o seu casaco preto - Não que eu não já soubesse na época e tivesse tomado as providências sem você saber. Mas pelo visto aquela lá precisa de mais uma liçãozinha.

— Era para ter me contado que já sabia.

— E você era para ter me contado sobre a Delly te fazer enfiar os dedos na goela. – Me estapeia falsamente no braço, nos fazendo rir em conjunto. Um momento de silêncio permanece no ar, no entanto, Annie logo retorna a ficar séria – Por que quer voltar para a Flórida? Se for a Coin pegando no seu pé para fazer as coisas, eu posso te dar cobertura e te ajudar.

— Não é a Coin, se bem que esse jeito de agir peculiarmente comigo parece querer sempre me colocar em teste para me ver quebrar a cara. Escreve o que estou te dizendo, um dia ela percebe que sou dura na queda. – Pisco o olho para a ruiva que ri me abraçando de lado, trazendo um pouco do aconchego que não sinto a muito tempo.

— Katniss, o que houve? – minha amiga me puxa para sentar na cama e me encara com um misto de curiosidade e preocupação.

— Estou me sentindo uma droga. Minhas notas podem estar lá em cima, a monitoria pode ter acabado, posso estar rodeada de pessoas. Mas eu me sinto mal e sozinha. – Deito minha cabeça em seu colo com lágrimas cobrindo minha visão - Eu só quero voltar para minha família, me sinto sufocada. – Balbucio enquanto meu rosto toma um banho quente.

— Katniss, eu não sei o que dizer. Eu sempre morei com os meus familiares, então não consigo te entender ou dar opinião. Mas sei que seus pais e a Primrose ficariam triste se soubessem que você vai jogar tudo para cima. – Sinto meus cabelos serem acariciados pela sua mão delicada – Como você mesma disse: você não é dura na queda? - Com o pronunciamento, solto um sorriso singelo em direção a Annie que já tinha seus olhos lacrimejados, a mesma me dá um beijo na testa e põe minha cabeça sobre a cama, saindo de perto de mim, indo pegar o celular na cabeceira ao lado da cama – Finnick já está subindo com os meninos.

Me sobressalto, tentando secar meu rosto com as mãos desesperadamente. Me inclino em direção ao espelho de parede do quarto de Annie para ver se minha maquiagem estava borrada.

Ufa, está tudo em perfeito estado. Eu só precisaria passar o pó para não dar a impressão de que eu havia chorado.

— Annie, Katniss. Chegamos. – Um ‘’toc toc’’ é escutado assim que ponho meus pés no chão frio. A ruiva olha em minha direção questionadora.

— Eu vou daqui a uns minutos. – Ela assente e sai pela porta branca, me deixando sozinha.

Me inclino para pegar minhas botas no chão e as encaixo em meus pés sem muita enrolação, no entanto minha atenção sai do chão quando a porta se abre em minha frente. Mostrando um loiro perfeitamente alinhado em sua roupa de frio. Um loiro que eu temia ter uma conversa a exatamente dois meses.

Oh merda! É agora.

— Você vai embora? Como assim, Katniss? Que história é essa de transferência?

Maldita Annie.. Ainda me pergunto se a mato ou a amo.

— Não é nada, Peeta. – Bufo já indo pegar minhas luvas postas na cabeceira, porém, sou interrompida pelas mãos ágeis de Peeta que as arrancam de mim antes que eu pudesse sequer tocar no tecido.

— Você não pode ir embora.

— Por quê?

Naquela altura do campeonato eu sabia que Peeta se importava comigo, mas eu queria ouvir de sua boca algo carinhoso, algo que não ouvia do próprio desde o Halloween. Algo que viesse fazer meus pelos arrepiarem mesmo sabendo que aquilo não era o que eu queria quando o conheci.

Eu não queria me apaixonar por Peeta.

Porém... já era Katniss. Como dizem: perdeu playboy.

— Olha, eu sei que você está mal comigo por causa da Delly, eu já disse que eu estava bêbado e que nem lembro direito disso. Eu também sei que eu posso ser um idiota em grande parte das vezes e...

Certo, eu não resisti.

Antes que o loiro continuasse seu discurso desajustado eu o beijei.

Sim, eu beijei Peeta Mellark. De novo.

— O que você fez? Eu estava aqui, no meio de uma declaração e você me beija? – ponho totalmente a sola dos meus pés no chão enquanto recebo um falso olhar indignado de Peeta em conjunto a um sorriso bobo. Em seguida, o abraço forte, me aconchegando em meio aos seus braços e as várias vestimentas que cobriam seu corpo.

Eu não estava com medo de ter uma nova conversa com Peeta pelo fato de estar com raiva e não querer o encarar para brigar com ele.

Eu estava com medo de me desculpar por sempre ter sido uma babaca com ele.

Logo após o beijo que demos em novembro finalmente caiu a ficha. Eu havia me apaixonado por um Zuko. E por incrível que pareça, eu não estava arrependida como pensei que ficaria um dia. 

— Peeta, me desculpa.

— Desculpa por ter me beijado? Não aceito suas desculpas. – Seu rosto toma rumo a uma expressão séria e risonha ao mesmo tempo.

— Idiota – bato em seu peito o repreendendo – Por ter sido ignorante, grossa e por ter causado nossas brigas por conta da teimosia.

— Certo, eu posso pensar no seu caso. – Ri brincalhão e beija a ponta do meu nariz delicadamente. O silêncio paira por instantes e Peeta retoma o assunto que eu não queria tocar – Não quero que você volte.

Essa doeu, não pensei que um ato como esse fosse impactar a vida de outras pessoas. Nem na conversa com Annie de minutos atrás, talvez Peeta fosse o único que me fizesse perceber tamanha loucura que eu poderia fazer. E apenas com uma frase.

Como Annie tinha dito: eu não podia jogar tudo para o alto.

— Não vou mais. – Solto um sorriso em sua direção, que em seguida me aperta mais ainda contra si. O silêncio paira pelo ar e me sinto confortável na presença do loiro, como na vez em que ele foi me amparar quando eu fiquei sabendo do furacão Irma.

— Precisamos ir, o pessoal está louco para chegar na Times Square.

— Espera, não podemos ficar aqui por mais um tempinho não? – seguro Peeta pela mão quando se desvincula de mim, tentando ir em direção a porta.

— Se serve para te fazer ir comigo, você beija melhor que a Delly. – Assim que ouço aquele nome azedo cruzo os braços e reviro os olhos.

Sério, Peeta? Tinha que tocar nela enquanto estava tudo em perfeita paz?

— Você cruza muito os braços, Katniss! – ri de mim enquanto arranco minhas luvas de suas mãos.

— ‘Tá certo, Zuko. Só para constar você é um idiota mesmo. – Enfio bruscamente as luvas pelas minhas mãos e me posiciono para girar a maçaneta.

— Como eu disse... um dia você iria perceber que é caidinha por mim, o que mais demonstra isso é que foi você que me beijou. – Ouço seu riso contagiante, assim que me abraça por trás e resolvo não contestar.

Aquilo era realmente verdade.


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Notas finais do capítulo

O que acharam, amores?!
Espero que tenham gostado.
Digam o que acharam sobre essa Katniss chatinha e esse Peeta galanteador e de bom coração...
Há duas coisas que quero pontuar:
1° - A Katniss já sofreu com bulimia e ao decorrer da One percebemos que ela tem certos problemas em relação a aceitação da comida - algo que pode aparecer depois do tratamento. Decidi apenas comentar de uma forma não superficial, mas também sem peso. Pois é um problema sério, que pode ferir ou induzir várias pessoas quando escancarado.
2° - Deem valor aos seus familiares. Acho que mesmo essa Katniss sendo carrancudinha às vezes... ela sabe o valor que a família dela tem ( mesmo querendo controlar a Prim um bocadinho, né? kkk' ).
Agora, o aviso sobre América... Sim! Depois de tanta insistência eu vou prolongá-la e dar um final a vocês kkk'. Porém, não será uma fic comum... já ouviram no ''leve dois pague um''? Bem, eu vou acoplar América a uma ideia que tive a anos atrás e que a adaptei um bocado ( Os Anjos Morrem --- que irá virar: Os Anjos Caem ). Mas como eu irei fazer isso? Se quiserem é só me mandar um MP para saber mais ou esperar a ''estréia'' dessa fic que ainda sai esse mês... fiquem a vontade!!
E agora é a hora de elogiar e criticar... e se quiserem... se despedirem dessa Coletânea que marcou 2017!
Desejo um feliz 2018 para todos... e como não poderia faltar: Beijinhos de marshmallow!!!



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