O fantasma do mar escrita por Moonpierre


Capítulo 1
O fantasma do mar


Notas iniciais do capítulo

Uma pequena história que criei por causa dessa ótima música.
Deixem-me suas opiniões :)



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O mar azul escuro me fascina, o aprecio da minha cadeira reclinável. O céu está coberto de estrelas, e uma lua a quilômetros de distância oferece um pouco de luz ao ambiente negro.

Observo o cosmos, e me recordo da frase: “seus olhos são como pequenos universos”. Ela sempre fazia essas associações poéticas, e me dizia como se não fossem nada importante, só uma grande constatação das coisas óbvias.

O cheiro salgado me invade, e o clima está agradável para a noite de verão. Recosto minha cabeça e tento relaxar, já faz muito tempo. Contudo, é incrível que a partir do momento que decidimos conscientemente relaxar, não conseguimos.

Fico revirando, para direita, para a esquerda, meus pensamentos nebulosos. Me lembrei da face dela, de seu cheiro, de tudo que ela fazia.

Inspirei, expirei, fechei os olhos, e me esforcei para mantê-los bem fechados. Adentrei em um outro lugar, em um mundo em que tudo é possível.

Estou em uma montanha esverdeada, perto de um lindo por do sol. Não estou sozinho, ouço risos.

Depois, observo uma deserta cidade litorânea. 

Sinto um peso no coração e começo a chorar, até soluçar. Ela se foi de novo. 

Abro meus olhos, e me deparo com o mar novamente. Sonho estranho. Ando tendo sonhos esquisitos desde setembro, nos quais ela se vai sem nunca se despedir. 

Tento me mexer, desejo me levantar daqui e ir para o hotel. Só que não consigo. Meus músculos não se movem: tento levantar minhas pernas e meus braços sem sucesso nenhum.

Abro minha boca e grito: “me ajudem”, mas dela não sai nenhum som.

Estou sem voz e sem movimento. Alguma coisa está errada. Será que estou com algum problema de saúde?

Foi nesse estado mental (deveras bagunçado) que a vi saindo do mar.

Sou tomado por um espanto, estou, ao mesmo tempo, um pouco assustado – de onde que ela veio? – e feliz por vê-la novamente.

O rosto de Lira está pálido, exatamente como da última vez que a vi quando ela estava deitada naquela cama, há alguns meses atrás. O vestido branco rendado acentua sua magreza e suas curvas, e o cabelo preto brilhante emoldura seus olhos negros. A luz do luar a deixa ainda mais bonita.

Ela caminha até mim, devagar, tentando se exibir. Isso me lembra todo o sexo que nós fazíamos no passado, antes de toda aquela tragédia acontecer.

Meus pensamentos, entretanto, não estão no carnal. Estão no amor que sempre senti por ela. Eu achei que tinha seguido em frente, mas vendo-a aqui, do meu lado, tenho certeza que me apaixonei novamente. Se isso é possível. 

—Lira — tento falar, mas o som não sai — sinto sua falta.

Ela meneia a cabeça e sorri, com compreensão, então se senta na areia, perto da minha cadeira e fica observando o mar.

Parece que se passaram vários minutos.

—Eu queria que você estivesse perto de mim — minha voz não sai, mas ela parece ter entendido, porque me observa, coloca um dedo na boca mandando-me fazer silêncio, e se aproxima do meu ouvido.

A princípio só ouço um zumbido, e tento me concentrar. Capto as palavras do sussurro depois de um tempo: “Eu te amo Pierre”, segundos se passam, “logo estaremos juntos de novo”.

Sinto o gelo da mão dela na minha quando ela a segura, e aprecio esse pequeno momento.

Não demora muito, e essa mulher espetacular (que costumava amar, e ainda amo), se levanta. Acena para mim, e corre para o mar de novo, mergulhando nas profundezas da água e se afastando (talvez para sempre).

Aos poucos começo a me mexer, sentindo um leve formigamento nos meus braços e mãos.

Quando me levanto da cadeira, corro para o mar e a procuro incessantemente. Parece que ela evaporou. O desespero toma conta de mim, isso foi só uma alucinação? As lágrimas invadem minha face. 

No dia seguinte, fui para o cemitério: “Oak trees”, e encontrei sua lápide: Lira Joan Pilsen;  21 de Agosto de 1972 à 17 de Setembro de 2005.

Deposito uma margarida, eram suas flores favoritas.

Lembro-me da frase que Lira disse: “logo estaremos juntos de novo”. Isso significa que irei morrer? Fico intrigado e aliviado ao mesmo tempo. Sinto uma grande necessidade de estar perto dela, de alguém me oferecer amor e carinho, pelo menos, mais uma vez. 

Suspiro. "Sinto sua falta”, digo para a lápide como se fosse um pedido para “alucinar” novamente com ela.

Com uma última olhadela, começo a caminhar pelo cemitério arborizado. Talvez eu devesse voltar para casa, comer um pote de macarrão instantâneo e me afundar no sofá para assistir qualquer coisa imbecil.

Estou mais solitário do que nunca, e me apaixonei por um fantasma no mar. 

I fell in love with a ghost

Oh, under the moonlight

You took my hand and held me close

For once I was alright 

"Up all night", da banda "Owl city". 

 


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