Por minha causa... escrita por Rosalie Fleur Bryce


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Lumos.
Genteeeee, quanto tempooooo!!! Saudades de vocês hahahahah, me desculpem pela demora, mas a senana de provas me pegou de jeito hahahaha. Espero que gostem desse capítulo...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/731132/chapter/7

Pego o papel e o desdobro. Está escrito numa caligrafia fofa e parece ser de uma menina. Apoio minha mochila, que tanto pesa, na mesa e leio o convite.

Olá, você está sendo convidado para a minha festa! Será hoje à noite aqui no comunal da Sonserina, a partir das 20h.

Te espero. Zaraa.

Quem raios é Zaraa? E como ela me conhece? Me lembro de ter visto André com uma garota da Sonserina semana passada, mas ele não teria falado de mim para ela, teria? Bem, isso não importa, mas hoje é sexta-feira, e amanhã não temos aula. Se eu adiantar as lições para segunda, posso ter o fim de semana livre.

Ponho minha mochila nas costas e fecho a porta da sala. Justamente por ser sexta-feira, todos estão muito mais animados e até as pessoas nos quadros pendurados pelos corredores aparentam estarem mais felizes. Todos correm pelos corredores e Lilá passa correndo por mim, sem nem me perceber.

Atravesso o quadro da Mulher-Gorda e a sala comunal está uma bagunça. Por mais que eu não saiba bem o quede são, juro que vejo gnomos brilhantes voando pela sala. Uns garotos estão jogando uma goles de lá para cá e um grupo de meninas ri escandalosamente. A Grifinória inteira parece estar num lugar só.

Meus planos eram eu sentar em frente à lareira e fazer meu relatório de Herbologia, mas com esse caos animado será um tanto impossível. Desse jeito, subo as escadas e entro no meu quarto. Me jogo na cama e, me esticando para não sair desta, alcanço minha mochila e dela tiro meu relatório.

A professora Sprout sorteou uma planta para cada aluno e precisamos fazer uma ficha completa sobre a planta. Fui premiada com o Hemeróbio. Não é tão desconhecido, é usado em diversas poções, como a Poção de Acônito. É extremamente venenosa, e isso, por alguma razão muito estranha, me faz lembrar que tenho uma festa em duas horas.

— Para de falar disso — uma voz reclama do lado de fora do meu quarto, a porta se abre; Parvati Patil e Lilá Brown adentram, minha queridíssima colega de quarto com sua melhor amiga. Elas nunca falam comigo. Na verdade, nunca procuraram puxar algum tipo de assunto. Sei que Parvati dorme no mesmo quarto de Hermione, mas vem tanto se mudar para cá, ela não parece ser uma menina de muitas palavras. Lilá, por outro lado, é um livro completamente aberto e escandaloso. Às vezes tenho medo dela.

— Só acho um absurdo — defende-se Lilá, pisando forte. — Como ela pode fazer isso?

— Ela é novata — Parvati argumenta, tentando defender quem estão falando sobre. — Ela provavelmente não te conhece.

— Mas é claro que ela me conhece, a escola inteira me conhece — Lilá quase berra e senta-se na sua cama, emburrada. Parvati está prestes a falar alguma coisa quando a loira a interrompe com uma exclamação surpresa. — Como assim? — Lilá corre até minha mochila e puxa algum papel dela.

— Ei — pela primeira vez, acho, falo com Lilá. — Que é isso?

— Eu que pergunto, olha isso, Parvati... — ela pega o meu convite e o leva até a amiga. — Aquela novata convidou ela e não nos convidou. Você vai? — ela vira-se para mim.

— Ãhm... sim.

— Mas por quê? — seu tom soa assustadoramente um pouco desesperado.

— Lilá, a gente não pode...

— Argh — interrompe-a Lilá, então pensa por um tempo e me pergunta: — Você sabe se o Uon-Uon vai?

— Quem? — franzo a testa, me ajeitando na cama.

— Meu namorado: Ronald Weasley.

— Ah — engasgo com os feijõezinhos de todos os sabores que estou comendo, um desce direto pela minha garganta. — Ah — respiro. — Eu não sabia q-que vocês estavam namorando...

— Começamos hoje — suspira ela, olhando, encantada, para o teto. — Mas e então? Ele vai?

— Ah, não sei. Recebi o convite hoje. E se você não sabe onde ele está, como quer que eu saiba? Não é você a namorada?

Lilá perde a fala com o que digo. Recompõe-se do jeito que pode e então olha para Parvati e faz um sinal com a cabeça, as duas se levantam e saem do quarto, batendo a porta. Estou novamente sozinha. Por que não posso ter colegas de quarto legais?

Lá fora já vai escurecendo e a festa começa às 20h. Resolvo guardar meu material e escolher a roupa que vou usar. Nunca fui até o comunal da Sonserina, nem sei como faz para chegar lá, nem sei se posso ir até lá.

Separo um suéter vinho soltinho e curto, minha calça legging preta que geralmente uso para dormir — mas ninguém sabe disso. —, uma bota quentinha e até enrolo meu cabelo numa trança de lado. Acho que estou bem, não é nada muito arrumado. Tampouco exagero na maquiagem; algo extremamente básico, mas que no conjunto geral da minha roupa, fica muito bom.

Estou esperando André em frente à lareira, e ele aparece mais arrumado do que eu esperava. Mais arrumado que eu. Usa uma camisa dobrada até o cotovelo, para fora da calça, e com os dois primeiros botões abertos. Reconheço sua calça jeans nova porque foi um presente meu, mas o que não muda são seus cachos bagunçados.

— Finalmente — me levanto do sofá e vou até ele. — Demorou mais que eu para se arrumar.

— Eu pareço... um homem... de negócios — ele diz pausadamente, é seu jeito de falar, acho engraçado.

— Não parece não, as mangas não estão igualmente dobradas. — Desdobro a manga esquerda e a arrumo do jeito certo, acabo fazendo isso com a direita também. — Então, você tem alguma ideia de como fomos convidados para essa festa?

— Sim — responde ele, como se fosse óbvio, ele até estranha eu não saber. — Eu e a Zaraa...

— Ah, o.k. — já entendo e ele ri.

— Só ficamos uma vez — ele explica, mas não dá muito interesse ou importância ao assunto.

— E como o lance de vocês veio parar em mim? — atravessamos o quadro da Mulher-Gorda e conseguimos subir numa escada que estava prestes a se mexer.

— Você está incomodada em ir à essa festa? — ele me pergunta como se estivesse de saco cheio dos meus questionamentos. Rio e ele nem deixa eu me explicar. — Porque você tem a opção de ficar sozinha no seu quarto, sabe?

— Palhaço — digo, e ele gira os olhos.

O número de escadas que devemos descer é infinito, e vários alunos eufóricos passam na nossa frente no caminho para as masmorras. À medida que vamos andando, os corredores vão ficando mais escuros e, lá no fundo, posso ouvir música alta e gritos e conversa.

Eu, André e a mais três pessoas e chegamos juntos ao fim do corredor; uma parede fria, lisa e úmida.

— Como fazemos para entrar? — pergunto a André, ele dá uma risada debochada e me olha como se dissesse “confia no pai” e, orgulhoso, anda até mais perto da parede.

— Puro-sangue! — diz ele, e uma porta de pedra escondida na parede desliza. André entra e eu e os outros três o seguimos.

A sala comunal da Sonserina é um aposento comprido e subterrâneo com paredes de pedra rústica, de cujo teto pendem correntes com luzes redondas e esverdeadas. Um fogo arde na lareira encimada por um console de madeira esculpida e ao seu redor vê-se as silhuetas de vários alunos da Sonserina em cadeiras de espaldar alto ou em pé, conversando e dando risadas.

— Já volto — André logo diz sem nem ao menos me olhar, pois seu foco já está no outro canto da sala. Então estou sozinha. Sei que Rony, Hermione e Harry provavelmente não virão. Talvez Gina venha, ela é bem popular, mas ouvi dizer que eu e André fomos uns dos poucos grifinórios convidados.

Imaginando onde André possa ter ido, me sento em uma das poltronas grandes e verdes, fazendo o possível para parecer à vontade. Todos estão bem animados. Para mim, a coisa mais interessante aqui são as janelinhas de marinheiro que mostram águas esverdeadas do lado de fora. Acho que estou bem debaixo daquele lago enorme, por que a sala da Grifinória não é tão legal?

Por todos os lados vejo alunos dançantes ou conversantes ou risantes ou até beijantes. E pela avaliação que faço da roupa das meninas, concluo que vim de pijamas. Todas elas estão usando saias curtas e saltos altos e vestidos colados e maquiagem forte. Até dobro as mangas do meu suéter até o cotovelo para não parecer tão velha.

Uma espécie de fantasma-duende passa por mim com uma bandeja, oferecendo bebidas. Pego um líquido verde-claro borbulhante porque ele, na verdade, foi colocado na minha mão por uma garota qualquer, “Você precisa experimentar” disse ela. Me levanto e, com o copo ainda na mão, começo a rondar pela sala. Os carpetes sob mim são muito bonitos e detalhados, posso até identificar os fios cor de ouro branco usados em cada milímetro da tapeçaria.

Agora chego numa parte mais escura, é como um pequeno túnel dentro do salão. Tem um sofá pequeno, para duas pessoas e uma estante com livros. Me sento e pego um deles para ler; é sobre contos velhos, não me interessa muito, mas me interessa mais do que a confusão de beijos acumulados e gritaria naquele meio.

Acabo não lendo o livro, só passo os olhos pelas letras e palavras, mas meu foco é, na verdade, ficar atenta porque sinto que alguém está me observando. Diversas vezes ergo o olhar, porém nada está me olhando.

 — Oi? — uma voz de menina pergunta e levo um tremendo susto. Logo me levanto e me reorganizo.

— Ah, oi — dou meu melhor sorriso, arrumando um fio de cabelo rebelde curto demais para ficar preso na trança. A menina à minha frente deve ser Zaraa. Ela é linda, tem o cabelo negro muito cheio e todo composto por mini cachinhos, sua pele igualmente morena é simplesmente perfeita e seu sorriso faz eu odiar o meu sorriso.

— Sou Zaraa, você é a Rosalie, certo?

— S-sim — gaguejo quando meus olhos passam além do ombro de Zaraa e vejo Draco conversando com seus amigos, mas por um momento, um milésimo de segundo, ele olha para mim também e tremo de nervoso.

— Ah, tá tudo certo? Você precisa de alguma coisa? — Zaraa me pergunta, mais educada impossível. — Eu te vi meio sozinha, vem ficar comigo e com André — convida, e me sinto lisonjeada, mas sei que é só por educação, o manchado roxo no pescoço dela já me diz isso.

— Imagina — rio e ela ri de novo. — É que eu estou com um pouco de dor de cabeça, mas fica tranquila.

— Ah, então beleza — ela encosta no meu ombro e diz um ‘tchau’, depois volta para falar com André, ambos num canto mais escuro que eu estou agora.

Estou prestes a me sentar quando fazem isso no meu lugar. É tão rápido que não percebo e acabo sentando no colo da pessoa.

— Ah, meu pai — grito de susto e me levanto de imediato. Olho para trás e Charlie está rindo da minha cara. Minha barriga se revira e meus pés falham. Charlie tem esse horrível poder sobre mim.

— Se assustou? — ri ele enquanto se levanta e com um copo de whisky na mão, vem vindo até mim. Me viro para sair andando, mas Charlie me segura pelo braço, apertando de tal modo que tenho certeza de que encontrarei um roxo mais tarde nesse mesmo lugar.

— Eu vou gritar — digo lenta e pausadamente, para que ele entenda bem.

— E eu não ligo — seu sorriso é tão lindo que me dá raiva ele ser tão idiota. Charlie se aproxima, mas sou mais rápida. Por instinto, meu braço levanta e jogo minha bebida verde-claro borbulhante toda no rosto de Charlie.

Ele se espanta, mas não tanto o quanto eu queria. E é claro que isso só o deixa mais bravo, Charlie me imprensa contra a parede e está prestes a avançar quando, em um borrão, é jogado no chão. Ele logo se levanta, revida e soca a barriga do seu agressor, que dá outro soco no rosto de Charlie, que faz o mesmo com o garoto que não pode ser quem eu acho que é, só que dessa vez Charlie vai ao chão. Eu tenho que fazer alguma coisa, penso em chamar alguém, mas isso traria perguntas demais.

Por mais que seja difícil de acreditar, reconheço que Draco é o garoto que dá uma surra em Charlie. Não pode ser outro. O cabelo loiro-engordurado já denuncia de uma vez. Corro até os dois e tento separá-los, mas por serem burros ou só estarem me ignorando, não percebem minha presença.

— Parem! Parem! — grito e quase levo um soco de Draco. — Vocês dois, parem agora! — Não muda nada, a luta continua e quase entro em pânico quando vejo um filete de sangue saindo da boca de Draco.

Um baque seco penetra meus ouvidos e praticamente toca meu cérebro. Quando consigo assimilar tudo, percebo o corpo inerte de Charlie no chão. Olho para Draco e ele age como se nada tivesse acontecido. Confere os lados, me pega pelo braço e me leva, discretamente, até outro canto escuro. Draco sussurra algo para uma parede e esta se abre, revelando uma escada. Sigo Draco e a porta fecha-se atrás de mim.

Finalmente chegamos num banheiro qualquer e Malfoy para de correr. Tranca a porta e coloca uma mesa na frente, para que ninguém entre.

— O que foi isso? — pergunto, ainda em choque.

— De nada — diz ele, bravo e olhando para o chão como se estivesse pensando em alguma maneira de consertar tudo. Como continuo parada, Draco olha para mim e fala sem paciência alguma: — Vai, deixa eu ver o machucado.

— Que machucado?

— Vi como Charlie segurou seu braço, tem um roxo pelo menos do tamanho de um olho aí. — ele está impaciente por alguma razão, fica andando de um lado para o outro e tenho vontade de dar um berro e fazê-lo parar quieto.

— Eu não pedi sua ajuda. — digo enquanto tento mover a mesa que prende a porta.

— O.k. — ele diz depois de pensar por um tempo na resposta adequada. — Você está certa, a culpa não é minha que você não consegue dizer ‘não’.

— Como? — dessa vez eu grito. — Como consegue dizer uma coisa tão estúpida?

— Fica até parecendo que você quer, Bryce — ele ri, debochando. — Nem sei porque eu tento te ajudar. Isso tudo deve ser um dengo enorme. Com licença.

— Idiota — lhe dou passagem e ele me desafia, desvio o olhar e abaixo a cabeça. Não estou olhando-o, mas percebo Draco saindo do banheiro.

Espero ter certeza de que ele se foi e então vou até as pias. Tiro meu suéter e estou usando uma regata branca, justa e decotada, mas só a coloquei para ter alguma coisa por baixo do casaco de lã.

Apoio o suéter no balcão e me olho no espelho. Viro de lado e vejo uma bola vermelha no braço esquerdo, está bem forte. O toco de leve e dói, sussurro para não gemer de dor. Ligo a torneira e passo um pouco de água em cima do pequeno hematoma, mesmo que isso não adiante de nada.

Tudo está silencioso, só o barulho do filete de água descendo pelo ralo ecoa pelo banheiro. Não consigo ver o machucado me virando, então tento enxergar pelo espelho. Em uma dessas tentativas, acabo vendo dois olhos me analisando lá da escada. Me viro num susto e vou até a porta. Logo na escada de pedra fria, quase ligada à porta, está Draco Malfoy.

Ele tenta subir quando percebe que o vi, mas é tarde demais e já estamos um de frente ao outro. Não preciso perguntar nada, ele já desce os degraus que nos separam e entra novamente no banheiro.

— Água nunca vai curar esses negócios.

— Eu disse que não preciso da sua ajuda — o olho de canto de olho.

— Em momento algum eu te perguntei se precisa da minha ajuda — ele simplesmente irrita cada nervo do meu corpo inteiro. Continuo olhando para baixo enquanto o garoto vem até o meu lado. — Vai doer um pouco.

— Tudo bem — confirmo com a cabeça.

— Ui, durona — ele debocha e giro os olhos para disfarçar meu riso. Draco toca a ponta da sua varinha em cima do hematoma e sinto uma pequena pontada, mas continuo firme. — Sana aplaguen — murmura ele, e consigo sentir o sangue sendo desobstruído. Dói muito e aperto minhas próprias mãos. Mordo meu lábio inferior e fecho os olhos com força. — Pronto. — informa ele, ainda parecendo bravo.

— Obrigada — é o máximo que consigo dizer, não posso ser educada depois do que ele disse sobre Charlie.

Me inclino para pegar meu suéter, que está do outro lado da pia, achei que Draco desviaria para eu poder alcançar meu casaco, mas ele não desvia. Me desequilibro porque acabo tendo que me esticar demais. Automaticamente para que eu não caia, minha perna se apoia novamente no chão e acabo quase caindo em cima de Draco. Uma de minhas pernas está entre as dele e Draco segura meu braço para que eu não escorregue. Quando me firmo de vez, elevo meu olhar e vejo que quase dez centímetros nos separam. Acabo, sem querer, olhando fundo nos seus olhos acinzentados e Draco faz o mesmo. Minha outra mão livre está apoiada no seu ombro e me encontro próxima o suficiente para sentir seu perfume caro e amadeirado. Respiro fundo, ao contrário de Draco, sei disso pois quase tenho certeza de que posso sentir seu coração batendo rápido. Simplesmente me coloquei na minha própria encruzilhada, não sei o que fazer.

— Mas já? — brinca ele, novamente. Não o entendo. Não sei se ele é bravo ou engraçado ou estúpido ou risonho.

— Você me irrita muito, sabia? — murmuro sem quase mexer a boca porque quero muito segurar essa maldita risada de nervosismo.

— Eu tenho esse dom sobre as mulheres — ele dá de ombros. Giro os olhos pela quinquagésima vez e então me afasto. Draco solta meu braço e pego meu suéter. Viro de costas e o coloco, depois checo como estou no espelho e tento ignorar Draco me avaliando e rindo.

— O que é tão engraçado? — digo como se não desse muita importância ao assunto, ainda estou virando de lado e de frente para arrumar minha roupa.

— Ah, você é diferente, Bryce — ele também fica de frente para o espelho, mas não se arruma, só se olha.

— E isso é bom? — me aproximo do meu reflexo para ver se nada da maquiagem borrou.

— É um diferente estranho — ele se vira de costas para o espelho e apoia-se no balcão de mármore em que ficam as pias.

— E isso era para ser um elogio? — ajeito um borrado do rímel logo abaixo dos meus cílios inferiores.

— Ah, com certeza não — rio num tom que diz ‘não acredito, você não tem jeito’. — Você chamou minha casa de inferno.

Que. Assunto. Aleatório. Como ele lembra? Já faz o que? Quatro... cinco semas que eu disse isso? Rio, incrédula, e respondo:

— Porque você ameaçou a minha vida aqui — digo como se fosse algo grave.

— Eu estava brincando, deixa de ser burra — seu tom é bem sem paciência. Tudo perde a graça e fecho a cara. Cruzo os braços e me apoio na pia.

— Você vai ficar aqui? — me pergunta ele, como se isso fosse um infortúnio.

— Não vou voltar, simplesmente não vou — o olho mostrando o quão óbvio é o fato de que vou ficar aqui, voltar para lá é o mesmo que voltar para Charlie. Draco está prestes a dar um passo à frente quando digo: — O que você tem contra mim, Malfoy? O que eu te fiz?

A pergunta é honesta, porém nada planejada, ela simplesmente veio e Draco percebe isso. Ambos engolimos em seco e as luzes na parede tremem com uma brisa, fazendo nossas sombras dançaram no chão. Continuo quieta, esperando por uma resposta.

— Nada, eu só...

— Nada? — rio, sarcástica. — Vamos lá, você não suporta a ideia de que outros podem vê-lo conversando comigo. Você...

— Você não me conhece, Bryce...

— Bem, você também não me conhece, Malfoy.

            Acabo gritando e o eco permanece no ar. Draco se cala e tenta engolir o nó em sua garganta. Caminho de um lado para o outro, roendo o esmalte branco das minhas unhas. Acho que agora é a minha vez de falar.

— Você também é diferente — retomo o assunto de uns dois minutos atrás. Ando lentamente até um banco qualquer muito chique e me sento, cruzo as pernas casualmente, como se estivesse pensando do jeito mais normal possível, mas Malfoy sabe que minha cabeça está a mil. — E isso com certeza mais do que absoluta não é um elogio. É meio arrogante... estúpido... mal-educado.

— O.k., o.k., eu não fiquei listando suas qualidades, não precisa fazer isso comigo, Bryce — novamente rio, desacreditada, e descruzo as pernas.

— Inacreditável.

— Assim eu fico lisonjeado, Bryce.

Me levanto de uma vez e Draco até se assusta com minhas pisadas fortes e raivosas.

— Você também me irrita — ele diz de repente, até parece que o fez para me fazer ficar.

— Obrigada — me viro e agradeço ironicamente.

Pf — bufa ele, também bravo.

Pf o quê? — me apresso até ele e, mais uma vez, estamos a dez centímetros de distância. É complicado para mim, porque para parecer durona preciso ficar um pouco na ponta dos pés, mas tudo bem. Por um segundo ou instante rápido demais, acho que Draco se aproxima intencionalmente de mim, quase me aproximo de volta quando alguma força automática do meu corpo diz:

— Preciso ir, Malfoy — desço da ponta dos pés e me afasto definitivamente dele.

— O.k. — ele responde e arrumo todos esses fios de cabelo que caem sobre meu rosto. Fungo alto demais e alarmo Draco, que acha que estou prestes a chorar.

— Que foi?     

— Nada — respondo, rapidamente. Enxugo essas duas lágrimas que teimam em escorrer e saio correndo do banheiro.

Não sei porque estou chorando. Só estou com vontade. Algo no meu estômago começar a pressionar todo meu corpo aos poucos e isso dói. Não foi nada que Charlie fez, porque ele não tocou na minha barriga ou em algum lugar que não seja meu braço.

— Bryce, volta aqui! — ouço ele gritar, mas o ignoro. Não quero ignorar, na verdade quero conversar. Mas até começo a subir de dois em dois degraus e em um instante já estou na sala comunal. As coisas continuam agitadas, ninguém percebe minha presença. Olho rapidamente para trás e vejo que Draco olhar para os lados, na tentativa de me achar, e quando o faz, torna a correr.

— Menina, tá tudo bem? — uma garota que estava dançando até me ver me pergunta. Estranho o questionamento, mas afirmo que sim com a cabeça. Outros dois e depois três e depois quatro alunos me olham, tentando entender meu rosto. Finjo que nada está acontecendo e vou me esquivando das pessoas. Finalmente atravesso a parede gelada pela qual entrei e saio da sala comunal.

Procuro os corredores corretos, mais por pressa e medo de ser achada por Draco. Não sei o que deu em mim, mas algo aqui dentro diz que preciso ficar o mais distante o possível dele. Não estou com medo de Draco, estou com medo de mim. Alguma coisa tremeu na minha barriga quando cheguei perto dele, e isso definitivamente não pode acontecer de novo, não pode porque doeu como se alguém estivesse apertando meu intestino aos poucos. Então simplesmente fujo. Fujo porque admito: nunca foi tão corajosa quanto um grifinório de verdade deve ser. 

Viro à esquerda, mas um grito de Draco me faz parar.

— Bryce, para!

Paro.

— Você está chorando?

Estou.

— Mas é claro que não — digo, irônica, virando para ele. Mas à medida que ele se aproxima, alguma coisa ou monstro dentro de mim arranha toda minha barriga. — Por que acha isso?

— Ah, merda, não faz isso — ele reclama, continua se aproximando e meus órgãos estão sendo oficialmente rasgados por dentro. Me ajoelho de dor e mando ele parar.

— Malfoy, para trás.

— Cala a boca, você não manda em mim.

— Por favor, de verdade — ergo a cabeça, implorando por piedade com meu olhar. Malfoy se assusta e adquire um ar sóbrio. Analisa meu rosto e ainda estou no chão, lutando contra essa espécie de cólica do inferno. — Se afasta e chama ajuda — me esforço muito para falar, só quero gritar.

— Bryce, seu rosto...

— O que tem? — explodo num grito, porque sinto uma tortura interminável acontecendo dentro de mim. A dor começa a se espalhar e tomar todo meu corpo. Olho para meu reflexo na janela ao lado e vejo uma mancha negra perto das minhas bochechas. — Malfoy, vai embora.

— Não, eu... — Draco dá um passo na minha direção e uma pontada dolorida acerta o interior da minha barriga. Gemo de dor e grito, novamente, uma ordem para Draco afastar-se. Desta vez, ele o faz, e a dor vai diminuindo lentamente, mas diminui.

Em fim consigo me levantar e vou me afastando de Draco, e a dor vai cessando. Draco ainda me olha, estático. Recuo uns dois passos e saio correndo. A dor acaba de vez e confirmo se não estou sendo seguida. Não estou. Draco ficou lá trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ENTONNNN?? PESADONNN? Pesado neh? Hahahahha, enfim, comentem o que estão achando e pfv acompanhem a fic. Espero q estejam gostando tanto quanto eu. Bjoss!!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Por minha causa..." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.