Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 10
América


Notas iniciais do capítulo

Hey!! Quem fala é a Arabella MHSI também conhecida como Arabella e como Sil ^-^
Então leitoras lindas, primeiramente devo agradecer a Star, a fofuxa que fez a primeira recomendação da Coletânea, que amor!! Digo por mim e pelas meninas, que palavras emocionantes ein!
Então, quem me desafiou foi a RêHutcherEvansDarcy também conhecida como Sel!
Bem, o tema que a Sel me propôs teria que ter três requisitos: Ser uma estória de época, ter ambientação em um navio e... surpresa ( não poderei falar pois se não o final não terá graça ).
Então meus marshmallows lindos, já vou dizendo que amei, pois amo estórias de época e a própria história.... então né...
Vamos passar de uma One de superação ( feita pela linda Ellen ) para uma mais 'aventuresca'?
Vamos direto para Inglaterra do século XVII?!
PS: Mesmo não tendo o ''tu'' na língua inglesa... trouxe essa pitadinha para One, hahaha!
Enjoy!!



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1609, Inglaterra

Ele era subestimado, submetido. Ele deveria ser algo que não almejava. Ele não era o que todos esperavam.

Ele não era um erudito, porém, não era um homem tolo.

Sua diferença era grande para os outros, ele tinha algo encarnado em sua alma, algo que o mantinha de pé.

Coragem.

Peeta Mellark era autêntico.

Diferente de todos, muitas vezes considerado insano pela sociedade britânica com suas ideias revolucionárias - até já conquistara olhares de inquisidores quando fora à Portugal com seu pai.

Porém, mesmo com peculiaridades, o futuro conde ainda era visto pelas mães como um bom pretendente para suas filhas. Portador de uma beleza invejável e educação de se contemplar, tinha algo que aguçava ainda mais aquelas senhoras: logo iria assumir o cargo de seu pai - acamado a semanas.

Peeta não queria aquilo, não queria viver submetido à desejos e mandos de pessoas que se achavam superiores a ele pela razão de terem mais propriedades e poder.

Ele sabia que o desenvolvimento no Novo Mundo estava tomando margens para haver um verdadeiro povoamento, já que nem todo território servia para plantar tabaco, por exemplo.

Queria ver aqueles povos nus e selvagens, que alguns homens haviam comentado. Encher os olhos de verde e azul da natureza imensurável.

Queria cruzar o oceano para chegar até aquelas terras. Parecia um sonho tão distante, que poderia compará-lo ao desejo provindo de uma criança de querer tocar o céu.

De tudo isso Peeta sabia. Porém, ao expor seus pensamentos para sua família - principalmente para a mulher que o concebeu - sem querer ele havia preparado e assinado sua proibição de navegar junto à Coroa Inglesa, pois no dia seguinte, aquela mulher já conseguira o feito.  

Ora, ele era o futuro conde, qual seria a razão de querer ir para um local onde hereges e pobres estavam se refugiando? Na posição que estava, não tinha absolutamente nada para fazer naquela colônia.

Na mesma noite que soubera o que sua mãe havia feito, indignação era o sentimento que o consumiu por completo.

Já estava tarde da noite e Peeta não havia fechado os olhos, nem para ao menos tirar um cochilo, uma tarefa impossível em sua opinião. Todos os seus sonhos pareciam ter sido arruinados, como ele conseguiria relaxar com um pensamento dessa escala o atordoando?

Retirou os tantos lençóis bruscamente de cima do seu corpo e agarrou a primeira roupa que vira, vestiu-a de forma tão desajeitada - mesmo sem intenção - que seria até um pouco difícil alguém o reconhecer, já que não era de seu feito sair fora dos eixos.

Mesmo com quase nenhuma iluminação lunar, Peeta conseguiu descer até o primeiro andar sem fazer barulho, prestando todo possível para manter passos leves e rápidos. Como um rato e por escárnio, era assim que se sentia.

Era hilariante, pois todas as vezes que descia aquelas escadas de tantos degraus e grande largura se sentia pomposo. Contudo, naquela noite nada poderia o fazer se sentir mais do que um humilde fugitivo.  

Quando estava chegando aos fundos ouviu passos, isso o assustou, quem quer que fosse o deduraria se o visse. E na pior das hipóteses, esses passos seriam da Mrs. Mellark.

Se escorou na primeira parede que vira, ocasionalmente sendo um dos pares que faziam o longo e largo corredor, ousou espionar quem estava ali, já que o som das passadas parecia vir de lá. Com essa tentativa apenas conseguira ver a luz que a vela cuja essa pessoa segurava refletia sobre as paredes.

Até que ouviu o som do choque de uma porta.

Olhou de novo o corredor. Sem mais luz alguma. Andou silenciosamente até a porta dos fundos, tendo que passar pela cozinha elegante que sua mãe havia decorado recentemente, quando sua mão tocou a maçaneta retangular cheia de relevos dando alívio ao loiro, ouviu alguém chamar por seu nome e sentiu a sensação de medo subir pela espinha.

— Peeta, não me faças de tolo. - O jovem girou em um ângulo de cento e oitenta graus para olhar o dono da voz.

Um homem alto e de traços faciais marcados estava com suas vestes de dormir e empunhando uma vela. Por lógica, ele seria a pessoa que caminhara pelo corredor minutos atrás.

— O senhor deveria estar na cama! Não estás hábil para sair de lá, ainda mais para descer escadas!

— Ora filho, eu que deveria receber broncas? - O homem mais velho deu um sorriso torto que fez o mais novo rir e logo tomou uma face séria no instante que percebeu o que acabara de demonstrar com aquele sorriso - Não vou contar a tua mãe, prometo.

— Contar o que? - Alívio foi o que ele sentiu, mas se fez de pouco entendido e franziu a testa tentando enfatizar o que acabara de interpelar.

— Já disse para não me fazeres de tolo. - Apontou para as vestes desordenadas do jovem e riu, ocasionando uma série de tosses secas, que levou Peeta a ter mais uma camada de preocupação com o pai.

— Vou levar a ti para o quarto. - Afirmou convicto, já se dispondo a ajudar o velho adoentado.

— Certo. Entretanto, tu não sairás com estas roupas se queres ir ao local que estou pensando.

— Que local eu deveria querer ir?

— Eu já fui jovem como tu e já dei as minhas saídas também. Precisas de roupas apropriadas. Vamos, tenho um local com algumas que poderás usar.

O senhor de cabelos brancos apoiou-se em seu primogênito, que o ajudou a chegar em seu quarto - onde não habitava mais sua mulher, pelas questões de saúde.

O conde deitou-se na cama enquanto dava as coordenadas de onde estaria as tais vestimentas. Não demorou tanto para o seu filho encontrar a área e o objeto que guardava o procurado.

Uma caixa - aproximadamente do tamanho da metade de um baú - armazenava vários conjuntos de peças muito abaixo do nível social daqueles dois homens.

Essas vestimentas naquela casa eram como dias de sol e calor no meio do mês de dezembro. Atípicos.

Panos finos, sapatos rudimentares e desgastados, em conjunto com uma boina simples de tecido áspero.

Peeta vestiu-se com esse traje.

Algo junto com as roupas de alta costura que saíam de seu corpo se esvaia.

Talvez a responsabilidade que não desejava? O rapaz não sabia ao certo a resposta.

— Ótimo! - Exclamou seu pai quando ele saiu do banheiro e se escorou na imponente porta que ficava na entrada do quarto - Quase igual a mim. - Essa última afirmação doeu em seu peito, não queria decepcionar o homem que o criara. Mas os objetivos de Peeta eram diferentes do pai - Cato será o conde.

Peeta mostrava total incompreensão em sua face depois que seu pai dissera aquela última frase. Como Cato seria o conde se ele era o primeiro na linhagem? Não era um direito que assistia ao irmão mais novo e sim a Peeta.

— Como? - Indagou, não por achar que não havia escutado, mas sim pelo fato da pura surpresa.

O progenitor de Peeta se acomodou em sua cama e se pôs a falar:

—Todos sabemos que ser conde não é o que queres. Respeito isso, verdadeiramente. Cato sempre foi mais racional em questões políticas e econômicas, sempre obteve o desejo de estar no teu lugar. Tu queres liberdade, ele quer comandar. Por que não fazer os desejos de cada um?

— Mas isso é impossível! - Exclamou sem alterar a voz - Mesmo que eu queira, não tenho como apenas sumir para Cato assumir a minha posição.

— Quem disse que não?

— Não posso apenas sumir! - Repetiu, arregalando os olhos e se aproximando da cama do prógono - Para onde iria?

— Para as Américas. - Um enorme ponto de interrogação se formou na cabeça do loiro, como ele poderia ir para as Américas se sua mãe havia proibido qualquer chance disso se concretizar?

— Não há como convencer ninguém de que eu possa navegar nos navios ingleses. Nós dois sabemos o que minha mãe fez e como conseguiu isso. Argumentos que o senhor está prestes a morrer e que eu terei que assumir logo o cargo são bem fortes. - Ironizou a última parte.

— Quem disse que não estou prestes a morrer? - Mr. Mellark soltou um risoto, os olhos azuis de Peeta se entristeceram assim que essas ondas sonoras chegaram aos seus ouvidos, ele que até agora estava de pé segurando sua boina, se pôs a sentar em cima do jogo de cama vistosa que cobria o seu pai - Olhe bem, eu sei como tirar a ti do país e o colocar onde aspira.

— Como?

— Bem, eu tenho contato com um capitão que poderá te levar as Américas. O conheci em uma taverna anos atrás. Soube que irá definitivamente para a colônia. Ele não voltará de forma alguma e se escolher ir, nem tu. Isso é o que desejas?

Se aquilo fosse feito como seu pai estava propondo Peeta não estaria em seu enterro. Mas ao mesmo tempo ele não queria viver atado em correntes intangíveis.

— Sim. - Afirmou convicto.

Em alguns minutos Peeta já estava guardando uma missiva que seu pai escrevera em um bolso de seu casaco e se pondo a sair. Antes de passar pela porta ele virou seu corpo em direção ao homem deitado na cama.

— Vou sentir tua falta.

— Não sinta, logo vou estar em lugar melhor e tu também estarás. - Pensar na morte do homem que o educou era algo que nunca passara pela cabeça de Peeta, e agora com sua saúde em estado frágil, era notável que Mr. Mellark não era um herói de epopéias que sobreviveria a tudo e a todos.

Seus pulmões tinham a capacidade de o deixar na mão.

~#~

— Mande-a entrar. - Pediu o senhor com uma voz quase inaudível.

Uma moça de cabelos negros e pele sardenta caminhou para dentro do quarto bem mobiliado com madeira de pau-brasil, vestida com um simples, no entanto, lindo vestido azul.

— Mr. Mellark, qual a razão do chamado? Pensei até que fosse Peeta. - Questionou a garota com aparência delicada que acabara de completar seus vinte anos.

— Katniss, se aproxime e não fales muito alto para que não nos ouçam. - Pediu, se pondo a sentar para que pudesse analisar melhor a moça, que assinalou com o crânio demonstrando que concederia o pedido - Tu nunca mais verás Peeta. - Mr. Mellark foi direto ao ponto, tentando não demorar muito naquela conversação.

A reação com o que acabara de ser revelado foi de espanto. Como um reflexo, Katniss moveu um pé para trás e perguntou confusa o porquê daquilo.

— Ele vai para as Américas, mas não com a Coroa. Peeta não irá retornar.

Seus olhos se esbugalharam e sua respiração acelerou.

Seu melhor amigo iria embora e nem teve a decência e afoiteza de comunicar a garota? Que tipo de melhor amigo era aquele? Ele não se importava com o que e com quem ele deixaria para trás ao tomar essa decisão?

— Querida, acalma-te. - Era notável que a jovem não se tranquilizaria apenas com um pedido - Tenho isso para entregar a ti. - Tirou um papel debaixo da coxa e segurou em direção a Katniss que o pegou em um rápido movimento, e começou a lê-lo - É a localização do navio em que Peeta irá embarcar. Se estou certo ele irá partir às nove. Tu tens uma hora para ir até esse local e se despedir.

O que estava acontecendo? Aquilo era muito sinuoso para ela, seu coração parecia que iria estourar dentro do seu peito.

— Com licença Mr. Mellark, mil perdões pelo que estou prestes a fazer. - A morena não pensou direito e nem esperou o conde dizer nada, saiu abrindo gavetas à procura de algo que o senhor não fazia ideia, produzindo uma bagunça notável.

Quando parou de se mover, Mss. Everdeen tinha em mãos uma muda de roupas e uma tesoura.

— Mr. Mellark, desejo melhoras ao senhor, o tenho em meu coração.

— Mandes um adeus por mim, mesmo que eu o já tenha dado. - Katniss correu para os braços do homem por quem nutria um imensurável apreço e assentiu com a cabeça enquanto revelava um sorriso um pouco entristecido.

E por fim, a porta bateu.

Mr. Mellark sabia que era a última vez que iria ver Katniss. Sabia que essa era a última vez que iria ver alguém, na verdade.  

~#~

— Peeta, há um jovem que quer ver a ti. - Sinalizou Finnick batendo na porta da sala do capitão, onde Peeta havia acabado de ter uma conversa sobre manter sua identidade abstrusa.

— Garoto, vou me retirar para que tenhas uma conversa com teu irmão. - Afirmou o capitão sem ao menos saber se a pessoa que queria dar uma palavra com Peeta era realmente o seu irmão, na verdade a melhor pergunta seria: como ele teria conhecimento que Peeta tinha um irmão?

Haymitch era o nome dele. Um sujeito que constantemente cambaleava por conta de sua dependência alcoólica. Aos olhos de Peeta, ele não tinha outros grandes problemas, se não o seu vício.

Sua sorte foi não ter encontrado logo ele na taverna, mas sim Finnick. Braço direito do capitão, que mesmo em um local como aquele não bebia como os outros, em vez disso, conversava com um homem que quase entrava em coma alcoólico. Sendo Finnick portador de um olhar sonhador, dando relatos sobre determinada moça que o encontraria quando chegasse ao seu destino.

‘’Destino’’, Peeta se lembrou de Heráclito de Éfeso e uma de suas célebres frases, que relatava sobre o destino.

Qual seria o destino daquele homem? O mesmo que o dele?

Foi essa a palavra que Finnick soltara que fez Peeta ir conversar com o moçoilo, simplesmente por intuição. E por ironia do destino, ele era a pessoa certa a ter uma conversa naquele momento.

O tal jovem entrou na sala não tão espaçosa e úmida. Com um chapéu que não deixava nenhum fio de cabelo aparente e ao mesmo tempo que cobria parte do seu rosto, junto a um casaco que batia até seus joelhos, não dando para ver a roupa por baixo. Era notável que aquelas vestes, mesmo que um pouco rasgadas, não eram de uma pessoa de baixa renda, era notável que aquela pessoa não era Cato.

Era notável que ‘’o jovem’’ era na verdade ‘’a jovem’’. Katniss estava em sua frente, vestida como um homem. E sua expressão não era nem um pouco agradável.

— O que estás fazendo? - Dando passos largos ele falou baixo enquanto se aproximava da garota, provocando alguns barulhos por conta da madeira desgastada.

— Acho que a melhor pergunta seria: o que tu estás fazendo? - Retrucou virando seu rosto para Peeta que tinha um olhar espantado.

— Sempre soubeste dos meus planos. - Tentou amenizar a situação.

— Sempre soube dos teus planos, mas nunca me contara que iria em um navio burguês! E que nunca irias voltar! No que estás pensando Peeta? Que pode fugir sem deixar resquícios? - Ela andava de um local para o outro enquanto dizia tais palavras e quando finalmente parou perto de uma cadeira, situou suas mãos na mesa que tinha naquele compartimento, como se aquele ato fosse ajudá-la a se acalmar.

— Katniss, me escute. - O rapaz se aproximou da garota e pousou sua mão nas costas dela - Minha mãe proibiu que me deixassem ir para as Américas, em qualquer navio. Meu pai me oportunizou essa vinda, não poderia recusar.

— Mas a burguesia está em conjunto com o rei, isso não é possível se tua mãe o proibiu. - Afirmou a garota já não conseguindo raciocinar direito, aquilo parecia muito confuso para ela.

— Bem, esse navio não é muito bem um navio burguês. Ele não tem permissão para navegar.

— O que? Estás me dizendo que é ilegal?! - Katniss que estava de costas para o loiro se virou, ocasionando na diminuição considerável da distância entre os dois e levando Peeta a recolher sua palma esquerda. A jovem continuou em sussurro - Estás me dizendo que este navio é pirata?

— Digamos que quase isso. - Esfregando uma mão na outra, alegou Peeta com certo receio da opinião dela.

— Eu não saio se não saíres comigo. - Cruzou os braços e uma carranca tomou conta daquele rosto de aparência angelical novamente.

Verdadeiramente Katniss não queria perder seu companheiro de anos por uma aventura. Ela não havia se casado, não dependia de homem algum, não era submissa aos desejos de ninguém. Nenhum homem conseguira laçar Mss. Everdeen em seus braços, e estranhamente ela se orgulhava deste feito.

O fato de sua família não a forçar a ter um casamento era relaxante para Katniss. Primrose, sua irmã mais velha, já havia se casado com um visconde e seu irmão mais novo estava sendo criado para ser um ótimo lorde dos Everdeen. Sua família já não tinha com o que se preocupar. Mesmo com vários homens já tendo a cortejado, Katniss já se sentia completa, sempre se sentiu desta forma.

No entanto, com a notícia de Peeta indo embora, com Mr. Mellark revelando que ele nunca mais voltaria.  Por um acaso, ela achou que não se sentiria completa sem ele.

— Não é um local seguro. Só há homens a bordo. Não podes ficar! - Exasperou Peeta olhando Katniss diretamente nos olhos cinzentos e firmes que possuía, ao mesmo tempo que segurava seus ombros delicados com firmeza - Tu vais voltar para casa.

— Já aleguei minhas condições. - Sem desvios, seus olhos mantinham-se em conexão. Até que o chão e as paredes pareceram se mover e os dois perderam o contato visual por tentarem se manter de pé.

O navio estava realmente se movendo.

— Precisamos sair daqui. - Exclamou Katniss se apoiando nas paredes imundas - Vamos Peeta! - Olhou para o garoto que tentava se equilibrar sem apoio.

— Por que estás fazendo isso? - Perguntou assim que o movimento não era tão marcante e voltaram a ficar de frente para o outro. Katniss não respondeu e virou de costas, por que ela queria que ele voltasse? Iria impedir os sonhos de Peeta? Se sentiu egoísta - Minha mãe? Ela que a mandou até aqui?

Com certeza Mrs. Mellark teria percebido o sumiço do filho. Mas como ela teria descoberto a localização de onde estava? Dentre este, tantos outros questionamentos surgiram na mente do ex-futuro conde, que não conseguia os desembaralhar.

De qualquer forma, Peeta se sentiu traído, Katniss havia se aliado à sua mãe para impedi-lo de partir. Por qual razão ela teria se aliado aquela mulher ?

A moça de cabelos escuros mexeu em um bolso de seu casaco de alta costura, tirou um pedaço de papel e entregou a Peeta que o abriu. O que estava ali o faria entender.

Aquela letra foi reconhecida por ele, a mesma letra que foi lida por Haymitch noite passada.

— Disse para eu vir. Mandou outro ‘’adeus’’.

Abstenção. Nada mais fora ouvido. Ficaram estáticos até que a porta foi aberta de maneira rude, o que fez a morena se assustar de certa forma.

— Preciso falar contigo. - Haymitch apontou para Peeta, até que notou a presença de Katniss - Oh, teu irmão ficou? - Deu uma risada e a garota virou os calcanhares e abaixou o rosto.

— Ele não é meu irmão, é meu primo. - Mentiu na segunda parte - Ele terá que voltar. - Comentou Peeta em um tom ríspido olhando para a garota que sentia a fúria sobre ela.

— Não terei. - Ela tentou fazer uma voz grossa enquanto se aproximava dos homens, o resultado não foi como esperado, talvez se diminuísse os anos de sua verdadeira idade interpretariam que por conta da transição sua voz fosse daquele jeito mesmo - Vou com os senhores. - Em um movimento súbito ela tirou o papel das mãos de Peeta e deu ao homem com barba rala e roupas com cheiro de bebida, que espremia os olhos para ler - Mr. Mellark me mandou aqui para cuidar de Peeta.

— Eu posso me cuidar sozinho. - Alegou Peeta com certa ira na voz.

— Se o garotinho quer ficar, não vejo problema. - Haymitch comentou risonho - Até porque já não estamos ancorados. - Debochou enquanto adentrava o local e fechava a porta rangente atrás de si.

Peeta espremeu os olhos e cerrou os punhos. Katniss estava em um navio com ele indo ao Novo Mundo. Os dois estavam em um local onde só havia homens, com quartos minúsculos e não uma, mas duas identidades a serem escondidas.

Ele que teria a obrigação de velá-la, não o contrário.

— O que queria comentar comigo, capitão?

— Já que ele é teu primo, acho que deveria escutar também. - Ele se apossou de ar nos pulmões e depois o liberou pela boca - Teu pai faleceu pela manhã, estão à tua procura.  

Ninguém pronunciou uma palavra. Aqueles dois estavam espantados demais até para se moverem. Os olhos de Katniss pareciam famintos à procura de algo, enquanto os de Peeta nem ousavam piscar.  

Haymitch se sentiu incomodado com a reação dos dois, até porque ele também estava de luto, um grande amigo havia falecido. Eram como unha e carne, o tempo que viajaram juntos pela África os uniram muito, ainda mais quando visitaram aquele território recém-descoberto, como uma espécie de finalização de aventuras para o progenitor de Peeta.

— Vou dar um tempo aos dois. - Comentou com um certo receio e incômodo na voz - Como não tenho uma tripulação grande, há possibilidade de colocá-los em um mesmo compartimento. Vou pedir para Finnick mostrar-lhes depois.

~#~

Aquele dia foi tranquilo - mesmo o capitão tendo revelado o que acontecera com o conde Mellark. Basicamente foi um dia de apresentação auxiliada por Haymitch. Conheceram boa parte das pessoas e o navio em geral, o que rendeu um certo nojo por parte de Katniss na ida em alguns locais. Segundo o líder, com o passar dos dias Katniss e Peeta seriam colocados em alguns cargos, e no que melhor se encaixassem, ficariam pelo resto da viagem, o que deixava a jovem com certo medo.

— Como achas que vai ser daqui em diante? - Inquiriu Peeta enquanto olhava para o teto de madeira, deitado em sua cama minúscula.

— Talvez eu tenha alguns enjoos. - Desconversou a garota enquanto acariciava a palma de sua mão esquerda com os dedos da outra mão.

— Estou falando sério Katniss. - Ele desviou seus olhos e a encarou na cama ao seu lado, enquanto a morena mantinha seu contemplamento em qualquer coisa que não fosse Peeta.

— Eu não sei. Tu que és a pessoa dos planos, não eu. – Suspirou e tomou coragem para encará-lo.

— No que estavas pensando quando decidiu ficar?

Para ele, aquilo não era coerente, Katniss sempre o deixou livre para fazer o que quisesse, por que ela teria o desejo de o fazer ficar na Inglaterra? A letra com certeza era de seu pai, mas teria algo de Mrs. Mellark por trás daquilo?

— Eu não estava pensando. - Essa foi a sua reflexão, mas quando percebeu, sua boca já havia pronunciado tais palavras em um sussurro.

— Já percebera o quanto és maluca, Katniss?

— Meu nome não é este, mas sim Keane. E o teu és Peter. - Comentou em tom de risada enquanto estendeu seu braço para apertar o nariz proeminente do jovem, que ria da observação - ‘‘Peter’’ ficou como um bom nome para você, parece até com o real, o meu não há nada de semelhante.

— Há sim!

— Um ‘’K’’? Que semelhança! - Os dois começaram a rir do sarcasmo da garota. Porém, para Peeta, não era apenas um ‘’K’’ mas sim seu significado, semelhante não ao nome original, mas a sua personalidade afiada— Como estás te sentindo? De verdade.

Ele sabia o porquê daquela pergunta ser feita, sabia que Katniss não admitiria que reprimisse seus sentimentos.

— Devastado.

Aquela palavra monossilábica já explicava tudo, Peeta não precisaria ficar horas falando como o seu pai era magnífico e como queria ter passado mais tempo com ele, pois todos - principalmente a moça deitada perto dele - sabiam como era Mr. Mellark. De qualquer forma Peeta havia passado tempo suficiente com ele.

Aquele garoto só queria que seu pai tivesse mais tempo. Tempo para viver.

Lágrimas começaram a cair de seus olhos sem que nem percebesse, ele não se colocou em prantos como esperado, mas sim em um luto silencioso.

— Ei, lembras quando passamos as férias em Bristol? Quando fugimos da vista dos empregados para olharmos o porto? E então nos perdemos, sem saber o caminho de volta. Mas o teu pai nos achou enquanto tentávamos falar com um homem surdo? – Ao perceber lágrimas descendo pelo rosto do loiro, Katniss tentou fazer com que Peeta esquecesse o fato de seu pai ter falecido para fazer lembrá-lo de aprazíveis momentos.

— Ele nos mostrou o porto inteiro, nos apresentou a capitães. - Peeta completou e voltou a encará-la, seu rosto estava banhado de lágrimas e vermelho. Para Katniss, sempre fora engraçado o estado de Peeta quando chorava, naquele segundo, nada conseguia ser engraçado. Não apenas Peeta havia perdido um pai, ela também.

A garota de cabelos escuros estendeu o braço para pegar na mão do jovem que estava frígida. Eles entrelaçaram suas mãos e ficaram assim por um bom tempo.

Quase não obtendo luz, o que impossibilitava terem uma visão nítida um do outro, e com o navio balançando de acordo com as ondas do mar, água salgada entrava pelas frestas de vez em quando, mas eles não se importavam.

Parecia que nada mais importava.

O silêncio pairou por longos minutos e suas mãos não se desentrelaçaram, nem quando seus corpos resistiram ao cansaço.

~#~

— Katniss, não adianta mais usar este chapéu! Terás que cortar o cabelo, estavam perto de te descobrem quando quase o tirou enquanto reclamavas do calor.

Duas semanas haviam se passado desde que embarcaram, duas semanas haviam se passado desde que Mr. Mellark faleceu, duas semanas de adaptação, duas semanas dificílimas para Katniss.

Ter que fazer suas necessidades em recipientes, parte da comida já estar estragada, sentir o cheiro de maresia a todo momento e obter grosseria de homens.

Só era um pouco do que Katniss tinha que aturar, mas com certeza o último item era o que fazia com que a moça mais se frustrasse. Nunca havia sido tratada com tanta indelicadeza por homens e aquilo a fez pensar que deveras aquele local não tinha uma mísera semelhança com a sua casa.

— Não aguento mais! - Ela cruzou os braços no momento em que expunha tal sentença - Venha, cortes meu cabelo. - Tirou a tesoura que deixava embaixo do travesseiro, a mesma que pegara na casa de Peeta para rasgar suas roupas, e entregou nas mãos dele, que não a muito tempo atrás estava abotoando uma camisa que Finnick havia o proporcionado.

— Mas eu não sei cortar cabelos.

— E eu não tenho um espelho. - Retrucou.

Ela tirou o chapéu que deixava seus fios inaparentes e com o gesto seus cabelos longos deslizaram sobre o tecido nada odorífero com que ela se vestia.

Peeta estranhou, a muito tempo que ele não a via sem aquele objeto que cobria seus fios capilares, pelo menos não no período claro do dia.

Ela se virou de costas para Peeta - ficando de frente para a porta - e solicitou que o garoto fizesse aquilo de forma rápida.

Peeta segurou o cabelo de Katniss em uma mão e já estava com a tesoura em posicionamento. Contudo, a porta se abriu. E um Finnick apareceu.

— Wow. — Foi tudo que aquele homem disse enquanto Peeta jogava o chapéu para Katniss que tentava inutilmente o posicionar corretamente na cabeça e colocava o objeto metálico em seu bolso.

— Finnick, não é nada do que estás pensando! - Alertou Peeta enquanto o puxava para dentro da cabine e fechava a bendita porta.

— O que eu deveria estar pensando? - Caçoou o homem.

— Em nada. - Katniss comentou ainda persistindo em cobrir suas mechas, porém não preparou sua voz para que saísse mais grossa. O que seja que Finnick pensasse, a fala de Katniss só reafirmava a possível cogitação do homem.

A jovem engoliu em seco.

— Vamos, temos que falar com o capitão. - O homem disse limitado, em mesmo tempo que pronunciou estas palavras segurou o braço fino de Katniss em um aperto e o movimento a fez esquivar, todavia, não saíra das mãos de Finnick.

A vontade de fazer algo era tremenda para Peeta, mas mesmo com homem a segurando daquela forma bruta, eles não poderiam perder o disfarce. Ele poderia estar pensando algo totalmente diferente, já que Peeta não poderia entrar na cabeça de Finnick, melhor não tomar medidas precipitadas.            

O loiro poderia ter toda temeridade em si, mas ele não era irracional e precipitado.

Todavia, já era tarde demais.

Cinco dedos finos conceberam uma marca no rosto do homem de quase um e noventa de altura, que soltou o braço da garota e passou delicadamente seus dedos onde ela havia chocado sua mão.

— Vamos, não torne isso mais difícil. É apenas uma conversa com o capitão, não vou jogar-te ao mar.

~#~

Katniss estava de braços cruzados, sentada em uma cadeira de perna quebrada no mesmo ambiente em que decidira embarcar com Peeta nesta aventura, passando seus olhos pelas diversas estantes e gavetas que haviam ali.

Haviam quatro corpos - incluindo o dela - naquele espaço, Finnick que já estava escorado na porta, Peeta que se punha de pé atrás da garota e Haymitch que bebericava uma garrafa de álcool, usado para ferimentos.

— Sabes que os riscos são muitos, certo garota? - O homem pôs sua bebida em cima da mesa para finalmente começar o diálogo.

— Não achas que sou plenamente ciente deste fato? - Dissera o óbvio, porém de maneira provocante, já que seu humor não estava dos melhores, ainda mais pela cena nada agradável com Finnick minutos atrás.

— Gostei do teu jeito. - Riu com uma pontada de escárnio na voz - O problema é que pessoas assim são as que morrem precocemente, ainda mais sendo mulheres.   

— Ah é? Por que não morreras ainda? - Aproximou seu rosto em direção ao senhor com quem tinha uma conversa nada amigável.

— Primeiramente porque não sou mulher e porque tenho que levar pessoas até as Américas, principalmente porque vocês dois estão aqui. Estão sendo procurados, ou não pensaram nisso? - Aquela frase a fez voltar para seu estado inicial e Peeta abrir a boca parecendo que iria fazer algum pronunciamento, mas no final silêncio foi o que restou - Um conde e o interesse do duque de Hawthorne.— Haymitch apreciou aqueles nomes ao saírem de sua boca enquanto observou a expressão de Peeta se fechar ao ouvir a referência feita a sua amiga - Eu já sabia desde que a vi, Katniss.

— Como sabes meu nome? - A morena arregalou os olhos no mesmo instante que o capitão colocou seus pés em cima da mesa, demonstrando acomodação, assustando Katniss com o ato.

Haymitch ignorou o que a moça disse e se pôs a falar:

— O grande problema é: quando chegarmos ao destino, como irão manter o disfarce, pois até aqui está difícil, o que vão fazer?

O homem de cabelos loiros - com um comprimento médio - pegou a parte final de seus fios e os jogou para trás de forma exagerada, fazendo menção ao tamanho inadequado dos da garota.

— Isso eu posso resolver. - Comentou, tirando a tesoura do bolso de Peeta, que se assustou com o ato, a colocando sobre a mesa.

— Quem dera fosse apenas isso. - O homem pôs seus pés no chão e se levantou inclinando seu corpo em direção da garota, com mãos espalmadas pressionadas sobre a mesa.

— O que seria então?

— Precisas aprender a se defender, dentre outras coisas. Garanto que não sabes empunhar uma espada. - Katniss tentou não dar uma gargalhada, mas foi impossível não praticar a ação. O que causou um estranhamento em Haymitch e um despertar em Finnick que até aquele momento não prestava atenção na conversa. Os dois franziram o cenho, direcionando sua atenção a Peeta que se colocou a explicar:

— Tivemos aulas quando menores com o meu pai, Katniss obrigou seu pai a deixá-la participar mesmo que causasse estranhamento. - O garoto deu de ombros enquanto observava a garota que tentava parar de rir.

— Ainda sim, ela é fraca.

Os risos de Katniss finalmente pararam no momento em que aquelas palavras chegaram aos seus ouvidos. Levantou-se, ficando da altura do homem mal-cheiroso e encarou seus olhos friamente. Em um movimento ágil a garota cravou na mesa de madeira a tesoura - que até momentos atrás estava deitada - em um pequeno ângulo, conseguindo fincar cada ponta entre o dedo do meio de Haymitch, que ainda tinha suas mãos espalmadas sobre a madeira. Levando todos os homens a um espanto.

— Nossa, agora sei que és boa com costura. - Caçoou o mais velho e retirou o objeto do local, libertando seu dedo, enquanto a garota ainda mantinha o mesmo olhar de antes.

— Não deverias subestimar as mulheres por parecerem fracas biologicamente, e por vir ‘’da costela do homem’’, deveria ir à Creta um dia e procurar sua história, sociedades matriarcais foram poucas pois o ego e força física das pessoas do sexo masculino foi maior, mas é uma lástima que o teu contemplamento são músculos e não capacidade intelectual.

— Pessoas com capacidade intelectual elevada morrem de maneira prévia. A Inquisição está mostrando.

— Agora entendo porque tu não morreras ainda. - Provocou mais uma vez.

— Ainda terás aulas. Não posso deixar-te desprotegida, além de precisar manter teu disfarce. Como disse, homens são tolos, os daqui também, porém, até certo estágio. - Olhou para o filho de seu amigo de longa data, que encarava a garota com certo receio - Os dois, na realidade.

Os mais novos não sabiam o porquê de Haymitch querer proteger Katniss, mas aquele senhor ainda tinha uma espécie de pacto com o pai de Peeta, nunca se perdoaria se algo acontecesse aqueles jovens.

— Mais uma coisa Haymitch, quando fores lembrar da minha imagem, não associes a um homem primeiramente, pois da próxima vez, quem sabe eu não acerto teus dedos de verdade? - Aquilo só fez o mais velho dar uma gargalhada espalhafatosa, nada mais.

~#~

— Vamos! Mais depressa! - Alarmou Haymitch.
A dupla havia aceitado a decisão do capitão, de qualquer forma eles não poderiam ficar à mercê. Ataques de navios realmente piratas não eram raros - já que aquele onde residiam, era apenas irregular, nunca haviam atacado ou furtado algum outro.

Não cabia ao navio de Haymitch nem a tripulação um título de pirata.
O homem de cabelos loiros tirou Katniss e Peeta de seus respectivos cargos, concluindo que já tinha feito-os sofrer demais, ficar responsável pela limpeza do navio não era nada fácil, ainda mais para pessoas como eles que talvez nunca tivessem tocado em um esfregão na vida.

Enquanto todos estavam dormindo pela noite, as quatro personagens que sabiam da verdade estavam dentro da cabine do capitão, treinando.

Como Haymitch não tinha mais tanta habilidade com espadas, quem ficava fazendo par com Peeta e Katniss era seu assistente, ao mesmo tempo que o líder dava a teoria e dicas para enganar o oponente.

— Acabamos por hoje. - Comentou logo após a garota apontar sua espada para o pescoço de Finnick que já não tinha sua espada em mãos, enquanto Peeta observava atentamente os movimentos dos dois.

Colocaram as lâminas em seus devidos locais e puseram os móveis em suas posições corretas - já que tudo era posto em uma extremidade do cômodo enquanto aconteciam os treinamentos.

A relação dos quatro melhorou desde que a rotina mudou, as provocações de Haymitch e Katniss diminuíram consideravelmente, de mesma forma o acontecimento com Finnick foi esquecido, ou quase, pois a personalidade de Katniss não poderia ser nunca ignorada.

Quando mais a morena se integrava no meio daqueles homens, mais preocupação crescia em Peeta, que estava reservado como nunca. Mas aparentemente Katniss não havia notado isso em seu amigo.

— Finnick, preciso falar contigo. - E por incrível que pareça, a relação de Katniss com Finnick também se estreitou, ele até a ajudou a cortar os cabelos. Haymitch já havia saído naquela altura e só restavam os três no compartimento - A sós.

Aquilo com certeza era um aviso para Peeta sair. O garoto tentou não demonstrar desconforto e assentiu com a cabeça enquanto olhava para os dois que já se aproximavam para uma conversa.

Ele não olhou para trás, por mais que seu corpo quisesse.

Sem notar, Peeta tinha passado pelos corredores e escadas necessárias, já estando deitado em sua cama. Mas como no dia em que sua mãe o proibiu de navegar, ele não fechara os olhos nem sequer uma vez, simplesmente não conseguia. O tempo parecia não passar e Katniss não havia chegado ainda. Aquela conversa parecia estar demorando demais.

A moça estava escondendo muitas coisas dele, até antes de embarcarem. Não havia mencionado que Hawthorne estava a cortejando, por exemplo. Peeta sabia que o duque era um mulherengo, Gale poderia não ser uma má pessoa, mas com certeza, se por algum motivo Katniss se casasse com ele, ela seria uma das mulheres mais traídas da Inglaterra.

Afastou esses pensamentos de sua mente e reparou que a porta estava entreaberta, quando pôs os pés no chão ouviu passos. Provavelmente Katniss, então, não teria problema algum deixá-la aberta por mais alguns segundos - até porque ele não sabia se a morena puxaria algum tipo de assunto com ele e de qualquer forma: Peeta não queria falar com Katniss, pensou que não era bom arriscar - por fim, retornou para sua posição inicial e fechou os olhos.

No entanto, percebeu que não era apenas Katniss que caminhava até a sua cabine, dois pares de sapato reproduziam o estrépito.

— Não sei se conto a Peeta.  

— É um direito que ele tem.

— Talvez algum outro dia, quando chegarmos em terra firme. Boa noite e obrigada. - O que será que aqueles dois estavam escondendo do garoto? Peeta estava intrigado, Katniss nunca havia feito algo do tipo com ele, mas bem que ela havia mudado muito.

O loiro constatou que poderia esperar de tudo que vinhesse da garota.

— Se for para me contar, melhor que seja agora. - Em um movimento rápido Peeta abriu a porta e se deparou com Katniss abraçada com Finnick, ignorando seus pensamentos anteriores de não se mostrar acordado.

Teria a capacidade de ser espantoso se a cena não fosse tensa, pois Peeta não havia nem retirado suas botas. Dando sinal que estava à espera de Katniss.

Os dois se viraram rapidamente em direção ao loiro que estava com uma expressão séria e braços rígidos, acompanhado de punhos cerrados. Katniss fitou o loiro meio estupefata enquanto o homem com cabelos cor de fogo saiu de fininho sussurrando um ‘’boa noite’’.

— Melhor em outra hora, já está muito tarde.

— Não desconverse. - Dissera em um tom rígido à medida que adentrou o cubículo de aspecto mofado e sentou-se em sua cama, dando sinal que estava esperando alguma explicação provinda da morena.

— Peeta… - pronunciou aquelas palavras como se tivesse implorando algo, o que fez a raiva de Peeta aumentar. Ela estava escondendo algo dele, adiar só pioraria.

Ele queria conversar, algo que não tinha feito a muito tempo com a garota. Ela estava escondendo muitas coisas que o garoto havia tolerado ao decorrer de tudo. Mas para Peeta, a conversa com Finnick tinha sido o estopim.

Ele não aguentava mais ser feito de tolo.

— Fale! - Ele expôs aquela única palavra em um tom tão forte que fez a garota estremecer.

A morena foi até sua cama nada confortável e sentou do lado de Peeta, que se afastou um pouco já que sua proximidade era muita e ele não conseguiria olhar para a moça, já que queria olhá-la nos olhos, era a única maneira de ter certeza que Katniss não iria mentir.

— Bem, a uns dias eu estava esperando todos para o treino, Haymitch acompanhado de ti e Finnick, já que iriam ajudar ele com os botes que não estavam firmes. Então eu fiquei olhando seu escritório. Bisbilhotando, na verdade. - Ele escutava atentamente enquanto Katniss mantinha seus olhos presos nos dele ao mesmo tempo que acariciava as mãos de Peeta, um gesto estranho da parte dela - E eu achei uma pintura dentre suas tantas gavetas. E aquelas tintas em óleo representavam Haymitch mais novo e tu.

Peeta franziu o cenho, nunca havia visto Haymitch na vida, como poderiam ter uma pintura juntos?

Impossível.

O que Katniss queria dizer com aquilo?

Vendo a confusão no olhar de Peeta, a jovem tratou logo de explicar-se:

— Bem, não tua exatamente. Do teu pai. - Um suspiro saiu da boca do garoto, dando sinais de que estava começando a entender - Sei que o capitão e teu pai são amigos e tu disseras a mim que se conheceram em uma taverna. Mas não foi só isso. - Em uma ação sagaz Peeta tirou suas mãos do enlaçamento de Katniss e as reprimiu, colocando para mais perto de seu próprio corpo gélido - Quando fomos conversar com Haymitch pela primeira vez e ele disse que sabia quem eu era desde a primeira vez que me viu, eu não consegui tirar isso da cabeça. Eu não seria burra de perguntar a ele uma segunda vez. - Katniss tentou deixar aquela conversa menos tensa ironizando a última frase. Sem sucesso, Peeta não riu. Ele não dizia nada, apenas ouvia. O que causou um certo medo em na menina - E por isso que procurei Finnick. Aparentemente Haymitch e teu pai viajaram por muito tempo juntos em navios. Por anos.

Quanto mais a morena explicava, mais Peeta ficava confuso. Em suas histórias, seu pai nunca havia mencionado viagens em navios.

Ele não conhecida pai por completo como achava. Um misto de sensações estava presa em seu peito, prontas para explodir.

— Fizeram várias viagens. A América fora seu último destino. Só que na volta pra Europa, o navio foi atacado por piratas. Era a última viagem do teu pai, já que teu avô exigira que ele teria que arcar com suas responsabilidades e se casar e por ironia isso acontecera. - Katniss se preparou para dizer aquelas palavras fechando os olhos, parecendo tentar de alguma forma amenizar o impacto da frase que viria a seguir, o que causou incômodo a Peeta - Seu pai foi chicoteado por resistir enquanto o navio já havia sido dominado.  

Peeta continuou calado. Estava paralisado. Seu pai havia sido chicoteado e ninguém o dissera.

Ficou sabendo de tudo isso após sua morte e infelizmente Peeta não foi ao enterro do homem que mais amava.

Por que ninguém o dissera? Aquilo tudo era para manter o posto de “perfeição” que toda sociedade queria adquirir?

Muito provavelmente.

Mrs. Harrison queria parecer feliz, mas era agredida pelo marido, um visconde. Mr. Taylor não se importava com nada e deixava tudo nas costas do seu filho, o marquês não conseguia ficar sóbrio por um segundo. Mesmo falido Mr. Campbell não economizava por querer estar entre os nobres, mesmo sendo um burguês conhecido, ele não tinha nada além disso, seu nome não era digno.

Ele amaldiçoou todas aquelas pessoas que passaram por sua cabeça. Viviam em uma mentira. E agora havia notado que não era diferente delas.  

— Haymitch decidiu continuar com a vida de navegador, mesmo contra a vontade de sua família. O capitão não era o primogênito, mas como vinha de uma família de nobres, aquilo não era aceito. Foi aí que ele perdeu tudo. - A garota soltou ar de seus pulmões quando acabou de falar tudo. Peeta parecia não a escutar e estar apático. Mas muito pelo contrário, o garoto estava sofrendo por dentro.

— Se lembra do dia no porto? Dos diversos capitães que conhecemos? - Peeta balançou a cabeça verticalmente - Haymitch era um deles, por isso me reconheceu. Acho que teu pai usou outro nome para nos apresentar a Haymitch, possivelmente um apelido.

— E tu querias esconder isso de mim? Queria esconder coisas sobre o meu pai, de mim? Ah, mas não é nenhuma novidade não é mesmo? Já que apenas omites fatos e achas que está tudo bem! - A fúria contida nos pensamentos de Peeta se apresentou, em parte estava assim por causa da hipocrisia e em outra parte por causa da omissão da garota.

Ele estava cansado. Cansado de como o tratavam, como se fosse fraco. Como se não aguentasse.

Peeta que escolheu aquilo. Peeta escolheu embarcar, aquilo não era uma prova de sua tamanha coragem?

Mas ainda Katniss o tratava como uma criança.

— Do que estás falando? - Soltou espantada e apertou os olhos em direção a Peeta.

— Por que não me disses que Hawthorne estava interessado em ti?

— Não tenho nada com o duque. - Ela travou o maxilar e cruzou os braços.

— Pois acho que terá que rever teus conceitos sobre “nada”. Provavelmente fui o último a saber, não? Todos sabem, menos eu. Inclusive agora, todos sabiam sobre o meu pai, menos eu.

Peeta não estava em seu estado normal, a morena estava espantada, nunca havia visto o amigo daquela forma. E o que mais doeu: fora ela que provocara isso nele.

— Peeta…

— Por que vinheste? Me respondas! Ou será que estás mancomunada com minha mãe e blefou para mim também?

— Eu vim por você! - Revelou em uma junção de desespero e angústia.

Aquilo parecia mentira. Aquilo só podia ser mentira.

— Acho melhor parar de mentir para mim e para ti mesma ou parar de achar que eu sou frágil.

Peeta saiu do compartimento. A deixando sozinha.

E ela sentiu raiva.

Raiva por ele ter saído. Raiva por Peeta sentir raiva dela naquele momento. Raiva por ter embarcado com ele. Raiva por Peeta querer fazer essa loucura.

Mas ela sabia que sentiria mais raiva se não tivesse entrado nessa com ele.

Acima de tudo, ela sentiu raiva de si mesma, e por fim, ela dormiu em meio a lágrimas quentes e salgadas. Assim como as águas que iria sentir ao chegar ao sul da colônia inglesa

~#~

No dia seguinte, Katniss não conseguira avistar Peeta, parecia que havia evaporado, ou pulado ao mar - sendo a primeira opção mais plausível, já que ele nunca abandonaria aquela viagem.

Katniss estava em um estado deplorável, seus olhos ainda inchados e coluna curvada, demonstravam isso com grande facilidade. Estava muito sensível e alheia ao que acontecia ao seu redor, o dia parecia se arrastar e o relógio parecia retroceder.

Não conseguia ingerir alimentos e até deu sua comida para dois homens dividirem - ocasionando em uma pequena discussão já que um deles parecia ter pegado mais que o outro.

Quando finalmente deu o horário para se reunirem na sala de Haymitch, ela hesitou, não queria ir, estava muito fragilizada e sem forças para ir ao encontro daqueles homens.

Porém, Katniss tinha regras para cumprir. Quando posicionou seus pés de frente para porta e fechou seu punho para bater no objeto envernizado, ela começou a fazer exercícios de respiração, que a ajudaram a finalmente realizar o ato.

Um capitão com aparência desnorteada apareceu em sua frente segurando uma garrafa com alguma espécie de líquido amarelo, Katniss olhou atrás do ombro de Haymitch e não havia mais ninguém ali.

— Volte para sua cabine, não temos nada a fazer aqui. - Aquele senhor não estava bem. Ele sabia, sabia do que Katniss tinha feito e ela estava cônscia disso. E quando a moça se virou, Haymitch prolongou:

— Tu sabes que não merece aquele garoto, não é? - O senhor atrás de si comentou com vasta plenitude, incomodando a moça de uma maneira atordoante.

— Por que estás dizendo isso? - Katniss se colocou de frente a pessoa que a indagara - Não acha que eu sei? - Atravessou a porta e fechou-a atrás de si, com certa desconfiança, para não chamar atenção.

Qual seria a razão de Haymitch entrar nesse assunto?

O capitão tinha olhos corredores que não paravam de analisar lubricamente cada centímetro daquele cubículo de madeira, não tinha um pingo de lucidez em seus olhos.

A jovem sabia que nada bom sairia da boca daquele homem.

— É claro que tu sabes. - O homem deu uma gargalhada escarniante da qual poderia compará-lo a um crocodilo, pronto para dar o bote - Alguns têm temeridade. Outros têm um grande coração. - Começava seu discurso, até agora sem nexo para ela, a rodeando - É muito fácil achar pessoas com uma dessas características, mas não com as duas. Tu podes ser voraz e ser horrível como ser humano, mas também ser uma grande pessoa e ser fraco. - O homem começava a se aproximar mais de Katniss com um grande sorriso que a ridicularizava - Poderia enquadrar-te aos corajosos sem alma, mas tu, como uma grande guerreira, oh grande guerreira, acha que estás fazendo tudo pelo bem de alguém. Mas nem tudo que aparenta é verdade, é pelo teu. Tu és egocêntrica Katniss. - Um sorriso do réptil surgiu bem na frente da garota que escutava Haymitch com os olhos cheios de lágrimas, no mesmo segundo que Katniss fechara os olhos para contê-las ouviu um estardalhaço que a fez descolar os olhos cinzas.

Haymitch acabara de jogar o instrumento de vidro que mantinha em mãos na parede paralela a entrada. O homem estava com os olhos cheios de lágrimas, que já faziam um rio pela sua face.

O mais velho segurou firmemente a cadeira de perna quebrada que estava perto de si e para deslizar seu corpo até o chão, não conseguindo mais manter seus pés firmes.

— Peeta tem as duas características, assim como Thomas. Vista teu melhor traje, logo chegaremos na colônia.

Haymitch não se virou depois disso, apenas mantera seu olhar estático na garrafa recém desfeita. O que deu a brecha para a garota sair daquele local.

No momento em que Katniss deu dois passos para fora, o som que chegou aos seus ouvidos não foi de silêncio, mas de um grito cheio de sentimentos destrutivos vindos do local onde a poucos minutos estava com os pés.

~#~

— Precisas parar de intrometer-te na minha vida.

A moça de cabelos cor de carvão tinha lágrimas por seu rosto desde sua conversa com o capitão. Nenhum local parecia reconfortante, então foi até o andar mais alto do navio, onde poderia contemplar a lua e as estrelas. Por um breve momento pensou em se atirar ao mar e nadar até a ilha mais próxima, o que era irreal.

Katniss queria parar de martirizar-se. Com Peeta longe, ela finalmente percebeu que sofrer por alguém é pior que sofrer por si só. As causas e consequência antes só jorrariam sobre uma única personagem. Mas quando aquilo englobava mais pessoas, a dimensão era maior sendo o conflito inevitável. Determinadas vezes, o estrago seria menor. Em outras, corações seriam estraçalhados.

E especialmente aquela, Katniss sabia que sua vontade de auxílio tinha ferido o ser humano mais importante em vida.

Seu pai havia morrido pela ‘’doença do açúcar’’ há dois anos, deixando a jovem e seus irmãos desamparados, provocando em sua mãe uma série de problemas psicológicos. Katniss sabia como era sentir um luto profundo e foi forçada a senti-lo de novo por sequela da morte de Mr. Mellark.

Peeta era o restante, talvez o de mais impacto na vida de Katniss. Seu confidente nunca a abandonara por besteiras.

Nunca tiveram uma briga séria. Entretanto, esse advérbio temporal não poderia mais ser colocado nessa frase, o que fazia o coração da garota doer de tanta palpitação.

Haymitch estava furioso com ela. Invadira sua privacidade e o fez relembrar de fantasmas do passado.

Mesmo que todos estivessem horrorizados com sua intromissão, ela só se importava com a opinião de uma pessoa.

O vento frio batia forte em seu rosto, com ênfase em seus cabelos que se moviam conforme a direção das correntes. Mesmo em uma temperatura baixa ela não se importou em caminhar pelo deck sem rumo, não se importou com a possibilidade de alguém encontrá-la e não iria se importar se descobrissem sua identidade.

Nada mais parecia fazer sentido. Até que aquela voz atrás de si surgiu, a fazendo virar.

— Por que estás falando comigo? - Agarrou os tecidos finos que colocara sobre seu corpo antes de pôr os pés naquele local sem resquícios humanos, fazendo sua pele se comprimir, assim como seu coração.

— Porque não consigo ficar longe de ti. - Uma pontada de alívio tomou conta de Katniss mas ela sabia que não era apenas aquilo que Peeta queria falar e que a relação dos dois não estava nada bem, mesmo com aquelas palavras - E porque sei que és orgulhosa demais para vir à minha procura.

Mesmo aquele último pronunciamento fosse dito em um tom leve, não impediu que a garota se sentisse pior do que estava e lágrimas preenchessem seus olhos.

— Mas eu procurei. - Convicta ela encarou os olhos azuis do garoto, que começavam a aparecer por conta do sol, que dava sinais que em algumas horas estaria nascendo com força a leste.

Silêncio pairou e só era possível ouvir as ondas se chocando contra a embarcação. - Só digas que minha mãe não tem algum envolvimento com tua vinda. - Peeta caminhou até seu lado e começaram a caminhar em mesmo ritmo.

— Ela me odeia, nunca perceberas?

Aquilo era nítido, Mrs. Mellark tinha repúdio da garotinha branquela de olhos de furacão, muitas vezes tentando fazê-la passar vergonha na frente de pessoas mais importantes. Katniss não precisava de inimigos, ela tinha a mãe de Peeta por toda sua infância e adolescência. Porém, mesmo com essa cisma da condessa, Katniss não sairia de perto de seu amigo.

Seu único amigo.

A menina não era convencional, não agradava os olhares de fora - principalmente de garotas da sua idade e das mães dessas mesmas. Sua independência era vista de longe e ela não possuía aquele sentimento agonizante por se importar com a opinião alheia.

— Sim, mas ela sabe que serias a primeira pessoa a entrar comigo em um barco - suspirou encarando seus pés que não se mexiam mais e continuou ainda encarando o couro - ou que me convenceria a ficar.

A garota que ficara dois passos à frente de Peeta agora voltava ao seu encontro segurando seus ombros e com palavras soltas por sua boca:

— Não se esqueça que Mrs. Mellark me odeia. - Soltou ar de seus pulmões e voltou a encarar as orbes do amigo - A pobre ladyzinha, você merece melhor meu filho. — Reproduziu, forçando a voz para dizer a frase tantas vezes expressada pela mãe de Peeta.

— Sabes que não me importa títulos. - Peeta agora com maxilar travado e olhos firmes fez a garota retirar suas mãos do corpo dele.

— Mas importa para tua mãe. Ela não confia em mim, me acha imprevisível. Só me suportava por tua causa. - Um triste sorriso torto cresceu no rosto de Katniss deixando aquela cena menos pesada.

Outro período de quietude.

Uma questão que estava escondida nas profundezas do coração de Katniss foi transferida para seus lábios, que se moveram conforme as sílabas:

— Qual a razão para não ter casado?

Espanto. Nem Peeta havia feito tal pergunta para si mesmo. Era estranho ter Katniss o questionando sobre o assunto.

Um nervoso subiu pela espinha do jovem o fazendo colocar suas mãos nos bolsos fundos e mexer seus dedos - que agora se encontravam suados - por conta de não saber o que falar. Sem opções escolheu a frase mais clichê e talvez a mais destrutiva para a garota ao seu lado:

— Acho que não encontrei a pessoa certa.

Katniss se sentiu incomodada, por alguma razão ela queria ser a pessoa por quem Peeta se apaixonaria, ou pelo menos, se contentaria com Peeta sozinho, como era a atual situação.

— Um dia tu me disses que amor é irrelevante para pessoas como nós. - Katniss que não conseguia mais encará-lo decidiu olhar para suas botas que por sinal eram bem maiores que seus pés e decidiu não desviar o olhar dali por nada

— Por que tu não se casaras, então? Sua temporada já passou faz tempo. - Repassou.

— Sabes o porquê.

Vermelha, era assim que se encontrava a pele de Katniss, acompanhada por orelhas de mesma cor, que ardiam em chamas como um ato de vergonha.

— Mas a autosuficiência não impediu que Hawthorne a cortejasse.

Peeta cruzou os braços se encostando na borda do navio, curvando sua coluna. O loiro ainda não havia engolido aquela história, não estava nada contente por duas razões:

1°- O simples fato de Gale ser um mulherengo e ter interesse em sua amiga.

2°- Katniss não havia contado absolutamente nada para ele.

— Não tenho nada com o duque. Ele apenas foi gentil em tirar um troglodita da minha frente. - Peeta não viu por conta de Katniss ainda manter olhar para baixo, mas a morena revirou os olhos, já cansada do assunto em que o loiro insistia em relembrar.

— Tu sabes como o duque é! Ele não é decente, muito menos gentil!

Um crescente ódio se apossava de Peeta. Mas possivelmente aquilo não era ódio bruto, mas sim ciúmes, do qual sempre sentia quando o assunto era a moça em sua frente.

— Coloque em sua cabeça que eu não tenho interesse pelo duque, mesmo que talvez ele tenha por mim. - Já irritada a morena cruzou os braços e desviou o olhar de Peeta, por achar que ele estava agindo como uma criança - E de mesma forma, não me importa o que ele pense ou sinta. Não contei a ti pois ele é insignificante.

A primeira frase não convenceria Peeta, mas com aquele complemento haveria até possibilidades de uma compensação. Em um movimento súbito o loiro foi ao encontro de Katniss e a segurou nos braços, a abraçando. Fazia muito tempo que uma cena dessas havia acontecido, o que tornou aquilo tudo mais reconfortante. De primeira impressão Katniss não retribuiu por ter se surpreendido, precisou de alguns segundos para ela envolver seus braços no tronco de Peeta e apoiar sua cabeça no ombro do mesmo.

Alívio, foi o que os dois sentiram. Casa, era onde eles estavam, um nos braços do outro, foi onde sempre estiveram e estariam.

— Me desculpe, não queria contar-te aquilo de imediato. - As lágrimas que haviam cessado se formaram como nunca, tirando soluços da garota e fazendo-a apertar mais o corpo que estava em contato com o seu - Eu te amo, Peeta.

Ainda chorando ela disse aquelas palavras, das quais surpreenderam o garoto que afagava os cabelos da morena tentando a reconfortar.

Contanto, ele sabia. Sabia que aquelas palavras não passavam além da amizade, já que ele havia acabado com as esperanças da garota anos atrás, a contando sobre a irrelevância do amor e como ele nunca iria se envolver amorosamente com ninguém, apenas se casando por puro e total interesse já que não queria magoar os sentimentos de alguém que importasse para ele.

— Também te amo, Katniss. - Aquilo saiu em forma de consterno, fazendo-o apertar Katniss em seu peito, exacerbando o zelo que ele possuía pela garota.

— Antes de eu morrer, pedirei para que me enterrem ao teu lado. - Ela que antes mantinha seus olhos bem fechados, agora olhava intensamente para o oceano de Peeta - Bem, só temos um ao outro agora, não é mesmo?

Mesmo sem perceber, a garota havia se declarado, ou ao menos era isso que Peeta havia interpretado. Afinal, sempre fora os dois contra o mundo e aquela aventura só enfatizava o que era visto por todos, menos por ele.

Anos atrás, enquanto ele reprimia seus sentimentos pela garota, quando finalmente perceberam o que sentiam um pelo outro, ela não se afastou, mesmo quando Peeta roubou todo o seu aguardo.

Enquanto o loiro estava preocupado em não arcar com as consequências, Katniss foi atrás dele, preocupada, correndo perigo dentro de uma embarcação. Se achou tolo por ao menos cogitar a possibilidade de sua mãe estar envolvida com a vinda de Katniss e mais ainda porque quando ela dissera que veio por ele, Peeta imaginou que a jovem estava blefando.

Ela foi sua amiga quando criança. Foi sua amiga quando a afastou. Foi sua amiga mesmo sabendo que iria correr riscos. Foi sua amiga quando tentou ajudá-lo. Foi sua amiga quando tentou protegê-lo da dura verdade. Mas mesmo assim, ela nunca fora sua amiga.

Já que aquilo não era apenas amizade.

— Nunca nos deu uma chance, por quê? – Katniss continuou, aquela voz havia saído embargada e com certa pontada de inconformação, fazendo Peeta se sentir muito pior.

— Eu não sei ao certo. Desculpe. – Ele pressionou seus lábios com singelo na testa de Katniss, quebrando o contato visual que possuíam.

— Não precisa de desculpas se não sentes nada por mim. – Ainda abraçados, ela abaixou a cabeça, impedindo Peeta de olhar para seu rosto entristecido e envergonhado.

Katniss nunca fora laçada por um homem pois o único interesse que ela possuía não era recíproco, ou pelo menos não se mostrava dessa forma. Essa era a lídima razão de não ter se casado.

Katniss se sentia absoluta, pois Peeta nunca esteve longe dela. Quando Mr. Mellark o contou sobre a ida de Peeta, ‘’desespero’’ seria uma boa palavra para definir o estado da moça.

Ela apenas não conseguiria viver sem Peeta.

— Eu te amo. – Repetiu aquela elocução de três palavras e adicionou – Não apenas como amigo.

Espanto não apenas da parte de Katniss foi expressado, mas o próprio Peeta estava embasbacado com o que acabara de dizer.

Mesmo aquilo sendo tão óbvio, as atitudes das duas personagens exalavam amor, apenas não abriram os olhos antes para tomar conta da dimensão do sentimento que possuíam um pelo outro.

As mãos de Katniss pousaram no tórax de Peeta enquanto levantava o rosto em direção do loiro que não havia parado de a encarar por um segundo.

Inevitavelmente, eles estavam prestes a realizar um ato nunca praticado por nenhum dos dois.

Katniss conseguiu sentir as batidas rápidas do coração de Peeta já que sua mão direita estava direcionada a esse órgão, ela sorriu, por ter a confirmação que ela causava a mesma decorrência nele.

A distância foi diminuindo entre suas bocas ao mesmo tempo que a batida de seus corações aumentava, até que chegou ao ponto de não haver espaço entre seus lábios e terem a impressão que seus corações iam esbravejar dentro de seus corpos.

~#~

Tudo havia amenizado depois daquela noite.

Haymitch se desculpou – um ato muito custoso de acontecer - com Katniss no dia seguinte, eliminando os desentendimentos que eles haviam tido.

Porém, havia uma coisa que o capitão havia dito naquela noite que era incontestável, logo eles chegariam as Américas e esse simples fato era animador para os dois amantes. O momento de pisar em um novo continente não duraria mais que seis horas. Apenas seis horas.

Com esse pensamento Katniss ajudava nos afazeres do navio junto a Finnick, já que Peeta estava com Haymitch conversando sobre a futura estadia deles e o dinheiro que tanto ele como ela tinham levado para dentro da embarcação.

Nada poderia estar melhor.

No entanto, uma tempestade sempre poderia estar à espreita. Porém, não era água que atingia o embarque era algo sólido e pesado, com capacidade de destruição, que fazia todo o chão se estremecer. Algo que fez Katniss derrubar as laranjas que organizava em barris.

Em um movimento abrupto, o homem com algumas madeixas ruivas segurou o braço de Katniss com a mesma intensidade que no dia que a viu sem o chapéu, arrastando-a para fora daquele compartimento, não permitindo nem que a morena abrisse a boca.

Assim que puseram os pés para fora do compartimento, seus companheiros de viagem corriam em direção ao deck com espadas na mão, enquanto Finnick a arrastava em direção contrária.

Qual a razão de Finnick estar fazendo aquilo? Ela já havia notado que aquilo era um ataque, Katniss poderia empunhar uma espada e lutar pela sua vida e de seus companheiros. Ele teria alguma dúvida de sua habilidade com as lâminas? A resposta era não. Mas só uma pessoa pediria a segurança de Katniss dessa forma. Peeta.

— Finnick, solte-me. – Alertou Katniss enquanto tentava se desvencilhar do homem que a segurava firme – Eu não preciso de um herói. – Dissera entre dentes no instante que ele a jogara dentro de uma sala nunca vista por ela.

— Seria mais fácil se apenas obedecesse. – Praguejou o ruivo que trancava a porta com uma chave enferrujada, dando sinais de que não era usada com frequência. O compartimento não tinha várias coisas, a não ser um conjunto de espadas em um canto da sala. – Ordens de Peeta.

— E quem disse que Peeta manda em ti? Ele não manda nem em mim. – Esbravejou, indo em direção as armas brancas, sem pretextos para escolher a dedo. Katniss apenas tirou a capa de duas delas e as levou em direção a Finnick estendendo a mais pesada para ele, que não fez menção em a segurar – O que você acha mais importante? Me salvar ou aos seus amigos?

— Tenho um trato com Peeta para te proteger.

— Muito inteligente de tua parte prender-nos em uma cabine, já que se conquistarem este andar morreremos quando derrubarem esta porta. – Katniss apontou para o local determinado enquanto aproximava ainda mais uma das espadas para Finnick, que a puxou firme para perto de seu corpo — E uma coisa, se obedecesse não seria eu. – Comentou a garota enquanto o homem ao seu lado abria a fechadura, arrancando alguns risos nervosos do mesmo.

O bloco onde estavam era o terceiro, não demoraria muito para chegar ao deck, onde o clímax estava acontecendo, lugar onde Haymitch e Peeta estariam, já que a cabine de Haymitch era no primeiro bloco.

Os dois companheiros estavam de costas um para o outro, impedindo de qualquer um os surpreender. Conseguiram ir até o segundo bloco sem nenhuma adversidade, já que aquele local parecia vazio.

Já no segundo, o barulho estridente de lâminas se chocando chegaram aos ouvidos dos dois, o que fez Finnick ficar mais atento e Katniss segurar sua espada com mais firmeza. Quanto mais perto chegavam na escada de madeira, mais claro era o som. Batendo um certo receio em Katniss, ela não sabia o que estava por vir, mas aquilo não seria um pretexto para desistir de lutar.

Quatro homens lutando foi o que Finnick viu quando ele e a garota ao seu lado se escoraram em uma das paredes de madeira, sendo dois de sua tripulação e os outros desconhecidos por ele.

— Fique aí. – Ordenou Finnick para Katniss que foi ajudar seus colegas, a deixando sozinha. Mesmo que não estivessem dentro de um compartimento, Finnick iria a poupar de esforços, zelando por sua vida. Com aquele ato, Katniss reconsiderou alguns preconceitos que havia posto em Finnick – Venha. – O homem com parte da blusa manchada de sangue a puxou pela mão, a direcionando as escadas, quando passou por este caminho percebeu que o sangue na blusa de Finnick era de um dos dois homens não pertencentes aquele navio, o que trouxe certo alívio a morena.

Mais outro andar, com mais alvoroço. Agora com mais dois homens em conjunto – sendo um deles um dos receptores da comida que Katniss ofereceu dias atrás – seria mais fácil e ao mesmo tempo mais difícil enfrentar o primeiro andar.

O primeiro piso estava mais cheio, dando certo perigo para o grupo, os corredores estavam banhados de sangue e corpos estirados no chão davam um cheio nada agradável ao local, uma visão e fedor nunca antes apresentados a Katniss. Vários homens estavam lutando uns contra os outros por suas vidas, não notando a presença de mais pessoas.

Essa foi a hora de se separar para ajudar o máximo de membros da sua tripulação, presos em seus respectivos conflitos. Finnick foi na frente junto com um dos homens que os acompanhava. Katniss e o jovem ao seu lado esperavam os dois da frente abrirem caminho e cuidavam das costas dos primeiros.

Uma sensação agoniante tomou conta do ser da morena, uma dor quente em sua canela a incomodou, Katniss havia sido atingida. No átimo ela olhou rapidamente para o local e percebera que fora um ferido deitado chão causador daquilo, que no momento apontava sua arma para ela. Inconscientemente, em um único movimento ela desarmou seu oponente e em seguida fincou um quinto de sua espada no peito do homem que começou a soltar sangue pela boca assim que ela retirou a lâmina do seu corpo.

Por uns breves segundos Katniss não conseguia ouvir mais nada, ela havia matado um ser humano. Mesmo que aquilo a perseguisse por anos futuros, ela teria uma pessoa a encontrar no próximo piso, a mesma que a fez entrar neste navio.

E então que Katniss percebeu, quanto mais alto fosse, mais pessoas ela mataria.

Após subir mais um andar, ela estava no deck. Local onde Peeta e Haymitch estariam. Mais corpos estavam postos no chão do que no andar anterior. Várias pessoas estavam ali, estava na hora de ir à procura de Peeta.

Um pensamento horrendo veio à cabeça de Katniss. Peeta poderia estar ferido ou pior, morto. De qualquer forma, ela sabia que mesmo que isso viesse acontecer, Peeta não desistiria fácil da sua vida.

Um fogo tomou conta de seu peito e Katniss se pôs a lutar com veemência, atacando qualquer pessoa em sua frente, causando espanto em Finnick que logo correu para o encalço de Katniss já que um homem conseguiria a atacar por trás se não fosse sua espada que fez um ferimento horrendo em seu pescoço.

Quando virou em direção a cabeça do homem quase decepada, avistou a silhueta de Peeta sendo amarrada por um homem barbudo em um pilar que sustentava parte da vela principal do navio, no mesmo momento em que um senhor de cabelos e barba branca empunhava um chicote na direção das costas nuas do loiro, abrindo sua pele.

O sentimento de tristeza se transformou em impetuosidade. A garota correu até o local desviando das lâminas que a ousavam machucar e atravessou sua espada pelas costas do homem que havia amarrado Peeta, fazendo-o cair ao mar e tirando um grito de dor e aflição de Peeta:

— Katniss! Saia daqui!

O homem de cabelos brancos parou os movimentos com o fio de couro sobre Peeta e se virou para Katniss a atingindo fortemente, fazendo-a cair no chão e tendo sua espada jogada para longe. A garota que se levantava com dificuldade sentiu um puxão nos cabelos e gemeu sinalizando sofrimento.

— Como ousa interromper um grande ato como este? – Katniss pôde sentir o veneno que aquelas palavras destilavam e isso a fez estremecer – Meu grande reencontro com Thomas Mellark! Como ousa? – A direcionou para olhar as costas de Peeta, que a essa altura estava escarlate – Katniss... – Ela sentiu nojo por ter um homem daquele pronunciando seu nome e só tinha o desejo em seu peito de o matar, já que concluíra que a mesma pessoa que fizera tal monstruosidade com Mr. Mellark estava fazendo novamente com Peeta – É um nome de mulher, não? – Uma gargalhada saiu da boca do homem que a segurava pelos cabelos agora curtos, o que fez Peeta se remexer, tentando se desvincular das cordas, tirando mais outra gargalhada da pessoa atrás de si.

O velho jogou o chicote no chão e juntou as mãos de Katniss as segurando com força, enquanto mantinha a outra ainda puxando o cabelo da garota, começando a andar em direção a cabine de Haymitch que não era tão longe daquele local.

Assim que chegaram a porta tantas vezes vista por Katniss, ela estremeceu, sabendo que aquela vez seria a última que entraria ali. O inimaginável poderia acontecer dentro daquele local, essa cogitação fez Katniss se debater, tirando mais uma risada do homem que tinha pingos do sangue de Peeta pelo rosto.

O velho com características de serpente chutou a porta e em seguida empurrou Katniss para dentro do local. Os olhos da morena saíram vasculhando os locais onde Haymitch guardava suas armas, mas não encontrou nenhuma sequer.

Por instinto, Katniss se levantou e correu até um vértice do compartimento e encarou o homem que atacara Peeta, com fúria nos olhos.

— Uma mulher a bordo. Diria que isso seria anormal. – O velho soltou um risoto enquanto passava seus dedos ásperos pela mesa de Haymitch, vindo em direção a Katniss que ainda mantinha o mesmo olhar revoltado.

Quanto mais aquele homem chegava perto da garota, mais o pânico tomava conta de Katniss que mantinha sua carranca. Até que chegou um momento que o velho passou os dedos pelos cabelos da jovem e ela não se conteve, cuspiu no rosto da pessoa em sua frente. Essa ação o fez dar um par de paços para trás causando um sentimento de ódio no homem, que quando ia se aproximar novamente ouviu a porta ser tombada por Peeta, dando certo alívio em Katniss. 

O garoto não estava nada bem, seu olho direito estava roxo e ainda sem camisa seu tronco em maior parte estava ensanguentado. O garoto foi em direção ao homem que o havia chicoteado, com uma espada em mãos, fazendo o velho empunhar a própria lâmina que tinha presa em sua calça.

Vários golpes foram dados, Katniss conseguiu sair da ponta da sala e se designou a procurar algo que ajudasse Peeta.

O garoto já estava fraco e havia perdido muito sangue, porém, mantinha-se de pé e tentando golpear o homem que ouvira ser chamado de Snow.

Ele sabia que nunca esqueceria tal nome.

 Peeta conseguiu golpear a região as costelas do velho, mas por um vacilo o mesmo atingiu sua perna de maneira brutal, o fazendo cair no chão.

Pronto para golpear o garoto, Snow deu um sorrisinho irônico, mas que logo foi desfeito, dando posse a um olhar estático e espantoso.

Katniss havia ficando nas costas dele a tesoura que quase decepou os dedos de Haymitch, fazendo o velho cair no chão de olhos abertos.

— Peeta! – Katniss foi ao seu encontro e analisou sua perna que jorrava sangue. Então uma ideia passou pela sua cabeça, já havia visto curandeiras estancarem sangramentos com panos. Em um movimento rápido a garota tirou a tesoura das costas de Snow e cortou parte de sua camisa, logo após terminou de quebrar a perna bamba de uma das cadeiras do capitão, fazendo um torniquete na perna de Peeta.

— Temos que sair daqui! — Uma voz reconhecida atrás deles clamou. Haymitch foi até o encontro dos dois e ajudou Katniss a levar Peeta quase inconsciente até um bote que havia preparado com Finnick minutos atrás.

Quando chegaram até o local onde Finnick os esperava, o navio que tantas vezes foi palco de alegrias e tragédias já estava se sucumbindo, causando uma imensa tristeza no homem.

Não demorou tanto para todos entrarem no bote e se lançarem ao mar. Finnick e Haymitch remavam enquanto Katniss implorava para Peeta não fechar os olhos nem por um segundo.

O desespero da garota era notável e agonizante de se ver. Ela não sabia quanto tempo havia se passado, ou quantas vezes havia repetido para Peeta não a deixar. Contudo, ela sabia que se Peeta fechasse os olhos ele a abandonaria e aquela era uma dor que não conseguiria suportar.

Katniss não percebeu em que momento eles chegaram em terra-firme. Não percebeu quando Finnick saiu correndo pela mata à procura de alguém. Katniss só conseguia fitar os olhos azuis de Peeta, que faziam um tremendo esforço para ficarem abertos.

— Tu és minha luz. – Aquela voz saiu em tom de lástima, misturada com as lágrimas que insistiam em cair dos olhos de Katniss, tornando aquela cena ainda mais complicada de se ver.

Katniss só foi tomar conta do que havia acontecido quando Finnick chegou com uma figura nua e pintada em seu encalço, tirando Peeta dos seus braços, causando um tremendo desespero e angústia na morena, que se pôs a espernear e gritar enquanto Peeta desaparecia no meio da mata. Haymitch que não se movera até agora, segurou Katniss entre os braços e deixou que a menina chorasse em seus ombros.

— Eu não quero ser deixada sem nada.

 


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Notas finais do capítulo

Então... o que acharam? Haha, já revelando que o terceiro requisito da Sel era: O Peeta ter que salvar a Katniss :)
O final em aberto foi ideia minha mesmo , podem me matar.. ou não ^-^ então... o que acham que aconteceu com os nossos personagens?
Adoraríamos que vocês comentassem, favoritassem.... e aquela coisa toda :)
Agora passo o ''bastão do poder'' para a Isa ^-^
Beijinhos de marshmallow!!



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